Tudo começou em uma segunda de inverno, quando o homem da mesa 14 deixou de ser apenas o homem da mesa 14.

Ele estava atrasado, sei que não deveria estar pensando porque ele não veio, mas eu estava. Me perguntando se alguma coisa havia acontecido.

Estava inquieta, distraída. Olhando para porta toda vez que ela abria, toda vez que ela fechava. Mas ele não chegara ainda.

-Ele ainda não chegou, não é?

-Ele quem?

-O homem da mesa 14

-Pare com isso Marie

-Annie, pensa que eu não noto os olhares dele para você? Acha que eu sou burra? - ela teimava

-Claro que não – disse pegando a minha bandeja – Ele é só um cliente qualquer

-Você não me engana.

Marie era minha melhor amiga. Ela trabalhava comigo no restaurante a dois anos. Conhece essa história do início ao fim.

-Bem que você formam um bonito casal, e Annie, já está na hora de pensar em alguém que não seja o Johnny. Ele não vai mais voltar, já fazem 4 anos! - ela continuou falando enquanto eu servia os clientes. Me seguindo pelo restaurante

Eu me virei para mandar ela parar mas eu o vi entrar pela porta logo atrás de Marie.

Fiquei paralisada, seus olhos castanhos tão tristes e vermelhos. O que havia acontecido com o homem da mesa 14?

Ele entrou sem me olhar, sem olhar para ninguém. Apenas para seus próprios pés. Andou rapidamente até sua mesa.

Caminhei até ele e perguntei se poderia anotar seu pedido com a esperança de que eu ajudasse com isso. Mas ele nem me olhou. Apenas pediu um vinho.

…

O dia se arrastou, enquanto ele bebia seu vinho sem olhar para mim nem ninguém.

-O que deu nele? - Marie também percebeu.

-Eu não sei.

…

Eu sempre ficava e fechava a loja. Limpava o salão e arrumava as cadeiras. E essa era a hora.

Limpei o chão de madeira do salão, as cadeiras e mesas e ele ainda estava lá. Bebendo seu vinho.

-Nós precisamos fechar – eu disse envergonhada.

Ele me olhou um pouco desnorteado, talvez pelo vinho que tomara o dia todo e se pôs a falar.

-Eu não sei o seu nome.

-Eu também não sei o seu – disse.

-Bryan – ele estendeu a mão

-Annie – apertei sua mão e sorri

-Seu sorriso é o mais bonito que já vi - senti meu rosto corar – é por isso que venho todos os dias.

-Por minha causa?

-Sim. A dois anos. Mas você nunca olhou para mim – Ele disse com o olhar perdido

-Você nunca tentou falar comigo.

Ele ficou em silêncio me olhando. Ia tomar mais um gole de seu vinho quando segurei sua mão e tirei sua taça

-Pare com isso. Beber vinho não vai te ajudar em nada. Vamos andar na praia.