Os Cullen se mudaram no final de fevereiro, saindo de Forks com direito a uma festa de despedida organizada por Alice que teve a participação da alcateia, Sue, Charlie e Billy. Com isto, no primeiro dia de março todas as malas foram colocadas nos carros da família e a mesma seguiu em peso para o aeroporto de Seattle. O grupo peculiar atraía mais do que olhares, viravam cabeças por onde passavam a começar pelo trio de nativos americanos cujos dois homens eram tão grandes que dificilmente passavam despercebidos e a mulher era igualmente alta e vistosa para chamar atenção com a mesma intensidade. Mas eram os mais pálidos e de proporções e traços perfeitos que despertavam a curiosidade de todos.

Kaylee se sentia uma completa alienígena no meio daquele bando com toda a sua normalidade. Até mesmo Reneesme, que no último mês alcançara a forma física de uma criança de quatro anos, era bonita demais para uma versão miniatura de um ser humano.

- Iremos em voos diferentes. - Carlisle anunciou. - Bella, Edward, Seth e Nessie irão na frente em um voo direto. - entregou a eles as passagens. - Rosalie, Emmett, Esme e eu vamos no voo que irá escalar em Denver. Alice, Jasper, Jacob, Leah e Kaylee irão no voo que escalará em São Francisco. - e estendeu a Alice as passagens. - Nos encontramos ao anoitecer em nossa propriedade em Lafayette. - encerrou e com isto eles se separaram, cada um seguindo para a respectiva fila de check-in.

E foi assim que horas depois Kaylee se viu, depois de dois meses, mudando-se de Chicago, Illinois para Forks, Washington e por fim Lafayette na Louisiana. Seu queixo não mais caiu ao sair do aeroporto, enquanto empurrava o carrinho com as suas malas, e encontrar dois carros de luxo esperando nas vagas da garagem. Viver com os Cullen, com décadas, séculos de vida e muito dinheiro acumulado e o qual estavam dispostos a gastar, fazia a pessoa se acostumar rapidamente com as extravagâncias.

- Jacob! - Jasper jogou as chaves de um BMW prata para o rapaz.

- Ei... Por que ele dirige? - Leah protestou.

- Porque irei garantir que chegaremos inteiros ao nosso destino? - Jacob rebateu presunçoso, abrindo o porta malas do veículo e ajudando Kaylee e carregar o bagageiro. Minutos depois com tudo ajeitado os dois carros saíram em alta velocidade do estacionamento do aeroporto e seguiram a estrada, cruzando uma cidade com um aspecto que lembrava algumas médias cidades da Europa, e por fim chegando ao subúrbio, passando por áreas mais verdes e menos povoadas até pararem em frente a um grande portão de bronze conectado a altos muros de tijolos.

- Os Cullen realmente não sabem ser discretos. - murmurou Leah enquanto dito portão abria-se sozinho depois que Jasper, no carro da frente, havia esticado a mão através da janela e apertado o botão de um comunicador que ficava preso a um suporte em espiral feito de ferro. A uma velocidade mais lenta os carros entraram na propriedade, com as rodas espalhando as pequenas pedras britas que constituíam a trilha até a enorme casa de estilo vitoriano que se escondia entre várias árvores.

A porta da mansão se abriu e Bella e Edward desceram as escadarias até onde o Mercedes negro de Jasper e Alice tinha estacionado e Jacob parou a BMW que dirigia poucos centímetros atrás deles.

- Carlisle ficou preso em Denver. Houve uma súbita tempestade que desceu sobre a cidade. O voo dele vai atrasar e... - Bella cortou a sua explicação ao meio. - Por que eu estou dizendo isto? Com certeza vocês já sabem disto. - Alice que tinha acabado de sair do carro só a respondeu com um sorriso prepotente. - Como foi o voo?

- Tranquilo. - comentou Jasper, indo até o porta-malas para retirar as bagagens.

- Fale por você. - Kaylee surgiu ao lado dele com uma mochila nos ombros. - A poderosa loba aqui quase teve uma síncope. - e indicou com a cabeça Leah que puxava uma bolsa enorme do bagageiro do BMW.

- Mentira, foi apenas uma pequena vertigem por causa da decolagem.

- Você chama de quase esmagar os meus dedos e ficar murmurando “voar é o modo mais seguro de viajar” repetidamente de pequena vertigem? Que interessante. Jacob... - virou-se para o rapaz que assistia a discussão calado. - Me lembre de pedir ao Carlisle quando ele chegar por um de seus livros de medicina emprestado para verificar se vertigem é sinônimo de “voar é o modo mais seguro de viajar”. - risadas seguiram a colocação da menina, acompanhadas de resmungos provindos de Leah e a mulher deu meia volta, entrando na casa sem dizer mais nada.

- Kaylee... - Alice colocou um largo sorriso no rosto e foi dançando até a jovem, tirando a mochila das costas dela e a jogando para Edward. - Deixe que os homens fortes carreguem as malas. - Jasper, Edward e Jacob arquearam as sobrancelhas. A vampira poderia ser miúda mas era capaz de erguer o mesmo peso que eles facilmente. - Venha comigo! - e fechou os dedos magros no pulso dela, a puxando levemente na direção da casa, e ao passar por Bella fechou a outra mão no pulso da cunhada e a trouxe junto consigo.

Kaylee a seguiu aos tropeços, encontrando Seth com Reneesme no sofá, os dois compartilhando um livro grosso que parecia entreter ambos. Leah havia desfeito a carranca diante da discussão de mais cedo e agora avaliava a coleção de DVD's que havia em uma prateleira sob o home theater que fazia par com a enorme televisão de plasma de 60 polegadas. A adolescente ainda tentou apreciar a decoração da sala de visitas, mas já se encontrava sendo levada pela escada circular até o segundo andar da casa e arrastada por um longo corredor até parar em frente a uma porta de madeira branca e maçaneta dourada.

- Espero que goste da decoração. - a garota franziu o cenho e Alice escancarou a porta, cedendo passagem para ela e permitindo a sua entrada. O quarto era tão grande quanto o antigo quarto que possuía na casa dos Cullen em Forks, mas com uma arquitetura mais antiquada de traços retos e teto alto, com uma porta dupla de vidro à direita para a varanda que dava para os jardins dos fundos. No meio do aposento havia uma enorme cama, a esquerda, perto da porta de entrada, tinha uma penteadeira. Ao lado da cama perto das portas da varanda havia uma escrivaninha com um computador de última geração. À direta da porta de entrada uma estante de livros e na parede à esquerda havia uma porta dupla com puxadores dourados.

- Esta é a melhor parte. - Alice deu pulinhos extasiados. - Abra, abra. - e apontou para a porta dupla. Bella rolou os olhos e lançou um olhar piedoso para Kaylee, já sabendo o que aguardava a jovem por detrás daquelas madeiras. Pé ante pé ela foi até lá e com um puxão abriu as portas para encontrar um enorme closet onde ao fundo do mesmo havia um portal que dava acesso ao que parecia ser um banheiro. Adentrou o closet, olhando em torno dele para as gavetas e os cabides e vendo com surpresa que em vez de vazios, a maioria dos espaços estavam preenchidos.

- Há roupas aqui dentro. - declarou Kaylee.

- Claro que há roupas aqui dentro. Isto é um closet. Closet foi feito para guardar roupas. - Alice fez uma expressão confusa.

- Você não entendeu. Há roupas aqui dentro que não se assemelham em nada as roupas que eu tinha em Forks e a não ser que elas tenham se teleportado diretamente da minha mala para cá durante o curto percurso da porta de entrada ao quarto... Ainda sim, não há o suficiente para preencher metade deste closet.

- As suas roupas... - Alice soltou um tsc entre os dentes. - são ineficientes.

- Para o quê? - Kaylee franziu o cenho.

- Para as aulas que começam amanhã. O que me lembra! - com um pulinho e um girar sobre os saltos, a vampira retirou-se do quarto valsando e Kaylee continuou sem entender, mirando Bella longamente a procura de respostas.

- Você é a nova bonequinha dela. Ela vai te vestir, te arrumar e te empetecar até não poder mais. - explicou a mulher.

- Tem como eu fugir disto?

- Consegue correr mais rápido que uma vampira? - Kaylee rolou os olhos, pensativa.

Nestes dois meses em que vivia com os Cullen fez alguns testes com eles em relação as suas recém-adquiridas habilidades físicas por causa do sangue de Jacob, segundo a teoria de Carlisle, e descobriu que era um pouco mais veloz que um ser humano normal, era um pouco menos forte que um lobo em sua forma humana, e resistente como um (mas isso eles suspeitavam que também era relacionado ao seu poder de se auto curar que era elevado) e tinha os sentidos um pouco mais aguçados que os de um humano mas mais fracos que os de um transmorfo. Mas isto não a faria superar Alice se tentasse fugir dela.

- Vai doer muito?

- Você sobreviveu a vários ataques de vampiros, o que será mais um? - quando Alice retornou com uma mala de cosméticos e de vários equipamentos de cabeleireiro nas mãos, ambas, Kaylee e Bella, retesaram os ombros.

- Muito mais doloroso. - respondeu a garota. - Muito mais doloroso, com certeza.

oOo

- Cara, seu eu não soubesse diria que você está com pulgas. - Emmett comentou enquanto via Jacob se remexer no banco de trás da picape pelo retrovisor do carro.

- Se ele está com pulgas então que vá na caçamba, não o quero sujando o carro. - Rosalie resmungou, cruzando os braços sobre o peito e torcendo os lábios vermelhos. Emmett apenas sorriu de canto de boca e voltou a sua atenção para a estrada. Ele podia presumir qual era a raiz de toda a inquietação de Jacob e se estivesse certo ganharia uma grana alta de Jasper.

Tudo começou naquela manhã quando a casa despertou com a movimentação dos lobos, humanos, híbridos e vampiros adolescentes para o primeiro dia de aula na nova cidade onde residiam. Esme já cedo, antes do sol nascer, tinha tomado o seu posto na cozinha e cantarolava algo sob a respiração enquanto remexia em utensílios e panelas. Alice tinha disparado de seu quarto e invadido o quarto de Kaylee, acordando a menina no susto, e trancado-se lá dizendo que iria prepará-la para o primeiro dia de aula dela enquanto os outros calmamente se arrumavam.

O sistema de ensino de Lafayette era diferente das outras cidades em que residiram, com o colegial sendo dividido por área de especialização em que o adolescente pretendia seguir na carreira universitária. Portanto, se você preferia a área científica, tal escola era a mais indicada pois seu currículo de ensino era voltada para isto, se era tecnológica outra escola era a melhor na área e por assim em diante, o que pela primeira vez iria separar o clã Cullen.

Carlisle no entanto achou que a experiência seria interessante e os lobos logo concordaram com o desafio, exceto Leah que no semestre seguinte seguiria direto para a Universidade, causando inveja a Seth e Jacob.

- Vocês podem aparentar ser mais velhos, mas ainda são uns pirralhos. - a mulher tinha provocado, o que causou uma longa discussão entre os três sobre tamanho versus maturidade.

E então quando metade do clã Cullen, mais Jacob e Seth, estavam prontos para partir, Esme convocou Alice do pé da escada a lembrando que Kaylee precisava tomar o seu desjejum antes de ir embora senão eles se atrasariam. Cinco minutos depois do aviso da mulher a vidente surgiu no topo dos degraus com um sorriso de orelha a orelha e desceu a escadaria saltitando, jogando-se nos braços de Jasper antes mesmo de pisar no chão.

- O que você aprontou Alice? - perguntou o empata a esposa que somente sorriu matreira e piscou um olho para ele.

- Apenas dei uma melhorada no que já era bom. Venha Kay! - chamou e uma figura surgiu no topo da escada.

- Sinceramente Alice... - ela resmungou enquanto descia os degraus com os saltos de suas botas cano longo ecoando no piso de mármore. - Acho que tenho laquê em locais desconhecidos. - reclamou, exalando o ar longamente e fazendo um bico contrariado.

- E então? O que acham? - Alice perguntou a família que observava uma Kaylee diferente apresentar-se em frente aos seus olhos. Os cachos haviam ido embora e agora os cabelos negros eram lisos e iam três dedos abaixo da cintura. Usava uma saia jeans negra que ia até metade das coxas e com enfeites brilhantes nos bolsos, botas negras de saltos e cano longo até abaixo do joelho e uma camisa de algodão de manga comprida sob um colete de couro falso. O rosto que sempre estava limpo agora tinha alguma maquiagem que destacava os olhos grandes e amendoados e os lábios cheios.

- Até que não ficou ruim. Melhoraria se não tivesse esse cheiro de cachorro nela. - Rosalie provocou.

- Antes feder a cachorro do que a formol. - Kaylee jogou a bolsa Prada sobre o ombro e foi em direção a cozinha. - O que tem pra comer? Estou morrendo de fome. - e o assunto morreu ali, com uma Alice extasiada pelo seu trabalho bem feito, pois diferente de Bella a menina ao menos aceitava de maneira melhor o “extreme makeover” da vidente.

E desde então Jacob encontrava-se inquieto.

Kaylee estudava na Lafayette High School junto com Edward, Bella e Seth, especializada na área de saúde, enquanto o lobo frequentava com Emmett e Rosalie a Northside High School, especializada em engenharia e similares. Alice tinha ido para Ovey Comeaux High School, especializada em design e Jasper seguira a esposa, mesmo que esta não fosse a sua área de atuação. E estando em escolas diferentes não havia como o lobo ficar de olho na amiga que tornara-se a sua protegida.

- Black! Pare de se sacudir aí atrás ou eu te chuto para fora do carro e você vai correndo atrás da roda como o bom cachorro que é! - Rosalie o repreendeu.

- Ei, psicótica! Uma loira e uma morena são jogadas do alto de um prédio. Quem chega primeiro no chão? - Emmett mordeu a bochecha para não rir e Rose rolou os olhos. - A morena, porque a loira se perde no caminho.

- Eu já ouvi essa.

- Verdade? Que tal esta então? Por que não se pode contar segredos no ouvido de uma loira? - Rosalie bufou. - Porque o som não se propaga no vácuo.

- Também já ouvi essa.

- Não se preocupe loira... Eu ainda chego lá.

- Isso foi o que o broxa disse na hora que o viagra perdeu o efeito “não se preocupe... eu ainda chego lá”. - rebateu a mulher e Emmett estourou em risadas.

- Bom loira. Seu cérebro de duas rotações por minuto às vezes funciona. E então, por que uma loira vive balançando os cabelos? - Rosalie rezou para que a escola estivesse perto, que eles estivessem chegando, pois iria torcer o pescoço daquele cachorro vadio. - Para o cérebro pegar no tranco.

- Eu também...

- Já sabia esta. Sem problemas, temos tempo o suficiente.

- Não se eu te matar.

- Pode tentar loira, mas não pode conseguir. Como é que uma loira se mata? - a vampira rangeu os dentes. - De tédio.