Capitulo 24

POV – Rose

Tudo estava escuro. Eu tinha a sensação de estar flutuando no ar, tão leve quanto uma pluma. Todos os meus sentidos tinham ido embora, exceto um pouco da audição. A única coisa que eu conseguia ouvir era uma linda melodia, mas as palavras não conseguiam me alcançar. Fiz um maior esforço para entender as palavras, mas não consegui. Tentei me mexer, abrir os olhos e nada. Me concentrei em contar os minutos, mas isso também não prendeu minha atenção por muito tempo. De repente a sensação de flutuar se esvaiu e eu comecei a sentir meu corpo pesando e pesando cada vez mais. Comecei a ouvir alguns sons a minha volta, percebi que a melodia tinha parado e em seu lugar eu podia ouvir algo pingando, algo apitando. Eram sons bem irritantes pra dizer a verdade. Tentei abrir os olhos, mas não consegui. Tentei mexer pelo menos as minhas mãos, tudo o que consegui foi mexer os dedos. Então ouvi o som de passos se aproximando e uma voz me chamando pelo nome.

-Rose. Você consegue me ouvir? – perguntou a voz. Senti algo me tocar nas mãos.

-Se você puder me ouvir, aperte minha mão. – disse. Tentei apertar a mão daquela pessoa, mas só consegui mexer um pouco os dedos.

-Que bom que você pode me ouvir! – exclamou. – Agora me escute. Você está na clinica da Academia Velatri. Você se lembra? – apertei novamente a sua mão

-Bom. Agora eu preciso que você se concentre em se recuperar. Você pode fazer isso? – que diabos! Claro que eu queria me recuperar! O problema é que eu não possuía controle absoluto do meu corpo.

A mão que apertava a minha saiu. Mais horas se passaram, e eu agora conseguia mexer as mãos e os pés. Ouvi novamente passos vindos em minha direção e o som de uma cadeira sendo arrastada. Pelo barulho, parecia vir do meu lado direito.

-Roza. – eu ouvi uma voz conhecida me chamando. Conhecida o suficiente pro meu coração acelerar. – Meu amor, eu estou aqui. – Dimitri disse segurando minhas mãos. Eu tentei apertar as dele o mais forte possível. – Eu sei que você pode me ouvir. Promete que você vai sair dessa, por mim. Eu te amo tanto, tanto. Eu preciso de você aqui comigo. – continuou. Sua voz estava embargada como se estivesse chorando. Eu tentei apertar mais forte sua mão, dizer que eu ficaria bem, por ele. Que nós iríamos sair dessa. Sua mão continuou na minha por muito mais tempo. Meu olfato começava a melhorar e eu podia sentir seu cheiro, ainda que muito fracamente. Mais passos se aproximaram e dessa vez foi a voz de Liss que eu ouvi.

-Como ela esta? – perguntou

-Bem. Já consegue mexer as mãos.

-Ela vai sair dessa. Eu sei que vai!

-Sim. – Dimitri concordou. – Ela vai sair dessa.

-Rose. Se você consegue me escutar, saiba que estamos todos torcendo por você. Torcendo e esperando. – mais horas se passaram, Lissa e Dimitri se foram. Tudo ficou escuro de novo.

Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi Dimitri sentado do meu lado. Foi tão bom poder ver seu rosto... Era como se eu estivesse vendo-o pela primeira vez. Ele estava com um olho roxo e o abdômen enfaixado. Mas seus olhos brilhavam quando ele olhou pra mim.

-Roza. – ele disse meu nome com tanta ternura, tanto amor, que eu achei que pudesse morrer naquele instante.

-Dimitri. – consegui dizer seu nome

-É tão bom ver você acordada. – disse. – Eu tinha tanto medo de te perder. Eu nunca, nunca mais vou deixar você ir embora.

-Eu também não quero ter que ir embora. – disse-lhe. – O que aconteceu? Eu me lembro de ter levado os Moroi pra fora e quando eu tava saindo um Strigoi me puxou pra trás. Depois tudo se tornou um borrão. – eu estava muito confusa e minha cabeça doía.

-Eu encontrei você e... Você estava com um ferimento horrível no pescoço. Saímos de lá o mais depressa. Todos os Strigoi foram mortos, perdemos dois Moroi e cinco guardiões. Alguns ficaram muito feridos e ainda estão internados.

-Você também não parece muito bem. – apontei pro seu abdômen enfaixado. Ele deu uma risada.

-Eu quebrei algumas costelas. Nada de mais. Acho que você deveria se preocupar mais com você.

-Eu vou ficar bem. Tenho o dom de me recuperar. E qual é o meu relatório medico? – perguntei. Ele desviou um pouco o olhar antes de continuar.

-Você quebrou duas costelas e torceu o tornozelo. Fora isso, foram alguns cortes e aquela mordida que, sinceramente, parecia bem feia. Você perdeu muito sangue e teve que fazer transfusão.

-Só isso? – perguntei de brincadeira

-Você ainda diz só? Tem alguma idéia do quão louco eu fiquei de te ver aqui? Eu nunca mais quero ver você numa cama de hospital.

-Eu fiquei muito feliz de acordar e te encontrar aqui do meu lado. – disse sinceramente. – Acho que essa experiência de quase morte me fez ter uma nova perspectiva de vida.

-Fico feliz que você tenha mudado seu conceito sobre mim. Mas agora acho melhor você descansar um pouco. – disse-me

-Acho que eu vou ficar bem em ficar apenas deitada aqui por alguns dias. – eu me sentia cansada e fraca. – Ei! Quanto tempo eu fiquei apagada?

-Uma semana.

-O que?! Eu fiquei apagada por uma semana?

-Os médicos queriam ter certeza de que você não tivera uma concussão. – explicou

-Vou ficar feliz em apenas sair daqui. Odeio enfermarias! – ele riu novamente

-Senti muito a sua falta, Rose.

-Eu também senti a sua. – disse-lhe com um sorriso bobo.

-Como esta a nossa doentinha? – perguntou a enfermeira. Aff, alguém devia avisar essa mulher que eu não tinha mais quatro anos de idade.

-Estou bem. E quando vou poder sair daqui? – perguntei

-Acho que você vai ter que ficar mais alguns dias. Talvez uma semana. – respondeu

-Sinceramente, acho que não vou conseguir ficar uma semana numa cama de hospital...

Mais alguns dias se passaram. Dimitri e Lissa vinham me ver todo santo dia. Dimitri me trazia um buque de rosas por dia, Lissa me colocava a par das novidades. Quatro dias depois Adrian veio me visitar. No inicio não fiquei muito feliz com a visita, mas acho que estava na hora de perdoar, né?

-Oi Rose. – ele me cumprimentou sem graça

-Oi.

-Será que você pode pelo menos me ouvir? – pediu. Eu assenti com a cabeça pra que ele continuasse.

-Eu sei que você nunca vai me perdoar e que eu não deveria ter feito o que fiz. Mas depois de ver você nesse hospital inconsciente por uma semana e pensar que eu poderia ter te perdido, eu vi que eu tinha que me desculpar. – ele pausou. – Eu não fiquei feliz em pensar que você poderia ter morrido sem eu te pedir perdão. E... Tenho que admitir que Belikov é um bom homem e que ele te faz feliz.

-Que bom que você entendeu! – não me segurei. Tive que dizer. Ele riu.

-Senti falta das suas piadas.

-Eu também senti sua falta. – respondi. – Adrian, com muito custo, eu aprendi a perdoar e não guardar rancor das pessoas. Até por que isso iria me trazer muitas rugas! – exclamei em tom de brincadeira. – Mas eu quero que você saiba que, eu to de perdoando agora, mas se você aprontar de novo, não vai ter segunda chance. – falei seriamente

-Eu acho que não vou correr o risco. – ele disse com um sorriso. – Você se tornou muito importante pra mim e, eu prefiro ter você apenas como amiga a não ter você. – ok, vou admitir, achei muito bonitinho o que ele disse

-Que bom que você abriu mão da idiotice. Você sabe que se eu não ficasse com Dimitri não ficaria com mais ninguém, certo?

-É, acho que eu sempre soube. – ele suspirou e olhou pras rosas na cabeceira da minha cama. – Acho que não importa o que eu fizesse por você, nunca teria o mesmo valor que o que ele faz. – eu olhei pra ele. Adrian tinha errado muito feio comigo, mas percebi que ele realmente era uma boa pessoa e merecia alguém que realmente o amasse da forma correta.

-Você vai encontrar alguém que te merece. E eu ainda vou ser madrinha do seu casamento! – disse sorrindo

-Disso você não precisa ter duvidas. – ele disse sorrindo.

Mais alguns dias se passaram. E seis dias após eu ter acordado, recebi alta. Estava no hospital me arrumando, o gesso nas costelas estava me atrapalhando e, aquele olho roxo estava me deixando furiosa. Coloquei uma calça jeans e uma bata larguinha vermelha com um decote não muito profundo. Puxei meu cabelo num rabo de cavalo, passei um perfume e tentei esconder o olho com maquiagem.

-Você esta incrível – Dimitri disse me abraçando por trás

-Nem tanto.  Esse olho roxo esta me vencendo! – exclamei com raiva. Dimitri me virou de frente pra ele.

-Não. Você esta incrível. Perfeita. Maravilhosa. – ele disse me dando um beijo que literalmente me fez perder o fôlego. – Quer dar uma volta comigo?

-Com você eu vou pra qualquer lugar. Mas será que você poderia dizer onde nós vamos?

-Hm... Não. Isso é segredo. – disse pegando uma mochila que estava com minhas coisas e em seguida pegando minha mão.

-Algum motivo especial pra esse passeio?

-Muitos. Sua recuperação, nossa reconciliação... E bem, nós temos que ter uma conversa.