O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 18
Capítulo 18




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Sem P.O.V

-Um, dois, três, quatro. Vamos lá meninos, vamos! – a professora gritava com os alunos mascarados.

A aula ao ar livre transcorria perfeitamente, mais de cinqüenta dançarinos reunidos na praça central. Mais da metade faria o bale, mas todos fariam a primeira dança, e para isso tinham que treinar arduamente.

Usando uma mascara vistosa, coberta de materiais brilhantes e coloridos, Hellena se movia ao ritmo da musica, cumprindo os passos com total perfeição.

Dois passos para a esquerda, três para a direita, frente, atrás, atrás, frente, rodopio para dentro, salto, pirueta para fora, esquerda, esquerda, direita, pirueta com o pé na cabeça.

Iam se revezando de parceiros, sendo carregadas, saltando, e entrelaçando-se no abraço deles. Vários alunos de outras matérias paravam assistindo a apresentação.

Todos do campus estavam dedicados ao tema dado; Carnaval Venezience, o mistério das mascaras.

Os alunos de belas artes se ocupavam em desenharem e construírem o figurino, os de musica em treinar as musicas, os de danças nas danças, e por ai ia.

Hellena rodou mais uma vez, mudando de parceiro.

Ele segurou sua cintura com mãos geladas – algo normal, dado a temperatura que estava do lado de fora – e pegou sua mão direita, ajudando-a com o rodopio para cair em seu colo.

-Esta belíssima hoje Hellena. Uma verdadeira princesa. – a voz melodiosa do parceiro misterioso chegou a ela como um canto do paraíso. Os olhos verdes escuros faiscaram pelos buracos da mascara.

O jovem sorriu por debaixo da porcelana que lhe cobria por completo. Mas pelas fendas que ficavam nos olhos, ele pode ver a reação surpresa de alegria dela.

-Alec o que esta fazendo aqui? – murmurou se desvencilhando de seus braços. Colocou a mão em seus ombros e ele repetiu o gesto das mãos na cintura.

-Um, dois! – a professora gritou batendo palmas.

Ela tomou impulso e saltou, sendo apenas sustentada pelas mãos dele. Giraram presos no tempo e no ar, em um circulo contínuo, apenas para pousar no chão com leveza.

-Me divertindo... Faz muito tempo que não vou a bailes de mascaras.

-Costumava ir a baile de mascaras?

-O tempo todo.

-O Alec sério dando lugar ao Alec boêmio?

-Seriedade nunca foi um ponto muito explorado em mim. – exercia a dança com a perfeição de alguém que a treinava há anos.

-Então a sua postura fria é como uma mascara que você põe e tira?

-Diga-se de passagem.

-Como sabe essa dança?

-Sua professora deve ser mais decrépita do que pensa, eu dançava ela há uns quinhentos anos atrás. – sua voz saia abafada pelo objeto que cobria seu rosto. – E tenho certeza que posso ser um professor melhor do que essa senhora mais velha do que eu. - zombou.

Diante de seu silencio, ele continuou.

-Com medo senhorita?

-Você é o oposto do que sempre li.

-Não pode confiar em tudo que lê. – juntaram os antebraços, rodando apenas com eles juntos. A dança transcorria com perfeição entre todos. – Principalmente sobre mim, todos estão inclinados a inventarem loucuras sobre quem não conhecem.

Franziu o cenho.

-Essa dança é tão medieval quanto o rei Arthur. Ela não pode criar algo mais moderno e menos etrusco? – ele riu.

-Pare de reclamar donzela. – ela caçoou.

Os dançarinos se prepararam para mudarem de parceiro.

-Tenho de ir minha dama. – disse com seu linguajar rebuscado.

-Espere... – mal teve tempo de completar sua frase quando ele girou, livrando-se de mãos femininas, e escapou de modo discreto, sem mesmo ser visto.

O seu novo parceiro apertava-lhe a cintura demonstrando sua pouca pericia ou delicadeza para o tal ato.

Hellena continuou a segui-lo com os olhos, viu enquanto contornava a orla das arvores, e seguia pela trilha ladeada de arbustos em direção aos fundos do colégio.

Uma capa tipicamente negra ondulava em suas costas, algo normal, dado que todos estavam fantasiados, mas não para ela, Hellena sabia o que aquela capa significava, e sabia o quão levianamente ele a usava. Apenas para ver-la, e cumprir desejos próprios.

Continuou a rodopiar e terminar os passos, e quando encontrou uma pequena brecha na formação, saiu correndo dos braços do próximo companheiro, e seguiu a trilha dele.

-Ei! – ouviu alguém reclamar, mas ignorou e continuou.

Sua saia rodada ondulava em suas pernas, tudo em tons mesclados de laranja e pêssego.

Contornou o caminho cheio de arvores, que de tão juntas, formavam um túnel estreito em direção aos fundos do prédio. Uma trilha de cascalhos e terra desfalcada afastava visitantes.

Com certa dificuldade, chegou a um vasto gramado cercado por cercas grandes e verdes, com um portão escancarando para um bosque de arvores cerradas e consumidas pelo inverno. Tudo desse lado era mal cuidado, as pinturas da escola estavam descascando, latas de lixo cobriam as paredes, que se enfeitavam com pichações de mau gosto, e uma porta vermelha de saída de incêndio estava trancada.

O campo estava cheio de ervas daninhas.

Alec estava agachado perto da saída de emergência, ao lado de uma caixa de papelão. Analisava o conteúdo da caixa com cuidado e interesse. Hellena tirou os sapatos de salto e se aproximou.

Chegou ao seu lado com os sapatos em uma mão. A grama roçava em seus pés fazendo cócegas. Ficou de joelhos ao lado dele, e olhou dentro do papelão.

Uma ninhada de três gatinhos chorava lá dentro.

-Meu deus. Que lindos. – esticou a mão e coçou as orelhas deles.

-Gosta de gatos? – ele se virou em sua direção.

-Sim. – ponderou um pouco enquanto acariciava o pelo sedoso. – É verdade que as bruxas têm gatos pretos?

-Não... Os gatos gostam das súcubo. Um mito que surgiu porque as súcubo são meio bruxas, então... – olhou-a com suas íris verdes escuro. Hellena podia perceber no timbre da voz dele ao pronunciar a palavra “súcubo” que ele ainda guardava muita magoa das ancestrais.

Ergueu-se em um salto, e ofereceu a ela uma mão enluvada.

-Aceita essa dança? Não podemos perder essa musica. – soou divertido.

-Não tenho super audição. – pousou a mão por cima da dele, mesmo de luvas, o frio de sua pele gelada transpassava o tecido nobre.

-Não estou me referindo a musica enfadonha de sua professora. – Alec tirou a mascara, e com delicadeza removeu a de Hellena. – Estou me referindo a essa. – apontou com o dedo o céu, como se indicasse a melodia de caixas de som nas nuvens.

-Ainda não ouço nada.

-Como assim não escuta? – puxou-a, colando seus corpos.

-Que pecado o meu. É claro que estou ouvido. – sorriu.

Começaram a rodar pelo gramado, tão juntos e sincronizados que pareciam um só. Mal notaram quando começaram a se beijar.

Separam-se, e Hellena descansou a cabeça no ombro dele, os olhos fechados com leveza, desfrutando de seus momentos juntos.

Uma brisa suave corria por seus ouvidos e rostos.

Hellena se encolheu com o rosto mais perto dele, como se temesse o vento perto de si. Pousou os lábios no colarinho da camisa de linho dele, e respirou fundo.

-Onde arranjou essas roupas? – levantou a cabeça.

Ele se analisou. As vestes poderiam muito bem se passar por uma fantasia de um príncipe da idade média, talvez Romeu, de Shakespeare. Mas um homem de alguns séculos atrás.

Hellena prensou os lábios.

-São minhas. – resmungou desviando os olhos.

Ela não conseguiu conter o riso.

-Desculpa Alec... É só que eu não consigo imaginar você usando shorts bufantes, com essas legging por baixo. – escancarou a boca em um riso largo e cheio de diversão.

-Não são legging e muito menos shorts bufantes. - ele rosnou.

-Tudo bem. Ok, não são bufantes. – secou lagrimas nos cantos dos olhos. Ele fechou a cara. – Não fique chateado meu amor, você esta lindo. Eu adoro essas roupas e época, adorava The Tudors. – segurou o rosto dele, trazendo-o para um beijo.

-Esse seriado não é para sua idade. – caçoou.

-A idade é dezesseis.

-Disse que adorava. – ergueu uma sobrancelha.

-Para de ser tão certinho, porque você não é nem um pouco. – prensou os lábios nos dele.

-Esta perdendo o seu treino. – murmurou com boca na dela.

-Já sei a dança de co.

Ele parou, como se escutasse algo.

-O treino já acabou, e suas amigas estão de procurando. – resmungou.

-Não fique triste meu amor, vou visitá-lo amanha depois do treino.

-Que bom, pois eu já planejei algo para fazermos. – sorriu malicioso. Hellena levantou uma sobrancelha e sorriu.

-Claro. – concordou.

Pegou a mascara da mão de Alec. Virou-se para o caminho de cascalho, e voltou rapidamente.

Mascarada, e tentando se esconder na multidão de jovens fantasiados, se esgueirou com facilidade, e rapidamente, foi em direção ao vestiário.

Todas as meninas riam, e trocavam de roupa. Algumas tomavam banho, molhando grandes massas de meninas que davam gritinhos.

Hellena tirou o vestido improvisado como fantasia, e colocou uma das suas muitas saias rodadas, quando se é bailarina precisa ter muitas dessas saias, vestiu uma blusa e saiu do vestiário usando saltos chiques.

Caminhou para fora do campus com o máximo de cuidado para não chamar a atenção de Blake, subiu as escadarias e foi para a sala de sua próxima aula.

“Primeiro dia normal em meses” Hellena refletiu se sentindo revigorada.

P.O.V – Hellena di Fontana

Normal né?

-Lá vem a esquisita solitária. – uma voz melosa e que mais me lembrava um mugido de vaca, ou um latido de uma cachorra, disse.

Ignorei e continuei indo ate o meu lugar no canto da sala.

-É você mesma Hellena. – Nikki cacarejou.

Girei nos calcanhares, me virando para encarar a cara bronzeada dela.

-Desculpe Nikki, nem percebi que estava ai! Quer que eu ligue para a carrocinha te buscar? Ou prefere que eu ligue para o Mcdonalds para eles fazerem um hambúrguer de você?

-Que engraçado. – ela torceu o nariz arrebitado.

-Tem razão, ninguém ia querer comer você, nem mesmo frita entre dois pedaços de pães. O sanduíche estragaria. – falei fazendo caretas.

Risinhos abafados.

Ela saiu do seu canto e veio ate mim. Mesmo eu estando de salto, ela ainda era mais alta que eu.

-Não se preocupe nanica. – ficou próxima o suficiente, acentuando a diferença de tamanho entre nós. Risinhos abafados de novo. Cara, eles riem de qualquer coisa? Essa discussão de longe esta engraçada. – O que vem de baixo não me atinge.

Ah não, agora ela pediu. Ninguém pode dizer uma coisa dessas, e esperar se dar bem, ou talvez aqui na Itália não saibam a resposta que se da para essas perguntas, sei lá. Os europeus são estranhos.

-É mesmo? – cruzei os braços. – Então porque você não senta em um formigueiro?

Sem risinhos abafados, mas sim risadas escancaradas.

-Sua vadia. – ela pulou em cima de meu pescoço, e saímos juntas rolando pelo chão.

Todos fizeram uma roda em nossa volta e começaram a gritar “briga, briga, briga”. Consegui me sobrepor por cima, e dei um tapa nela, um tapa bem forte, carregando toda a minha raiva na cara dela.

A professora chegou, e conseguiu nos separar, com certa dificuldade.

E no minuto seguinte, estávamos as duas sentadas na sala da diretora.

-Muito bem senhoritas... O que tem a dizer? – a diretora do departamento de dança cruzou as mãos na frente da mesa. Ela era uma mulher esguia, de meia-idade e ex-bailarina. Cabelos curtos, em estilo channel, bem liso rente o rosto fino, e olhos cinzentos.

Seu penteado me lembrou de minha colega, que devia estar apodrecendo debaixo da terra, ou ela talvez tivesse sido queimada. Senti um arrepio por minha pele, e fiquei mal por seu tão insensível.

Nikki começou a gritar, e tentar me provocar para uma briga eminente, mas fiquei em silencio, calma.

-Acalme-se senhorita Buffti! – a diretora começou a dar uma bronca nela, enquanto eu estava em silencio, olhado o nada da janela.

O nada tomou conta dos meus olhos, e um torpor começou a se apoderar de mim, uma inércia transparente e sutil.

O ar começou a faltar no meu peito, e depois começou a entrar rapidamente, mais e mais, me afogando em oxigênio.

E depois do que pareceu vários minutos, eu estava fora da sala da diretora, em um lugar ensolarado, com um grande e vasto gramado.

Havia uma menina, de inicio eu achei que era a “protetora”, quer dizer, Dacra, mas depois percebi que não era ela, e sim uma menina com cabelos tão longos quanto os dela.

Ta. Eu fui uma estúpida de pensar que era Dacra, aquela mulher não tinha nada a ver com ela. Essa mulher tinha sim cabelos longos, só que eram cacheados, e uns dois tons mais escuros que o meu.

Ela usava um vestido verde, que devia ser de uns três ou quatro séculos atrás, de tons de verde claro. Tinha olhos castanhos iguais aos meus.

Parecia estar interessada em algo alem da campina, mas quando percebeu minha presença, se virou em minha direção. Uau, ela tinham uns traços parecidos com os meus...

-Então você é a famosa Hellena di Fontana? – sorriu singela.

-Sim... – minha voz saiu tremula. A grama voava com o forte vento, arremessando tufos de plantas, e de meu cabelo para trás, mas a mulher estava intocada pelo vento. – Que-Quem é você? – gaguejei.

-Meu nome é Katherine. Sou a princesa do mundo oculto. A princesa súcubo.


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