Novos Olhos escrita por Maybe Shine


Capítulo 5
Chove pipoca


Notas iniciais do capítulo

Talvez tenham ficado alguns errinhos, não reli muitas vezes. Espero que gostem, colquei o Logan de novo nesse capítulo, mas só porque eu gosto muuuuito dele, rs. ._.



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No outro dia a Suzana tentou conversar comigo, disse umas coisas bem parecidas com as que o Logan tinha falado, que todo mundo por ali se ajudava e que  ajudar não era nada ruim, porque todos precisam  de ajuda, pelo menos uma vez, não é? Concordei, mas só porque não queria que o pessoal todo se motivasse a ir falar comigo, e tentasse me convencer que ajudar é legal, você ganha uma estrelinha dourada caso faça isso direitinho.

O dia pareceu longo demais, e a única coisa que queria era que o carro da minha mãe surgisse logo no fim da rua e me levasse para casa. O sol se escondia atrás de todos aqueles árvores e casas que rodeavam a clinica, comecei a ficar com frio.

Alguém tocou meu ombro.

- Ah, é você – disse quando me virei e dei de cara com Logan.

Ele ficou me olhando, com aqueles olhos densos e o sorriso calmo no rosto.

- O pessoal vai no cinema, você não quer ir junto? – perguntou ele, passando o peso de uma perna para a outra.

Pensei em dizer que não gosto muito de cinema, porque não gosto mesmo. O da minha antiga cidade era pequeno demais, e as salas eram todas apertadas e nem pipoca eles tinham para vender. Cinema para mim tem que ter pipoca, porque se não tem, não tem a menor graça. Só que o Logan ficou insistindo e logo a Suzana apareceu. Eles disseram que não era nada disso, e que o daqui era espaçoso,  e tinha pipoca.

Acabei aceitando, mas só porque eles insistiram muito.

 

As pessoas nos olhavam como se nunca tivessem visto um pessoal como o nosso por ai. E quem sabe não tivessem visto mesmo. Quero dizer, não é nada típico essas coisas.

Só que  não tive tempo de ficar encabulada com todos aqueles olhares que as pessoas lançavam e achavam que a gente não percebia,  porque o Duda estava lá.

Fico pensando que quando se esta com o Duda, ninguém realmente lembra de coisas chatas como olhares atravessados de pessoas estúpidas.

O Duda é um garoto muito legal, quem convive com ele sabe disso, e logo que o conheci soube disso também.

- Acredite, poderia ser bem pior – foi a primeira coisa que ele disse, quando nos encontramos.

Olhei bem para ele e não vi nada de errado.

- Não viu nada de errado comigo, não é?

- Não – murmurei envergonhada.

- Pois ai esta o problema – risadinhas –eu não vejo também, quase nada.

Depois consegui entender. A Suzana disse que o Duda tinha uma doença rara, de nome estranho, que fazia com que sua visão fosse se perdendo aos poucos.

Achei isso muito triste, e cheguei a sentir um pouco de pena. Mas quando estávamos no cinema o Duda deu umas gargalhadas e disse que ninguém precisava se preocupar, ele não iria conseguir ver o filme mais tinha outras coisas para fazer durante os 120 minutos.

Ele ficou comendo pipoca. E atirando pipoca em nossas cabeças.

- Não se incomode com ele – murmurou Logan depois que uma chuva de pipocas caiu sobre nós – o Duda é hiperativo, nem tem muito o que se  fazer.

O Logan não disse isso como se fosse uma coisa ruim, mas com calma, assim como alguém comenta que acha que vai chover o dia inteirinho. Fiquei preocupada, quero dizer, quem é hiperativo e não consegue ver direito deve se machucar direto.

Durante o filme, alem da ocasional chuva de pipoca, vieram vários sussurros.

 Logan aproximava seu rosto do meu e falava bem baixinho. Dizia que era bem coisa desse diretor enrolar  mais que o necessário e que tal ator estava melhor em tal filme, e eu só concordava, dizendo que achava a cara do roteirista fazer esse tipo de coisa, só que eu nem sabia qual era o roteirista do filme que assistíamos porque não sou tão ligada em cinema quanto ele parecia ser.

Mas também não quis parecer mais idiota do que já pareço quando estou de boca fechada.

 

- Certo povo, quem vai comigo? – perguntou a Lily depois que saímos da sala de cinema.

- Eu vou – anunciou Suzana indo parar atrás de Lily para ajudá-la com a cadeira de rodas.

Enquanto o Duda anunciava que também iria e eu já ia dizendo que aproveitaria a carona, Logan segurou de leve meu braço e perguntou se não seria bem legal a gente ir, sei lá, jantar em algum lugar?

Senti uma coisa bem no fundo do estomago que foi subindo, indo pelo meu pescoço e fazendo com que minhas bochechas começassem a esquentar. Droga de bochechas! Mas o pior nem era isso. Eram minhas orelhas que de repente começaram a pegar fogo.

- E aí? – perguntou o Logan com um sorriso divertido no rosto.

- Claro, vai ser legal –respondi, e o sorriso dele cresceu.

Apenas para ajudar meu rosto a não perder o tom avermelhada, Duda ficou dizendo umas coisas em tom de deboche,  fazendo uns comentários que tenho até vergonha de repetir.

Enquanto me encolhia e ficava morrendo de vergonha com as piadinhas, o Logan não estava dando a mínima, ou pelo menos parecia não estar, porque riu e nem desmentiu o que Duda disse.

Os garotos são muito desligados, cheguei a conclusão, ou não estão nem aí para os comentários do amigo hiperativo deles.

 

Fiquei meio quieta quando encontramos uma mesa vazia na lanchonete ao lado do cinema. Foi só mais ou menos quando a batata frita chegou que comecei a falar. E quando começo é difícil fazer parar. Deve ser assim com todo mundo que é meio tímido. Você da um empurrãozinho, ou  simplesmente comenta como a batata frita esta gostosa e pimba! a pessoa desatina a falar e não para mais por medo da timidez interromper e estragar tudo.

Ou pelo menos é assim para mim.

- É uma coisa muito chata – eu estava dizendo –  não conseguirmos fazer as coisas que conseguíamos fazer antes.

O Logan fez que sim com a cabeça, balançando um pouco o cabelo em excesso que tinha.

- Eu sei, Alex.

- Sabe? – percebi na mesma hora que aquela era uma pergunta muito idiota. Era claro que ele sabia! – quero dizer, eu sei que você sabe, mas... hã.

- Sei bem como é – ele respondeu mesmo assim, baixando os olhos em direção ao braço e deixando o sorriso escapar – mas nem é a parte mais difícil.

- E qual é? – perguntei  indecisa por não saber se esse era um assunto  bom para se falar enquanto estávamos nos divertindo devorando hambúrgueres.

- Acho que é ver que não é só a gente que mudou – ele disse,e tinha um traço de tristeza em sua voz – Toda a minha família passou a me tratar de um jeito diferente, mas ficam me dizendo que o que aconteceu não me torna diferente.

- Minha mãe nunca mais brigou comigo, depois do que aconteceu – disse, feito uma idiota.

- Minha mãe ficou triste. Ela diz que é culpada, que ter acontecido o que aconteceu é apenas culpa dela, mas não é nada disso.

Ele acabou me contando que era difícil para a mãe dele entender, porque ela estava dirigindo o carro na hora do acidente. Mesmo que o culpado fosse o cara do outro carro, a mãe dele se culpava sempre, e por isso vivia assim. Triste.

Naquela hora senti que nosso encontro começava a se encher de manchas. Elas eram vermelhas. Logan me olhou, depois de parar de falar, os olhos dele sempre tão escuros e densos agora pareciam aguados.

Coloquei minha mão sobre a mesa e a deslizei  em direção ao braço de Logan, que andava por ali esquecido. O apertei de leve.


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Notas finais do capítulo

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