PRÓLOGO

A forma como vejo o mundo parece ser diferente da das outras pessoas. É como quando olhamos através de um caleidoscópio: tudo gira e gira de um jeito que me deixa confusa às vezes. É difícil para mim me concentrar quando tantas coisas belas acontecem ao meu redor, os sons, as cores, os números... São muitas e diferentes sensações. Daí todos já estão gritando: “ABERRAÇÃO, ABERRAÇÃO” em círculos, girando, girando, eles não conseguem ver! Tudo que eu quero é que me deixem em paz. Aqui dentro, tudo é mais aquecido e compreensível, as pessoas são estranhas.

E eu sorrio ainda distraída com a mistura dos sons e o sol, e o vento que bate no meu rosto... Eles não vêem. Sinto uma dor aguda em minha cabeça. Sangue. É vermelho. Como as maçãs do tio Carlisle, ou como a bola de futebol do Emmet; é a mesma cor das flores do vestido da Alice ou do cachecol do Edward, ou das rosas da tia Esme. Só que tem um cheiro estranho, meio “enferrujado”. As coisas estão ficando embaçadas, o cheiro me deixa tonta. E tudo está em movimento novamente, eu estou caindo.

As pessoas ainda riem de mim. Eu rio também; só que o som parece mais com um latido abafado, o mesmo som que Maggie faz quando está zangada com alguém. Sinto o chão frio e a lama sujando meus cabelos. E tudo continua girando e girando e os sons estão mais difusos... Até que ouço a voz que nunca poderia confundir. E isto me acorda um pouco. O que ele faz aqui?

- BELLA! – Ele está com aquela ruga no meio da testa. Os olhos arregalados, como quando a Ali caiu no rio.

- BELLA, PODE ME OUVIR! – Eu quero responder mais, eu fico distraída com o verde tão bonito dos olhos dele. É tão intenso, que parece mais o mar. Sinto ele me chacoalhar de leve, e eu sorrio tentando lhe dizer: “tá tudo bem, não se preocupe”.

- SEUS IDIOTAS! VOCÊS SÃO O QUE? PENSAM QUE ISSO É DIVERTIDO SEUS MERDAS! – Se tia Esme o visse dizendo tantas palavras ofensivas, ficaria zangada.

Ele é meu melhor amigo, desde que me lembro.

E então ela aparece novamente. O que estava me distraindo desde o início. Estico meu braço e aponto para cima. Edward confuso tenta olhar para onde aponto, mas, não consegue vê-la. Acho engraçado o som das suas botas contra o restinho de neve no piso.

- O que foi Bella? – Ele diz com um tom carinhoso e preocupado, ofegando um pouco pelos berros que deu há pouco. As pessoas se dispersam aos poucos, balançando a cabeça de um lado para o outro. Continuo olhando para cima, então ele coloca uma de suas mãos em meu rosto para que me foque nele.

- O que eles fizeram Bella? Eles fizeram mais alguma coisa? Disseram algo? Me diga!

E lá está novamente, aquela ruga.

Eu toco o local entre as sobrancelhas e digo:

- Está tudo bem Edward. Vai ficar tudo bem. – Mas ele não parece acreditar.

- Olhe! – Novamente tento apontar a linda borboleta azul no galho do bordo que fica no pátio da escola.

Relutante e com expressão torturada, ele olha para ela.

- Não é linda? – Então Edward começa a chorar, e eu não entendo nada. Porque ele está chorando?

Ergo-me do seu colo, e tento secar as lágrimas que escorrem.

- Não chora Ed, o que houve?

Ele apenas me abraça dizendo coisas sem sentido. Não gosto de abraços, nem de contatos como os que os pais e os filhos têm. Porém, esse é diferente, é quentinho e muito bom.

- Você é uma garota incrível Bella, não nasceu mesmo pra essa porra de mundo.