O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 35
Capítulo 35




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P.O.V – Hellena di Fontana

-Como assim? – ele franziu o cenho.

-Elas paravam de interagir com você, e vinham até mim.

-Isso é estranho.

-Minha vida é estranha.

Ele abaixou os olhos ate o anel.

-Não me devolva Hellena, por favor, fique com ele. – murmurou de olhos baixos. Se ele não fosse vampiro, eu poderia jurar que via lagrimas caírem de seus olhos perfeitos.

Céus, eu estava caindo em tentação.

-É melhor eu voltar para casa. – falei me levantando. Olhei todos os pratos sujos. Gemi. – Antes vou ajudá-lo com a louça. – empilhei os objetos, e levei ate a pia.

Ele não veio ate mim, e não disse nada, apenas guardou o resto da comida, que provavelmente estragaria na geladeira, e se sentou no piano.

Passou a dedilhar musicas melodiosas, e de autoria própria. Criando novas notas que dançavam pelo ar. Depois de terminar, fiquei parada, com os cotovelos apoiados na bancada, ouvindo enquanto ele tocava com maestria, e a destreza de um musicista profissional.

-Sinto sua falta. – ele murmurou entre notas.

Os dedos brancos e longos dele me lembravam as teclas do piano.

Ignorei seu comentário, e passei a rodar a casa com meus olhos. As paredes que eu pintara, os moveis que diversas vezes eu usara, os vasos de flores que eu trazia para enfeitar e dar vida a casa, agora murchas. Tudo estava com um ar decadente e depressivo.

Ele começou a tocar uma das minhas musicas que havia roubado e depois a que eu avia lhe dado de natal, subi as escadas com pressa.

Cheguei ao quarto que eu havia bagunçado todo. Suspirei me preparando para mais trabalho e pensando no que dizer para Quenn e Blake ao chegar em casa.

-“Life is a mystery, everyone must stand alone. I hear you call my name. And it feels like home” – comecei a cantarolar “Like a Prayer” de Madonna, e dançar no ritmo da musica, mas me detive no meio de um passo, quando alguma coisa começou a me puxar.

Era como se eu estivesse sendo sugada por um vácuo. Sabe naqueles filmes quando um foguete decola, e deixa todos colados na parede? Era assim que eu me sentia, como se estivesse nadando em melado.

Tentei gritar por ajuda, mas o ar a minha volta causava uma grande pressão, e ele faltava em meu pulmão.

Então tudo ficou escuro.

Alguma coisa pingava do teto, e o barulho repetido do ‘ping-ping’, estalava em meus ouvidos.

O lugar era frio, escuro e úmido.

Estava tão úmido, que meu cabelo ficou frisado no minuto seguinte que eu levantei minha cabeça.

Tentei ficar em pé, mas meus joelhos cediam como se eu não tivesse ossos, e sim gelatina para me sustentar. Meus músculos ardiam em cãibras, e tudo a minha volta rodava.

Forcei o meu corpo a resistir e a se levantar, e com dificuldade, ele cedeu, obedecendo às ordens dadas por meu cérebro.

Ok. O primeiro passo foi cumprido, eu estava em pé, o único problema era conseguir me mexer naquilo que parecia ser uma caverna. Um ar gelado corria por minhas pernas, fazendo um tecido fino esvoaçar por elas.

Analisei meu corpo, e me vi vestindo um vestido de seda branco, com uma cauda longa e ondulante.

Dei um passo, e o tecido farfalhou as minhas costas.

Comecei a andar para dentro da caverna. A entrada era como uma boca escancarada de algum animal faminto, pronto para me devorar. Senti as pedras ásperas e frias roçarem em meus pés descalços.

Não sei por quanto tempo fiquei andando por aquele caminho escuro, e pouco iluminado por filetes de luz que escapavam de frestas no teto. Mas aos poucos, comecei a avistar uma luz no fim do túnel. Que estupidez...

A luz era fraca e bruxuleante, como a chama de uma vela prestes a se apagar, e a cada passo que eu dava em sua direção, ela parecia ficar mais e mais longe.

Quando finalmente cheguei ao fim do maldito túnel, eu realmente pensei em voltar para o gelo assustador e doentio das pedras. A visão que se estendia na minha frente, nem de longe chegava a ser friozinho, mas passava totalmente o assustador. Eu estava no próprio inferno, e Dacra estava lá.

Estava Dacra e mais uma mulher, a mulher que habitava a maioria dos meus sonhos, e uau! Ela era a minha cara, ou eu era a cara dela, sei lá. Só sei que éramos a copia uma da outra.

Hum... Ta. Ela devia ter uns trinta anos, e eu dezesseis, mas éramos idênticas.

A mulher usava um vestido como a maioria dos outros que ela usava em outros sonhos, simples e ondulante, como o meu.

As duas estavam paradas a beira de um penhasco, e ao invés do som das ondas do mar lá embaixo, eu ouvia gritos desesperados de pessoas. Um arrepio cruzou meu corpo, quando sem mandar, me aproximei delas.

-Veja Hellena, esta vendo essas pessoas? – a dama misteriosa indicou o mar de pessoas. Concordei tremula. – Apenas nos podemos falar com elas, ninguém mais pode.

-Eu não quero poder falar com elas. – tentei me afastar da beira do penhasco, mas eu parecia acorrentada ali. – Machuca muito. – balbuciei chorosa.

-Eu sei minha querida. – Dacra começou a se afastar em silencio, seu vestido vermelho cintilando como o fogo crepitante. – Mas esse é o preço a se pagar por nosso dom. – sussurrou. Sua voz estava lacrimosa, como se chorasse por ela.

-Que dom é esse que me corri por dentro? – gritei. – Apenas para ver pessoas mortas! Eu não quero esse dom! Tira ele de mim! – implorei.

-Não se pode tirar algo que nasceu em você. Isso esta enraizado nas suas entranhas e em seu DNA.

-O que esse dom faz de bom? Quem morreu tem que continuar morto, tem que ser esquecido, apagado pelo tempo. – murmurei mais para mim mesma que para ela.

-A morte é apenas um sono sem sonhos minha filha, um sono eterno. Seu dom é mais do que ver a morte, o seu dom da à vida.

-Hã?

-Quando estiver madura, e seu poder estiver completo, aprendera que ele vale à pena. – sua voz começou a ficar longínqua.

-Espere... Quem é você? Você é a rainha? O que eu sou? – mas minhas perguntas foram em vão, ela já havia se diluído no ar, como uma bolha de sabão que sobe, sobe, apenas para estourar.

Eu continuei no penhasco de almas.

Não queria olhar para baixo, com medo de avistar alguém que eu conhecesse ali. Blake, Quenn, Hoppe, Georgina, e, sobretudo Alec, as pessoas mais importantes e únicas na minha vida.

Coisas desconexas começaram a invadirem minha mente, como se eu tivesse ingerido duas garrafas inteiras de vodca. Minha visão anuviou, meu olfato falhava, minha cabeça dava voltas e mais voltas.

Os sentimentos se misturando dentro de mim, tudo virando um misto e uma sopa de sensações. Meus músculos doíam, meus ossos estalavam e ate meus dentes ardiam em brasa.

Era como se cada parte de meu corpo se retraísse e depois inchasse com força, ficando duro e resistente, forte. A sustentação do meu corpo fazia sons de ossos se quebrando, e ficavam mais pesados. Meus dentes rascavam minhas gengivas, e meus caninos abriam espaço entre os outros dentes.

Era como se tudo no meu corpo se apertasse, encolhesse, deixando o espaço mínimo, só para depois voltar ao tamanho normal, incontavelmente mais pesado.

“Vá embora”!”Vá embora” “Vá agora!”.

Meu corpo mandava espasmos ate meu cérebro, e não foi como na primeira vez que isso aconteceu, dessa vez eu obedeci. Me levantei de um salto, e percebi que eu estava de volta ao quarto de Alec.

Já estava vestida, com calças e moletons meus que eu deixara aqui. Ouvi passos silenciosos e rápidos subirem à escada, e fui assaltada pelo cheiro doce de Alec, que parecia terrivelmente mais doce.

Ele apareceu trazendo preocupações e um olhar atento.

-O que houve? – analisou meu rosto.

-Nada. – respondi rápido.

-Tinha alguém mais aqui?

-Não. – Dacra e a mulher misteriosa não deviam contar.

Andou por todo o cômodo, inalando o ar com voracidade.

-O quarto esta com um cheiro estranho. – afirmou.

-Tenho de ir embora. – comuniquei tomando o caminho para fora do quarto. Ele barrou meu caminho, e eu senti meu corpo se retesar ao toque dele em meus ombros, como um animal detectando perigo.

-Por favor, Hellena, leve com... – ele parou no meio da frase. – Esta muito quente esta tudo bem com você? – colocou as costas das mãos em minha testa.

-Estou. – reclamei me afastando de sua mão. - Tenho de ir. – falei mecanicamente.

Desci as escadas com ele e minha gata em meus calcanhares.

Aubrey me lançou um olhar cúmplice, como se soubesse de algo que nos duas compartilhássemos sem Alec saber. Miou alto e enroscou a cauda envolta das patinhas cheias de manchas.

Peguei seu corpo gordo e macio no colo, e fui em direção a porta.

-Adeus Alec. – comuniquei de um jeito vago e direto, mas ele barrou minha saída pela segunda vez, argh, isso estava me irritando!

-Quando a verei novamente?

-Quando tentar se meter na minha vida de novo. – falei áspera.

-Eu me preocupo com você! – ele berrou.

-Não preciso de um pai! – devolvi no mesmo tom.

-Como queira di Fontana! – sibilou. – Mas não venha chorar no meu ombro depois. – falou acido.

-Sim Volturi!

Cedeu passagem para mim. Sai na rua com o vento frio contra meu rosto, mas sem sentir frio nenhum.

Caminhei pela rua sem olhar para ninguém, e segui meu caminho em silencio, tentando em vão me lembrar de meu sonho. O que havia acontecido naquele momento em que fiquei desacordada?

-Hellena! Onde você estava?! – Blake gritou no meu ouvido quando cheguei em casa. As quatro estavam reunidas assistindo teve e comendo pipoca.

Hum, as meninas já tinham chegado.

Larguei minha gata no chão. Ela saltou com leveza e sem som algum, indo encontrar com as irmãs.

-Aubrey, eu fui buscar ela... – senti ânsias de vomito de novo, e minha cabeça parecia mais leve que meu corpo, muito mais.

-... estava? – a voz de... Alguém falhava.

-... Hellena?...que foi? – minha visão rodava.

Senti minha pele queimar, e logo após disso, cai inconsciente no chão.


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