O Humano escrita por AelitaLear


Capítulo 23
Capítulo 23- Julgado




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Era incrível, mas já fazia umas cinco horas que eu estava aqui, olhando para Peg dormindo. Olhando a calmaria de sua respiração, me garantindo que ela estava bem.

Era mais estranho ainda pensar no que Doc tinha me dito. Paixão. Estaria eu apaixonado por Peg?

Mas é claro que não, eu estava mais do que certo que ela era minha amiga, uma amiga linda? Sim... Mas mais do que isso?

Peg era uma alma, eu não poderia me apaixonar por ela, podia? Agora não dava mais para pensar nisso.

Ela gemeu, abriu os olhos mas não conseguia ver nada. Ainda deveria estar tonta por causa do remédio, dava para escutar o barulho de seu estômago, deveria estar com fome. Era um alívio ver que ela estava bem.

Será que eu estava apaixonado?

- Finalmente. – Murmurei. - Com fome?

Ela pensou nisso por um instante, depois fez um som de repulsa involuntário.

- Oh, esquece então. Desculpa, de novo. Nós tivemos que fazer. As pessoas ficaram todas… paranóicas quando te levamos lá para fora. – Falei.

- Está tudo bem. – Ela disse, altruísta como sempre.

- Quer um pouco de água? 

- Não.

Ela olhava meu quarto agora, tentava ver alguma coisa no teto. Talvez tentasse descobrir onde estava, aquele lugar não era um ambiente familiar a ela. Eu queria que fosse, queria que fosse o quarto dela.

Por que?

- Onde eu estou? – Perguntou.

- Seu quarto. – Eu disse.

Ela me procurou pela escuridão, tateava todos os lugares perto dela. Encontrou minha mão, e eu segurei firme antes que ela pudesse removê-la. Seu toque era reconfortante para mim, eu gostava de pegar sua mão.

- De quem é esse quarto realmente? – Ela insistiu.

- Seu.

- Ian...

- Costumava se nosso, meu e de Kyle. Kyle está no hospital até que as coisas fiquem decididas. Eu posso ficar com Wes.

- Eu não vou tomar o seu quarto. E o que você quer dizer com ‘até que as coisas fiquem decididas’?

- Eu te disse que haveria um tribunal.

- Quando?

- Por quê você quer saber?

- Por que se você vai continuar com isso, então eu tenho que estar lá. Para explicar.

- Para mentir. – Confrontei.

- Quando? – Perguntou novamente.

- Nas primeiras luzes do dia. Eu não vou te levar.

- Eu mesma me levo. Eu sei que sou capaz de andar... assim que minha cabeça parar de girar.

- Você iria mesmo, não é?

- Sim, não é justo que você não me deixe falar.

Suspirei, o que Peg não me pedia chorando que eu não fazia sorrindo? Ela era Peg. Soltei sua mão e lentamente me ergui, escutei minhas juntas estralarem.

- Eu voltarei logo. Você pode não estar com fome, mas eu estou faminto.

- Você teve uma longa noite.

- Tive.

Ela não podia saber que eu não dormi para ficar olhando para ela.

- Se amanhecer, eu não vou ficar aqui esperando você. – Ela disse e eu ri sem humor.

- Tenho certeza que isso é verdade. Então eu voltarei antes disso, e eu vou te ajudar a chegar onde você estiver indo.

Empurrei uma das portas da minha caverna, dei a volta e coloquei de volta no lugar. Meu estômago roncou de fome, eu precisava comer alguma coisa em breve.

Eu passei rapidamente pela grande sala, logo eu estava no refeitório. Dei uma olhada e uma cumprimentada rápida nas pessoas que estavam lá, peguei comida para dois, certamente ela ia ficar com fome mais tarde.

Ela não saia de minha mente...

Abri o armário com a esperança de achar alguma coisa melhor. Dessa vez tinha Cheettos para comer, e Peg merecia algo bem mais apetitoso além do pão fedorento. 

Não, ela não saia de minha mente.

Voltei com a comida, logo estava no corredor de dormitórios. Abri a minha porta, entrei e encontrei Peg, do mesmo jeito que eu a deixei.

- Sentindo-se melhor? – Perguntei enquanto me aproximava.

- Acho que sim. Eu não movi a cabeça ainda.

- Você acha que é você reagindo a morfina ou o corpo de Melanie?

- É a Mel. Ele reage mal a todo tipo de analgésico. Ela descobriu isso quando quebrou o pulso dez anos atrás.

Pensei nisso por um momento, fiquei imaginando como seria se eu estivesse no pé de Mel. Eu teria que lidar com duas pessoas, duas mentes, seria tudo muito estranho.

- É... estranho. Lidar com duas pessoas em uma.

- Estranho. – Concordou.

- Já está com fome?

- Eu pensei ter sentido cheiro de pão. Sim, eu acho que meu estômago já passou do pior momento. – Ela sorriu.

- Eu estava esperando que você dissesse isso.

Acomodei-me do seu lado no colchão, estávamos muito confortáveis. Tateei procurando sua mão, quando a achei, coloquei a forma. Ela pareceu reconhecer o material.

- Me ajuda levantar. – Ela pediu.

Pus os braços com cuidado em volta de seus ombros, a dobrei no meio para que ela não sentisse tanta dor nas costelas, tentei deixá-la o mais confortável possível.

- Obrigada. – Ela disse sem fôlego, depois perguntou. - As minhas costelas estão mesmo quebradas?

- Doc não tem certeza. Ele está fazendo o que pode.

- Ele tenta muito.

- É verdade. – Concordei.

- Eu me sinto mal... por não gostar dele antes. – Admitiu.

Eu ri.

- Claro que não gostava. É incrível que você consiga gostar de qualquer um de nós.

- Você está invertendo as coisas. – Ela murmurou e mordeu o pão.

Não pareceu nenhum pouco apetitoso aquele pão, ela iria gostar bem mais do Chettos.

- Não muito apetitoso, eu sei. – Comentei do pão.

- Só testando, para ver se a náusea realmente passou.

- Que tal algo mais atraente...?

Ela me olhou curiosa, na escuridão ainda não dava para ver o salgadinho. Abri o plástico para que ela sentisse o cheiro, ela pareceu bem surpresa quando percebeu.

- Cheetos! – Gritou feliz. - Sério? Para mim?

Peguei um pedacinho e coloquei em seus lábios, ela mordeu a delícia.

- Eu tenho sonhado com isso. – Suspirou.

Isso me fez rir, ela deve ter sofrido bastante antes de ter isso. Peguei o saco e coloquei em suas mãos, ela acabou com ele rapidamente, depois devorou o pão. Eu dei uma garrafa de água antes que ela pudesse pedir.

- Obrigada. Sabe, por mais do que o Cheetos. Por tudo.

- Não foi nada mesmo Peg.

Por mim eu faria bem mais por ela... Ela ficou encarando meus olhos por um momento. A manhã estava chegando e eu me lembrei do seu pedido de antes.

Tudo estava tão perfeito...

- Você tem certeza que quer fazer isso? – Perguntei, com as mãos estendidas para pegá-la.

- Você não precisa me carregar, minha perna está melhor. – Ela assentiu.

- Veremos.

Ajudei-a levantar, coloquei meus braços na sua cintura. Apoiei seus braços no meu pescoço.

- Cuidado, e então?

Ela deu um passo a frente comigo.

- Ok. Vamos.

Demorou um pouco de tempo para que nós dois chegássemos até a sala de jogos. Kyle já estava lá, com uma lâmpada em cima de sua cabeça, para iluminar.

Estava com seus braços abraçando as pernas, seu rosto rígido. Ele não olhou para cima quando eu entrei com Peg mancando. De um lado dele estava Jared, do outro Doc, eles se comportavam como guardas.

Jeb estava com a arma no ombro. Jamie também estava perto, e sorriu quando viu que Peg entrou. Sharon e Maggie também estavam, do outro lado. Eu levei Peg para outro canto, onde tinha muitas pessoas irreconhecíveis por causa da escuridão.

Estava um pouco cansado de ter que levar Peg, ela não era nenhum pouco incômodo, isso eu sabia. Eu gostava de ajudá-la, de tratá-la bem, mesmo assim, precisava colocá-la em algum lugar. A Sentei no chão e depois fui para o seu lado.

- Ouch. – Alguém murmurou, acho que foi Trudy. - Você parece aos cacos. – Ela disse a Peg. - O quão seriamente você está machucada?

- Eu estou bem. – Ela deu de ombros.

Mais pessoas chegaram depois, entre elas, Wes e Lily.

- Pronto, todo mundo está aqui. – Aaron disse. - Lucina vai ficar com as crianças. Ela não as quer aqui, ela disse para continuar sem ela.

Houve um pequeno momento de silêncio.

- Okay então. É assim que vai funcionar, na votação, a maioria decide. Como sempre se eu tiver algum problema com a decisão da maioria eu tomo a minha própria decisão por que essa... 

- É a minha casa. – Várias pessoas completaram. 

- Quem está falando contra Kyle? - Jeb perguntou.

Eu comecei a me levantar, Peg me segurou pelo cotovelo e exclamou.

- Não!

Livrei-me de sua mão e comecei a acusar, sabendo que ela mesma não faria isso.

- Isso é bem simples. Meu irmão foi avisado. Ele não tinha dúvidas sobre as regras de Jeb sobre isso. Peg faz parte da comunidade, as mesmas regras e proteções se aplicam a ela. Jeb disse para Kyle com clareza que sem ele não conseguisse viver com ela aqui, ele devia se mudar. Kyle decidiu ficar. Ele sabia então e sabe agora qual a penalidade para assassinato nesse lugar.

- A coisa ainda está viva. – Kyle protestou.

- Razão pela qual eu não estou pedindo sua morte. – Respondi. - Mas você não pode mais viver aqui. Não se é um assassino no coração.

Encarei ele por um momento, depois fui me sentar do lado de Peg. Não precisava perguntar, era claro que eu preferia Peg.

- Mas ele poderia ser pego e nós nunca saberíamos. - Brandt protestou. - Ele os trará para cá e nós não teríamos nenhum aviso.

Houve uma discussão por toda a sala.

- Eles nunca me pegarão vivo. – Kyle encarava Brandt.

- Então é uma sentença de morte de qualquer jeito. – Alguém falou.

- Você não pode garantir isso. – Andy falou ao mesmo tempo.

- Um de cada vez. - Jeb disse.

- Eu já sobrevivi lá fora antes. - Kyle disse irritado.

- É um risco. – Aaron disse.

- O que Kyle fez de errado? Nada! – Algum idiota disse.

- Minhas regras! – Jeb falou.

- Ela não é uma de nós. – Algum animal protestou.

Comecei a me levantar novamente, irado, mas Jared interrompeu.

- Hey! – Todos nós nos assustamos. - Peg não está em julgamento aqui. Alguém tem uma reclamação concreta contra ela, Peg? Então peça por outro tribunal. Mas nós todos sabemos que ela não feriu ninguém aqui. Na verdade ela salvou a vida dele. – Jared apontou para Kyle. - Segundos após ele ter tentado jogar ela no rio, ela arriscou a vida para impedir que ele tivesse a mesma morte dolorosa. Ela sabia que se ela o deixasse cair ela ficaria segura aqui. Mas salvou ele do mesmo jeito. Algum de vocês faria o mesmo? Resgatar o inimigo? Ele tentou matar ela e ela ao menos falará contra ele?

Todo mundo olhou para ela, Jared apontou.

- Você falará contra ele Peg?

Ela o encarou com os olhos arregalados, claro que ela não ia falar nada. Bem, não falaria nada que o prejudicasse pelo menos.

- Isso tudo é um mal entendido. – Peg murmurou. - Nós caímos quando o chão cedeu. Nada mais aconteceu.

Eu ri, sabia que ela mentiria para protegê-lo. Ela me cutucou com o cotovelo para que eu parasse, mas eu continuei. Jared também riu.

- Viu? Ela até tenta mentir em defesa dele.

- Tenta é a palavra certa. – Acrescentei.

- Quem disse que está mentindo? Quem pode provar isso? – A idiota da Maggie perguntou. - Quem pode provar que não é a verdade que soa tão falsa nos lábios da coisa?

- Mag... – Jeb começou.

- Cala a boca Jebediah. Eu estou falando. Não há razão para estarmos aqui. Nenhum humano foi atacado. Isso é perca do nosso tempo.

- Eu apoio isso. - Sharon acrescentou.

Doc a olhou magoado. Trudy levantou para falar.

- Nós não podemos acomodar um assassino e simplesmente esperar ele ter sucesso.

- Assassinato é um termo subjetivo. – Maggie continuou. - Eu só considero assassinato quando algo humano é morto.

Comecei a tremer de raiva, Kyle não era humano, era um animal, como ela! Puxa vida, era Peg, ela não merecia isso! Kyle tinha que ser julgado! Não ela!

- Humano também é um termo subjetivo Magnolia. – Jared disse. - Eu pensava que o termo englobava alguma compaixão, um pouco de piedade.

- Vamos votar. - Sharon disse. - Levante a mão quem acha que Kyle deve ficar aqui sem punição por causa do... mal entendido. – Ela lançou um olhar feio para mim.

Algumas pessoas começaram a erguer as mãos. Peg tentou erguer também, mas eu não deixei, fiz um som irritado.

- Dez... quinze... vinte... vinte e três. Okay, claramente a maioria. – Jeb contou.

Jamie caminhou para perto de Peg, colocou seus braços embaixo do meus.

- Talvez vocês almas estavam certos sobre nós. – Jamie disse. - A maioria não é melhor que...

- Shhh. – Peg fez para que ele se calasse.

- Okay! – Jeb disse. - Eu estou inclinado a ir com a maioria nisso.

- Jeb. – Eu e Jared dissemos simultaneamente.

- Minha casa, minhas regras. - Jeb nos lembrou. - Nunca se esqueçam disso. Então me ouça Kyle. E é melhor ouvir também Magnolia. Qualquer um que tentar machucar Peg de novo não vai receber um tribunal, vai receber um funeral. - Ele deu um tapa na arma para enfatizar.

Maggie o encarou com ódio, Kyle assentiu os termos.

- O julgamento acabou. Quem tá afim de uma partida?


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Notas finais do capítulo

Super Nota: Hey pessoal, posso tirar uma dúvida? Sabe a Lucina, ela é casada com quem?
Antes eu imaginei que o marido dela tinha sido pego... Mas como nasceu Liberdade?? Por auto-procriação que não foi!
Teoria da Gaby.... Tem uma das pessoas que morreu queimado vivo na fonte de água, certo? Será que esse ser foi o marido de Lucina?
Ou é o Aaron? Mas eles não moram juntos...
Omg, que dúvida cruel! Se alguém souber, pelamordedeus, me fala tah?
Bom, estou abrindo aqui um espaço para fanarts de TH em geral, sendo do Humano ou não... O que é fanarts? É quase a mesma coisa que fanfic, o “fic” no caso é colocado quando se trata de escrita... e o “art” são imagens, desenhos e etc.
Começamos com o meu, que é mais uma apresentação de personagem do que outra coisa... Mas enfim, fiquem a vontade para mandar seus fanarts por e-mail, vou colocá-los independente de como estiver...
Você pode pensar assim... mas eu só sei mexer com o paint... eu não ligo, para mim tem o mesmo valor, as vezes até valor maior... desde que seja feito com carinho...
Só peço para que mande no gabi_somera@hotmail.com. Vou colocar conforme eu recebo, e se houver um milagre e eu receber muitos (o que acho difícil), vou colocar dois, ou mais, de acordo com a ordem de chegada de e mail...
Se quiserem fazer trailers, nofá, que sonho^^ mas se quiserem fazer, façam que vou amar do mesmo jeito... A propósito, a Isa linda ta fazendo um trailer (ela é demais) e um fanart... Obrigada a todos pela atenção...