Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 19
XVIII - Empecilhos


Notas iniciais do capítulo

hello, voltei!!!

só hoje eu consegui termina esse cap...

e as coisas começam a ficar um pouco tensas a partir daqui...

Boa leitura!!



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Capítulo XVIII – Empecilhos

“Eu quero reconciliar a violência no seu coração,

Eu quero reconhecer que a sua beleza não é só uma máscara

Eu quero exorcizar os demônios do seu passado,

Eu quero satisfazer os desejos secretos do seu coração”.

(Muse – Undisclosed Desires)

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Eu caminhava por entre aquele espaço vazio, medindo cada passo, olhando em derredor, mas não havia perigo. Pelo menos não que eu pudesse vê-lo.

O silêncio predominava em todo aquele lugar, mesclando-se à escuridão densa e tenebrosa. Apenas o vento gemia, arrepiando minha pele e sussurrando em meu ouvido.

Eu não tinha a menor idéia de onde me encontrava, para onde minha imaginação fértil havia me levado. Eu só sabia que mais uma vez, estava presa à dimensão dos sonhos.

Tudo ao meu redor era negro, tudo a minha volta era escuro e assustador. Abracei-me por instinto, quando a brisa tornou a percorrer todo aquele buraco negro no qual eu estava. Avancei mais em direção ao nada, sempre me certificando de que estava completamente sozinha ali.

Até que um gemido permeou meus ouvidos, sobressaltando-me. Meu coração acelerou e eu ofeguei. Embora eu ainda não conseguisse distinguir nada na escuridão absoluta, eu sabia que aquilo que havia emitido aquele gemido estava próximo a mim.

Estaquei; deveria fugir ou deveria procurar pela origem daquele som assustador? Eu estava em um sonho, e como as decisões que tomamos nos sonhos não são válidas, muito menos se aplicam à vida real, decidi procurar por aquela figura que decidira invadir meu sono.

Vagarosamente, movi-me. Cruzei as sombras que me rodeavam, sempre vasculhando com meus olhos atentos tudo ao meu redor, mas não havia mais nada.

Conforme me aproximava, os gemidos tornavam-se mais intensos, altos, incisivos.

Apertei meus olhos na esperança de distinguir algo ali, e então encontrei uma figura, de costas para mim. Só pude encontrá-la porque estava completamente trajada em vestes brancas, quase angelicais. E então constatei algo, ela chorava.

Seus cabelos negros, caindo delicadamente até a metade de suas costas, eram negros como a noite e contrastavam com suas vestimentas.

Engoli em seco e tomei coragem, impulsionei meu corpo para a frente, obrigando meus pés a se moverem e passo por passo, eu fui aproximando-me dela.

Eu não queria assustá-la, ou talvez temesse que ela se virasse para mim e atacasse-me. Mas ela não se movia, apenas continuava chorando.

Suas longas vestes tocavam o chão negro, o branco no preto, enquanto tudo mais ao nosso redor era engolido pelas sombras sem fim.

Trinquei meus dentes e avancei ainda mais em sua direção, ficando a poucos metros dela. Mas era inútil, ela não percebia minha presença ali.

- Olá. – murmurei para ela, na esperança de fazê-la notar-me.

Mas não resultou em absolutamente nada, ela não respondeu, muito menos teve o trabalho de se virar para ver quem a estava incomodando.

Só então meus ouvidos captaram o som de algo que não eram os gemidos que vinham dos lábios daquela estranha figura. Algo parecia pingar incessantemente no chão, algo líquido. Não poderiam ser lágrimas, elas pingavam uma atrás da outra, sem parar.

Minha curiosidade impeliu-me, sobrepondo-se sobre meu medo. Estranhamente, meu coração estava apertado, como se tivesse um peso imenso sobre ele.

Circulei a figura, lentamente, tomando o máximo de cuidado e aproximando-me de sua face chorosa, cabisbaixa. Estaquei diante dela, tentando ver seu rosto, mas estava escuro demais, e ela manter seus olhos chorosos fixados no chão não me ajudava.

Senti um estranho sentimento de compaixão por aquela estranha figura. Levei minhas mãos até seu ombro, tentando confortá-la, dizer-lhe para que não chorasse. Sorri para ela, tentando mostrar que estava ao seu lado.

Mas ela soluçou e recomeçou seu choro melancólico. Mais uma vez, senti-me completamente compadecida dela. E desejando enxugar suas lágrimas, levei meus dedos até sua face, limpando o líquido quente que vertia de seus olhos.

Porém, assim que o fiz, estranhei. O líquido era espesso, grosso e absolutamente frio. O cheiro de ferrugem apanhou-me desprevenida, o que estava havendo comigo? Parecia que eu havia recebido um choque de milhões de volts.

Meu coração sofreu um solavanco, depois recomeçou a martelar violentamente em meu peito. A adrenalina fluiu por minha corrente sanguínea e todo os meus membros pareciam ter congelado naquele momento.

Ainda mais quando senti as duas mãos frias daquela criatura na pele de meu pulso, suas mãos frias formando grilhões neles. Curvei meu corpo para trás, tentando libertar-me, mas a criatura era forte, não permitiu minha fuga e exerceu uma forte pressão em meus pulsos.

Desesperei-me, o que aconteceria agora? Meus olhos moveram-se em todas as direções, buscando alguma saída daquele lugar, alguém que pudesse salvar-me. Mas eu estava sozinha, e estava sob o poder daquele espectro.

E então, de um modo assustador, ela sussurrou meu nome, deleitando-se com meu desespero e meu medo.

- Agatha...

E muito que deliberadamente ela começou a levantar sua face, tendo minhas mãos próximas a ela. Meus olhos viram a pele tão pálida quanto alabastro, até mais translúcida, quase prateada, cada traço que compunha seu semblante, os lábios sem cor alguma, pálidos, misturando-se a pele descorada, e os olhos... os olhos tão negros como a ônix. E foi então que eu realmente me desesperei.

Porque eu estava diante de mim mesma, aquele era o meu rosto, os meus olhos, o meu corpo.

Descobri então que o quê aquele espectro chorava não eram lágrimas comuns, eram lágrimas de sangue, derramando-se de meus olhos, vertendo-as incessantemente. E o líquido carmim fluía por todo o seu rosto, escorrendo por seu pescoço e pingando nas vestes brancas, manchando-as de vermelho escarlate.

E aquele mesmo sangue deslizava por sobre o tecido delicado, manchando-o e empoçava aos pés descalços da criatura, ou seja, eu mesma.

E então o gelo fluiu por minhas veias novamente, congelando cada parte de meu corpo, enquanto o meu espectro assustador, encarava-me diretamente. Seus lábios entreabriram-se e ela ofegou, ainda cativando meu olhar e meus pulsos, impedindo-me de me mover, sua voz tristonha e assustadora ecoou por todo aquele vazio negro e imenso.

- Como você pôde? – questionou-me ela, a perplexidade tinia em sua voz rouca – Como você ousa?

- Eu não sei do que você está falando... – sussurrei para o meu outro eu.

E então algo mudou. O espectro mudou de postura, gargalhou ruidosamente, sua gargalhada histérica e enlouquecida eclodiu por sua garganta, permeando meus ouvidos e deixando-me completamente aturdida.

Embora o líquido vermelho ainda fosse derramado por seus olhos e suas mãos gélidas jamais afrouxassem o aperto em meus pulsos.

Segundos passaram-se até que sua risada maléfica morresse vagarosamente, e ela tornasse a sua postura melancólica.

- Não se faça de tola! É claro que você sabe, você sempre soube! – acusou-me ela – Como você pôde deixar-se se envolver por ele! Como você pode confiar nele? Você é uma tola, Agatha!

- De quem você está falando? – perguntei, cada vez mais confusa. Um turbilhão de confusão agitava todo o meu interior e retirava todo o meu fôlego.

- Você sabe de quem eu estou falando! – acusou-me ela - Aquele quem roubou seu coração, - ela parou, refletindo, parecendo recordar-se de algo doloroso – aquele quem roubou o nosso coração, aquele quem nos condenou a esse inferno... – suas palavras cessaram, a amargura envolveu-a por completo e baixando sua face, o espectro recomeçou o seu choro agoniado.

- Eu não... entendo. – sussurrei.

O meu eu assustador, sustentou seus olhos novamente, o sangue jorrava com maior intensidade de seus orbes agora. O aperto em meus pulsos afrouxou e suas mãos gélidas lentamente deixaram meus pulsos.

- Você não pode entender, não agora... – sussurrou ela, a amargura e o remorso moldando suas feições. – Mas em breve você entenderá, Agatha.

Movida por minha compaixão, lancei-me em sua direção, segurando em seus ombros.

- Diga-me quem fez isso com você?

Ela sacudiu sua cabeça lentamente, depois tornou os seus olhos chorosos para mim.

- Ele não fez isso somente a mim, Agatha, ele feriu a nós duas, condenou-nos a arder nesse inferno de loucura e solidão por toda a eternidade.

Ela pausou por alguns instantes, parecendo tomar fôlego, e eu podia ver a dor cravada em seus olhos, cravada nos meus olhos. Era algo insuportável de se olhar.

- Eu pensei que o amaria por toda a eternidade, pensei que jamais poderia pensar em outra pessoa como eu penso nele. Mas cada palavra, cada toque, cada beijo que trocamos estava repleto de mentiras e mais mentiras. Ele mentiu para nós duas e eu jamais o perdoarei pelo que tirou de mim.

A compreensão veio no mesmo instante, eu já sabia do que ela estava falando, ou melhor, de quem.

- Aidan... – eu sussurrei.

Meu outro eu encolheu-se, escondendo a face nas mãos e afastou-se de mim, enquanto gritos seguidos de dor e agonia escapavam de seus lábios.

- Não! Não diga esse nome na minha presença!

Mordi meus lábios e aguardei que ela se recompusesse.

- Não sei o que exatamente aconteceu a você, mas sei que Aidan não é o responsável. Eu jamais poderia odiá-lo, eu o amo mais do que tudo, mais do que a mim mesma.

Ela elevou seus olhos até os meus, a fúria os dominava.

- Tola! Você é uma tola! E em breve saberá o que o seu amado esconde de ti! E quando esse dia chegar, eu testemunharei todo o seu amor tornar-se ódio!

- Mentirosa! – gritei para ela, furiosa pelo modo como ela me falava de Aidan e pelo modo como ela tratava meus sentimentos por ele.

O espectro enfureceu-se ainda mais, e atirou-se sobre mim, lançando-se como uma sombra em minha direção.

Não senti o choque, apenas me dei conta de cair sentada no chão negro, enquanto meu outro eu encarava-me sem nada dizer.

- Chegará o dia, Agatha, em que você virá para cá, sofrer a tua dor, carregar esse jugo. Mas até lá, eu permitirei que você desfrute das mentiras dele, assim você será capaz de compreender-me e compreender a minha dor.

Ela estendeu seus braços, os olhos fixos em meu rosto.

- E então, nós duas arderemos nesse inferno!

E então algo inacreditável aconteceu, o fogo brotou das sombras, as chamas alaranjadas cercaram a nós duas, consumindo o nada.

E elas ardiam nos olhos sombrios do espectro, iluminando a todo aquele local, enquanto dançavam graciosamente até nós duas, rastejando sobre o chão negro como serpentes peçonhentas.

Os lábios dela abriram-se mais uma vez, e sua voz rouca ecoou por apenas mais uma vez.

- Eu estarei esperando por você, Agatha. – murmurou ela e depois tudo ficou indistinto...

Despertei, sobressaltada, sentei-me na cama, incapaz de conter aquele temor dentro de mim. Eu jamais em toda a minha vida havia tido um pesadelo tão intenso e assustador.

Eu ofegava, meu coração espremia-se contra o meu peito, e isso acabou por despertar a atenção de um certo alguém no meu quarto.

- Agatha? – ouvi sua voz chamando-me, ele parecia preocupado.

Meus olhos imediatamente moveram-se até as sombras mais espessas em meu quarto, aquelas que a luz prateada do luar não conseguia dissipar, e vi sua figura recuar delas, vagarosamente.

Eu estava certa, ele estava preocupado.

- Você está bem? – perguntou-me ele.

Fechei meus olhos e esperei que aquela sensação desagradável passasse. Quando os abri novamente, Aidan já estava sentado aos pés da cama, fitando-me de uma forma tão intensa.

- Desculpe... – sussurrei – Foi apenas um pesadelo.

Ele suspirou, seus olhos tristonhos pousaram sobre o meu semblante novamente, analisando-me por longos segundos.

- Não é a primeira vez que você tem pesadelos assim. – murmurou ele, a voz abafada.

- Não é nada, são apenas pesadelos. – sussurrei, embora eu tentasse convencer a mim mesma disso.

- Quer falar sobre eles? – perguntou-me ele, a preocupação vincando seu belo rosto.

Bufei, eu não estava muito à vontade para contar-lhe o que minha imaginação fértil fazia a mim durante as noites.

- São apenas pesadelos, nada mais do que isso. – murmurei, tentando dissuadi-lo daquela idéia.

Aidan permaneceu em absoluto silêncio. E aquilo me incomodou. Ignorei meu sonho mais recente e todas as dúvidas e temores que ele me trouxera.

Esgueirei-me pelo colchão, indo de encontro ao meu amado e o abracei da forma mais terna; eu precisava dele naquele momento.

Aidan logo retribuiu o meu abraço, seus braços fortes envolveram meu corpo, acalentando-me. Pousei minha face em meu ombro e por um momento esqueci-me de absolutamente tudo. Éramos eu e ele apenas, mais uma vez...

Uma decisão formou-se em minha mente. Segurei em suas mãos, afastando-me de seu corpo, enquanto empurrava meu corpo para trás novamente, puxando-o comigo.

Deitei-me na cama, e ele também não hesitou. Deitou-se ao meu lado, sua mão envolveu minha cintura, puxando-me junto a ele.

Observei seus olhos brilhantes no escuro, toquei seu semblante sério, afagando sua pele com a ponta dos dedos. E o chamei...

- Aidan?

- Hmm... – ele respondeu-me, enquanto lentamente cedia aos toques meus em seu rosto, cerrando seus olhos.

Eu hesitei. Embora eu confiasse minha vida a ele, confiasse todo o meu ser e principalmente, confiasse o meu coração, aquela dúvida estava remoendo-me, consumindo-me aos poucos.

Eu não queria magoá-lo, não queria dar a impressão de que não acreditava nele, muito menos que questionava a natureza de seus sentimentos por mim, mas eu precisava saber, era uma necessidade. E eu conviveria com aquela dúvida até o findar de meus dias se não o questionasse.

Ajeitei-me, aconchegando-me ainda mais ao seu corpo quente e forte, seu corpo era a minha fortaleza, o meu refúgio das tormentas.

Meus dedos moveram-se até os fios negros de seu cabelo, entrelaçando-se neles, enquanto seus orbes abriam-se novamente, e recaíam sobre mim.

A coragem inflou meus pulmões e eu finalmente lancei a pergunta que estava perturbando-me tanto.

- Você nunca mentiria para mim, não é mesmo? – sussurrei, querendo abafar a minha voz ao máximo.

Senti o corpo dele enrijecer ao lado do meu, sua mão estreitou-se em minha cintura e sua respiração tornou-se pesada, densa.

Esperei pacientemente que ele me respondesse, mas os segundos passavam e ele permanecia em total silêncio, enquanto minha carne parecia estar sendo dilacerada e retalhada vagarosamente.

Senti seus lábios no alto de minha cabeça, enquanto ele parecia sorver o perfume em meus cabelos. Até que seus olhos encontraram os meus novamente e sua voz ecoou pelo quarto, trazendo o alívio para todo o meu ser.

- Não, eu jamais faria algo que pudesse prejudicá-la.

Inspirei, parecia que tudo ficaria bem entre nós. Ainda que fosse preciso que eu espantasse esses sonhos amedrontadores e mantivesse-os longe de minha cabeça.

Escondi minha face em seu peito largo e cerrei meus olhos, enquanto deleitava-me com seu cheiro tão bom e reconfortante. Eu sentia seus dedos brincando com meu cabelo, e mais cedo do que imaginava, eu acabei por adormecer novamente, dormindo em seus braços, nos braços de meu amor...

As nuvens cinza-claras deslizavam pelo céu nublado, uma brisa suave soprava em meu rosto.

A aula era educação física, na terça-feira. Tamara e eu observávamos os meninos exercitando-se. Aidan não estava em meio a eles, não sei como, mas ele havia conseguido despistar o treinador. Havia dias que ele tentava convencê-lo a ingressar no time de futebol, mas Aidan sempre recusava os convites. Embora eu devesse admitir que vê-lo jogando seria no mínimo curioso, sabendo que as habilidades dos demais jogadores jamais se equipariam as dele.

Eu estava entediada, e cansada. Depois de disputar duas partidas de vôlei com as demais meninas, eu havia ficado inteirinha roxa. Isso se devia às constantes boladas que eu recebia, das quais algumas eu não tinha nem tempo muito menos reflexos suficientes para desviar. Tamara por estar ao meu lado recebeu algumas boladas na cabeça, mas ela garantiu-me que sobreviveria.

Ela contava os segundos para que o treino terminasse. O motivo era que logo depois que ele terminasse ela iria até Bryan Scott, o zagueiro do time, e o chamaria para o baile de primavera. É claro que eu pagaria para ver a cena.

Ela roia as unhas das mãos devido ao nervosismo e a forma como o tempo enrolava para passar. Observei-a sentada ao meu lado, e então pousei uma de minhas mãos em seu ombro.

- Vamos, seja corajosa, não será assim tão difícil. – murmurei para ela, tentando encorajá-la.

Seus olhos esmeraldinos voltaram-se para mim, eles irradiavam ansiedade.

- Para você é fácil falar.

- E o que pode acontecer de tão ruim? – perguntei a ela, tentando manter a seriedade em minha voz, embora por dentro eu estivesse rindo de seu nervosismo exagerado. – Se ele disser não, chame outro, é muito simples.

Ela bufou e eu fiquei sem entender nada.

- O que foi?

- Meu medo não é esse. – respondeu-me ela, tranqüilamente, depois tornando a roer as unhas.

- Então qual é? – perguntei-lhe, confusa.

Tamara levantou as mãos, repreendo-me, como se a resposta fosse óbvia.

- Ora e qual mais seria? – ela devolveu minha pergunta com outra.

- Eu não sei, a especialista em meninos aqui é você. – lembrei a ela.

Tamara fez-me uma careta e eu ri novamente. Agora eu sabia como era bom divertir-se às custas de outros. Uma pena que eu jamais conseguiria fazer o mesmo com Aidan.

Ela suspirou e eu aguardei que ela colocasse tudo para fora de uma vez.

- Você sabe, Agatha, eu preciso de um acompanhante que seja como eu.

- Como você?

- Claro! – ela exaltou-se – Alguém como eu! Que pelo menos saiba ter noção de como ser legal, simpático e estar sempre antenado nas tendências da moda. E bem... sei lá, o Bryan pareceu uma boa escolha, mas como posso ter certeza de que ele é a minha alma gêmea?

Tapei minha boca, contendo ao máximo os risos, mas fracassei miseravelmente. E explodi em uma gostosa gargalhada. Tamara não parecia acreditar que eu estivesse mesmo rindo dela.

Voltei-me para ela, estava claramente pedindo-lhe desculpas, e ela estava furiosa por minha indiferença ao seu tão grande “problema”.

- Desculpe, mas é por isso que você está nervosa? – perguntei a ela, ainda brincalhona.

- É. – concordou ela, tristonha. – Eu sei que parece tolice, mas você diz isso porque já tem a sua alma gêmea perfeita. Que dizer, claro que algum dia ele provavelmente terá de ir embora, mas ainda assim você o tem.

Eu mal consegui processar a frase de Tamara, eu havia congelado, petrificado assim que ouvi a expressão “... algum dia ele provavelmente terá de ir embora...”.

Eu ainda não havia pensado nisso. Ainda não havia sequer pensado nessa possibilidade, ainda que remota, mas real. Mais cedo ou mais tarde, Aidan teria de partir. Ele teria que retornar para a Itália, para Sillentya. Caso contrário, seria considerado um traidor, um desertor, e então seria caçado até o inferno e... morto.

Não havia outro meio. Assim que ele pegasse aquele desertor que vagava por South Hooksett, Aidan cumpriria a sua missão e iria... iria embora, para sempre...

Eu ofeguei, como eu havia sido tão tola? Eu nem sequer havia chegado a essa constatação, havia me esquecido de tudo e de todos. Estivera vivendo nesse mundo fantasioso e imaginário por tanto tempo que tinha esquecido-me até mesmo de raciocinar.

Meu coração parecia ter congelado naquele momento, o gelo invadiu minhas veias, roubou-me o fôlego e encheu meu coração de tristeza e de dor. Não foi preciso muito para que as lembranças perturbadoras daquele sonho da noite anterior viessem a minha mente. Meu eu sombrio, meu eu choroso, meu eu condenado...

Condenado a viver naquele buraco negro e vazio, em companhia apenas da solidão, enquanto meus olhos verteriam lágrimas de sangue por toda a eternidade. Eu voltaria ao nada; chegar a essa conclusão foi como ter a alma arrancada do corpo, cruzar o plano dos mortos e depois retornar para o dos vivos, marcada pela dor e pelo sofrimento.

Naquele momento tudo o que eu sentia era a dor das apunhaladas, ferindo-me, rasgando-me.

Só de imaginar-me no futuro sem ele, sabendo que nossa história poderia terminar a qualquer momento, que eu poderia acordar e nunca mais ver o seu rosto, sentir o seu toque ou o gosto de seus lábios, isso me desolou, empurrou-me para a beira de um buraco negro e vazio, como o que eu estivera no meu sonho medonho na noite anterior.

Despertei apenas quando senti duas mãos chacoalhando-me, era Tamara, e parecia preocupada.

- Agatha, Agatha, responda-me!

Voltei para o mundo real, desligando-me de meus pensamentos sombrios. Eu estivera certa, ela estava realmente preocupada comigo.

- Sim? – fora tudo o que eu consegui dizer, mas minha voz saiu estrangulada, rouca.

- Você está bem? – ela tocou em minha face, certificando-se de que eu estava mesmo bem – Parece um pouco pálida.

Tentei recompor-me, mas era inútil, era como tentar juntar os muitos pedaços de um vaso de cristal quebrado. Eu não poderia ficar ali, não poderia permitir que Tamara visse meu sofrimento.

- Acho que estou um pouco tonta. – murmurei - - Importa-se se eu for até o toalete e lavar meu rosto?

- Claro que não. Irei com você.

Impedi-a no mesmo instante, eu não sabia se conseguiria segurar aquela fachada por muito tempo, eu estava prestes a desabar.

- Não, não se incomode, eu posso ir sozinha.

Tamara pareceu compreender-me, embora eu sentisse toda a sua preocupação. Levantei-me da arquibancada, caminhando dura até o toalete feminino. Por sorte ninguém me viu indo para lá. Cruzei o longo corredor vazio e silencioso.

Entrei e fechei a porta, dirigindo-me até a pia. Abri a torneira e joguei água fria no meu rosto, eu precisava acalmar-me. Ter uma crise não ajudaria em nada agora. Baixei minha face, escorei-me na pedra de mármore da pia e fechei meus olhos.

Mantenha a calma, mantenha a calma, mantenha a calma, eu repetia sem parar para mim mesma. Inspirei várias vezes e quando senti que havia recuperado o meu autocontrole, enxuguei meu rosto e preparei-me para deixar aquele local, eu tinha que tranqüilizar Tamara.

Fitei minha face no espelho mais uma vez e tomei um susto. Porque encarando meu reflexo no espelho com um sorriso cínico nos lábios estava Becki Sunders, reconheci o cabelo louro, liso, amarrado no rabo de cavalo, e o uniforme de cheerleader.

Estremeci, imaginando o que ela queria comigo. Virei-me para ela, enquanto observava sua figura caminhar de forma elegante na minha direção.

Ela estacou a uma boa distância de mim, as mãos na cintura, os lábios ainda projetavam-se naquele sorriso falso. Vi que seus olhos destilavam veneno, enquanto uma aura ameaçadora projetava-se ao seu redor.

De repente ela elevou as duas mãos no ar e as espalmou, batendo as palmas de forma vagarosa, porém ela jamais abandonava a pose de superioridade, de cinismo e deboche.

- Parabéns, você conseguiu o que tanto queria. – acusou-me ela.

Tentei esquivar-me daquela conversa, evadi-la, mas parecia que Becki não permitiria que eu realizasse tal proeza.

- Não sei do que está falando.

Ela franziu o nariz, obviamente estava enojada.

- Não precisa mentir, Agatha. Na verdade, façamos um trato, seremos bem sinceras uma com a outra.

Suspirei e tentei passar por sua figura, mas Becki insistiu novamente, bloqueando minha passagem. Bufei.

- O que você quer de mim? – perguntei, os olhos ácidos.

- Quero que admita que venceu, você conseguiu conquistá-lo.

- Eu não venci nada, Becki, deixe-me passar. – tentei discursar mais uma vez, porém sem resultados.

- Você tem algo que eu quero. – confessou-me ela. – Algo que eu quero muito.

- Não, eu não tenho. – rebati.

- Claro que tem, você tem Aidan. E eu o quero para mim.

A fúria ardeu em minhas veias, como ela ousava dizer aquilo?

- Aidan não é um objeto. Ele é uma pessoa, possui sentimentos.

- Tanto faz. – exclamou ela – O que eu sei, fracassada, é que algum dia ele irá cansar-se de você, e a descartará como se não fosse nada. Garotas da sua laia não ficam com garotos como ele.

- Olha, Becki, se é apenas isso que você tem para me dizer, eu estou partindo.

Mais uma vez ela bloqueou minha passagem, os olhos nunca se cansavam de fuzilar-me.

- Eu só queria lhe dar esse recado, e que você e a sua amiguinha patética fiquem bem avisadas. E não se esqueça, Agatha, mais cedo ou mais tarde, ele virá para mim.

Franzi meu cenho e cerrei meus punhos, mas ela já partia, dando-me as costas e deixando o toalete. Permaneci ali, petrificada, por mais alguns segundos, antes que minha fúria impelisse-me a sair daquele lugar de uma vez por todas.

Cruzei o corredor mais uma vez, até que me deparei com outra figura; dessa vez era Peter. Suspirei de olhos fechados, mais essa não. Dei as costas e recomecei a andar na direção contrária.

Vi que ele acenou para mim e chamou-me sem a menor cerimônia.

- Ei, Agatha, espere!

Peter correu até mim, estacando ao meu lado, ele sorria, embora claramente fosse um ato forçado.

- Oi. – ele murmurou, simpaticamente.

- Oi. – murmurei por puro reflexo.

Peter passou a mão pelos cabelos desgrenhados cor de bronze e seus olhos oscilavam entre meu rosto e seus pés, caminhando lentamente por aquele imenso corredor.

- Você e o Aidan... quer dizer, vocês realmente estão... sérios.

Vi um leve rubor em suas bochechas e suspirei, eu não poderia ser ríspida com ele.

- É. – assenti, de uma forma um pouco estranha, não havia ânimo em minha voz.

Peter notou isso de imediato e parou sua caminhada, enquanto eu prossegui com a minha. Depois de alguns segundos, ele correu novamente a fim de me alcançar.

- Bem, isso é... um pouco... estranho.

- Por quê? – perguntei a ele, curiosa.

Peter corou novamente e desviou os seus olhos dos meus.

- Ah, bom, eu imaginava que você escolheria, sei lá, um cara mais espontâneo. Aidan é tão fechado.

- Ah! – fora tudo o que eu consegui exclamar.

- De qualquer forma, eu estou feliz por você. – murmurou ele de forma simpática.

Sorri para ele, ainda que a compreensão de Peter não conseguisse amenizar aquele turbilhão que agitava a todo o meu interior, como uma forte tempestade.

- Obrigada, Peter. É muito gentil.

Ele deu um meio-sorriso e depois interrompeu sua caminhada ao meu lado mais uma vez.

- Bem, acho que é isso, é melhor eu voltar para o treino agora. Tenho testes amanhã.

- Boa sorte para você.

- Obrigado. – ele agradeceu-me e depois deu meia-volta, correndo na direção oposta na qual eu seguia, até que eu o perdi de vista.

Observei o corredor vazio por vários segundos, antes que a realidade despertasse-me e me lembrasse que eu ainda tinha que voltar para a educação física e tranqüilizar Tamara, que deveria estar uma pilha de nervos nesse exato momento. Afinal, ela precisaria de mim quando convidasse Bryan para o baile de primavera, e eu sentia que tinha de apoiá-la. As amigas fazem isso umas pelas outras.

A noite já havia chegado outra vez. Eu tentava ao máximo concentrar-me nas folhas de papel a minha frente, entender o conteúdo de cada linha, eu apenas tentava estudar, mas não conseguia.

É claro que os eventos desagradáveis que aconteceram pela tarde já estavam esquecidos em minha mente vazia. Claro que eu fiquei na expectativa quando Tamara foi até Bryan e o chamou para o baile, logo após o treino. É claro que ele aceitou e ela vibrou de felicidade.

Mas logo veio a parte que implicava o meu nome, Tamara queria arrastar-me com ela na sexta-feira para que fôssemos comprar vestidos. Eu até tentei discutir com ela, usei de diplomacia, mas não houve consenso entre nós duas, e como conseqüência eu iria com ela até o centro da cidade na sexta depois da escola.

Meus olhos prenderam-se nas linhas novamente, enquanto eu tentava recuperar a minha concentração, mas a perdia totalmente, enquanto sentia os lábios dele no meu pescoço, no lóbulo da minha orelha, nos meus cabelos.

Era realmente impossível estudar, ou simplesmente fazer qualquer outra coisa, com Aidan tão próximo a mim, enquanto uma de suas mãos segurava na minha, e a outra me puxava pela cintura para mais perto de si.

Seus lábios buscavam afoitos por minha pele, e eu mal continha o riso, seus beijos causavam cócegas em mim e arrepios por todo o meu corpo.

Desisti de estudar, fechei o livro e voltei minha atenção totalmente para ele. Passei meus braços ao redor de seu pescoço e fitei seus olhos tão profundos e belos.

Uma de suas mãos segurou em meu rosto, e ele ficou pensativo, perdendo-se nos próprios pensamentos.

Seu dedo indicador tocou na ponta de meu nariz.

- Você parece distraída hoje. – murmurou ele.

Tentei sorrir e afugentar aquelas suas preocupações, eu não queria que ele soubesse o que me afligia.

- Pareço? – devolvi sua pergunta com outra.

- Sim, você parece. Qual é o problema? – perguntou-me ele.

Suspirei. Eu não queria conversar sobre aquilo, eu tinha que tentar desviar o rumo de nossa conversa.

- Bom, é que minha mãe... minha mãe, - pausei, suspirando mais uma vez – minha mãe quer conhecê-lo, em um jantar amanhã à noite.

Seu semblante ficou pensativo novamente, seus olhos perderam-se inteiramente nos meus.

- É importante para você? – perguntou-me ele, a voz tinindo seriedade, abafada.

- Não, para mim não, mas para ela é.

- Entendo. – sussurrou ele, enquanto seus dedos voltavam a afagar minha pele. – E você quer que eu esteja aqui?

Contornei seus lábios tão sensuais com meus dedos e sorri.

- Eu sempre quero que você esteja perto de mim. – confessei-lhe e ele sorriu.

- Então, se você me quer, eu estarei aqui, amanhã.

- Você realmente faria isso? – perguntei-lhe, completamente incrédula.

- O quê? Passar-me pelo namorado ideal de qualquer adolescente? Isso é fácil. Estar ao seu lado é fácil, amar você é fácil, mas viver na solidão, isso é difícil, e é algo que definitivamente eu não quero voltar a fazer. Acho que posso representar um bom papel amanhã, fingir ser um humano. – ele riu depois de dizer isso.

- Você não existe. – disse-lhe, rindo junto dele.

Sem mais hesitação, puxei seus lábios para os meus, beijando apaixonadamente. E como em todas as vezes que fazíamos isso, perdi o controle de meus atos. O fogo ardeu de forma avassaladora em meus lábios, e eu perdi todo o meu fôlego, enquanto sentia-o contornar meu lábio inferior com sua língua quente e ávida.

Prendi-me mais ao seu corpo, enquanto minhas mãos trêmulas enganchavam em seu pescoço e completamente entorpecida por aquelas sensações, senti a mão forte e quente dele deslizar pelas minhas costas, apertando-me levemente contra o seu corpo.

E então, com um gemido, ele afastou-se de mim, seus olhos brilhavam.

Encostei minha testa a dele e fechei meus olhos, recuperando meu fôlego roubado, até que sua voz chamou-me para a terra novamente.

- Mas não é isso que está te preocupando. – acusou-me ele. – Conheço você o suficiente para saber que poucas coisas conseguem abalá-la. Diga-me a verdade, Agatha, por favor? – pediu-me ele.

- Aidan, eu... – abri meus olhos e encontrei sua face séria, vincada por sua preocupação comigo.

Respirei fundo e tentei encontrar forças para contar-lhe o que me afligia, toda aquela dor, todo aquele desespero que eu sentia com a idéia de perdê-lo algum dia...

- Aidan, - chamei-o outra vez – você... você terá de ir embora algum... dia, não terá?

Ele desviou os seus olhos dos meus, todo o seu corpo ficou rígido de repente, e ele encolheu-se, tentando libertar-se de meu abraço. Mas eu fui firme, puxei-o novamente para perto de mim, segurei em seu rosto e fiz com que ele me encarasse.

- Por favor, responda-me. – supliquei-lhe – Apenas me diga a verdade.

Ele suspirou e então seus olhos ganharam um aspecto sombrio e melancólico.

- Sim, eu terei de embora assim que pegar o desertor.

Era exatamente como eu imaginava. Mais cedo ou mais tarde, eu o perderia, e concluir isso doeu-me mais do qualquer ferimento, mais do qualquer ferida.

- Desculpe-me. – ele sussurrou.

- Não, não se desculpe. – respondi-lhe – Talvez eu sempre soubesse que isso algum dia ia acontecer.

Ele franziu o cenho e semicerrou os olhos, tocando em minha face, e quando percebi, ele enxugava uma lágrima solitária que escapara de meus olhos.

- Talvez... talvez seja melhor que não levemos isso adiante, talvez seja melhor para nós dois que isso acabe aqui e agora.

O desespero tomou conta de todo o meu ser.

- Não, eu não quis dizer isso. – murmurei, exasperada, temerosa que ele tivesse interpretado da maneira errada.

- Então o que você quer fazer? – perguntou-me ele, a voz embargada pela tristeza.

- Eu não sei, preciso pensar. – confessei-lhe.

Ele afagou meu rosto mais uma vez, reconfortando-me.

- Então, prometa-me, Agatha, que assim que decidir, você me contará, não importa qual seja a sua decisão, tudo o que eu quero, tudo o que eu desejo é a sua felicidade e o seu bem-estar. Tudo bem?

- Eu prometo.

E então eu o abracei, repousando minha face em seu peito forte, encontrando mais uma vez, o meu refúgio das tormentas, o meu lugar de paz e tranqüilidade.

O que seria de nós dois no futuro? Isso eu jamais poderia saber, mas de algo eu tinha plena certeza, eu jamais poderia voltar a ser mesma depois de tê-lo conhecido, depois de tê-lo amado. E talvez todo o meu ser já soubesse o que exatamente aconteceria comigo, se algum dia eu o perdesse.


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Notas finais do capítulo

ahhhhhh q tenso! e agora Agatha??coitada, imagina a situação dela...e esse sonho dela foi assustador demais, até para eu escrevê-lo...axu q tá mais do que claro que o Aidan esconde algo dela, mas isso só será revelado na fase mais tensa da série, e quando eu digo tensa, será tensa mesmo! de roer as unhas!ainnn q medo...o jantar promete, e eu vou continuar jogando verde, para ver se alguém adivinha o que o Aidan fez...e essa Becki terá o que merece! *esfrega as mãos e prepara o plano maléfico* não se preocupem!se tiver algum erro tosco de português, perdoem-me, não tive tempo para revisar, mas assim que foir possível eu encontro eles e os arrumo.mas enfim, espero que tenham gostado...Até a próxima!Beijos!