Apenas para Lembrar escrita por VenusHalation


Capítulo 9
Capítulo 8 - Descrença




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Alemanha, 1 de abril de 1933.

O dia ainda não havia clareado, um velho homem de cabelo e barba brancos e compridos, mas mostrando uma careca lustrosa no topo da cabeça, andava pela loja de sapatos. Ele parava entre uma e outra prateleira polindo, engraxando e limpando cada par de sapatos a ser expostos e vendidos. Saul, este o nome do velho homem dono da loja de sapatos, sempre acordava cedo e cuidava de sua loja, depois subia novamente pela escada de madeira indo para sua casa onde a mulher, Adelle, o servia um bom gole de café e pães.

– Bom dia, Adelle!

– Bom dia meu querido, subiu rápido hoje.

– Eram poucos os sapatos e quero descer e ensinar Noah, hoje.

– Me ensinar, vovô?

Por de trás da porta da cozinha Noah escutava. Era um menino bonito, forte, muito branco e de olhos tão verdes e grandes que destacavam pelo fato do cabelo ser de um tom muito escuro. Ele parecia animado com a notícia.

– Já está na idade! - Sorria Saul. - Afinal, hoje faz 13 anos!

Noah correu para mesa, abraçando o avô, em seguida tomando o seu café com velocidade e animação. Deixou-se ser arrumado pelo avô, que o deu um terno feito sob medida e um chapéu.

– Verdadeiras vestes judias, não é mesmo? - O velho homem colocava o neto de frente para o espelho.

– Espere até eu me casar e deixar a barba crescer, meu avô!

Desceram as escadas e começaram a abrir a sapataria, abrindo as cortinas nas janelas e a porta de madeira. Seria o dia em que Noah aprenderia a tomar conta dos negócios, como seu pai não pudera. Estava orgulhoso de si.

Ele seguia para fora com a placa da loja, iria pendurá-la como sempre vira o avô fazer, utilizando a haste de ferro que pendurava a plaquinha no teto, porém, foi impedido por um soldado, que lhe abaixou a haste. Olhou para os lados, muitos soldados estavam ali, um a um impedindo várias lojas de abrirem.

– O que pensam que estão fazendo!? - O garotinho de olhos verdes empurrou o soldado.

– Raça imunda! - Ele apontava a escopeta no pescoço do pequeno. - Me dê licença, já! - Empurrou o pequeno e o fez cair sentado no chão. - Venham homens!

Outros soldados se aproximaram, tinham em mãos o balde de tinta branca riscando no vidro da loja o simbolo nazista em seguida pendurando a placa com os dizeres "Alemães, defendam-se! Não comprem dos judeus!"

– Noah! - Saul correu para fora pegando o neto pelas mãos. - Não abriremos hoje, sim? Vamos para dentro.

~*~

Alemanha, 6 de fevereiro de 1940.

– Senhores, vamos, os lucros estão baixos. Sei que os alemães não têm sido muito bons para com os judeus, mas estamos apenas tentado ajudar... - Dizia o soldado. - Vamos apenas levá-los para realocação de trabalho, será muito melhor! Essa é última loja, aqui aberta. Pensem na oportunidade que o governo está lhes dando!

– Senhor, esta loja é... – Noah foi interrompido pelo avô.

– Não há lucros Noah, essa loja é importante para nossa família, eu sei... Mas não daremos conta. Vamos embora.

– Obrigada pela atenção senhores. – O soldado sorriu. – Podem arrumar suas malas, amanhã pela manhã viremos buscá-los.

O soldado saiu da loja calmamente, Saul observava o neto, que se apoiava no balcão e olhava em volta a loja cheia de sapatos. O Rapaz realmente havia crescido, ainda mantinha aquela cor pálida, os cabelos escuros e olhos de ver intenso, mas tinha o rosto de homem e os ombros largos, as mãos um pouco calejadas pelo intenso trabalho na sapataria. Noah era um homem feito. Saul só poderia sentir orgulho.

– Você se tornou um rapaz muito responsável Noah... Você tem me ajudado muito na loja nos últimos anos, mas às vezes algumas escolhas são inevitáveis. Os tempos são de guerra devemos nos mover.

– Não confio nos alemães meu avô.

– Apenas creia tudo bem?

– Desde aquele dia, quando aquele soldado apareceu... Tudo tem sido um inferno. Não sei se tenho força para crer.

– Você é forte rapaz. Vamos, feche a loja e arrume suas malas.

Fecharam a loja, arrumaram os poucos pertences que tinham e dormiram. Acordaram cedo, tomaram o café que Adelle servia vagarosamente por conta da idade avançada, tudo na paz e no silêncio até ouvirem o sino na porta da loja, os soldados nazistas haviam chegado. Adelle apenas arrumou pequenas trouxas com pão seco e entregou a Noah e Saul, desceram as escadas sendo recebidos pelos soldados.

– Bom dia, senhores, senhora! – Um dos soldados se aproximou observando atentamente os três, andando até alguns soldados que guiavam duas imensas carroças cheias de gente. Começaram a conversar, até que ele voltou.

– Com licença senhor...

– Saul, Saul Schneider.

– Senhor Saul, creio que o senhor e sua mulher terão de pegar esta carroça, pois, está cheia. O jovem pode esperar a próxima?

– Não! – Esbravejou Noah. – Não irei sem meus avós!

– Quer que eles vão no aperto ou confortáveis, senhor? O Sol da manhã é brando e não queimará seus rostos ou os farão passar mal. Uma viagem mais tarde acarretaria em consequências terríveis! Não seja egoísta, seus avós estão em idade avançada!

– Noah... Escute-os, sim? – Saul abraçou a esposa. – Ficaremos bem, nos encontraremos mais tarde! Vamos, creia!

O jovem de olhos verdes observou os soldados a sua volta e o sorriso largo do avô.

– Tudo bem... – assentiu o jovem.

– Se cuide meu querido... – Abraçou-lhe a avó.

– Nos vemos na nova vida, hein? – Noah sentiu o afago do avô.

– Na nova vida... – Ele falou sem animação vendo os avós partirem.

Sentou-se na calçada, esperando o próximo meio de transporte, este chegou mais uma vez rodeado por soldados nazistas por volta do meio dia.

Subiu na parte de trás da carroça, haviam muitos mais jovens como ele lá dentro e até mesmo algumas crianças. Fedia, não havia lugar para sentar e todos ali estavam no sufoco por conta do calor. Chegaram à estação ferroviária, onde mais uma vez foram colocados em vagões lotados. Desceram na vila de Belzec onde colocados em outra carroça, com condições privadas muito piores, andaram por quatro horas.

– Chegamos. – Um soldado falou. – Distrito de Lublin-Lviv.

A entrada era uma rampa com estrada de ferro, os soldados empurraram vários vagões pelos trilhos, alguns iam para um lado e outros para outro lado. No final de uma delas, onde Noah estava, mandaram que todos descessem e entrassem num lugar onde haviam barracas. Sepraram homens, mulheres e crianças. O moreno olhou em volta, mandaram que ele entrasse em uma das barracas com outros jovens. Soldados apontavam-lhes armas e mandavam que se despissem. Observavam um por um e os separavam em dois grupos. Noah foi mandando para um pequeno grupo com alguns jovens como ele. Tiraram-nos dali e os levaram.

No caminho o campo era separado por uma cerca camuflada e dois portões, e um aminho extenso para a floresta. O cheiro que vinha era forte.

– Que cheiro é esse? – Perguntava um rapaz moreno.

– Quieto cigano! – Um dos soldados gritou. – Irão descobrir em minutos, apenas vão ali e se vistam com isso!

O soldado jogou para os jovens velhos trapos de roupas, que com certeza não eram deles, as armas ainda estavam apontadas em suas cabeças, vestiram-se rápido sentindo medo, aquilo não era uma oportunidade, sim uma emboscada.

Seguiram de volta para o portão que dava para o outro lado do campo, o lado com cheiro forte. Os soldados abriram a grande porta de madeira,. empurrando os jovens para dentro, era o final da oura estrada de ferro. Uma área de total extermínio, corpos por todos os lados, homens como eles desnutridos e trabalhando, incinerando os corpos dos seus, um por um.

Terror.

A palavra definia exatamente o que se passava ali.

– Que diabos é isso? – Noah indagava com a voz falhando.

– Isso é o que todas as malditas raças como judeus, ciganas e eslavas merecem! – Um soldado ameaçava o garoto com a arma.

– E se quiserem sair daqui com vida e seus familiares, também, trabalhem, já!

O medo tomava conta não só de Noah, mas dos outros rapazes e moças jovens postos pra trabalhar ali. Empenhavam-se, dias e dias, para ficar vivos. Dormiam em “gavetas” de madeira, amontoados, mal comiam, apanhavam, alguns morriam pelas condições precárias de limpeza ou simplesmente pelos soldados acharem que sua serventia não valia de nada. Eram todos mandados às câmaras de gás.

Noah queria ir, queria morrer, não suportava mais, mas os soldados sempre lhe diziam “Seu avozinho e sua avozinha... Não se esqueça!” e ele se motivava a continuar, mas não era o bastante. Passava fome, frio, esforço não era o suficiente, não suportava mais. Um dia o levaram para tomar um banho, mal sabia Noah, mas aquilo era uma câmara de gás.

Morreu miseravelmente, assim como sua alma vagava miserável, arrastando a corrente do peito por onde passava.

– Vovó... Vovô... – A alma repetia para si como uma criança. – Disseram-me para crer, estou crendo... Eu creio... Vai tudo dar certo... Eu creio.

E foi assim, nenhum shinigami veio buscá-lo. E aquela corrente deu espaço aquele buraco no lugar do seu coração, a mais pura descrença.

Atravessou o Hueco Mundo, aquele imenso deserto derrotando a todos, era um vasto lorde por si só. Um dos tipos de hollows mais temidos, andando no deserto, encontrou Las Noches, sendo recebido por Aizen Sousuke.

– Potencial... – O homem dizia a ele. – Tenho a cura para sua dor, o remédio, te darei o esquecimento e te trarei poder.

– Vovô... – A voz gutural emanava no vasto lorde.

– Quanta dor e descrença em um só hollow... – Aizen se aproximou. – Conheça o poder do Hogyoku, meu mais novo servo...

Aquele brilho sinistro saiu daquela pedra segurada por Aizen e envolveu a criatura a sua frente que gritou ao setir sua transformação cada vez maior. O hollow havia tomado uma aparencia quase humana, encarou Aizen Sousuke, era um homem pálido, trazia do lado esquerdo da cabeça o que havia sobrado de sua máscara de ossos, os orbes verdes eram intensos e marcados por rastros escuros, lembravam lágrimas.

– Bem vindo... - Aizen encarou os olhos do Arrankar. - O que chora... - Sussurou baixo, soltando uma leve risada. - Ulquiorra Schiffer...

– Aizen-sama... - Movido pelo poder do Hogyoku reverenciou.

~*~

– Eu tenho um passado. – Ulquiorra se levantou do beco escuro, fez um movimento com a mão, em seguida, abrindo uma Garganta.


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Notas finais do capítulo

Dois dias na mais intensa leitura sobre a segunda guerra mundial... Acho que valeram a pena xDFoi um apítulo que me enriqueceu culturalmente hahahaEmbora muitos detalhes sejam fictícios a maioria das datas são verdadeiras =PO campo de concentração tambpem existiu e a familia de sapateiros judia chamada Schneider também xDO nome "Noah" o qual eu dei a Ulquiorra tem o significado de "O desistente" e, também, de "repouso" ou "tranquilidade" gostei pq me descrevia bem a situação, na verdade bem extremistas os significados... E sim, é um nome Judeu xDBom... Um jeitinho legal de estudar história -qEnfim... Espero que gostem!;***