O Juramento Quebrado escrita por vivaopato


Capítulo 13
Amigos, amigos, romances à parte


Notas iniciais do capítulo

Ok, dois capítulos de uma vez só, por favor, deixem reviews! Espero que gostem!



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                Quando eu dormi no chalé de Ártemis, eu me sentia tão calma que eu realmente me surpreendi quando meu sono começou a tomar forma, e logo eu estava sonhando. Sonhei que estava às margens do rio Lete, no Mundo Inferior. Ártemis estava à minha direita, meu pai à esquerda, e Luke atrás de mim. Um vento frio soprava em meu corpo, e percebi que estava nua, mas de algum modo, eu simplesmente não me sentia exposta ou envergonhada. Era como se ali eu tivesse o direito de me despir de tudo e ser apenas sincera, inclusive com meu corpo. Os olhos de Ártemis me focaram e ela disse:

                - Ficarás bem, Caçadora. Aguente.

                Olhei meu pai.

                - Lembre-se de quem és, Thalia, filha de Zeus. – ele disse num tom que dizia “estou te avisando, mas é sua escolha”.

                Luke sussurrou meu nome em meu ouvido sensualmente. Era como se os três me pedissem para ficar, mas me deixassem livre para ir. Livre para mergulhar na imensidão do Lete e deixá-lo levar minhas lembranças. Toda a confusão, todo o medo... Talvez se eu fosse eu me esqueceria de que era uma semideusa. Talvez eu jamais descobrisse. Talvez tudo ficasse bem, afinal. Olhei para o rio, que começou a formar uma “pessoa de água”, sem feições, mas que abria os braços para me dar as boas-vindas, se eu a escolhesse.

                Eu tinha quatro escolhas: ficar com Luke, aceitar ser filha de Zeus e sair da Caçada para não ir contra suas regras, continuar na Caçada com Ártemis ou mergulhar num futuro incerto e desonesto, de certo modo. Então uma imagem apareceu no corpo da pessoa de água. A imagem mostrava a mim, talvez dez anos mais velha, segurando um bebê e olhos azuis como os meus, e um homem sorridente atrás de mim. Havia uma aliança em meu dedo, e eu sorria sinceramente.

                Então a imagem mudou. Era eu, provavelmente com a mesma idade da outra imagem, mas eu parecia velha e cansada, com olheiras fundas, cabelos emaranhados e olhos desfocados como os de uma pessoa louca. Eu estava em um quarto branco de um manicômio, escrevendo em grego antigo na parede, usando o sangue que escorria de meu braço. Outras imagens apareceram e sumiram: eu me embebedando e usando drogas, eu numa faculdade, eu no Acampamento Meio-Sangue, e eu pude vislumbrar uma imagem que passou especialmente rápido, de mim usando a mesma tiara de primeira-tenente.

                Então a pessoa de água voltou a ficar translúcida, e a expectativa no ar era quase palpável. Indecisa, dei um passo à frente, e olhei para trás, mas Luke, Ártemis e meu pai tinham sumido. Quando voltei a olhar para a frente, a pessoa de água formou uma onda gigantesca e me engoliu rapidamente.

                Acordei lacrimejando e suada. Pisquei com força e me sentei, respirando fundo. Olhei pela janela do chalé oito. Ainda estava escuro, e as Caçadoras dormiam tranquilamente. Me levantei e saí do chalé. O vento frio da madrugada me atingia, e o pijama levemente úmido fazia o frio ser maior, mas agradável. Fui até a praia, não porque gostasse em especial, mas pelo vento que acompanha o mar, e os efeitos que poderia causar em minha mente, clareando-a. Sentei na areia com o vento no rosto. Em geral, esse seria o momento em que a pessoa pensaria sobre todos os seus abundantes problemas, mas para mim, quanto mais se pensar sobre os problemas, maiores e mais assustadores eles parecerão ser. Então eu só ouvi o som das ondas contra a costa.

                Deitei e fechei os olhos. As ondas ressoavam, indo e vindo, no mesmo ritmo, numa rotina que me pareceu maravilhosa de se ter. Senti uma presença ao meu lado, sentando-se na areia, e depois se deitando ao meu lado. A presença soltou um suspiro. Abri os olhos e olhei a pessoa ao meu lado. Os olhos azuis de Luke me olhavam. Sua mão escorregou até a minha, sem quebrar o contato visual. Ele a segurou amigavelmente, me olhando como fazia antigamente, quando eu ficava triste.

                Ele apertou minha mão de leve, depois a pressionou contra seu peito, depois contra o meu, e me olhava como se dissesse “Ei, Thalis, você parece precisar de um amigo. Eu sou seu amigo”. Ele voltou a apenas segurar minha mão afetuosamente, e olhou para o céu começando a clarear.

                - Pesadelo? – perguntou.

                - É. Amigo? – retruquei.

                Luke sorriu e me olhou como costumava olhar, quando éramos amigos, companheiros, porque precisávamos um do outro, quando nossa sobrevivência nos unia. De certo modo, nem tanto tinha mudado em tantos anos. Mesmo assim, ele me olhou como se nada tivesse acontecido, e disse:

                - Eu sou sempre, Thalis, sempre seu amigo.

                Olhei para o céu ainda estrelado. Lembrei-me de quando éramos apenas nós dois, fugindo juntos, e às vezes íamos a um bosque ou floresta e dormíamos “ao relento”, olhando as estrelas e procurávamos a Terra do Nunca. Quando ficava com sono, deitava minha cabeça no ombro de Luke, segurando sua mão, e ele me contava alguma história qualquer, e eu dormia com sua voz suave me ninando.

                Encostei minha cabeça contra o ombro de Luke, me sentindo subitamente sonolenta, ainda segurando sua mão, e suspirei. Luke riu de leve e disse, apontando alguma estrela mais brilhante que as outras:

                - Acho que aquela é a Terra do Nunca, Thalis.

                - Não... aposto que é a da esquerda. – falei, reprimindo um bocejo, apenas pela tradição de discordar do garoto.

                - Era uma vez, Thalia, - Luke começou, como fazia – três porquinhos cor-de-rosa que moravam com a mamãe. Certo dia, a mãe lhes disse: “vão construir para si mesmos casas e formar famílias”. Então os três porquinhos foram a um bosque para construírem suas casas. O primeiro porquinho era muito preguiçoso e construiu uma casa de palha, muito mal feita.

                “O segundo gostava de tirar uma soneca à tarde, e por isso construiu uma casa de madeira, meio mal-acabada. Já o terceiro porquinho era muito caprichoso, e queria estar bem seguro contra coisas como lobos, e chuva, então construiu uma casa feita de...”.

                Eu tinha plena consciência da voz de Luke, mas suas palavras não faziam mais sentido para meu cérebro sonolento, e logo eu dormi, me sentindo em casa outra vez. Dessa vez, sem sonhos. 


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Notas finais do capítulo

Ok, deixem reviews, tá? Beijos!!!