Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 7
Capítulo 6 As aparências enganam


Notas iniciais do capítulo

Uma paragem no caminho pode dar origem a uma tragédia eminente...



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Capítulo 6: As aparências enganam

3 Semanas depois…

Numa das vertentes da Ilha de São Tomé, um navio de velas negras ancorava sobre o mar calmo. Dois botes navegaram até à costa sob o sol abrasador.

- Nossa, este deve ser o local mais quente do Mundo! – Grace exclamou abanando um leque meio rasgado, cheio de rendas.

- Este é um país tropical. O clima costuma ser bastante húmido. – Alicia disse.

Barbossa observou a costa através do binóculo. Tinham ancorado na parte contrária à capital da ilha. Como colónia portuguesa, todo o cuidado era pouco para evitar os navios do Reino.

- Esta parte da ilha é a mais inóspita. No entanto, seguindo um trilho pela montanha pode-se chegar a uma das localidades. – Barbossa encolheu o binóculo. – Grace, Alicia vocês irão com Pintel e Raguetti até lá. Não convém eu me misturar muito. Afinal tenho a cabeça a prémio.

- E eu? – Darius, que seguia no mesmo bote, sentiu que estava sendo posto de lado. Sabia que era um forasteiro, mas detestava não lhe darem utilidade. Podia não ser pirata, mas era um óptimo marinheiro.

- Você ficará comigo. – Barbossa disse.

Os piratas desembarcaram na praia de areia escura. Lara tinha vindo noutro bote juntamente com Jack, Cotton, Gibbs e Mary, que se encontrava no seu colo.

- Jack, acho melhor darmos uma vista de olhos por estas bandas. – Barbossa disse. – As mulheres são as indicadas para irem à vila.

- Não me apetecia deixar Lara e Mary lá sozinhas. – Jack olhou para as duas. Mary debatia-se para chegar ao chão para desespero de Lara.

- A Alicia e a Grace também vão e mandei os dois… - Barbossa apontou para os dois piratas inseparáveis. - … irem junto.

- Será boa ideia? – Jack torceu o nariz. – Eles não conseguem disfarçar a verdadeira profissão!

- Mas aparecermos é arriscar demais. – Barbossa disse.

- Porquê? As autoridades portuguesas procuram-vos? – Lara aproximou-se.

- A mim particularmente. – Barbossa disse solenemente. – Já devia ter percebido pelo meu nome que não sou inglês ou francês.

- Pensei que fosse espanhol. – Lara observou.

- Mãe portuguesa, pai espanhol. – Barbossa disse.

- Mas se é assim o Jack pode ir, não é? – Lara sorriu para Jack, mas este arregalou os olhos.

- Digamos que… - Jack ficou escorregadio e tentou disfarçar. - … não sou muito bem-vindo lá.

Lara semicerrou os olhos. Quando Jack não queria entrar em algum lado, ou então fugia como o diabo da cruz era porque se tinha metido em confusões da última vez que lá esteve.

- Sei… - Lara disse sarcástica. – Sendo assim acho que deveríamos levar o Cotton. Ele é bastante simpático e ninguém notará que ele é um pirata!

- Pelo menos não fala. – Jack observou. – Acho boa ideia.

- E vamos atravessar aquele trilho só com o Cotton? – Alicia ouviu a última parte e ficou aterrorizada com a ideia. O caminho subia por entre umas rochas e desaparecia por uma densa floresta.

- Eu posso ir. – Darius apanhou-os de surpresa. – Não sou pirata, não há mal nenhum!

- NÃO! – Jack berrou sobressaltando os outros e deixando Darius com cara de palerma. – Quer dizer, você não é um pirata. Não sabe sair de uma situação de perigo e o mais certo é ir atrás de algum rabo de saia conquistado pelos seus dentes de tubarão e deixá-las sozinhas!

- Jack! – Lara exclamou. – Primeiro, tanto eu como a Alicia somos óptimas piratas e sabemos nos defender. – Lara apontou para a espada e pistola. – Segundo, que eu saiba tenho de virar-te a cara mil e uma vezes sempre que vês alguma vassoura de saia!

- Love, também não é preciso. – Jack sentiu como se tivesse levado uma bofetada.

- O senhor Darius vai connosco. É jovem, de confiança e já mostrou ser óptimo na espada. – Lara fincou o pé. – Anda Mary. – Pegou na filha e virou costas a Jack depois de o olhar com um ar de reprovação.

- Começo a ter vontade de mandar aquele atrevido pela prancha fora. – Jack disse entre dentes, enquanto observava as mulheres e os dois homens subirem o trilho.

- Jack, ele tem sido bastante útil. Lembra-te que se não fosse ele, a Mary teria caído à água, na semana passada. – Barbossa disse.

- Ora, ela nem sequer estava em perigo. – Jack resmungou. – Ele pode ser muito útil mas que mantenha os olhos noutra direcção que não a Lara!


A floresta era bastante húmida e passado pouco tempo era como se tivessem levado com um banho.

- Ups! – Lara escorregou numa das pedras do caminho e Darius agarrou-a pela cintura antes que se espalhasse. – Obrigado.

- Sempre às ordens. – o marinheiro sorriu e Lara ficou sem jeito. Deu graças de Jack não estar ali naquele momento, ou poderia ter perdido as estribeiras.

Olhou para Mary que seguia às cavalitas do pobre Cotton. Mary era uma sortuda. Na ausência dos avôs de sangue, Barbossa e Cotton encaixavam perfeitamente nesse papel. Eram os mais velhos a bordo do Pearl e Mary adorava-os. Aliás, toda a tripulação adorava aquela menina. Lara podia dizer que estava rodeada dos melhores piratas do mundo e os mais leais. Esse era um dos benefícios de haver dois capitães. Sentia-se triste por não estar com os seus pais há cinco anos. Continuava a receber as cartas por intermédio de Hermes. Mary só conhecia os avós maternos pelas cartas que Lara lhe lia e por algumas fotografias que estes mandavam. Jack achava horrorosa essa modernice. Dizia que fazia as pessoas mais gordas. O casal Stevens por seu lado, só conhecia a neta pelo retrato que Lara mandou fazer em Tortuga. Tinha Mary seis meses. Quanto ao pai de Jack… Lara nada sabia do Capitão Teague Sparrow, a não ser que este era o guardião do código na Enseada dos Náufragos. Por algum motivo, Jack recusava-se a lá ir.

- A sua filha trata-os como avós, certo? – Darius acordou Lara e esta surpreendeu-se por este ter exactamente os mesmos pensamentos.

- É, a Mary adora o Barbossa e as histórias fantásticas que este conta. – Lara riu. Barbossa tinha um jeito inato para contador de histórias. – Já Cotton é o outro avô que deixa Mary fazer-lhe tudo.

- Aposto que a avó emprestada é Grace. – Darius riu e Lara acenou com a cabeça. – Deve ter muitas saudades da sua família. Pelo menos dá mais a entender do que Alicia.

Lara olhou Darius pelo canto do olho. Desde a conversa que tinham tido até ali, poucas palavras trocou com ele. Sabia que Jack não gostava, mas sabia que eram só ciúmes. Para si, Darius tentava apenas ser simpático. Alicia não ia muito com a cara dele, mas acabou por contar toda a história da sua vida deixando Darius completamente abismado.

- Digamos que ela não era tão ligada à família como eu. – Lara olhou para o chão e viu que a floresta começava a diminuir de tamanho, terminando numa estrada em terra, onde se podiam ver as casas à beira-mar. – Chegamos.

A vila fazia lembrar uma Tortuga mais pequena e por conseguinte mais limpa. Lara pegou em Mary Rose ao colo e caminhou ao lado de Alicia e Grace. Não viram ninguém até chegarem ao pequeno largo. Galinhas andavam à solta, as pessoas passavam atarefadas com grandes cestos na cabeça ou enfiados no braço. Um pequeno mercado estava instalado. Grace acorreu até lá.

- Quando for para comprar carne diz. – Alicia avisou com cara de enjoo. Nunca na vida conseguiu entrar num talho, quanto mais estar perto daquelas tendas que exibiam as peças de carne ao sol.

Enquanto Grace ficava com Cotton no mercado, Lara desceu com os restantes até à pequena baía. Viam-se alguns barcos de pesca, mas nada de navios de maior porte.

- Teremos de partir de noite. – Lara disse. – O facto de não se ver guardas, não quer dizer que estes não estejam na capital.

Notou que do seu lado esquerdo existia uma ferraria, com algumas espadas penduradas à porta. Olhou para a sua. Estava em bom estado e tinha uma grande maleabilidade.

- Onde está a sua espada? – Lara perguntou para Darius e este mostrou-a. Era bastante antiga. – Precisa de outra. Essa já não está em muitas condições.

- Irei fazer isso, logo que tenha dinheiro. – Darius sorriu e Lara retribuiu fazendo sinal para que a seguisse e pedindo a Alicia para que ficasse com Mary.

Os dois entraram na pequena casa. Lara lembrou-se de Will. Afinal este era ferreiro de profissão antes de se tornar num pirata. O barulho de ferro sendo martelado ecoou pelos seus ouvidos.

- Bom dia. – Lara cumprimentou um homem alto, pondo-se em bicos de pé e acenando. O homem parou o seu trabalho e olhou os dois estranhos.

- Em que vos posso ser útil? – o ferreiro perguntou com voz dura e sotaque português.

- Estamos precisando de uma espada nova. – Lara disse. – Quais são as melhores que aí tem?

- Está louca? – Darius puxou a manga desta. – Não preciso que gastem tanto dinheiro comigo!

- Imagine. Afinal iremos passar inúmeros perigos a partir de agora e você precisa de se defender se quiser voltar a ver a sua ilha querida!

O ferreiro pegou em três espadas e passou uma a Darius e outra a Lara. Ambos as testaram, fazendo movimentos no ar.

- São ambas muito boas. Fáceis de manejar. – o ferreiro explicou. – A única diferença está nos punhos.

Lara rodou a espada e sem querer embateu na de Darius. Este travou-a com bastante agilidade.

- Tem bons reflexos! – Darius elogiou.

- No entanto, se procuram máxima qualidade aqui têm. – o ferreiro desembainhou uma nova espada. – O ferro é do melhor que há para quem quiser algo bem… afiado.

Lara e Darius exclamaram um "Oh" de espanto. A espada era realmente bastante bonita.

- Que mal lhes pergunte… - o ferreiro disse. - … mas porque é que precisam de uma espada tão boa?

-Nós… - Darius olhou para Lara mas esta também não sabia o que havia de responder. -… não somos de cá.

- Isso já reparei. Conheço muitos viajantes que por aqui passam. Vieram de São Tomé?

- Sim. Temos o nosso navio lá ancorado. Somos comerciantes. – Lara disse apressadamente.

- Oh… - o ferreiro virou costas. - … entendo. Com tantos piratas e malfeitores por aí, todo o cuidado é pouco.

- Pois. Quanto custa a espada? – Darius pegou numa das primeiras. O ferreiro ditou o preço e Lara pagou com dinheiro espanhol.

- Parece que ele não ficou lá muito convencido. – Darius disse, depois de saírem da loja.

- Nos meios pequenos todos se conhecem. Até pode ser um santo, mas se vier de fora todos o olham de lado. – Lara disse.

- Obrigado… pelo presente. – Darius sorriu e apontou para a espada.

- Não é preciso agradecer. Espero que seja uma maneira de pedir desculpa pelo comportamento da Alicia e do Jack. – Lara baixou os olhos. Darius era tão simpático e não gostava de o ver ser espezinhado pelos outros.

- Eu compreendo. O Capitão Sparrow está casado com a mulher mais bela que já vi na minha vida. – Darius olhou Lara intensamente e esta engasgou-se. Não sabia o que dizer, mas a conversa ficou suspensa quando Alicia apareceu aos gritos.

- LARA… - esta surgiu a correr debulhada em lágrimas. - … por favor perdoa-me!

- Alicia o que aconteceu? – Lara amparou esta sem perceber.

- Eu só olhei para o lado durante um segundo e… - Alicia abafou o choro.

- Onde… - Lara percebeu tudo. -… está a Mary? – a sua voz tremia enquanto sentia as pernas tremerem e a voz sumir.

- Ela… - Alicia respirou fundo mas não conteve as lágrimas. - … queria ir para ao pé do pai e eu disse que espera-se até voltares. Aí eu estava brincando com ela e olhei para o lado e quando vi ela tinha desaparecido. Por favor…

- DESAPARECEU? – Lara colocou as mãos na cabeça e correu em todas as direcções. – Como é que ela desapareceu sem ninguém ver? Ninguém se evapora no ar!

- Eu já perguntei a várias pessoas. Corri até à praça, até outros sítios mas ninguém a viu. – Alicia chorava tanto ou mais que Lara.

- Lara, o melhor é procurar com calma, talvez esteja com outras crianças… - Darius tentou dar ânimo.

- CALMA? É A MINHA FILHA! – Lara berrou. Correu pelas ruas sendo seguida por Alicia e Darius, chamando o nome de Mary Rose. Grace e Cotton juntaram-se depois. Separados ou juntos, percorreram a pequena vila até ficarem a saber que dois aldeões viram uma menina pequena entrando na densa floresta.

- Ela foi ter com o Jack, só pode! – Lara seguiu para o mesmo trilho em direcção ao Pearl.

- Lara, não sabemos se ela seguiu por aqui, ou se embrenhou pela floresta. – Darius agarrou o seu braço e fez Lara voltar-se para si.

- O que quer dizer? – Lara arregalou os olhos.

- Devemos separarmo-nos. – Darius aconselhou. – Vocês devem voltar para a beira deles e seguir pelo trilho. Talvez ela até tenha alcançado o Jack. Mas pelo seguro eu e Cotton iremos patrulhar esta área. – Disse olhando para Cotton que assentiu com a cabeça.

- Eu vou consigo. – Lara disse como se fosse uma ordem. – Eu só volto com a minha filha nos braços.

Darius não discutiu. Afinal Lara era a mãe e tinha todo o direito de procurar por Mary. Alicia também queria ir mas Lara ordenou com firmeza que esta voltasse com Grace.

- Cotton vai com elas. – Lara disse. - Eu sei me virar sozinha.

O fiel marujo assentiu e Grace arrastou Alicia com ela.


Jack olhava a areia de modo distante. Barbossa observava o horizonte.

- Eles já deviam ter voltado. – Jack disse secamente.

- Ora, se regressassem já era sinal que não traziam nada. – Barbossa disse, enquanto observava Pintel e Raguetti carregarem o bote com barris de água potável. Era visível o desânimo nas suas caras. Afinal sempre era muito melhor rum, do ponto de vista destes. Mas Barbossa tinha ordenado que só abasteceriam de rum em Madagáscar, já que era um porto mais seguro para piratas.

- Jack, parece que não vêm aí boas notícias. – Gibbs aparecem correndo e Jack levantou-se de imediato dando de caras com Alicia, Cotton e Grace.

- Hector, a minha pequena desapareceu! – Grace agarrou-se a este em prantos. – Temos de procurá-la.

- Como…assim… - Jack ficou sem perceber. - … onde está a Mary? A Lara? Onde está aquele pomposo?

- A Mary decidiu fazer das suas. Desapareceu num piscar de olhos. – Alicia disse tentando se manter calma. – Nós achamos que ela veio atrás de ti.

- Aqui é que ela não está! – Jack arregalou mais os olhos. – E como é que raio se perde uma criança de cinco anos!

- Ela devia se ter perdido na floresta. – Barbossa disse. – Vocês três venham connosco. Gibbs fica guardando os botes. Jack, nós vamos encontrar a pequena Mary. De certeza que se escondeu por aí.

- Calmo? – Jack virou lentamente a cabeça para este. – Calmo? – Repetiu. – A MINHA FILHA FUGIU E TU QUERES QUE EU FIQUE CALMO?

- A Lara e o Darius já foram atrás dela. – Alicia disse, voltando de novo ao trilho. – É melhor irmos também.

- A Lara e o Darius? – Jack ficou em choque e olhou para Barbossa. – A MINHA FILHA FUGIU, A MINHA MULHER ANDA AÍ COM UM PREDADOR CHEIO DE DENTES E TU QUERES QUE EU FIQUE CALMO! – Jack sacou a pistola e correu que nem um louco no seu andar afectado com ar esgazeado.


- MARY! – Lara exclamou pela trigésima vez, o desespero tomando conta si. – Vou ter de pôr uma trela naquela traquina!

- Ela vai aparecer. – Darius disse, escutando atentamente os barulhos da floresta, como se isso fosse a chave para o mistério.

- Como é que tens tanta certeza? – Lara perguntou.

Darius não respondeu e olhou fixamente para um sítio. Fez sinal para que Lara não se mexe-se e sacou da espada. Andou devagar até chegar atrás de uma árvore e desaparecer.

- Darius? – Lara chamou baixo e aproximou-se. Deparou-se com Darius elevando a espada e espetá-la no chão. Quando olhou melhor um grito assolou a sua garganta. Mary estava estendida no chão, desacordada.

- O QUE É QUE VOCÊ FEZ SEU MONSTRO? – Lara gritou correndo para junto da filha.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Novo capítulo. Será que Mary morreu?

Obrigada pela review JaneR!

Espero que gostem!!! Saudações Piratas!!!

JODIVISE



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