Towards The End escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Para quem não sabe, esta fic é a continuação de A Filha da Noite (link: fanfiction.nyah.com.br/historia/70174/A_Filha_Da_Noite). Espero que acompanhem e gostem tanto ou mais que AFDN. Quem quiser conferir um pequeno prólogo de TTE, eu postei um como um capítulo extra em AFDN. Enjoy! ;*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/89071/chapter/1

  Ah, Acampamento Meio-Sangue. Eu finalmente estava de volta àquele lugar que eu tanto gostava. Devo dizer que, mesmo sendo uma filha da deusa da noite, eu estava feliz em ver novamente aqueles campos verdes e até mesmo o sol depois de passar seis meses em um lugar onde tudo era de pedra, preto e era sempre noite.

  É, eu havia passado seis meses, do início de janeiro ao início de junho, com a minha mãe e minhas irmãs — não só as Queres, mas alguns daemones e visitas ocasionais de deuses como Tânatos e Hipnos também — na “casa” dela, treinando lutas e meus poderes. Devo admitir que os primeiros meses foram bem sofridos. Eu poderia ser a melhor lutadora do mundo, mas mesmo assim seria difícil treinar com as deusas da morte violenta em batalha, principalmente Ker, a Quer da Destruição. A única que Nyx mantinha bem longe de mim era Nosos, a Quer da Doença, apesar de que eu não treinava muito com Anaplekte nem com Akhlys, que representavam a Morte Rápida e a Névoa de Morte, respectivamente. Ker e Stygere, ao contrário das outras três, se tornaram minhas companheiras mais freqüentes. Não que elas gostassem disso, principalmente Stygere, a Quer do Ódio, mas eram ordens de nossa mãe, então elas tinham que me agüentar e passar pelo tédio de me derrotar vinte vezes por dia sem poder comer minha carne e entregar minha alma a Tânatos.

  O pior de tudo não foi o treinamento sofrido com minhas irmãs. Foi ter que agüentar seis meses ininterruptos sem ver meu pai e nem meu namorado. E passar por aquele velho dilema de namoradas inseguras que ficam longe dos namorados, claro. Não que eu não confiasse no Nico. Eu não confiava era no pai dele. Quer dizer, eu mal conhecia Hades, mas eu imaginava que ele não perderia a oportunidade de tentar atirar Nico para cima de qualquer filha de Hécate que passasse pela frente dele, ou até para alguma ninfa ou algo assim. Hades não facilitava a vida dele. Vários dos dracmas que ele usou para me mandar Mensagens de Íris foram “pegos emprestados sem o consentimento de Hades”. Ele não era nenhum filho de Hermes, mas havia se saído bem nessa tarefa.

  A única vez que minha mãe me deixou sair foi no aniversário do meu pai, em abril. E mesmo assim, eu preferia ter ficado isolada na casa da noite, levando surras das Queres, do que ter ido visitar meu pai. Porque ele passou o dia de grude comigo, querendo matar a saudade da filhinha amada dele... E me apresentando à namorada nova dele. Sério, não sei que lavagem cerebral fizeram no meu pai, mas aquele era exatamente o tipo de mulher com quem eu não o imaginava. Era uma moça com uns trinta e poucos anos, com cabelos castanhos curtos e olhos verdes simpáticos, toda delicada e gentil. No quesito personalidade, ela me lembrava Summer. Mas o pior de tudo era a profissão dela: professora de ensino fundamental. Aquela mulher dava aula para CRIANÇAS! E o nome dela: Hope Light. Se for comparar as namoradas anteriores do meu pai a essa, qualquer pessoa diria que ele sofreu uma lavagem cerebral. Cara, meu pai já namorou até uma tecladista de uma banda de metal que andava sempre com trocentos quilos de maquiagem e vestidos meio medievais e só falava comigo pra saber se eu não tinha notícias do CD novo do Lacrimosa ou algo assim.

  Em resumo, meu 9 de abril foi muito produtivo, almoçando fora com meu pai e minha nova madrasta em um restaurante todo fresco escolhido por ela, passando a tarde passeando e conversando com eles e contando sobre minha temporada com minha mãe (emitindo a parte de ela ser uma deusa que mora em um lugar proibido a quase todos os seres viventes e de que eu passei os meses aprendendo a controlar pedaços de noite e a usar uma espada direito). É, eu sei que é estranho isso de ficar falando pra atual namorada do meu pai sobre a ex dele, mas ela parecia genuinamente interessada no meu papo. Pelo menos uma das poucas vantagens em ser irmã de vários deuses relacionados a sentimentos ruins é que eu sei ocultar emoções e mentir muito bem quando eu quero.

  Eu nem consegui ver o Nico nesse dia, porque assim que anoiteceu, meu pai disse que ia me levar de volta ao aeroporto para eu voltar à casa da minha mãe, mas na verdade ele só me tirou da vista de Hope, e ficou comigo esperando até que minhas adoráveis irmãs chegassem em uma carruagem negra puxada por cachorros de duas cabeças para me buscar.

  Não é de se espantar que eu tenha subido aquela colina correndo como louca, como se nem estivesse carregando duas malas. A única criatura que não fiquei feliz em ver foi Dioniso, também conhecido por Sr D.

  Dos meus amigos, os únicos que vi por lá no primeiro dia foram Percy, que agora era o instrutor oficial de esgrima, e Summer. Nenhum dos dois me deu muita atenção. Percy estava pra lá e pra cá com um garotinho de uns dez anos que parecia uma miniatura dele, e Summer estava pra lá e pra cá com um garoto mais velho do que ela com quem ela com certeza não tinha nenhuma relação fraterna. O garoto andava sempre com um brilho meio vivo demais no olhar, mas Summer ficava lisonjeada e da cor de um pimentão com qualquer coisa que aquela cópia de Apolo fazia ou dizia. Sim, quando eu digo “vivo demais”, digo provavelmente isso que você está pensando. Mas Summer é inocente demais para reparar nisso. 

  Eu sabia que Thalia não estava lá por causa de sua tarefa como tenente das Caçadoras de Ártemis, mas estranhei não ver Heidi nem Nico. Admito que minha imaginação e minha desconfiança voaram longe ao pensar no fato de que os dois não estavam presentes no primeiro dia da temporada do Acampamento, ainda mais considerando que Hades claramente prefere ela milhões de vezes mais do que eu por razões desconhecidas.

  Depois de um dia inteiro me instalando em meu novo chalé, o 41 (sim, havia 50 chalés no Acampamento! Mas a maioria estava vazia ou não chegava nem a cinco campistas, então não era TANTA gente assim) e com a cabeça cheia de neuroses, a hora do jantar demorou a chegar. Foi esse o momento em que Quíron nos deu as boas-vindas e apresentou os novos campistas. Descobri que o garotinho com quem Percy andava era irmão dele e se chamava Cohen Clearwater. Achei meio irônico o sobrenome dele para um filho do deus do mar. Além de Cohen, havia sido descoberto também um casal de gêmeos filhos de outro dos Três Grandes, Zeus, mas estes tinham apenas dez anos, e se chamavam Linda e Thomas Farro.

  Depois do jantar, fui perambular pela praia e observar a lua. Depois de seis meses não vendo nada no céu além da lua e das estrelas, era de se esperar que eu não agüentasse mais vê-las, mas aquilo era algo do qual eu jamais iria me cansar: observar o céu durante a noite. Era algo que me acalmava e me fazia pensar com clareza quando eu estava nervosa.

  Foi enquanto eu observava a lua, caminhando pela praia, que senti um braço à volta da minha cintura, e uma voz muito conhecida murmurando meu nome no meu ouvido.

  — NICO! — Gritei me virando para trás e envolvendo o pescoço do meu namorado com os braços. Meus deuses, como eu havia sentido falta dele. Era tão bom vê-lo de novo depois de tanto tempo. Eu me sentia como se tivesse voltado de uma guerra (o que podia ser verdade de certo ponto de vista, considerando minhas irmãs com as quais eu tive que conviver) e finalmente estivesse revendo minha família... Que era só meu namorado, no caso.

  Nico ia falar alguma coisa, mas eu calei a boca dele com um beijo, ao qual ele correspondeu com vontade. Essa era outra sensação da qual eu sentia muita falta: estar nos braços de Nico, beijar Nico, passar as mãos nos cabelos de Nico enquanto ele apertava meu corpo contra o dele. Por um momento nós perdemos o equilíbrio e quase caímos no chão, mas conseguimos parar a tempo para sentar na areia. Transformei a nós dois em sombras, pois logo as harpias começariam sua patrulha.

  — Senti tanto a sua falta. — Ele disse com a cabeça enfiada no meu cabelo, inspirando fundo, como se sentisse falta até do meu cheiro. Talvez ele sentisse. — Uma falta que nenhuma Mensagem de Íris poderia reprimir.

  — Naturalmente, eu também senti a sua. — Falei com um pouco de ironia. Nico sorriu. Eu havia visto seus sorrisos nas M.I’s, mas nada se comparava a vê-lo ao vivo, com o rosto a centímetros do meu. — Por que chegou tão tarde?

  — Ah, você sabe. Meu pai. Além de que é melhor viajar pelas sombras à noite. Cansa menos.

  — Ah. — Suspirei e olhei o mar à nossa frente. Em algum lugar ao longe, comecei a sentir a presença das harpias iniciando seu turno. Não me importei com elas, considerando que sombras não têm cheiro. — Um dia eu ainda descubro por que seu pai tem tanta implicância comigo.

  — Eu também. Mas quem se importa com o que ele pensa? O que importa é que estamos bem, estamos juntos, e nos encontramos de novo. — Nico me deu alguns beijos no pescoço ao dizer isso, e minha pulsação acelerou. Imagino que ele tenha sentido isso, pois sorriu e simplesmente continuou me beijando, subindo do pescoço até a boca.

  Não faço idéia de quanto tempo ficamos ali, como duas sombras, sentados na praia nos beijando e matando a saudade um do outro. Eu não estava prestando atenção no horário. Eu não estava prestando atenção em nada, além de Nico, uma das criaturas que mais me importava na face da terra. Só tive que parar quando senti que as coisas podiam ir um pouco longe demais, quando estávamos por acaso deitados na areia e as mãos dele pareciam muito frustradas por eu usar um corpete muito justo. É, eu sei que não tinha nada de mais acontecendo, mas mesmo assim.

  Assim que nos separamos (mas continuamos de mãos dadas por causa do negócio das sombras, porque as harpias estavam bem próximas), Nico apertou minhas mãos mais forte e fechou os olhos. De repente tudo ficou preto e eu senti como se estivesse andando a mil quilômetros por hora em um carro conversível, pois o vento no meu rosto parecia querer desgrudar a pele do meu crânio. Quando tudo aquilo parou, reconheci o lugar onde estávamos: o chalé 13.

  — Acho melhor ficarmos aqui, não? — Ele disse, afastando uma mecha do meu rosto. — As harpias devem estar bem atentas, e eu não quero gastar sua energia com esse negócio de sombras.

  — Ahn, Nico... ‘Esse negócio de sombras’ já é tão natural que nem gasta mais tanta energia. — Falei, meio sem graça. Percebi um brilho meio estranho nos olhos de Nico. — Além do mais, eu tenho meu próprio chalé agora, esqueceu?

  Sim, quando eu falo ‘um brilho meio estranho’, talvez seja isso que você pensou, algo muito semelhante ao olhar do filho de Apolo que andava grudado em Summer. Ah, o garoto tinha quase 17 anos e fazia seis meses que não me via pessoalmente. Era de se entender.

  Assim que falei aquilo, o ‘brilho meio estranho’ morreu um pouco e seus olhos baixaram para nossas mãos ainda unidas. Percebi que não estávamos sentados como na praia, e sim de pé. Percebi também o horário: onze e quinze da noite. O dia seguinte já seria cheio de atividades no Acampamento, e mesmo que não quisesse, eu teria que dormir cedo. Eu havia desenvolvido algum tipo de insônia durante o período que havia passado com minha mãe, e não havia conseguido dormir antes das três da manhã na noite anterior. Por mim eu poderia passar a noite ali com Nico, mas eu deveria fazer um esforcinho e tentar dormir cedo.

  Nico se ofereceu para me levar até meu chalé pelas sombras. Eu queria recusar (não queria cansá-lo ainda mais, e eu sabia que viajar pelas sombras era desgastante), mas a caminhada do chalé 13 ao 41 era tão longa que aceitei. Dessa vez fechei os olhos ao me transportar pelas sombras. Não adiantou muito, pois ainda parecia que a pele do meu rosto ia desgrudar.

  Assim que me deixou em meu quarto — um pequenino chalé que por dentro era todo preto, com pontos brilhantes menores e maiores por todos os lados no teto e uma decoração não muito diferente da do chalé dele —, Nico se despediu com alguns beijos mais, e voltou para seu chalé para dormir. Eu me deitei e fechei os olhos, mas custei a dormir. Quando finalmente consegui, tive um sonho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aí está, o primeiro capítulo =D Espero que tenham gostado.

Se quiserem comentar o prólogo que postei como cap. extra em AFDN, postem aqui, por favor, e já aproveitem para comentar este capítulo... Ou não, hehe. Enfim. =)