Sorrisos de Guache escrita por IsaS


Capítulo 4
CAPÍTULO 3º




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CAPÍTULO 3º

 

 

         Ouvi a campainha tocar, ignorei. Mais uma vez, ela insistiu, mas não saí do lugar. Agora, eram batidas na porta, aos socos, e se não fosse à voz de Alice, juro que teria ficado no mesmo lugar.

 

– Isabella Swan! – gritavam meu nome e imaginei que os vizinhos estariam me odiando mais do que ela. – Abra logo essa maldita porta ou eu a arrebento.

 

Ah! Essa eu quero ver!” – pensei enquanto me arrastava até a porta, mas resolvi não duvidar de Alice. De uma coisa eu sempre tive certeza, desde a faculdade: tudo o que Alice Cullen queria, ela conseguia. Só esperava que ela não quisesse a lua, ou o sol.

 

– Calma. – pedi, enquanto destrancava a porta e me preparava para sair correndo. Mas meus pés estavam pesados demais, e se eu fosse teimar e dar um passo mais rápido, seria perigoso cair, e de dor, eu já estava cheia.

 

– Como assim, “calma” ? – Alice irrompeu pela porta como um boi bravo. Encarou-me com os olhos queimando em fúria. – Por que não atende minhas ligações?

 

– Você ligou? – perguntei confusa, sentindo-me um pouco culpada por ter ouvido o telefone e tê-lo ignorado. Mas culpada eu me sentia por pensar que faria a mesma coisa com a porta se o senso – e a voz de Alice – não tivesse me despertado.

 

– Liguei. – choramingou e franziu o cenho. – Onde estava todos esses dias?!

 

– Aqui. – dei de ombros, desistindo de encontrar uma boa desculpa ou uma boa mentira.

 

– Fazendo o quê? – perguntou brava mais uma vez. Sim, Alice sofria de bipolaridade. Perguntei-me se isso era normal, ou se era epidemia.

 

– Na cama. – dei de ombros mais uma vez. Arrastei-me para cama e caí nela, fechando os olhos. Ouvi Alice trancar a porta e pensei que ela iria me espancar. Eu aceitaria, se ela o fizesse até a morte. Era só o que queria no momento, morrer.

 

– Bella. – sua voz parecia gentil, mas eu conhecia seu tom de preocupação, mesmo que o tivesse ouvido há muitos anos, eu ainda o reconhecia. – Vamos lá! Vai ser legal.

 

– Alice, não tenho condições nem de levantar. – resmunguei enfiando minha cara no travesseiro. Odiava-me profundamente por deixá-la me ver assim.

 

– Você tem sim! – disse decidida.

 

– Claro, claro. – levantei-me da cama e vi seus olhos brilharem de esperança. Abri a gaveta do armário e peguei um cigarro em seu maço. Vi seus olhos se desfocarem de mim, tentando esconder a decepção. – Fuma?

 

– Não, obrigada. – respondeu desanimada.

 

         Aspirei a quentura do cigarro e senti-a descendo pela minha garganta. Ela se sentou em minha cama e passou as mãos pelos lençóis, sentindo o tecido. Eu me odiava por fazê-la ficar assim. Queria vê-la sorrir de novo, queria que ela se levantasse e me empurrasse para o closet, me arrumasse, como sempre fez na faculdade. Queria voltar no tempo, mas já era tarde. Lembrei-me das palavras que havia me dito dias antes: “Se você não mudar, não reagir, vai ser pior e nunca vai conseguir, de fato, viver.” Coloquei o cigarro na boca e o prendi entre os lábios, peguei a mão de Alice e a forcei a se levantar.

 

– Me ajude, Alice. Não caia no mesmo buraco que eu. – pedi, virei a cabeça e soltei a fumaça do cigarro. – Vamos, arranje uma roupa para mim e... – Branca latiu e vi Alice embranquecer. A figura negra de minha cadela apareceu na porta da cozinha.

 

– Essa é... Branca? – perguntou com a voz trêmula. Franzi o cenho para a cadela que vinha em nossa direção, cheirando Alice por todos os lados, com olhos curiosos. Reprimi um sorriso e continuei a fumar meu cigarro, que já estava na metade. Observei-a cheirar a garota que estava encolhida. Parte de mim se arrependia por ter falado que ela era feroz e comedora de gente; mas outra parte se divertia em ver Alice tão assustada. De repente, a cadela se rendeu aos encantos de minha antiga colega de quarto na faculdade e caiu em seus pés, virando seu corpo de um lado para o outro, com a barriguinha para cima, ansiando atenção e carinho. Vi os lábios de minha amiga se retorcerem e virarem um sorriso que me mostrou. – Nossa, que feroz ela é!

         Alice se abaixou graciosamente e fez carinho em Branca, que se deliciava. Soltei a ultima dose de fumaça pela boca e apaguei o cigarro num móvel próximo.

 

– Eu vou te ajudar. – sorri ao ouvir isso, mas não a olhei, preferi continuar olhando a TV enquanto nela passava o Pernalonga. Senti-me sendo puxada. – Mas vai ser agora. – olhou para o relógio. – Já estamos atrasadas!

 

 

         “Tudo pela minha amiga. Tudo pela minha amiga” – eu repetia isso a mim mesma enquanto estava sentada ao seu lado no carro. Observei sua direção lunática até um bairro nobre e sossegado um pouco afastado da movimentada Londres. Apesar de estar chateada, era bom mudar de ares. Aquele lugar me acalmava incrivelmente, e eu me sentia bem – não completa – como nunca estive antes. Suspirei mais uma vez.

A sensação de bem estar parecia ser temporária. Quando eu fechava os olhos, a dor voltava e eu os abria rapidamente. Não era como dormir, era como entrar à força num lugar onde não se quer nem chegar perto. Eu não queria sofrer com a dor, e a partir daquele dia, eu a evitaria. Não aceitaria mais a atração que sentia por Anabelle, e não cederia mais. Para mim, agora ela seria apenas uma cama, e só. Eu precisava fazer valer a pena o ar que eu respirava, mas eu não sabia como.

Eu era uma mulher bem sucedida, com dinheiro sobrando, com uma coleção de all stars, e estava cansada de viver.

 

– Chegamos! – cantarolou, e Branca – que foi no banco de trás – uivou junto.

 

– Que legal. – me pareceu conveniente ser sarcástica naquela hora. Ela parou o carro numa garagem gigantesca, e percebi que passei pela casa e nem a olhei, sequer.

 

– Vamos, Branca! – Alice abriu a porta para a cadela descer do carro, mas eu ainda fiquei ali, tentando contar até dez sem me embolar nos números. Apertei minhas mãos em punho, meus dedos estavam trêmulos e brancos. Eu era terrivelmente branca, e isso não era novidade. Talvez não tivesse ficado tão chocada se tivesse me olhado no espelho durante essa semana, coisa que eu evitei. Mas Alice havia feito meu cabelo, me fez passar maquiagem e vestir um all star novo, já que não ia de salto. E por tudo isso, abri o espelho do carro, e me olhei. – Bella. – ela bateu no vidro. – Vem!

 

         Continuei me olhando no espelho do carro. Ela não havia feito nada de muito diferente em meus cabelos. Eles já eram estranhos por natureza, só estavam mais ajeitadinhos. Meus olhos continham pouco lápis – o que eu não curti muito -, mas deixava minha aparência mais suave, e talvez tenha sido essa sua intenção. Ela me obrigou a usar um batom quase vinho, e não havia ficado tão mal, só não estava do jeito que eu queria. Queria estar com meus antigos all stars, com o cabelo pior do que o do mendigo da esquina, sem maquiagem, ou, usando cinco quilos de lápis nos olhos.

 

– Bella! – reclamou.

 

– Ta bom, ta bom. – imitei uma criança mimada, sem querer.

 

­– Chegamos! – cantarolou Alice mais uma vez quando abriu a elegante porta branca. Entramos numa sala de estar, totalmente em tons claros, com móveis muito sofisticados e de muito bom gosto.

 

– Até que enfim! – gritou alguém do andar de cima. Reprimi um sorriso.

 

– Venha Bellita... – Bellita?! Tava ficando mole, viu! Ela me puxou até a sala de TV, havia um sofá imenso de couro branco. Não resisti á curiosidade e encostei meus dedos no tecido do móvel. Couro importado, como havia sugerido silenciosamente. – Galera!

 

– Deus, Alice! Como você berra. – reclamei baixo.

 

– Obrigada por concordar com isso. – virei-me para a voz e meus lábios se abriram.

         Ele veio sorrindo para mim. Tinha a pele alva, como a de Carlisle e de Alice. Seus olhos eram verdes e lindos, profundos e intensos. Segui pela linha de seu nariz e deparei-me com a boca, tão perfeita. Tudo isso emoldurado por cabelos de um bronze diferente, estranho e, de certo modo, charmoso.

 

– Olá. – disse sem graça, e sorri.

 

– Deve ser Bella. Ou Bellita... – ele riu e eu fiquei fascinada. Logo voltei a mim e balancei a cabeça com uma careta.

 

– Prefiro Bella. – Alice virou-se para mim com uma careta. – Mas pode me chamar assim, se quiser.

 

– Este é Edward. Meu irmão. – ele estendeu a mão e eu toquei em sua pele macia e perfeita. Meus olhos se arregalaram quando ele a beijou como um cavalheiro. – E, para ficar bem claro... – ele focalizou seu olhar no do irmão, que ainda estava encurvado e com minha mão perto dos lábios. – Só eu posso chamá-la de Bellita.

 

         Suspirei, esse final de semana seria muito longo. Senti o hálito gélido e cheiroso de Edward bater em minha mão quando ele soltou uma leve risada.

 

– Tudo bem. – ele concordou e voltou a ficar em uma impecável postura ereta e apontou para meus pés. – Belos all stars.

 

– Obrigada. Não são meus preferidos, mas... – olhei para Alice, que sorriu. All stars pretos de vinil não eram meus preferidos. Fiz uma careta, que só deve ter aumentado quando vi uma multidão – ao que me pareceu – me analisando, com sorrisos de boas vindas no rosto.

 

 



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Notas finais do capítulo

Não aguentei esperar muito tempo, então postei logo. Gente, por favor, me mandem reviews, okay?! Preciso saber a opinião de vocês, sééério. ):
Vou ficar aguardando, okay?! ♥