Noiva por Herança escrita por Juffss


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

E então depois de muito tempo, olha quem aparece?! SIM! A maravilhosa, espetacular e modesta JUFFSS, eu mesma! kkkk
Brincadeira!
Espero que gostem,
Beijoos

Juuh



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Flatotel - New York, NY

31 de dezembro de 2005

17h56min

O cheiro de especiarias adentrou minhas narinas me abraçando por inteiro e me seduzindo em direção a cozinha. Eu quase podia ver o aroma me carregando como nos desenhos animados. Era maravilhoso. Minhas cabeça pestanejou, não poderia ser Emmett cozinhando.

– Não vou perguntar o que você está fazendo! Tenho medo. – afirmei.

– Sei o que estou fazendo - ele falou confiante.

– Sabe mesmo? - escorei no batente da porta o olhando. Ele estava de costas para mim.

O barulho da lamina da faca batendo na tábua de madeira me lembrava muito as aulas de culinária que tive na Miss Poter. Os músculos de seu antebraço saltavam aos meus olhos. Suas mangas estavam dobradas até o cotovelo, o admirar não pareceu tão difícil assim. Poderia tentar contar todo tempo que ele passou na academia para conseguir tal definição.

Minha boca involuntariamente de moveu. Meus dentes se fecharam em volta do meu lábio inferior em um abraço silencioso. Meus olhos fizeram o mesmo movimento deixando o breu me tomar e a imaginação ganhar vida. A visão dele sem camisa me envolveu de forma precisa e passional.

Por um momento me perdi. Meu subconsciente insistia em questionar onde estávamos. "Isso é um flat ou o Monte Olimpo? Porque minha nossa, que Deus grego!". Balancei a cabeça tentando afastar a voz dentro de mim. Mas, mesmo assim, ela gritava para que reparasse a perfeição diante de mim. Suspirei.

– O que fiz de errado? – sua voz fez com que tivesse de abrir meus olhos rapidamente e quebrasse a ilusão que havia me tomado.

– Oi? - perguntei na dúvida.

– O que eu fiz de errado? Você estava negando e suspirando agorinha.

– Nada! - sorri - quer dizer, eu não sei se fez algo errado. Minha cabeça estava longe - admiti. - Não estava prestando atenção.

– E estava pensando em que?

– Curioso! - o julguei batendo de leve em seu peito. Quando ele avia se aproximado? Eu não tinha percebido!

– Sou mesmo - ele falou segurando a minha mão contra o peito dele. Estremeci.

– O que tá fazendo? - perguntei puxando a minha mão delicadamente como se na verdade não tivesse percebido o que acabara de acontecer.

Ele pensou um pouco e coçou a nuca. Esperei uma resposta. Ele me olhou e em seguida seguiu o perímetro com o olhar. Acompanhei seu movimento e constatei algo que não tinha percebido antes.

– Céus! - disse assustada - Você foi comprar o jantar ou o supermercado inteiro?!

– Não sei do que você gosta! - ele justificou.

– Emm...

– Não me xinga! - me cortou.

– Que desastre! - eu ri. Ele vestiu uma carranca. Quando vi sua expressão eu não aguentei. Gargalhei.

Minha barriga começou a doer. Uma mistura dos risos com o ferimento. Não conseguia parar. O ar começou a me faltar e meus olhos lagrimejaram de tanto rir. Só me forcei a parar quando não aguentava mais. Gemi, de dor. Segurei o curativo e me contorci. A expressão de raiva desapareceu e o sentimento de preocupação tomou seu lugar.

– Você está bem? - ele perguntou se posicionando mais perto de mim.

– Tô - disse em meio a uma careta incrivelmente feia.

Suas mãos envolveram a minha cintura. Elas estavam firmes em volta de mim. Aquele toque fez minhas pernas bambearem. O ar voltou a falhar em meu peito e a dor pareceu sumir. Fechei meus olhos novamente. Droga! Mil vezes droga!

Ele me ajudou docemente e eu sorri. Que diabos de efeito estúpido ele estava me causando. Ele sorriu de volta e eu fiquei estática.

– Você tem certeza? - perguntou. Aquilo me fez duvidar se estava bem de verdade. Aquelas covinhas... Ele me fazia passar mal! - Você sabe o que queria? - perguntou quando não ouviu nenhuma resposta.

Então nossos corpos se aproximaram mais. Seus braços me envolveram e me levaram para mais perto dele. Ele me abraçou. Um abraço doce e carinhoso. Os músculos me cercaram. Eu ficava tão pequena no meio daquele gigante! Minha cabeça mandou que me afastasse, mas meus músculos não respondiam.

Meu corpo reagia por si só. Meus dedos se entrelaçaram nas dobras de sua camisa. Meus olhos percorreram sua boca e depois subiram para seus olhos. A lógica e a sensatez tinham me abandonado. Afinal, o que ele queria? Será que era o que eu também queria? Se fosse isso, seria uma mulher feliz. Mas era exatamente o que eu queria que nunca poderia ter.

Droga!

Finalmente a lógica voltou a me acompanhar. Talvez pela dor da constatação do que era proibido, mas pelo menos funcionou. Minhas mãos responderam as minhas ordens e o afastaram de mim. Ele era meu chefe. E eu estava noiva! Não questionou. Meu corpo se sentia vazio e frio longe dele. Mas o que poderia fazer? Suspirei tensa.

– Rosa... – ele começou.

– Talvez devêssemos só cozinhar... – o cortei abrindo algumas sacolas.

– Por que você sempre foge? – ele estava parado me encarando.

– Talvez esteja passando algum programa na televisão interessante... Se quiser ir... – tentei desconversar.

– Eu te fiz uma pergunta.

– E eu te fiz uma sugestão! – selecionei algumas coisas dentro das sacolas pensando o que poderia fazer.

– É véspera de Ano Novo! O que passa de interessante em qualquer canal nessa época do ano?! Nada! – ele me encarou sério.

– Eu sou noiva, ok? – disse largando tudo o que tinha pego em cima do balcão e me virei para ele.

– Mas é contra sua vontade.

– Não importa! – respondi curtamente, um pouco grossa até. – Olha, se isso não bastar lembre-se que você é meu chefe, eu sou a sua secretária... Isso não é certo. – tentei me acalmar enquanto falava.

Ele umedeceu os lábios. Fechou uma das mãos e me encarou. Sua mandíbula estava cerrada. E ao mesmo tempo que ele parecia sexy ele parecia bravo. Eu não conseguia entender o que se passava dentro de mim naquele momento. Não queria o ver assim. Me odiei por alguns momentos.

– Ok – ele murmurou.

Meu coração gelou enquanto eu o olhava. Mas que merda havia feito?!

Emmett não pareceu se acalmar muito bem. Ele se virou para a panela que havia colocado no fogão e a alcançou. A raiva e o molho que borbulhava dentro do recipiente entregava que não daria certo, que o metal não estava nada frio.

Pareceu que li o que aconteceria numa bola de cristal. Tentei murmurar algo que o impedisse, mas tarde demais. Quando a panela tilintou no chão e o molho pintou os moveis e meus pés tive que fechar os olhos. Escutei o barulho da água da pia cair como uma cachoeira.

– Emmett... – murmurei tentando me aproximar. A lagoa que havia se formado debaixo dos meus pés dificultava o trajeto me fazendo derrapar por vezes.

Emm me segurou com a mão que não havia queimado. Eu segurei em seu braço e cheguei ao meu destino. Envolvi sua mão debaixo da pia com carinho. Pareceu que o instinto havia me tomado e que o resto, a lógica ou a concentração, se foi.

Senti seus olhos em minhas costas. Percorreram dos ombros até as mãos e depois voltaram repetindo o trajeto. Abri a primeira gaveta do armário puxando o kit de primeiros socorros que havia colocado ali algumas semanas antes.

– Desculpa – ele murmurou baixo.

– Pelo que? – o olhei de relance e voltei a caixa para fazer o curativo.

– Não é pelo jantar que acabei de estragar, acho que fiz foi um favor a você... – eu ri baixo.

– Tudo bem. Vamos esqueci isso – o olhei finalizando o curativo.

– Você é rápida. – ele sussurrou.

Sua voz baixa me fez arrepiar. Involuntariamente levei sua mão a boca e a beijei. Mas o que estava fazendo? Ele também pareceu não entender muito bem.

– D... – comecei a falar, mas nem meu pedido de desculpas ele quis escutar antes de me interromper.

– Eu gostei – ele falou me olhando – não é uma coisa que acontece com frequência... Mas não ligaria se fosse...

– Não vai acontecer de novo...

– Já falei que está tudo bem – ele sorriu.

O olhei. Meus olhos percorreram os seus. Quando isso acontecia era quase impossível quebrar o contato que se fazia. Porque estava me sentindo tão idiota? Não conseguia me entender. Mais uma vez meu coração disparou.

Aquilo era quase instantâneo. O olhar, o toque... Qualquer coisa que vinha dele fazia meu corpo tremer, em um bom sentido. Era quase como se não fosse mais eu ali na frente dele. Se concentre Rosalie.

– Eu... acho melhor você olhar...

– Já entendi senhora cozinheira... – ele riu – acha que sou um desastre!

– Também – eu não aguentei e ri. E de repente era como se nada estivesse acontecido. Minha raiva ou projeto de raiva desaparecia. Ele quebrava minhas barreiras e só precisava de um daqueles sorrisos de covinha dele.

– Você pode me ensinar... sou bom aluno até... Olha! – ele riu pegando um pano de prato e limpando um dos armários.

– É mais fácil chamar o serviço de faxina... – o olhei enquanto pegava o interfone e pedia para alguém para limpar a bagunça que fizemos. – enquanto isso você pode tomar um banho e limpar o seu pé que sujou todo.

– Nós vamos – ele riu e me puxou. Quase cai e ele me segurou.

– Até onde sei, no chuveiro só cabe um... – o lembrei.

– Sentamos na beira da banheira... e bem... ai fica mais rápido. – ele me olhou e piscou.

– Emmett!

– Não tem choro nem vela – ele riu e abriu a porta para camareira, se desculpou algumas milhões de vezes, a gratificou muito bem pelo o que teria que limpar, desejou ótimo ano novo e puxou o carrinho do bebê para a porta do banheiro. – Anda Rose!

– Emmett... – o segui. Não para sentar-me a beira da banheira e mexer meus pés na água como se fosse um belo casal, mas demonstrá-lo que aquilo estava fora do limite para nós dois.

– Não comece a reclamar ok? – ele me avisou.

– Parece que preciso relembra-lo quem você e eu somos! – ralhei.

– Não precisa não. – ele riu. – Eu sou o Emmett e você é a Rosalie, e somos só isso aqui – falou me puxando para o colo. Involuntariamente o agarrei pelo pescoço e soltei um gritinho.

Ele não pareceu fazer esforço. Por mais que achasse que eu estivesse um ou dois quilos acima do peso, ele parecia não sentir a diferença. Ou se sentiu, disfarçou muito bem.

– Emmett, Emmett me solta – implorei.

Delicadamente ele colocou uma perna no vaso fechado e escorou minhas pernas na dele. Com a mão livre ele retirou meu sapato e dobrou minha calça. O olhei estática, como ele fazia isso sem nenhuma dificuldade? Era sobre-humano.

Meu sangue ferveu quando descobri a resposta. Emmett não era feio, muito menos mediano. Ele provavelmente despia muitas garotas todas as semanas. Tirar do caminho uma peça de roupa não era sua dificuldade. Meus olhos se fecharam. Tentei me acalmar, não podia sentir ódio. Afinal ele era meu chefe e nada mais. Nada mais, frisei.

Ele me sentou delicadamente na beira da banheira. Não tinha como sair de lá, não tinha como resistir a ele. Abriu a torneira devagar e tentou acertar uma ótima temperatura. Enquanto a água começava a ganhar volume ele tirava do caminho a calça e o sapato.

Pés masculinos... Nunca havia gostado de nenhum. Sempre tinham algum calo no dedão, ou joanete como quiserem chamar, ou dedos finos demais, ou até gordos demais. Mais Emmett não... seu pé não era estranho, pelo menos não esquisito o suficiente para se chamar de estranho. De fato era uma canoa aquele pé, mas de uma forma bonitinha. Os dedos nas medidas certas e até as unhas não estavam grandes. Dei uma risada baixa, nunca tinha reparado tanto em um pé que não fosse o meu. E nunca tinha reparado pra elogiar, sempre pra achar defeito.

– O que foi? – quis saber.

– Seu pé é gigante – eu ri novamente.

Ele olhou e até chegou a comparar com o meu. Maneou a cabeça concordando. O olhei com rabo de olho sorrindo. Ele me deu uma ombrada de leve e sorriu também. Colou sua perna a minha e fez meu pé se mover no mesmo ritmo que o dele.

Eu sorria quando senti seus dedos entrelaçarem aos meus. Estávamos de mãos dadas? Como isso era possível? E ao contrário do que sempre fazia, naquele momento estava sem vontade, ou talvez força, para repeli-lo. Eu queria aquele contato, queria que ficasse perto. Apenas sorri e ele fez o mesmo.

– Me conta algum segredo? – ele pediu.

– Mais segredos? – o olhei.

– É... sabe... – ele pareceu sem jeito de falar o que realmente estava pensando. Tomou ar e pareceu criar coragem – É que eu gostei daquela brincadeira do parque... eu me divertir muito...

– Eu também... – admiti.

– Se importaria se... – ele me olhou como se concluísse a frase assim.

– Não... com uma condição! – joguei.

– Qual? – ele perguntou contente. Seu olhar infantil ganhou lugar.

– Você começa!

– Ah essa é fácil... – ele riu. Pensou e me olhou. – sou fascinado por ursos.

– Mas essa é fácil demais... Mas é claro que é verdade! – ri.

– Como sabe?

– Sou mulher sabia? – o olhei rindo mais – reparo nas coisas. Reparo que tem uma família urso moldada em madeira na mesa do seu escritório.

– É o Zé Colmeia, a Cindy e o Catatau. – ele falou – eu adoro ver o desenho deles... – o olhei rindo ainda.

– Você só tem tamanho e cara feia mesmo – brinquei.

– A vida não deve ser vivida de forma tão séria... se não você fica sem diversão e ai? Cinza não é minha cor favorita. – gargalhei. Ele riu junto – Estou falando sério!

– Eu acredito em você. Johnny Bravo faz meu tipo. – segurei o riso.

– Mentira – ele gargalhou. Pareceu que tudo ao redor tremeu com aquilo, mas havia um pequeno que não pareceu se importar, continuou sua soneca no carrinho e nem se mexeu.

– Hey! Porque diz isso?! – o olhei.

– Segredo... Próxima! – ele pediu pensando no que falar.

Era incrível como tudo podia passar rápido ao lado dele. Ou aquela brincadeira nos distraia ou estar ali com ele fazia o tempo voar. Quando nos demos conta do tempo que estávamos ali caímos na gargalhada. Precisou de um pequeno choro cortar o ar para fazer que saíssemos da banheira onde a água já estava quase congelando.

– Eu o pego e você... – pensei – você pede a comida. – pisquei enxugando o meu pé no tapete rapidamente. – Oh meu benzinho, eu já vou – falei com voz extremamente infantil para acalmá-lo.

– Ele voltou a dormir? – ele perguntou sentado no tapete da sala com as embalagens de comida em cima da mesa e uma taças uma de cada lado.

– Você ainda não conhece a mágica que uma mamadeira cheia e uma frauda limpa fazem? – o olhei sorrindo – Que tipo de pai você é?! – indaguei.

– Um pai de primeira viagem que estaria mais perdido do que cego em tiroteio se não tivesse um anjo como você! – ele piscou para mim.

Suas mãos ágeis abriram uma garrafa que se parecia muito com vinho e derramou nas duas taças. Sentei-me perto dele olhando o movimento que fazia.

– Sabe que não estou bebendo por causa do remédio, certo?

– Por isso comprei suco de uva e não vinho – ele riu me dando a taça – bebe. – Beberiquei constatando que não mentia.

– Sabia que pedir comida sairia bem mais fácil desde o começo? – o olhei sob a taça.

– Sabia... Mas não tem graça. – ele julgou.

– E porque não? – perguntei.

– Porque achei que poderia me ensinar algo de útil – ele respondeu tranquilamente. – Amanhã faremos o café... e não quero saber de nada de reclamações. Panquecas, ovos e bacon abrirão o cardápio – avisou.

– Você nem comeu e já está pensando no amanhã? - levantei a sobrancelha.

Ele riu em resposta e colocou a comida nos pratos para nós dois. O jantar foi tão tranquilo e sereno. Nada nos atrapalhou. Era magico e especial. E de fato estava me sentindo na melhor festa de fim de ano da qual participei. Mesmo não sendo uma festa de verdade.

No final estávamos sentados no chão, escorados no sofá com as pernas esticadas sobre o tapete. Cada um com sua taça de suco e olhando para a televisão desligada.

– Sobre gostar do Johnny... – ele começou – é mentira... porque... – o olhei enquanto falava – porque você não gosta de caras burros e de vaidade ao extremo só uma basta na casa. Sei que gosta de cuidar da sua aparecia, mas já percebi que não gosta de egocentrismo...

– Só isso? – perguntei o encarando.

– Não... Você gosta de armários com pernas, mas não de loiros... – ele falou me olhando.

– E como afirma isso? – franzi os olhos o encarando –

– Porque você me ama – ele jogou. Meu coração parou até ele soltar um sorrisinho.

Os primeiros fogos cortaram o céu. Deus como passou rápido o tempo. Me preocupei com o ursinho dormindo em minha cama. Emmett me segurou pelo braço antes que levantasse. O olhei nos olhos doces e infantis me perdendo de vez.

– Feliz ano novo! – ele murmurou.

– Feliz ano novo... – respondi em voz baixa. Ele se levantou correndo e quando voltou estava com o filho nos braços. – Feliz ano novo pequeno – murmurei mexendo em sua mãozinha.

– Feliz – Emmett disse me olhando de canto.

Estávamos próximos de mais nesse ponto. Meu olhar não conseguia sair de sua boca. Escutava os fogos estourando lá fora, mas os que explodiam dentro de mim me desestabilizaram. Quando seus lábios tocaram os meus não soube como reagir.

Era difícil resistir.


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