Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 21
XX - Às sete chaves


Notas iniciais do capítulo

voltei mais cedo...

capítulo com algumas revelações e aqueles que tem coração fraco(como eu), cuidado com as cenas... hummm digamos mais calientes... RSRSRSRSRS

Boa leitura!!



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Capítulo XX – Às sete chaves

 

“Pois eu me lembro de todas as palavras que você disse,

Elas ficavam girando em torno dos meus pensamentos

Mas isso não importa para o que eu tento fazer,

Eu continuo me esquecendo de esquecer você

E eu não quero pensar muito sobre você, baby.

Todas as coisas que fizemos, o jeito que nos tocávamos,

No exato momento em que eu penso sobre alguém novo

Eu continuo me esquecendo de esquecer você

Esquecer você, esquecer você,

Olho ao meu redor e esquecer, esquecer você.

Eu continuo me esquecendo de esquecer sobre mim e você”.

 

(JoJo – Keep Forgeting (To Forget About You))

 

=================================

 

Minha mãe bebia o conteúdo do copo de vidro. Eu não saía de seu lado em nenhum momento. Mas pelo menos, ela já estava mais calma.

 

Embora eu ainda não entendesse o seu ataque assim que viu Aidan, e eu evitava fazer-lhe perguntas, não queria pressioná-la, não quando ela estava tão frágil.

 

Suas mãos ainda se encontravam trêmulas, e o copo de vidro tremia enquanto ela o segurava, agitando todo o conteúdo transparente dentro dele.

 

Ajeitei-me no sofá, encarando a figura silenciosa de Aidan a minha frente, ele não dissera uma única palavra desde o ataque de minha mãe, e eu temia perguntar-lhe algo, quando ela estava tão perto de mim.

 

A sensação de que ambos estavam escondendo algo de mim não me deixava por nenhum momento. E embora toda aquela situação parecesse loucura, eu não conseguia entender porque minha mãe havia surtado assim que viu Aidan. Eu não conseguia compreender aquela situação de nenhum ângulo possível e a falta de explicação remoia algo dentro de mim.

 

Minha mãe terminou de bebericar o conteúdo do copo e entregou-me. Eu afaguei seus cabelos e esperei pacientemente que ela se explicasse.

 

Ela respirou fundo várias vezes, colocou a mão direita em seu peito, cerrando seus olhos, ela ainda estava muito nervosa. Isso era fácil de se ver.

 

Após vários segundos que para mim pareceram verdadeiras horas, ela abriu seus olhos, e eu vi que ela já havia se acalmado, ou pelo menos aparentava isso.

 

Seus olhos encontraram os meus e ela parecia pedir-me perdão. Eu não compreendi absolutamente nada e seus olhos deixaram os meus e procuraram cautelosos pelos de Aidan, parado a sua frente, tão silencioso e estático quanto uma estátua.

 

E enquanto ela discursava em voz baixa, seus olhos não recaíram novamente sobre o meu rosto, ela até mesmo parecia estar querendo evitar-me.

 

- Queria pedir desculpas aos dois pelo modo como agi. Eu sinceramente não sei o que houve comigo. – seus olhos perderam-se no rosto de Aidan por alguns segundos e depois ela baixou sua face, sem dizer mais nada.

 

Ela afagou meu ombro com seus dedos e só então me olhou com compaixão, mas havia... algo a mais em seus olhos, algo que eu não conseguira decifrar, era como um antigo segredo, ocultado, enterrado e principalmente, lacrado às sete chaves.

 

- Desculpe, querida, acho que arruinei o jantar. – sussurrou ela.

 

Olhei Aidan de rabo de olho, mas ele continuava impassível, indiferente a aquela situação. Seus olhos vagavam pelo ambiente, ele parecia estar imerso em seus próprios pensamentos e eu senti uma pontada em meu peito. Uma sensação desagradável que eu jamais sentira em toda a minha vida. Um aperto tão grande que ameaçava sufocar-me.

 

Longos segundos passaram-se antes que eu tornasse minha atenção a minha mãe que ainda estava desolada. Fingi um sorriso nos lábios e a desculpei.

 

- Não faz mal, mãe.

 

Ela levantou-se do sofá, sem encarar-me novamente, enquanto dirigia-se até a cozinha, tratando de arrumar algo para limpar a bagunça que manchava o assoalho da sala de jantar.

 

Fiquei sozinha com Aidan na sala, esperançando que ele ainda me desse as respostas de todas as perguntas que surgiam na minha cabeça, mas ele nem ao menos me olhava e aquela sensação sufocante consumia-me cada vez mais e mais.

 

Parecia que eu estava caindo em uma espiral de angústia e tristeza. Ele estava tão... tão distante de mim agora. Estávamos separados por uma imensa muralha, e eu sabia que jamais seria capaz de transpô-la.

 

Porque havia sido ele a colocar aquele limite, havia sido ele a cercar-se por todas aquelas paredes, impedindo-me de passar. Mordi meus lábios, segurando as lágrimas que eu queria derramar naquele momento. Não, eu não choraria, não na frente dele. Eu seria forte, como sempre fui, como sempre estava acostumada a ser, antes de sua entrada em minha vida.

 

Cerrei meus punhos, querendo desesperadamente sair dali. Mas eu não saía, eu continuava ali, esperando, esperando, esperando e nada acontecia.

 

Sua voz despertou-me de meu transe, chamando-me de volta para a realidade.

 

- Eu tenho que ir. – murmurou ele, e seus olhos nem ao menos se deram ao trabalho de procurar os meus.

 

A raiva cegou-me, e eu assenti para ele, sem olhá-lo também. Se ele queria fingir que havia um muro entre nós, então que seja, eu não o forçarei, eu simplesmente não farei questão.

 

Levantei-me do sofá, passando por sua figura silenciosa, sem encará-lo por nenhum segundo. Abri a porta da frente e saí para a noite fresca que estava lá fora, cigarras cantavam alegres enquanto corujas piavam.

 

Ouvi claramente quando ele veio atrás de mim, fechou a porta da frente e estacou, sem dizer ou fazer absolutamente nada.

 

Eu estava tão magoada naquele momento, tão ferida por ele e seus segredos. Eu estava farta daquilo, de senti-lo distante de mim, como se ele não me quisesse dentro de suas muralhas intransponíveis.

 

Abracei-me e em um ato impensado, virei-me para ele, meus olhos deviam expressar tudo o que eu estava sentindo naquele momento. Todas as minhas dúvidas, todas as minhas desilusões, todas as minhas vãs esperanças de que a qualquer momento ele cederia, ele abrir-se-ia comigo, contar-me-ia tudo e então não haveria mais obstáculos entre nós dois, não haveria mais empecilhos, mas como eu mesma dissera, eram vãs esperanças e sonhos que jamais iriam realizar-se.

 

Porque naquele momento ele estava a milhares e milhares de quilômetros de mim. E eu jamais poderia vencer essa distância e a dor da derrota deixava-me completamente desolada.

 

Havia um bolo em minha garganta, algo entalado, que não me permitia falar, não me permitia dizer-lhe tudo o que me afligia naquele momento. E eu engasgava com minhas palavras feridas, e praticamente sucumbia diante de tanta dor.

 

Aidan fitava-me, mas de um jeito diferente, como eu jamais havia visto. Seus olhos expressavam tanta... tanta culpa. Mas havia outra coisa também, algo que eu simplesmente não conseguia distinguir, talvez fosse dor, talvez ele estivesse sofrendo tanto quanto eu. Embora ele jamais fosse permitir que eu adentrasse em suas lembranças mais perturbadoras.

 

E ele não admitia que sofria tanto quanto eu, pelo contrário, ele disfarçava, ele tentava soterrar aquilo, ele evitava trazer aquilo à tona e fazia questão que eu soubesse. Como se estivesse lembrando-me de que não tínhamos futuro. De que éramos duas vítimas das forças desenfreadas do destino. Que nos unira de forma tão sublime e surreal, para depois apenas nos separar, jogar a nós dois novamente em nossos caminhos vazios e solitários.

 

Porque era exatamente isso que aconteceria em breve. Nós nos perderíamos um do outro, e a tormenta separar-nos-ia, para sempre...

 

Aidan deu alguns passos em minha direção, estacou a alguns centímetros, curvou-se e beijou minha testa. Mas eu sabia que ele fazia por obrigação, para não me magoar ainda mais.

 

Ele contornou-me, preparando-se para partir rumo a escuridão. E mais uma vez, em um ato impensado, eu o detive, chamando por seu nome.

 

- Aidan?

 

Ele virou-se para mim, os olhos sombrios, soturnos, misteriosos, mas de seus lábios não saiu um único som.

 

- Não voltará mais tarde? – perguntei a ele, meu coração martelava violentamente em meu peito e eu não sabia o que esperar dele. Não mais.

 

- Esta noite não. Estarei ocupado.

 

Suas palavras frias como gelo rasgaram-me, machucando-me ainda mais. E se antes eu já estava ferida, agora eu encontrava-me em retalhos, completamente dilacerada, com a carne revirada pelo avesso.

 

Fiquei surpresa ao perceber que eu ainda não havia cedido às lágrimas. Não, eu jurei a mim mesma que seria forte. E assim eu o faria, eu levaria aquele juramento até as últimas conseqüências e não seria Aidan a abalar-me, não seria ele a fazer-me desmoronar. Embora eu soubesse que não se poderia fugir delas para sempre.

 

Vi sua figura afastar-se gradativamente de mim, enquanto eu permanecia estática ali, com os punhos cerrados e lutando desesperadamente em uma batalha de vida ou morte contra as lágrimas traiçoeiras.

 

Mas eu não perderia aquela guerra, disso eu estava convicta.

 

Lancei-me na direção da porta, entrando como um furacão na sala e deparei-me com minha mãe.

 

Ela ainda limpava a bagunça que resultara de seu ataque mais cedo.

 

- Quer ajuda? – perguntei-lhe, oferecendo-me para ajudá-la.

 

Ela elevou seu rosto, sustentando seu olhar. E então fingiu um sorriso nos lábios.

 

- Não precisa se incomodar, meu amor, eu fiz essa arte e eu mesma posso limpá-la.

 

Parecia que todos estavam dispostos a morrer ao invés de contar-me a verdade. Senti-me ainda mais traída, prestes a ser esfaqueada assim que me virasse de costas, e impelida por minha fúria, mais uma vez, eu agi sem pensar. E resolvi exigir respostas claras de minha mãe.

 

Aproximei-me dela como um felino, medindo-a da cabeça aos pés. Ela não podia fugir de mim, Aidan podia, mas minha mãe não. Eu não suportaria vê-la escondendo algo de mim, de sua própria filha.

 

- Mãe? – eu a chamei novamente, e embora ela evitasse a todo custo olhar-me nos olhos, eu tive coragem suficiente para exigir-lhe a verdade.

 

- Sim, querida? – respondeu ela automaticamente, enquanto suas mãos ocupavam-se de limpar toda aquela bagunça.

 

- Por que a senhora quase teve uma síncope quando viu... quando viu Aidan?

 

Minha mãe interrompeu sua tarefa no mesmo instante, seus olhos arregalaram-se e ela arfou. Os longos segundos que se seguiram pareceram-me uma eternidade até que sua voz o rompesse, mas não trazendo nenhum alívio para mim.

 

- Eu acho que o confundi com alguém, querida. -  ela riu consigo mesma e depois prosseguiu – Eu devo estar mesmo enlouquecendo, mas foi apenas um grande engano. Por que está me perguntando sobre isso?

 

Então além de mentir, agora ela queria desviar o rumo de nossa conversa. Trinquei meus dentes e eu estava tão furiosa naquele momento que poderia cometer uma loucura e eu não queria sair de casa naquele momento, não com um desertor e um Devorador de Almas vagando livremente pela cidade à noite. Então para o meu próprio bem eu decidi que ia trancar-me no meu quarto até de manhã. Se minha mãe queria fingir que nada aconteceu, então que seja, eu entraria no seu jogo, eu fingiria que nada daquilo havia acontecido.

 

- Por nada. – respondi automaticamente – Se não se importa, eu já vou para o meu quarto.

 

Não esperei por sua resposta, simplesmente subi os degraus da escada aos pulos, disposta a não olhar para trás, enquanto trincava meu maxilar e semicerrava meus olhos, lutando com veemência contra as lágrimas teimosas.

 

Bati a porta de meu quarto com uma violência desnecessária, sentindo cada pedacinho de eu desabar no chão, como se eu tivesse perdido consistência e tivesse tornado-me uma grande gelatina.

 

Eu não sabia o que estava havendo comigo, a sensação de ter sido traída e enganada não me abandonada. Eu sentia que naquele momento não podia confiar em ninguém. Ninguém era merecedor da minha confiança, porque eu sentia que todos estavam apunhalando-me pelas costas.

 

Era exatamente assim que eu me sentia, como Júlio César, golpeado por todos aqueles em quem mais confiava.

 

Desesperada, corri até minha cama, lançando-me sobre o colchão de forma violenta. E abafei meu choro, enxuguei cada lágrima que meus olhos verteram. Eu estava irritada, magoada, ferida.

 

Estava irritada por todos esconderem coisas de mim. E eu não sabia exatamente do quanto eles estavam privando-me.

 

Estava magoada pela indiferença de Aidan. Por ele tentar afastar-me de si, por estar cercado por uma enorme muralha, a qual eu sabia que jamais conseguiria atravessar.

 

E estava terrivelmente ferida, havia sido ferida por ambos.

 

Eu podia sentir as nuvens escuras e medonhas envolvendo meu céu ensolarado, dominando cada pedaço dele, encobrindo minha felicidade, destruindo tudo o que eu já havia construído.

 

Tudo o que eu queria naquele momento era estar bem longe dali, longe de todos aqueles problemas, de todos aqueles segredos. E eu não sabia se conseguiria suportar aquilo por muito tempo.

 

Eu estava tão... tão só, novamente, mais uma vez, sem nada a que pudesse agarrar-me.

 

Era como estar a beira de um precipício, dependurada, com os dedos latejando, sangrando, prontos para soltar a qualquer momento, o grande problema era que se eu soltasse, eu despencaria até o fundo e quem sabe acabasse me perdendo lá.

 

Cega pela escuridão para sempre.

 

Nem mesmo percebi quando exausta demais para continuar lutando contra as lágrimas, eu simplesmente adormeci, nem me importando por estar de jeans e tênis.

 

E então eu sonhei.

 

No meu sonho eu vagava por um imenso campo de flores silvestres, tão coloridas, tão perfumadas.

 

Eu até mesmo podia sentir o aroma das rosas, das frésias, das camélias. O vento era suave em meu rosto e agitava as flores ao meu redor.

 

Mas então o campo sumiu de minha vista, evaporou como mágica, e em seu lugar restava apenas um enorme deserto. O céu era negro, encoberto por nuvens coléricas que ameaçavam fazer desabar um aguaceiro sobre aquela terra árida.

 

O vento tornou-se rude, agressivo e vergastava meus cabelos em meu rosto, bloqueando minha visão. Mas eu podia vê-lo. Sim, eu o reconheceria em qualquer lugar.

 

Porque a figura de meu pai juntara-se a mim em meu sonho. Seus olhos verdes estavam semicerrados, quase furiosos.

 

E ele me encarava sem nada dizer.

 

- Pai! – eu gritava, na esperança de que ele viesse na minha direção e me abraçasse, como em todos os sonhos que eu já tivera com ele.

 

Mas ele não se mexia. Não se demovia de seu lugar.

 

E então ele virou-se, dando as costas para mim e partiu...

 

Começou a caminhar lentamente na direção contrária a minha. Tentei segui-lo, gritei para os quatro ventos, mas eram esforços inúteis, ele não me ouvia, ele não vinha na minha direção, e eu o perdi de vista, enquanto um clarão rasgava o céu negro acima de mim, e um som alto permeava meus ouvidos.

 

Despertei com o som de um trovão, não era sonho, estava chovendo. Ainda sonolenta e meio grogue, caminhei até a janela e a fechei, passando a tranca.

 

Passei a mão em meus cabelos, suspirando. Virei-me, disposta a desabar na cama mais uma vez, mas assim que o fiz, fui pega de surpresa, porque recostado em um canto da parede de meu quarto, próximo a minha penteadeira estava Aidan.

 

Sua face era banhada pela negridão, e eu não podia ver seus olhos, eles mesclavam-se à escuridão densa, sem brilho algum.

 

Avancei alguns passos em sua direção, hesitante. Havia tantas coisas a serem esclarecidas.

 

- Pensei que você não fosse voltar. – sussurrei, tentando abafar minha voz ao máximo.

 

Aidan não se moveu, mas sua voz ecoou por meu quarto, séria, tensa, abafada.

 

- Eu mudei de idéia. Precisava vê-la.

 

Dirigi-me até minha cama novamente, sentando-me sobre o colchão.

 

- E há algo que eu preciso lhe contar. - acrescentou ele, ainda meio tenso.

 

- Estou ouvindo. – respondi-lhe, não disfarçando toda a minha amargura e a minha dor.

 

E então, Aidan surpreendeu-me. Ele moveu-se, recuando das sombras, todo o meu quarto foi iluminado pelo clarão de um relâmpago e pelo menor dos segundos eu vi seus olhos, e deles emanava seriedade.

 

Ele sentou-se próximo a mim, e não aos pés da cama. Eu não sabia exatamente o que ia acontecer, mas temia o rumo que aquela nossa conversa podia tomar.

 

Aidan parecia relaxado, disposto a tentar. Mas eu, eu estava com medo, com muito medo. E meu coração novamente era esmagado impiedosamente por todo os meus temores.

 

E então eu senti a mão quente dele, subindo por meu pescoço, e seus dedos longos afagavam a pele de meu rosto. Seus olhos grudaram nos meus e de lá não mais saíram. Seus lábios estavam rígidos e ele parecia travar uma batalha interna consigo mesmo.

 

E eu, eu permanecia completamente inerte, sem mover um único músculo, enquanto sentia ele sustentar meu olhar, segurando com seu polegar em meu queixo.

 

- Você sabe o quanto é importante para mim, não sabe? – perguntou-me ele, a voz abafada, aveludada, suave como veludo.

 

Cerrei meus olhos, privando-os dos seus. E minha mão segurou na sua em meu queixo.

 

- Como posso acreditar em você, se esconde tantas coisas de mim?

 

Sua resposta foi categórica.

 

- Apenas confie que é para o seu próprio bem, para a sua própria segurança que eu o faço. – garantiu-me ele.

 

- E é realmente melhor para mim? – perguntei-lhe, enquanto reabria meus orbes, e voltava a encarar seu semblante sério.

 

Sua mão moveu-se de meu queixo, e envolveu meu rosto, segurando-o entre suas mãos, não me deixando escapar do cárcere que seus olhos eram naquele momento.

 

- Sim, é melhor para você, e para todos os que estão ao seu redor também. Será mais seguro para eles. Agatha, certas verdades não devem ser desenterradas jamais. Elas simplesmente não podem vir à tona.

 

- E é isso o que você está fazendo, não é, Aidan? Está enterrando todas as verdades.

 

- Estou fazendo isso porque é o melhor para você. – seus dedos afagaram a maçã de meu rosto – Agatha, você não tem idéia do quanto é especial, do quanto de força existe dentro de você.

 

Baixei meus olhos, minha voz tornou-se colérica, quase inteligível.

 

- Você está errado, eu não tenho tanta força assim. Não sou tão forte quanto você acredita.

 

- Então não estamos falando da mesma pessoa. – sussurrou ele – Porque diante de mim, está a pessoa mais forte e corajosa que eu já conheci.

 

Meneei minha cabeça para os lados, eu estava negando suas palavras, não as aceitava. Ele não podia estar falando de mim, não de mim.

 

- Não... – sussurrei, lutando contra ele.

 

Mas ele mostrou-se convicto em desviar-me de meu objetivo: saber a verdade. Ele queria distrair-me, tapear-me e estava disposto a tudo para tal.

 

- Agatha, você não entende o quanto é especial para mim? O quanto eu a amo?

 

- Não, eu não compreendo.

 

- Então eu farei com que compreenda a complexidade, a intensidade de meus sentimentos por você.

 

Seus olhos de repente tornaram-se calorosos, abrasadores e eu derreti-me por inteira, ardendo sob aquelas duas chamas que eram suas íris.

 

E sem o menor aviso prévio, seus lábios curvaram-se até os meus, pegando-me completamente desprevenida. Havia algo diferente no modo como ele beijava-me. Havia tanta ternura, tanto zelo, tanto carinho, mas também havia algo ardente como o fogo, que me arrepiou por inteira.

 

Seus braços cercaram-me como duas colunas, não me dando chance de fuga. E seus lábios moldavam-se aos meus, desesperados, sedentos e voluptuosos...

 

Perdi o controle sobre mim mesma e atirei meus braços ao redor de seu pescoço, puxando-o para mais perto de mim. Um calor apoderou-se de meu corpo, como se eu estivesse em brasa, queimando em minhas veias como lava, derretendo minha razão e incendiando em todo o meu interior.

 

E sem deixar meus lábios por nenhum segundo, Aidan curvou-se suavemente sobre o colchão, depositando-me sobre ele com muito cuidado, enquanto ele apoiava-se sobre os cotovelos para que eu não sentisse seu peso.

 

Mas o calor de seu corpo estava todo ao meu redor, aquecendo-me como uma fornalha gigante e escaldante. Era como estar no meio das chamas, mas sem se queimar. Era algo bom, algo vigoroso, estonteante. E percebi que era desejo.

 

E que o desejo também estava incontido em seus lábios, na forma como ele beijava-me. E aquele sentimento explodiu dentro de mim, como uma bomba. E era demais para que eu pudesse contê-lo. Era intenso demais para que eu tentasse refreá-lo. Era algo instintivo, natural. Era todo o seu amor por mim, ardendo em todo o meu corpo. Seus braços fortes ainda estavam ao meu redor, contendo-me como uma gaiola, aprisionando-me.

 

Eu arfava descontroladamente. Todo o meu fôlego era roubado por seus lábios ferozes e eu mal conseguia conter aquela explosão de sentimentos e novas sensações. E eu sentia que não conseguia reagir à altura, eu estava completamente descontrolada e ofegante.

 

E fui surpreendida novamente quando Aidan sem esforço algum se virou no colchão, colocando-me por cima de seu corpo. Seus lábios deixaram os meus e buscaram pela pele de meu pescoço, dando-me a chance de tentar recuperar todo o meu fôlego roubado, enquanto eu respirava aos arquejos.

 

Uma de suas mãos abandonou minha cintura e enroscou-se na raiz de meus cabelos. Eu não sabia o que fazer, não sabia como reagir. Seus movimentos abruptos chocavam-me, mas ao mesmo tempo concediam-me um prazer imensurável e eu nunca me senti tão amada, tão desejada. Seus lábios quentes em meu pescoço provocavam sensações estranhas em mim, e todo o meu corpo tremulava, eu tremia enquanto rendia-me pouco a pouco aos seus beijos e às suas carícias.

 

E então, abruptamente, os lábios de Aidan deixaram meu pescoço, mas voltaram aos meus lábios, roçando delicadamente. Até que ele afastou-se de mim, seus olhos tornando a pousar sobre os meus.

 

E eles fixaram-se nos meus, encarando-me. E eu jamais em toda a minha vida havia visto algo tão belo, tão profundo, tão intenso como o seu amor por mim naquele momento.

 

Uma de suas mãos continuou graciosamente repousada em minha cintura, enquanto a outra afagava com suavidade meu rosto, meus cabelos, e seus dedos contornavam meus lábios, meu maxilar.

 

Seus olhos repentinamente ganharam um aspecto colérico, tristonho. E ele sussurrava enquanto acariciava meu rosto.

 

- Como posso algum dia dizer adeus a você? Se mal consigo suportar a idéia de ficar longe de ti? – perguntava ele, franzindo o cenho, semicerrando os olhos castanhos tão intensos e calorosos.

 

A resposta eclodiu em minha garganta no mesmo instante, tingida por todo o meu desespero e angústia.

 

- Não me deixe... – sussurrei – Leve-me contigo.

 

Aidan permaneceu silencioso durante longos segundos, e eu sabia que ele estava longe dali novamente, com a mente a quilômetros de distância.

 

Mas sua voz finalmente deu-me o ar da graça, e ao mesmo tempo, matou todas as minhas esperanças.

 

- Eu não posso. Seria arriscado demais para você.

 

- E por quê? – perguntei-lhe, já sentindo a umidade acumular-se em meus orbes, prontas para despencar deles a qualquer instante.

 

- As coisas não são tão... simples. Eu daria absolutamente tudo para tê-la ao meu lado pelo resto de meus dias, mas eu não posso envolvê-la nisso, não posso levá-la para o meu mundo, Agatha.

 

Movi meus olhos dos seus, fitando seus lábios enquanto murmurava, decepcionada e amargurada.

 

- Tem a ver com esse... segredo, não tem? Isso que você tanto luta para esconder de mim.

 

Ele não respondeu, então considerei como um “sim”. Ele não ia contar-me a verdade, antes preferia morrer levando ela consigo para o sepulcro. Mas eu seguiria seu conselho, eu não lutaria por ela, se era tão arriscado assim trazê-la à tona, então eu a deixaria enterrada e trancada às sete chaves.

 

- Eu já lhe disse, Agatha, que meu passado condena-me, meu passado é sombrio e amargo e infelizmente eu não posso envolvê-la mais do que isso. Eu sou muito mais perigoso do que você pensa e julga.

 

Não discuti com ele sobre aquele assunto novamente, eu já não tinha mais forças para fazê-lo entender que seu passado não me importava. Mas algo dentro de mim dizia-me que o meu passado e o dele estavam mais entrelaçados do que eu acreditava ou poderia sequer imaginar.

 

- Talvez isso seja um castigo. – murmurou ele a meia-voz.

 

Tornei a fitar seus olhos soturnos, tentando desvendar cada pensamento seu, cada emoção que o dominava, raiva, amargura, solidão, tristeza.

 

- Do que você está falando? – perguntei a ele, aturdida.

 

Ele respirou fundo antes que pudesse responder-me, mas o remorso não o deixava por nenhum segundo.

 

- Do que eu fiz ao meu irmão há muitos anos atrás. Eu fui o único responsável pela ruína e desgraça dele. Cometi tantos erros, mas um dos piores foi ter feito o que eu fiz a ele.

 

- E o quê você fez para ele, Aidan?

 

Ele desviou os olhos dos meus, então eu soube que havia atingido o limite. Nós não conversaríamos mais sobre ele e seu irmão.

 

E eu não conseguia imaginar o que Aidan poderia ter feito ao irmão que pudesse ter causado a sua ruína, a sua revolta contra Sillentya, e agora condenasse Aidan a culpar-se por tudo o que houve, a remoer em cada dia de sua existência tudo o que ele fez no passado e tudo o que pôde ter prejudicado seu irmão.

 

Afaguei seu rosto com minhas mãos, enquanto o som da chuva lá fora predominava em meu quarto. O vento assobiando, as gotas incessantes chocando-se contra o telhado, e os clarões que iluminavam a todo o cômodo pelo menor dos segundos, revelando-me a máscara de dor e amargura que era seu rosto agora.

 

Encostei minha testa a dele e deixei que os segundos avançassem, que o tempo passasse, que as horas arrastassem-se.

 

E depois de um longo período, ele abraçou-me, puxou-me de volta para o cerco de seus braços, deitando-me novamente sobre o colchão, onde eu adormeci rapidamente, ciente dos acontecimentos turbulentos daquele dia e de seu desfecho melancólico, onde todas as minhas incertezas, todas as minhas dúvidas, todos os meus temores eram lavados pela água da chuva.

 

Eu já havia tomado minha decisão. Eu já decidira o que seria melhor para mim. Mas eu não comunicaria a Aidan, não ainda. A resposta ele só obteria na noite do baile de primavera, em mais ou menos uma semana.

 

Sim, minha decisão só seria revelada ali. Quando eu estivesse em seus braços, quando estivéssemos longe de todos aqueles problemas. Porque eu sabia que havia segredos entre nós, segredos que ele jamais ia atrever-se a me contar.

 

Mas isso não implicaria em minha decisão. Porque tudo o que importava para mim naquele momento era curá-lo de seu passado, afastá-lo dele, e por um tempo determinado pelo próprio destino, ser feliz ao seu lado.

 

E todo o meu ser tinha consciência de que algum dia ele partiria, de que ele ia embora. E minha decisão também estava ciente disso.

 

O meu recomeço teria o seu inicio ali. E ele marcaria minha vida por toda a eternidade. Marcaria com ferro em brasa a minha alma e o meu coração. E só então eu saberia que não havia mais volta, que uma vez iniciada aquela jornada eu não poderia mais retornar.

 

Eu não lutaria mais contra a correnteza desse rio que era a minha vida, eu apenas deixaria que essas águas levassem-me, e eu seguiria seu curso, certa de que a qualquer momento encontraria o meu destino, seja lá qual fosse ele.

 

Sim, não havia mais dúvidas, eu enfrentaria o meu próprio destino, e todas as conseqüências posteriores que minha decisão furtiva causaria. Porque depois desse dia eu jamais voltaria a ser eu mesma, eu mudaria por completo, e em breve eu assistiria esse novo alvorecer em minha vida e esse novo alvorecer aconteceria muito em breve. Sim, não havia dúvidas quanto a isso, muito em breve tudo mudaria e essas mudanças agitariam todo o meu interior, mostrar-me-iam a luz da verdade e dissolveriam essa negridão que sempre me ocultou e que sempre toldou aos meus olhos para a verdadeira realidade. E só então eu encontraria o meu real propósito, o meu verdadeiro objetivo e estaria pronta para enfrentar o meu destino.

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

aiiiii meu Deus... como eu consegui escrever uma cena dessas??? e sem ter uma parada cardíaca????

A Agatha já decidiu... e agora??? só no baile ela vai conta!

eu queria esclarecer algumas coisas:

— eu simplesmente não posso revelar esse segredo que cerca a Agatha ainda! 1º porque ainda não é a hora dela saber de tudo e 2º porque não será o Aidan a contar a verdade! mas eu garanto apenas que será algo chocante de se saber e infelizmente não será nessa 1ª fase dessa fic.
Se eu contar agora perco toda a ordem de acontecimentos da fic e daí ferrou... RSRSRSRSRS

— sim, como muitos devem ter percebido, a mãe da Agatha sabe o que o Aidan é, mas o motivo dela saber, só mais para a frente...

— não, o Aidan não pode contar a verdade para a Agatha e o motivo está no passado sombrio dele.

— alguns perceberam que eu soltei mais algumas coisinhas mínimas sobre a história do Aidan e de seu irmão, e é tudo verdade, a culpa pela desgraça do irmão dele realmente é do Aidan. O que será explicado, mas não nessa fase da fic.

— alguns até acharam que o irmão do Aidan é o pai da Agatha, mas então seria um relacionamento de tio e sobrinha??? WTH! não, não, o irmão do Aidan não é o pai dela, mas a figura dele está presente no passado do Aidan, tanto que a mãe da Agatha o reconheceu na hora!

— putz, tem mais ainda? calma, esse é o último, e é com pesar que eu informo que a fic está cada vez mais se aproximando do fim, pelo menos a 1ª fase. Logo eu estarei escrevendo sobre a tensa 2ª fase que é onde toda a verdade sobre a Agatha vem à tona

Então, era isso... Obrigada a todos mesmo!

E Até a próxima!

Beijoss!!!