Speechless escrita por Vick_Vampire, Jubs Novaes


Capítulo 22
21. De Problemática amorosa à Vítima


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo.
Espero que vocês me perdoem pela demora absurda e totalmente sem razão lógica para sair esse capítulo. Não parem de ler a fic, ou a Jubs vai me matar.
PS: A parte grande em itálico é um flashback
Boa leitura!



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Alice

            Oh, merda.

            No instante que as palavras de Mike chegaram aos meus ouvidos, me apressei em desgrudar meus lábios dos de Jasper. E...

            ...Nada. Eu provavelmente magoaria Jazz, mas, agora, já estava feito. Mais um erro na lista de Mary Alice Brandon.

            Reabri meus olhos, sentindo o calor do sangue subir às minhas bochechas. Mal tive coragem de encarar Mike –Newton, não é?-, tampouco os olhos cor de âmbar à minha frente. Fitei o chão.

            -E-e-eu... –as palavras cambaleavam na boca de Jasper. Eu podia praticamente sentir a vergonha e o rubor dele.

            Ou, talvez, aquela fosse a minha vergonha.

            -Não, não foi nada não... –Pude sentir o sarcasmo implícito na voz de Mike. –Mas eu acho que eu prefiro me concentrar em William King, quer dizer, Stephen Shakespeare... sabe?

            Eu entendi a indireta, e me apressei em pegar o que restara da minha dignidade e arrastá-la daquela casa, sem mesmo voltar a olhar para um dos dois.

            Enquanto passava pelos cômodos daquela casa, voltei a perder-me em pensamentos.

            Lembrei-me daquela tarde, quando Jasper havia me dito que podia me beijar. Um “não” escapara dos meus lábios, mas, é claro, e graças a Deus, eles não passaram dos meus lábios. Olhara em volta, desesperada pelo meu bloquinho, já arquitetando uma mentira.

            “Posso não ser muito boa nisso.”, era o que eu havia escrito.

            Graças a Deus, ou à memória fraca dele, não se lembrou de que eu já tinha namorado alguém –e, nesse caso(Emmett), eu sabia, sim, beijar-.

            Ele logo esquecera o assunto, e fora embora com o Newton. E eu também tentei fazê-lo. Estava prestes a esquecer quando tinha ouvido duas batidas familiares na porta.

            Me ergui –com dificuldades- do sofá da sala, ou, como eu chamaria, minha cama. Caminhei lentamente na direção da porta, tendo a estranha sensação de que já conhecia aquele toc-toc. Talvez Jasper ou Mike tivesse esquecido algo aqui.

            Abri a porta de madeira barata, e, no momento seguinte, ocorreram duas coisas.

            Uma sensação fria e desesperadora correu minhas pernas, fazendo meus joelhos dobrarem levemente de fraqueza.

            E, logo depois, eu vi aqueles olhos azuis e as covinhas.

                                                            ***

            “Quer beber alguma coisa?”os meus dedos tremiam enquanto eu escrevia, fazendo o lápis passear pela folha. Emmett sentou-se ao meu lado no sofá, tentando ler meu garrancho. Prendi a respiração.

            Emmett leu assim que terminei, franzindo as sobrancelhas. Contive meu impulso de erguer a mão e tocá-lo.

            Mas o que era aquilo, diabos? Alice, não se lembra do que ele fez a você? De quem ele era aliado? Quem ele namorou nas últimas semanas?

            A consciência gritava nos meus tímpanos, mas eu não dava a mínima para ela. Emmett voltou o rosto para mim, mas não ousei tirar os olhos do papel branco do bloquinho.

            -Ahn, claro. –respondeu, mas não me permitiu que me levantasse. –Deixa que eu pego.

            Deixa que eu pego. As palavras flutuaram na minha mente, e absorvi-as, sentindo a suavidade. A consciência uniu-se ao bom senso, e começaram ambos a berrar nos meus ouvidos. Continuei a não ouvi-los.

            Meus dedos seguravam o bloquinho com tanta força que a ponta dos meus dedos estava branca. O sangue subia e descia, deixando meu rosto hora rubro, hora pálido. A bile fazia o mesmo processo; hora subindo pela garganta, hora descendo.

            Fechei os olhos, e uma lágrima inevitável escorreu pela minha bochecha, percorrendo o caminho de uma das cicatrizes. Desceu, lentamente, até pingar do meu queixo. Não fiz nada para impedi-la; afinal, era uma lágrima legítima, não sem motivos.

            Voltei a me reanimar, exibindo um sorrisinho fraco, quando Emmett retornou da cozinha, com um copo –daqueles de requeijão, sabe?- cheio d’água na mão. Ergui o lápis para escrever.

            “Então... você veio... dizer alguma coisa?”, perguntei. Ele leu rapidamente e deu uma piscada.

            -Bom, na verdade, eu... –ele fez uma pausa, parecendo constrangido por um momento. – Eu meio que vim pedir desculpas pelo que eu fiz depois que, bom... você sabe. Eu... me sinto mal agora.

            Ele pôs a mão sobre a minha, mas, de algum modo, não era mais o mesmo formigamento que costumava sentir. Era sim, um formigamento, mas menos.

            Eu engoli algumas dosagens de ar.

            Tentei puxar a mão de volta, mas algum impulso desconhecido me impedia. Voltei a escrever no bloquinho, tentando desviar o olhar de Emmett.

            “É só isso que você veio fazer aqui?” Eu sabia que estava sendo extremamente rude, mas não era parte da personalidade de Emmett ficar calado tanto tempo.

            Ele me encarou com aqueles olhos azuis. Parecia estar cogitando sobre se devia me dizer o que era.

            -É que, Alice... –ele trouxe a mão um pouco mais para si, e eu me senti quase agradecida. –Bom, você sabe... Eu... Senti sua falta.

            Ouvi um zumbido incômodo nos meus ouvidos. Aquelas palavras estavam me deixando zonza. Será que ele estava dizendo mesmo aquilo que eu achava que estava?

            -Essas últimas semanas com Rosalie... Não foram, como posso dizer...? Diferentes, como quando era, bom... –ele olhou para baixo. -... com você.

            Um torpor abalou meu corpo, e o senti tombar para o lado. Era como se tudo que eu tinha passado fosse para que aquilo acontecesse.

            Mas... de certo modo, dizer sim àquilo parecia tão... Errado.

            Quer dizer, é claro que eu ainda amava Emmett. Mas eu tinha sido tão magoada... Aquele Emmett que falava comigo não parecia o mesmo. Não podia ser o mesmo.

            Pessoas não mudam, mudam?

            Bom, é claro que mudavam. Eu era a prova viva disso. Mas...

            “Eu não sei, Emmett.” Respondi, e, mesmo que tenha me arrependido de escrever aquilo no segundo que pus o ponto final, parecia a coisa certa.

            -Eu acho que entendo. –seus olhos ficaram magoados no mesmo instante. Ele estava mesmo sendo sincero. –Quer dizer, tudo o que você tem passado... Não é a hora. –ele se ergueu do sofá, porém, não fiz o mesmo. Fitei o chão, cheia de culpa e peso na consciência. – Mas gostaria de ser o primeiro a saber se mudar de ideia.

            E, assim, ele começou a andar, e os seus pés saíram do meu campo de vista. Alguns segundos depois, o som da porta se fechando.

            Senti-me perdendo o equilíbrio, e percebi que havia tropeçado numa pedra, à caminho da entrada da casa dos meus tios. Voltei ao presente, mesmo com aqueles flashes voltando sempre à minha memória.

            Mais cedo, naquele dia, Jasper tinha ficado me olhando com uma expressão engraçada no rosto. As sobrancelhas numa expressão de concentração, os lábios comprimidos. Ele parecia tão...

            Diferente.

            Assim como eu.

            Abri a porta da frente, adentrando o corredor com cheiro de mofo da casa dos meus tios.

            Então, eu fora até a casa dele, com um plano em mente.

            Descobrir se eu não estava... bom, você-sabe-o-quê... por ele. A palavra de verdade me aterrorizava.

            Quer dizer, Jasper é e sempre será meu amigo. Ou, talvez, depois de enganá-lo –ou, talvez ele não estivesse você-sabe-o-quê por mim. Aí seria uma ideia melhor-, ele não fosse querer ser mais meu amigo.

            E então eu estaria sozinha, de novo.

            Porque, se isso acontecesse, Tanya não continuaria a acreditar que eu tinha mudado.

            Tentei desfocar dos meus pensamentos por um minuto; ora, ele não precisava descobrir, não é? E eu também não precisava de um namorado...

            Não é?

            Olhei para os lados, como se procurasse alguém. Mas não. Continuava sozinha.

            Sentei no sofá da sala lentamente. As minhas costas latejavam do esforço de ir e voltar da casa de Jasper. As minhas pálpebras pareciam pesar sobre os olhos, e me dei conta que estava morrendo de sono. Não dormia direito desde a noite que voltara do hospital, imaginando o que aconteceria com Rosalie. E, quando Jasper me disse que ela estava mesmo fugindo, me senti culpada. Eu sequer tivera a oportunidade de dizer à ela que a tinha perdoado.

            Mas, se eu a conhecia bem, ela diria que não precisava do perdão de ninguém.

            Estiquei minhas pernas sobre o sofá e tentei me aconchegar, por mais desconfortável que o sofá fosse. Puxei a manta antiga sobre mim e fechei os olhos pedindo a Deus que conseguisse dormir, pelo menos um pouco.

            E, felizmente, eu consegui.

                                                            ***

            Acordei com a sensação de fome me absorvendo. Já era noite, e a casa estava mergulhada em um breu. Não havia luz nos postes do lado de fora, e sequer havia luz do luar aquela noite. Eu só via naquela escuridão graças a uma –provável-vela acesa na cozinha.

            Não cheguei a estranhar, uma vez que meus tios eram irresponsáveis o suficiente para não saberem que se deve apagar uma vela quando vai dormir. Mas, mesmo assim, era estranho que ela viesse da cozinha.

            Me ergui pesadamente do sofá e, mesmo que não soubesse o porquê, tomei cuidado para não fazer barulho. Pisei na madeira gélida e antiga, que rangia a cada passo meu. Parecia que eu sentia cada vez mais a luz amarelada chegar a minha pele, mas não via nada.

            O meu estômago roncou mais uma vez, e eu reprimi um gemidinho de fome. Apressei o passo. Estava quase lá...

            Foi quando eu ouvi.

                                                            ***

            Sabe naqueles filmes que aperfeiçoam o som de algo que quase não faz barulho nenhum, para dar um efeito mais dramático ao momento?

            Foi exatamente assim.

            Primeiro, foi um baque surdo, como se algo tivesse caído.

            Logo após, o som de alguém mexendo em um tecido apressadamente, e saindo depressa pela porta dos fundos.

            E, então, veio o último, acompanhado de uma imagem aterrorizadora. Acho que aquela foi a segunda vez que eu senti meu sangue gelar mesmo; a segunda vez que eu achei que morreria.

            Era o som de fogo se alastrando.

            Eu não fui até a cozinha para ver. Eu não tinha visto, mas já conseguia imaginar a cena: uma labareda subindo pelas cortinas da cozinha. Impregnando as paredes de madeira e, enfim, consumindo a casa inteira. Tratei de tirar a imagem da minha cabeça e corri de volta para a sala.

            Meus dedos procuraram pela tela fria do celular dentro da minha bolsa. Eu talvez não pudesse falar, mas sabia que Jasper sentiria que seria algo urgente vindo de mim de madrugada.

            Quase gritei de alívio quando encontrei o celular. Saquei-o e coloquei na discagem rápida do número de Jasper. Eu ouvi o primeiro toque pacientemente, mas, quando olhei rapidamente para a cozinha, vi uma pequena chama vindo na minha direção. O segundo toque me desesperou.

            Foi quando lembrei dos meus tios.

            Eu sabia que era suicídio subir as escadas e procurar por meus tios, ainda mais com chances de não conseguir mais fazer o caminho de volta. Mas a última coisa que eu seria àquele ponto, seria órfã.

            Reuni todas as minhas forças para subir as escadas correndo, e consegui. Procurei pelo quarto deles, mas a porta estava emperrada. Gastei o que me restava de forças e pulei sobre ela.

            Senti uma dor atenuante no meu braço esquerdo, que eu usara para empurrar a porta. Um pouco antes de desmaiar, sem forças, eu vi uma cama de casal vazia.

                                                            ***

            -Alice?

            -Alice, por favor, acorde.

            -Alice!

            -Mary Alice Brandon!

            -Acorde!

            O primeiro sentido que recobrei foi a audição. Várias vozes me chamavam, e eu não conseguia abrir os olhos ou me mexer para mostrar que eu estava consciente. Então, basicamente fiquei ouvindo.

            O primeiro som que ouvi foi a voz de Tanya. Ela me chamava numa voz chorosa.

            O segundo som era de sirenes altas, daquelas dos carros da polícia. Ou talvez fossem de uma ambulância. Ou os dois.

            E então veio uma voz familiar... Ah, sim. James. Ele tentava acalmar Tanya e outra pessoa que parecia soluçar perto do meu ouvido, de modo que eu acreditava que só eu podia ouvir.

            Jasper.

            Por que ele estava soluçando? Minha situação não podia estar tão ruim; eu não sentia nada. Nenhuma dor. Era bem verdade que minha língua tinha um gosto terrível, e que eu sentia um terrível cheiro de queimado. Mas era só. E, afinal de contas, não éramos amigos o suficiente para ele se importar tanto com o meu estado de saúde.

            Bom, mas nesse meu nível de amizade, amigos não sugerem beijar os outros.

                                                                        ***

            Passara um tempo, e agora eu estava definitivamente no hospital. Já conseguia me mover e abrir os olhos, mas, infelizmente, esse pacote parecia incluir uma ardência incômoda na pele que nenhuma morfina parecia aplacar.

            Jasper tinha parado de soluçar no momento que consegui abrir os olhos. Ele soltou um suspiro de alívio e tentou esconder as lágrimas. Tanya me falou algumas palavras confortadoras, dizendo que tudo ficaria bem. Afinal, eu já devia estar acostumada com o cômodo branco de hospital.

            James tinha me contado o que havia acontecido. Parecia que, quando Jasper reparou nas chamas da casa dos meus tios, correu para lá e me tirou da casa, enquanto chamava os bombeiros e a polícia. Mas já era tarde. A casa já estava arruinada.

            Um policial de cabelos castanhos e bigode também tinha me interrogado mais cedo, e eu tentei contar-lhe –ou escrever- tudo que tinha visto aos mínimos detalhes.

            E, agora, eu estava deitada na maca do hospital, com James e Jasper no cômodo, esperando alguma notícia da polícia. E então...

            Eu me dispersei de meus pensamentos quando eu ouvi uma voz estranhamente familiar no cômodo.

            -É isso!- disse a voz. 

            -Isso o que, Charlie? –James perguntou ao tal de Charlie. Olhei e vi o policial que me interrogara mais cedo.

            -Juntem as peças comigo. Alice estava sozinha em casa, e ouviu alguém jogar algo na cortina da cozinha, que provocou o incêndio. Não vêem?

            Mais uma pausa silenciosa pairou no ar.

            -Isso quer dizer que... –James começou, mas Charlie o interrompeu, dirigindo-se diretamente à mim.

            -Quer dizer que alguém estava tentando te matar, Alice.

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Vick_Vampire



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Notas finais do capítulo

Agora, sim, vou explicar tudo.Primeiro; Eu SEI que o capítulo está microscópico, mas eu não consegui enrolar tanto para o suspense do fim. Eu realmente me esforcei, e espero que me perdoem.Segundo: Eu SEI também que estou quase mais de um mês atrasada. E peço desculpas. fiquei muito tempo no clima férias, e eu não conseguia voltar a escrever coisa de qualidade. Acho que foi melhor eu ter demorado tanto, ou o capítulo seria mais um monte de encheção de linguiça. Não parem de ler por eu ter demorado tanto, por favor. Foi a primeira e última.Terceiro:Muito obrigado se me entederem. E....Mandem reviews, xingando ou elogiando!BeijosVickie
PS: Isa_Vampire e YezaDutra: Não sou uma boa pessoa para agradecer pelas recomendações (pq a Jubs é mais... profunda nisso), mas eu estou muito feliz que gostem tanto de Speechless! Muito Obrigado!