“Duas horas haviam se passado e Brad não conseguia pensar em nada a se fazer. Um homem alto e de boa aparência adentrou o local e se sentou a cerca de dois metros de Brad. Ele tinha absoluta certeza que conhecia aquele cheiro e no virar de rosto pôde reconhecer o tal homem que havia acabado de chegar: era o homem que chamava por Melanie em sua lembrança do dia em que ela o acolheu. Nada mais o metamorfo podia fazer a não ser se aproximar do homem e tirar tudo a limpo.”

            Capítulo 5 – Passado

            Suas mãos tremiam misteriosamente e ele sentia que aquela não seria só mais uma noite qualquer. Brad estava prestes a descobrir o que Melanie escondia por trás de seus olhos e de suas ações, digamos, peculiares.

            Se aproximou do homem que carregava um semblante de dor e cansaço e pediu que o garçom lhe trouxesse uma dose de cachaça, por sua conta.

            —Obrigado, irmão – disse o homem -.

            —Por nada.

            Brad passou a observá-lo e ele começou a desconfiar da “boa vontade” do metamorfo.

            —O que foi?

            Ele hesitava em falar, pois temia a verdade que escutaria. E se aquele fosse o namorado de Melanie? Se fosse seu irmão ou algo do tipo? Sabendo então a verdade, será que Brad veria Melanie com os mesmos olhos de antes? Só as respostas do homem e do tempo diriam.

            —Eu te conheço – começou Brad -.

            —Mas eu não, com licença – o homem ameaçou se levantar, mas Brad segurou seu braço insistindo na conversa -.

            —Eu conheço alguém que você possa saber quem é. Realmente preciso que me diga algo.

            O homem se virou para Brad com certa inpaciência e bufou.

            —Não tome meu tempo. Vamos, o que quer saber?

            —Melanie – o susto ao ouvir o nome dela fez com que o homem levantasse a cabeça e arregalasse os olhos – Esse nome te diz algo?

            Ele se levantou ainda em choque  e segurou Brad pela camisa levantando-o também.

            —Onde ela está, cara? Me diz agora ou te mato aqui mesmo.

            —Hey, hey! Calma aí. Você conhece ela então – disse Brad -.

            Ele reconsiderou a idéia de falar onde a menina estava. O comportamento do tal homem era estranho demais e Brad temeu que Melanie não estava em casa por causa dele, talvez.

            —Ela é minha irmã - disse o homem e soltou Brad. Seus olhos se encheram de um vazio de repente e Brad estranhou a falta de sentimentos que o homem demonstrava – Meu nome é Jason.

            —Irmã – repetiu o metamorfo – Eu conheci ela aqui pela cidade, Jason. Conversamos um dia desses, mas depois perdi-a de vista. Pensei que talvez você soubesse onde ela estava, pois já o havia visto com ela.

            —Não me lembro de você – disse Jason tentando se lembrar de algo que, na verdade, nunca acontecera -.

            —Sou do tipo quieto, muitas pessoas nem notam minha existência – aquilo sim era verdade -.

            O homem sorriu de canto.

            —Me desculpe por te ameaçar daquele jeito. Eu não sei o que acontece comigo, mas sinto que algo dentro de mim fica martelando a idéia de que não posso perder minha irmã de vista. Parece que eu estive longe dela por tanto tempo, é como se eu tivesse desapontado ela alguma vez, só não me lembro o porquê.

            Brad ficou intrigado com aquelas palavras e continuou conversando com o homem por mais algum tempo. Descobriu que a menina era o que poderia ser denominado de “alicerce” para sua família e que desde que ela havia sumido de casa a mãe de Jason e Melanie não sabia o que fazer para se manter de pé. Brad ficou bastante atordoado com a história que ouvia e à medida que Jason desabafava as coisas ficavam cada vez mais confusas. Muitos dos ocorridos que ele começava a narrar não tinham fundamento, o que deixava Brad ainda mais confuso e sem base para tentar conectar o que ouvira com as reações e atitudes de Melanie.

            Jason foi saindo do bar esperançoso de que Brad o ajudaria a encontrar Melanie, mas antes de abrir a porta do estabelecimento se virou para Brad alertando-o.

            —Tente procurá-la pela noite. Ela normalmente nao sai de casa durante o dia.

            Jason se foi e a cena de Melanie bradando sobre a abertura da porta veio a cabeça do metamorfo.

            Interessante, pensou ele.

            Algumas horas haviam se passado e já era madrugada. No meio do caminho de volta para seu lar com Melanie, Brad encontrou a garota andando lentamente em direção a um lago que ficava nas proximidades da casa. Em forma de um cachorro, o molde preferido do metamorfo, ele foi se aproximando de Melanie e viu que ela retirava suas roupas para banhar no lago. O vestido branco de Melanie estava sujo de um líquido vermelho que no ver do homem, se assemelhava à sangue. Ele se aproximou das roupas dela, enquanto ela nadava pelo lago, e percebeu que suas suspeitas eram verdadeiras ao farejar o vestido. Assustado, ele voltou a sua forma humana e voltou para casa silenciosamente.

            Já bastante cansado, mas ainda se mantendo acordado, Brad percebeu a entrada de Melanie pela porta da frente da casa. Ele fingiu que dormia e Melanie se deitou ao seu lado na enorme cama com lençois perfeitamente brancos. Brad prendeu sua respiração para não alertar a garota, mas com um leve toque em seu pescoço ela sussurrou em seu pescoço, como se falasse sozinha.

            —Me desculpe por hoje mais cedo. Eu não devia ter sido tão rude, não devia ter te colocado numa encruzilhada quando você nem sequer sabe o que está acontecendo.

            Brad permaneceu calado fingindo dormir e Melanie continuou seu monólogo.

            —Você pensa que não me ama, às vezes, mas eu sei que isso não passa de medo. Medo de quem eu possa ser, medo de descobrir o que não quer descobrir – ela se calou por um instante e apoiou sua cabeça no travesseiro – E não pense você que não sei que está fingindo dormir para tentar descobrir algo que não sabe sobre mim.

            Brad se assustou com as últimas palavras de Melanie, mas mesmo assim se manteve firme em sua posição, sem se mexer e sem proferir uma palavra que fosse.

Ele não conseguia respirar de verdade daquela vez, talvez pelo susto que tomara, mas após algum tempo extasiado conseguiu dormir e teve um estranho sonho que mais lhe parecia a realidade pura e viva.