Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 17
Ataque




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Passamos menos de meia hora no shopping, e como pensava, Mary também estava mais preocupada com Alice do que ir ver a nova coleção de verão de uma loja na qual eu não lembro o nome. Mas andamos um pouco por lá, e esse pouco foi o bastante para Nathale ficar totalmente abismada com todas aquelas lojas e estabelecimentos. Eu mesma fiquei assim quando cheguei, mas tenho de ficar de olho nela. Se qualquer um descobrir que ela é humana – até mesmo Mary – pode ser muito perigoso.

Enquanto andávamos por lá, encontramos por acaso o namorado de Mary, Victor - que eu mal sabia que existia, muito menos sabia que a Mary tinha namorado. Alice nunca me falara nada sobre – e que parece que já me conhecia. Provavelmente, Mary já havia falado muito sobre mim. Depois das apresentações e conversas, decidimos ir até a casa de Alice, que é onde estamos indo agora.

– Onde estamos indo pessoal? – Nathale disse, claramente curiosa com o nosso destino, mas ainda observando a bela paisagem repleta de árvores. A parte da cidade mais para os bairros chiques, era cheia de árvores, parques e toda aquela floresta, bem diferente do centro, onde haviam mais prédios, casas, lojas e tantas outras coisas.

– Na casa de Alice. Faz um tempo que ela não vai á escola, então pensamos que poderia estar doente – realmente, Mary sabe mentir muito bem. Ainda tenho suspeitas que é presidente do clube de teatro – Provavelmente vai ser rápido, só precisamos ver se ela está. Se estiver, vamos ver se está bem e depois ir embora.

– Faz um tempo que não vejo a Alice. Espero que esteja bem, adoro irritar ela até começar a me dar aqueles tapinhas de menina mimada. – Victor disse, e caiu na risada. Mary também, ficaram assim um tempinho, então deram um selinho e ficaram abraçados.

Enquanto ficava somente observando a cena, vi um movimento nas árvores á minha direita. Virei para tentar ver o que era, mas só conseguia ver sombras, mas algo parecia sair delas, algo como... cobras. Vindas dás sombras. Pisquei os olhos algumas vezes, então elas não estavam mais lá. Deve ter sido a minha imaginação. Mas continuei atenta, de olho nas árvores do outro lado da rua.

– O que foi Kat? Parece tão focada nas árvores. Eu sei que a floresta atrás da cidade é bonita, mas você está quase hipnotizada. Tudo bem? – Mary disse, com preocupação.

– Ah, claro. Só pensei ter visto alguma coisa ali, mas acho que foi minha imaginação, nada demais.

– Eu conheço algumas lendas sobre essa floresta – Victor entrou no meio da conversa – Dizem que ela é enfeitiçada, e que um mago poderoso está adormecido no meio de um labirinto subterrâneo que percorre toda a cidade. A cada 200 anos, ele desperta para tentar dominar o nosso mundo e o mundo dos humanos.

– Pare de ser besta Vic! Essas coisas não existem, é quase impossível – então, como se soubesse de tudo, Mary disse com convicção – tudo bem que nós e outras criaturas existimos, mas pessoas que criam magia interna ou dos elementos para invocar magias infinitas? Acho meio impossível.

– Nunca se sabe amor, nunca se sabe.

– Estamos quase chegando, vamos. Chega de pegação um pouco e vamos logo. Já estou ficando cansada – Nathale se intrometeu.

Realmente já estávamos chegando. Podia ver a casa de Alice, imponente como sempre foi, e emanando uma aura meio sinistra, diferente da primeira vez que vim aqui.

Então, vi de novo, aquelas cobras que saiam das sombras como se estivessem tentando me alcançar, mas algo as impedisse. Ou será que algo que as comandava? Já estou imaginando coisas, mas agora eu sei que aquilo que vi era real. Antes que pudesse olhar de novo, vi um vulto negro se mover para os fundos da casa.

– Pronto, chegamos – disse Mary quando subia as escadas junto comigo para tocar a campainha, Victor e Nathale ficaram no quintal, discutindo sobre aquela história que ele tinha falado anteriormente – Tomara que Alice esteja em casa, se não nem sei onde poderia estar. Estou preocupada com ela.

– Também estou, ela sumiu desde aquele dia que voltamos daqui para a escola, e nunca mais deu sinal de vida. – Respondi, com um grande suspiro no final da frase – Ei, Mary, o que tem atrás da casa?

– Um grande campo descampado rodeado pela floresta. É propriedade da família de Alice, e é bem tratado, já que ela adora cultivar flores, principalmente rosas. Por quê a pergunta?

– É que estava curiosa. Vamos lá depois, preciso verificar uma coisa que vi, nada demais.

– Está bem. Alice parece que não está mesmo, que estranho. Faria qualquer coisa para saber onde ela está e se está bem.

– A acharemos, não se preocupe. Agora vamos lá atrás, e sem eles de preferência, por favor.

– Você está agindo estranho Kat... Certeza que está bem?

– Estou bem, já disse. Não se preocupe. Agora vamos lá, deixe-os discutindo sobre aquela história, nem vão perceber que saímos.

– Então está bem. Siga-me.

Andamos até todo o comprimento da varanda, então fomos até uma pequena escada que descia até o gramado e uma cerca. Mary a abriu, e seguimos adiante. Eu estava sentindo um frio na espinha, um sentimento estranho, mas não sabia dizer o que era.

Andamos por um comprido corredor que havia várias flores diferentes, um belo canteiro, deve ter sido Alice que plantou todas elas. Realmente leva jeito. Então, quando finalmente chegamos ao final do corredor, senti meu corpo todo se arrepiar, um arrepio que ia dos meus pés a cabeça. Mary tinha parado e olhado para mim, com a preocupação estampada no rosto. Não conseguia ouvir o que ela dizia, o pavor me dominou. Estava lá, bem na minha frente, aquela sombra medonha com as cobras balançando, famintas por morte. Como pensei, o ser que as controlava estava lá, sentado no meio do gramado. As cobras, que na verdade eram pedaços de pano ensopados de trevas, estavam amarrados em suas pernas, e se mexiam sem parar. Em sua mão esquerda, estava uma cartola – tipo a do Chapeleiro Maluco, de Alice in Wonderland, só que mais escura e sem vida. Eu realmente amava esse livro quando pequena – e a direita apoiava sua cabeça, que olhava para o céu. Sua capa comprida se espalhava pelo chão, se misturando com as trevas que o rodeavam. Sua aura emanava as trevas mais sombrias que eu mesma já poderia ter visto.

Um pica-pau danadinho...

Certo dia, fazendo buracos,

Acabando com as árvores.

A velha floresta zangada transformou seu bico em uma faca envenenada.

Pobre pica-pau. Todos os seus buracos estão manchados...

Sua comida envenenada,

Toque nos seus amigos e eles irão morrer a sua frente,

Pobre pica-pau.

Lagrimas de veneno, brilhando a luz do sol.

Pobre pica-pau.

Ele cantava a música com sentimento, observando o céu que ia fechando aos poucos, até se fechar totalmente no último refrão da música. Quando acabou, se levantou, de olhos fechados, e os abriu olhando em minha direção. Seus olhos, com um verde quase branco, estavam escurecidos com o reflexo das sombras ao seu redor. Não tinha nenhum brilho de vida, parecia até morto.

– Estive te esperando muito tempo, Katlyn Haumbris... – enquanto falava, com a voz grossa e triste, as trevas ao seu redor ficavam cada vez mais agitadas, mal esperando para matar alguém. Me matar.

– Mary... – disse, com a voz trêmula – Saia daqui... Agora...

– E-e-eu não posso. Não p-posso deixar v-você aqui soz-zinha. – ela gaguejava sem parar, o medo evidente. Aquele cara continuava agitando as sombras, me encarando firmemente.

– Mary, eu...

Não tive tempo de falar. Ele fez um movimento com os braços, e as sombras o acompanharam, acertando e fazendo-me voar para quase o meio do campo. Fiquei com uma breve falta de ar, mas consegui respirar. Levantei, tossindo, e o encarando.

– Katlyn! – Mary gritou, apavorada, começando a correr na minha direção. Ele olhou para ela, e lançou um pedaço de trevas, para que a prendesse como uma rede na parede.

– Não se intrometa, vampiro repugnante. – voltou a me olhar – você será morta por mim, neste mesmo lugar, pelo nome de seus ancestrais. Mas antes, deve sofrer um pouco, para sentir a dor que sofri.

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, ele lançou aquelas cobras em minha direção, famintas. Não tive como recuar. Elas cortaram minha pele tão facilmente como se fosse feita de manteiga. Logo depois, lamberam o sangue que escorria, o que ardia ainda mais que os próprios cortes. Gritei, gritei como nunca gritei na vida. Nunca sentira nada tão horrível antes, era como se cortassem minha pele com facas envenenadas e depois jogassem ácido em cada um dos cortes. As cobras não paravam, faziam mais e mais cortes. O chão já estava cheio do meu sangue jogado naquele gramado, que se não fosse à situação, o acharia lindo. Tentei invocar meus sabres para cortar aquelas malditas cobras, mas a dor era tão imensa que a única coisa que poderia fazer era senti-la.

Então, em algum instante, a dor parou. Ouvi um grito de agonia, um de choro e outro de horror. Estava tão trêmula, que caí no chão. Virei meu rosto para ver o que estava acontecendo, então vi que aquele ser que estava me atacando tinha uma flecha no meio do peito. Mary fora libertada, e estava vindo correndo em minha direção, com Nathale. As duas com os olhos cheios de lágrimas. Mais ao fundo, Victor empunhava duas bestas, que apontavam para o bicho, que saiu correndo como um vulto.

Depois disso, não vi mais nada. Somente um lugar escuro e frio.


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Notas finais do capítulo

Música do "Pica-pau" retirada do anime Deadman Wonderland.
Deu um trabalho do caramba fazer esse capítulo. Quero ver reviews hein? u_u Até o próximo.



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