SORRISOS DE GUACHE

PRÓLOGO

         Era uma vez uma garota. Uma garota que se achava derrotada, feia e perdida no mundo. Depois de se formar em Oxford, resolveu sair da casa dos pais e passara a morar sozinha, em Londres. Conseguiu abrir um café no centro, que havia virado um ponto de encontro para amigos, e por isso, ficou conhecido. Ganhou dinheiro suficiente para mandar sua cadela vira-lata de pêlos negros – cujo nome, ironicamente, é Branca – para um spa canino uma vez por mês; e comprar alguns all stars que lhe agradecem, mesmo sabendo que não iria usá-los, sem contar seu confortável apartamento com toda mobília e acessórios importados.

         Ela havia subido na vida, o que nunca lhe passara pela cabeça. Mas mesmo nas noites em que se achava vencedora, se achava – mais uma vez – perdida. Afinal, ela era sozinha. Seu trabalho era a única coisa que possuía e que preenchia seu tempo, quando não estava com Branca ou com seus pais e alguns pouquíssimos amigos. Mas todo mundo tem uma hora, e numa bela tarde de inverno, a hora da garota que se achava derrotada – mesmo tendo dinheiro “caindo pelo ladrão” –, feia e perdida no mundo, havia chegado e ela passou de todos esses defeitos, a se achar uma princesa encantada, ao lado de seu príncipe que tinha um carro, não um cavalo branco.

         Logo se casaram, em pleno outono, sem importarem-se com o tempo frio e chuvoso. Tiveram apoio das famílias, que estavam em júbilo pela felicidade do casal. Nunca estivera tão feliz, tão completa, tão cega de amor. Foi uma linda união, que durou, infelizmente, pouco. Muito pouco, para meu gosto. Apenas dois anos se passaram, e seu príncipe encantado – que era corretor de seguros, sempre atarefado, mas muito carinhoso – ficara doente, e morreu.

         A garota que havia subido na vida, que havia ultrapassado os limites – que nem imaginavam existir –, agora era uma mulher feita, dona de um famoso café, e viúva. Só lhe sobrara Branca, sua família – que simplesmente evitava visitar -, e a de seu falecido marido, que tentava – desesperadamente – esquecer. Os amigos, ela acreditava que haviam a esquecido depois de tantos recados não respondidos. Estava sozinha mais uma vez.

         Essa mulher viúva – ou, garota solitária – se chama Isabella Swan. E por mais irônico que pareça, sou eu.