Minhas patas tocavam a terra com voracidade, meus pelos eram atacados pelo vento gélido, minha mente se perdia nos instintos do lobo que sou.

A claridade da manhã começara a vencer a escuridão da noite; o sereno estava esvaindo aos poucos; a floresta estava parcialmente em silêncio, o que definitivamente era estranho. Só conseguia ouvir meus passos e minha respiração acelerada, até as corujas estavam quietas.

Um leve aroma desconhecido me atingiu, puxei a maior quantidade de ar que meus pulmões suportaram. Era algo intrigante, levemente adocicado ao mesmo tempo em que era cítrico. Nunca havia sentido nada parecido, talvez devesse voltar e avisar ao Jake sobre esse cheiro.

Deveria voltar, não era certo ir de encontro ao desconhecido sozinho, mas não consegui. A curiosidade me venceu! Acelerei a corrida, seguindo a trilha do aroma, como eu queria que mais alguém do bando entrasse em fase, porém, quando se precisa deles, eles nunca aparecem.

O cheiro se intensificava na medida em que me aproximava das montanhas; os pássaros voltavam a cantar; os esquilos e lebres voltavam a se movimentar pela mata, como se o que os assustou, já estivesse ido. Mas o aroma ainda estava presente. Comecei a me preparar para uma luta, afinal, o estranho estava em nosso território, defenderia La Push com coragem.

Não havia medo em mim, sou um lobo! Sei que posso vencer qualquer obstáculo,  mesmo sendo um dos lobos mais jovens. Sou experiente! Já lutei ao lado de Edward e  estava pronto para entrar em uma guerra contra os Volturi, pela vida de Renesmee.

Lembrando-me de tudo pelo que passei nos últimos dois anos, vejo o quanto minha vida mudou desde que meu pai faleceu. Da transformação até a amizade com os Cullens.

Atrás das árvores, o cheiro estava concentrado, ele começava e terminava neste ponto. Na mesma clareira onde ocorrem as reuniões do nosso bando. Preparei-me, ampliando a distância entre as patas e saltei atravessando as árvores, um rosnado se formou em meu peito, rosnado esse, que se desfez assim que meus olhos encontraram o corpo sobre a grama.

Era uma garota! Pele branca, cabelos negros, emaranhados e cheios de nós com estatura mediana. Ela estava deitada de bruços, como se houvesse sofrido uma queda, seu corpo estava despido, o que me permitia ver a maioria das partes dele, que além de sujo estava muito machucado, repleto de cortes e arranhões.

Era uma completa estranha, o certo seria atacá-la, mas não conseguia. Ela estava totalmente debilitada, talvez ate berrando a morte. E sinceramente, não expressava perigo algum. Só não conseguia entender, o motivo pelo qual ela estava nua e machucada no meio da floresta. Ela gemeu e percebi que estava acordando. Não sabia o que era ou queria, mas achei melhor me tornar humano. Não queria assustá-la.

Deixei todo o fogo que tinha em meu sangue esfriar, minha espinha tremeu levemente e então minhas patas encolheram. Estava de pé como homem novamente. Vesti-me apressadamente, indo de encontro a ela com a minha camisa nas mãos.

Ajoelhei-me ao seu lado, virando-a de barriga para cima. Tentei não olhar para suas partes intimas. Ela estava bem abatida e magra, mas ainda assim, seu corpo tinha curvas atraentes e sua face uma beleza exótica. Ela mexeu a cabeça, se sentando com a minha ajuda, esforçou-se e conseguiu abrir os olhos. Olhos de uma cor de mel impossível. Parecia vidro sendo derretido, tinham aparência leitosa, algo assustadoramente enfeito. Perdi-me dentro de pupilas tão envolvente, até que ela quebrou a ponte que ligava nossos olhares se esquivando para trás. Ela estava com medo.

—Calma. - falei erguendo as mãos. Ela olhou para si mesma e tapou os delicados seios com os braços. - Coloque. - Estendi a minha camisa. Ela olhou, esperou e então aceitou. Vestiu-se rapidamente, ficando de pé em seguida. Minha camisa lhe servia de vestido, indo ate metade das coxas. Ela me encarava assustada, com medo em seus olhos. Dei um passo em sua direção e ela recuou imediatamente.

—Calma, só quero ajudá-la! - Por trás da sujeira que tomava sua face, a garota pareceu se acalmar. - Eu sou o Seth, como você se chama?- Ela pareceu tentar lembrar o próprio nome.

—Clarissa. - A voz da garota estava rouca e desgastada. Ela parecia ter sofrido muito ate chegar onde estamos.

—O que aconteceu com você?

—Eu cai. - A voz falhava, como se sua garganta não visse água há muito tempo.

—Caiu de onde?- Ela olhou para o céu. Ela estava dizendo que caiu do céu? Algo me dizia que não fora de um avião.

—O que você é?- Perguntei intrigado, com a garota tão misteriosa.

Ela não era um vampiro, nem um lobo e com certeza, também não era humano!