Caminho do Ninja Amador: missão especial. Meta 01: crase (parte I)
Postado por Lady Salieri

Olá, meus queridos!


         Olha nós aqui de novo! Mais uma vez agradecendo a participação de todos e pedindo para que vocês sempre nos mande suas opiniões e essas mensagens carinhosas que fazem nossa vida melhor. Nosso muitíssimo obrigada!

         Atendendo a pedidos, a tão esperada missão para dominar a crase (grito da galera, uma ola e "uaaau")! Todavia, como o assunto é um pouco extenso, iremos dividi-la pelo menos entre duas ou três metas, para o encontro não ficar monstruoso como aconteceu da última vez. E nós não queremos que vocês olhem a crase como um Big Boss, porque grande mesmo é só a sombra dela, meus queridos. Pura ilusão de ótica hehehe.

       E, olhem, estamos anotando todas as sugestões que vocês têm mandado, ok? Falar sobre o emprego dos distintos porquês, sobre o travessão, sobre os tempos verbais etc. Tudo isso está programado. A Brenda_Silva nos propôs que fizéssemos sempre o quadro esquemático da aula para facilitar as posteriores leituras, e vamos fazer.

         Continuem, portanto, sugerindo, porque a opinião de vocês realmente conta!

      Uma outra coisa que gostaríamos de falar é sobre um pedido interessante que surgiu nos comentários. Trata-se do nosso amigo Henrik que sugeriu falarmos algo sobre redação para o vestibular. Henrik, querido, esse não é exatamente o foco da seção, haja vista que o Nyah está voltado para a escrita ficcional. Todavia, no "segundo caminho", caminho do ninja semiprofissional, vamos discutir as noções de coesão e coerência, e todos os seus desdobramentos (não-contradição, gerundismo, paralelismo, bla bla bla...), e isso se vê muito nas aulas de redação também. Mas se você tiver qualquer dúvida, nos mande alguma MP que te ajudamos em OFF, ok?

        No mais, é isso, pessoal, já vamos nos aquecendo porque o fim da nossa missão começa agora (o começo do fim, muito bom, hahaha):



                                                              Missão Especial
                                              Meta 01: Dominar a crase (parte I)

 

            Vocês já repararam que quando falamos algumas palavras, sempre colocamos um "a" ou um "o" antes delas?



Fui deixar o cachorro da minha tia no pet shop.
Ela queria muito comprar a agenda Feminina.



        É verdade, mas eu falo "uma" também: "Ela queria comprar uma agenda..."



        E está certo, claro (aquelas, *cara de brava*: "psssit"). Mas fiquem tranquilos. O "uma" não é uma arma usável para esta meta, só o "a" hehehehe...


        Continuando....


        O nome bonitinho desse "o" e desse "a" que lemos ali em cima é: artigo definido.Mais adiante vamos nos ater mais a ele. Por agora é importante ressaltar o óbvio: o artigo definido "a" acompanha as palavras ( chamadas elegantemente de substantivos) femininas (como "a agenda") e o artigo definido "o" acompanha os substantivos masculinos ( como "o cachorro"). Simples assim.


Definido por que, mestres?


        Elementar, meus caros Watsons, são definidos porque geralmente particularizam o sentido da palavra que eles acompanham. "O cachorro da minha tia" não é qualquer cachorro, nem "a agenda Feminina" é qualquer agenda.


        Ótimo. Seguindo mais uma vez...


        Mas, além de acompanhar o substantivo (o nome das coisas) e funcionar como artigo definido, o "a" também tem uma outra função, não é mesmo? Vamos pensar nestas frases aqui:



Fui a São Paulo fazer compras.
Ele vem a Goiânia todos dias para vender roupas.


       
        Esse "a" das frases acima não pode ser considerado artigo definido, certo?


E por que não? Não está acompanhando São Paulo e Goiânia?


    Não, meus queridos. Reparem bem para vocês verem se esse "a" que vem antes de São Paulo ou Goiânia está particularizando qualquer uma destas duas cidades frente a outras cidades. Não, certo? O "a" está indicando o lugar para onde "eu" "fui" e o lugar para onde "ele" "vem" fazer compras. O nome bonitinho dele é preposição de lugar. Também mais adiante discutiremos esse ponto de forma detalhada. Todavia, para o momento é importante saber somente que a preposição de lugar é uma partícula que indica, tarãm: lugar.


Tipo "para"?


        Isso, ninjas noob dos nossos corações! Tipo "para"! Inclusive, reparem nas frases que citamos acima, trocando o "a" por "para":




Fui para São Paulo fazer compras.
Ele vem  para Goiânia todos dias para vender roupas.


       
        O "a" não pode ser artigo porque jamais se poderia fazer algo semelhante com o artigo.



        Há também uns verbos (chamados elegentemente de verbos transitivos indiretos) que nós falamos e a regência "pede" essa preposiçãozinha "a" (também falaremos de regência mais adiante, então não sofram por agora). Uns exemplos:



Obedecer a
Referir-se a
Aspirar a  (sentido de desejar)



       Agora, sim, já podemos adentrar a caverna da crase. Ignorem as placas de "não entre" e "caia fora" porque a empreitada será rápida e certeira...



        Então, o que é crase? É aquele acentinho virado para a esquerda que a gente coloca em cima do "a" ? Não! Como muito bem nosso colega Henrik nos lembrou, a crase se trata de um fênomeno. Aquele acento viradinho para a esquerda se chama "acento grave".

      Crase é uma palavra de origem grega (Krasis - todo mundo colocando o nome no filho de Krasis agora, hein! Heheh) que significa "fusão", "mistura".  No português, essa fusão se dá quando existem duas vogais idênticas, no caso, adivinhem: o "a". Será que somos só nós que quando se fala em "fusão" se lembra do Dragon Ball? É inevitável hahaha! Vamos imaginar o Goten e o Trunks, cada um com um "A" na camisa, fazendo a coreografia da fusão. Quando eles se fundem em Gotenks, o "A" da camisa dele fica assim: À. Tadá!

        Mas quando será necessário o A da camisa do Goten e o A da camisa do Trunks se tornar o À do Gotenks? Em primeiro lugar, sempre vai haver no processo uma preposição (a) e um artigo (a). Em segundo lugar, antes de palavras femininas. O artigo que acompanha os substantivos masculinos é o "o", então todas as palavras masculinas estão fora da lista. Uns exemplos para facilitar:



Ele disse a                 a irmã que não tinha visto. nada FUU - SÃO! Ele disse à irmã que não tinha visto nada.
       (preposição         art.que acompanha irmã)
que acompanha      
  o verbo dizer)



O vereador estava grato a        a população. FUU -
SÃO!
O vereador estava grato à população.
                       (preposição       (art.que acompanha população)
                  que acompanha      
                     o nome grato)


       
        A crase sempre vai acontecer também diante de palavras que indicam "a moda de". Como quando falamos "comemos churrasco à gaúcha".


         Todavia, como essas expressões não são muito comuns (churrasco à gaúcha, sair à francesa, sapato à Luis XV) não nos preocuparíamos muito com elas. Até porque, já escutamos muito, em lugar de se falar "à alguma coisa", muita gente fala "a la alguma coisa". Por exemplo:


 
Decorando à francesa. -->à moda francesa Decorando a la francesa. --> à moda francesa
       



E, ainda, ocorre a crase sempre antes das horas. Mas que fique bem claro uma coisa, não é por causa dos números. Não se põe artigo antes de número. A crase ocorre justamente por causa do substantivo "horas" que, adivinhem, é feminino!


Exemplos:



Acordo todos dias às sete horas da manhã.
Ele chega às dez da noite. --> o substantivo horas está escondido depois da palavra dez, ok?
Eles saíram às oito horas.
 



        Lembram-se de que eu disse lá em cima que o "a" pode ser artigo e também pode ser preposição de lugar? Esse é um dos casos em que ocorre a crase, com esses verbos que indicam locomoção. Olha o exemplo:


Eu vou a                            a igreja todos os domingos
                      (prep. lugar)               (art. def. que acompanha o substantivo igreja)


        Eu posso escrever isto: Eu vou a a igreja todos os domingos?
                                              


        Mas de jeito nenhum! O "a" do "vou" (e é sempre ir "a" quando se está falando de lugar, ok? Eu não vou "em", beleza?)  precisa dançar a fusão com o "a" da igreja. Para ficar assim:


       
Eu vou à igreja todos os domingos
                   prep. lugar + artigo definido

       
          E vocês já repararam que quando pronunciamos a crase, pronunciamos um "a" mais longo? Isso porque são dois "as" mesmo.

        A dancinha da fusão também vai acontecer quando houver verbos do tipo que colocamos acima (transitivos indiretos), que "pedem" o "a" na regência. Existem mais além daqueles, claro. Os três que passamos acima foi só um exemplo didático, afinal de contas, imaginem quantos verbos há na língua portuguesa... Só para que vocês saibam, meus queridos, existe até dicionário de regência. E há momentos em que a gente se perde, é normal. Aconselhamos que, no caso de qualquer dúvida com relação à regência (usamos a crase, viram, viram, viram?), consultem nosso guru google,  24hs por dia ao nosso dispor sem reclamar.

        
        Então, vejamos mais alguns exemplos:  



Devemos obedecer a as normas da escola.          FUUU- SÃO!  Devemos obedecer às normas da escola.
Eu me refiro a a menina de cabelos loiros.           FUUU- SÃO! Eu me refiro à menina de cabelos loiros.
Ela aspira a a carreira de escritora.      FUUU- SÃO!      Ela aspira à carreira de escritora.



        Estes são os casos básicos em que se usa a crase.
      

        Agora, achamos interessante falar também sobre algumas maneiras de fazer a verificação da existência ou não da crase, de forma que vocês se sintam mais seguros.

        A primeira é muito simples, primeiro vamos ao exemplo:
Conheço a aluna Conheço o aluno. (Só tem artigo, não tem preposição)
Eu me refiro à menina de cabelos loiros.        Eu me refiro ao menino de cabelos loiros (Tem preposição "a" e artigo "o" --> a+o = ao)
      


        O que foi feito? Da primeira coluna para a segunda, trocou-se a palavra feminina pela masculina. Se quando vocês trocarem a frase tiver "ao" (ou seja, preposição + artigo definido masculino), com a palavra feminina vai haver crase (como é o caso da segunda coluna). É como se o feminino de "ao" fosse "à", deu para entender?

        Com relação ao lugar, vejamos:



Eu vou à igreja. Eu volto da igreja.
Eu vou a Minas Gerais. Eu volto de Minas Gerais.


       

Para tudo! Congela! Como assim, tem nome de lugar que tem crase e nome de lugar que não?


        Não sofram, meus queridos. Simplesmente há nomes de certos lugares que não possuem artigos, assim sendo, não haverá o fenômeno da crase. Mas, olhem, pensem neste "macete" que vamos lhes passar que vocês jamais se esquecerão:


Quem "vai A" e volta "DA": crase HÁ.
Quem "vai A" e volta "DE": crase pra QUÊ?


        Muito fácil, não é mesmo?

        Só lembrando que se esse lugar for um lugar específico, ou seja, por exemplo: Minas Gerais (não tem artigo) --> As Minas Gerais de Carlos Drummond (não são quaisquer Minas Gerais, mas as Minas Gerais dos poemas do Drummond, portanto tem artigo). Nesse caso aqui ocorrerá a crase:

Ex:

Quero retornar às Minas Gerais de Carlos Drummond.
        
   E lembrando o macete ali em cima, a gente "vai às Minas Gerais de Drummond" e "volta DAS Minas Gerais de Drummond". Quem vai "a" e volta "da"? Crase HÁ (yeeey!).
 
         Uma outra maneira é trocar o "a" por "para", como fizemos lá no início. Reparem bem: 


Contarei uma história a você Contarei uma história para você
Ela entregou o caderno à sua namorada Eu entreguei o caderno para a sua namorada

       
           Na primeira frase não ocorre a crase porque só há preposição, mas não há artigo. Não dá para fazer a fusão só com o Goten, só com um elemento. Já no segundo caso, o "para a" indica a presença da preposição + artigo.


                    É... Mas então, se eu quiser, em lugar do "a", eu posso usar sempre "para"?


        Sempre que possível, meus caros. Alguns verbos permitirão e outros não. Por exemplo, eu não posso dizer "obedecer para a norma" no lugar "obedecer à norma". Mas com relação a lugar isso sempre será possível ( Eu vou à Bahia,/ Eu vou para a Bahia) , assim que se vocês preferirem o "para" ao "a", sintam-se à vontade. E sempre que for possível, se vocês preferirem o "para" ao "a", não há nenhuma problema também. É o que aconselhamos, na verdade.

        Queridos, por hoje é isso. Vamos ficar aqui ainda de vigia neste esconderijo da caverna, porque ainda falta ver mais alguns casos em que ocorre a crase, casos em que NÃO há crase e os maravilhosos casos facultativos, os pontos fortes da ilusão de ótica do nosso falso Big Boss. Mas não tem nada de mais.

           Por agora, deixamos um quadro esquemático. Como já dissemos anteriormente, o correto é que vocês se tornem conscientes dos processos, porque aí saberão tudo de cor e salteado. Mas para eventuais emergências, este quadro serve como uma bengalinha:


RESUMO:

 

 

Crase:  fusão  de dois aa, ou aas, com a finalidade de evitar uma pronúncia desarmoniosa

Casos em que ocorre a crase:
Exemplos:
1) Diante de palavras femininas:  Ele disse à irmã que não tinha visto nada.
2) Diante de palavras que que indicam "a moda de", "ao estilo de": Não gosto de churrasco à gaúcha.
3) Antes das horas:    
Saio todo dia às sete da manhã
4) Antes dos nomes de alguns lugares: Ela vai à igreja sempre.
5)  Depois de verbos transitivos indiretos (aqueles que pedem a prep. A): Devemos obedecer à lei.

 

 




        Não vamos nos despedir ainda, não, porque se a gente chorar demais, podem descobrir nosso esconderijo. (Cochicha) Então nos vemos na próxima meta.

                                                                                               
                                                                               
                                                                                               Lady Salieri e Nah Rangel


Comentários

Aophia

07/04/2018 às 14:35

Minha bera enviou-me os links para essas aulas e eu estou muito contente! Lembro-me que quando pequena, eu apagava todos acentos graves, pois acreditava que eram acentos agudos escritos errados XD

As aulas da Liga dos Betas são divertidas e muito esclarecedoras. Educação de qualidade, gratuita, ao alcance de todos. Por que vocês ainda não receberam um prêmio por isso? 



AnnaGrandchamp007

01/12/2016 às 17:15

Essa explicação usando Dragon Ball foi fantástica! Crase é um dos acentos em LP que eu não consigo aprender de jeito nenhum, mas agora... (Meme de expansão). Tudo faz sentido agora!!! Obrigada mesmo, vou correndo na próxima aula! Quero me tornar uma grande Ninja!

 



KawaiiMoon

18/11/2016 às 21:45

Tive uma dúvida nos exemplos de frase trocando o "A" pelo "para".

*Ela entregou o caderno à sua namorada / Eu entreguei o caderno para a sua namorada 

O correto não seria:

*Ela entregou caderno à sua namorada / Ela entregou o caderno para a sua namorada

?

Se eu estiver errada me desculpe...



Daniel Francisco

18/10/2016 às 21:11

Crase é uma palavra de origem grega (Krasis - todo mundo colocando o nome no filho de Krasis agora, hein! Heheh) que significa "fusão", "mistura".  No português, essa fusão se dá quando existem duas vogais idênticas, no caso, adivinhem: o "a". Será que somos só nós que quando se fala em "fusão" se lembra do Dragon Ball? É inevitável hahaha! Vamos imaginar o Goten e o Trunks, cada um com um "A" na camisa, fazendo a coreografia da fusão. Quando eles se fundem em Gotenks, o "A" da camisa dele fica assim: À. Tadá!

 

Se minha professora explicasse assim kkkkkk



Hermione Malfoy

25/09/2016 às 08:07

Estou adorando!! Acho que aprendo mais aqui do que com a minha professora de Português. Beijos.



Simone Moura

02/08/2016 às 20:25

Excelente explicação!



30/12/2015 às 18:21

Neste momento foi-me revelado um segredo do universo que jamais sonhei compreender; a existência de "ao". Não que eu tivesse efetivamente ido atrás dessa informação, porque nunca tive problemas na "intuição" de quando usá-la ou não, mas tudo fica mais incrível quando compreendemos. E esse macete de "vai a e volta da / vai a e volta de" é muito bom também.

Obrigado pela excelente ajuda.



Milena

30/12/2015 às 10:24

Aprendo mais nas aulas de português do Nyah do que na escola. Obrigada por facilitarem e me ajudarem a guardar na memória, quando devo usar a crase, mais facilmente com esse "macete". Com certeza me ajudará bastante no futuro! ♥



Lua

14/10/2015 às 00:15

Essa aula me fez lembrar de uma antiga professora que me deu aulas no ensino médio. Ele era um pouco louquinha... hm, digo... excêntrica. Costumava fazer rimas com tudo, nunca esqueci de uma e quase pulei da cadeira quando a li:

"Vou à, volto da: Crase há.

Vou a, volto de: Crase pra quê?"

Ótimas aulas, meninas, parabéns. Vou tentar ficar em dia com elas ♥



Srta Sun

09/10/2015 às 10:08

Eu entendi a maioria das coisas, mais na próxima aula eu esclareço minha dúvida no texto mesmo. *risos* bem eu vou lavar meu cabelo (cochicha) e depois eu volto beijos ~.~