Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 27
Capítulo 26 Dor


Notas iniciais do capítulo

Lara beijou Darius. Tudo o que receava aconteceu. Será que Jack notou algo entre os dois?



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Capítulo 26: Dor

Lara engoliu em seco e sentiu os seus olhos embaciarem sem explicação.

- Mamã! – Mary exclamou, soltando a mão de Alicia e correndo para Lara.

- Oh minha filha. – Lara abraçou-a e levantou-se. – Está tudo bem. Não precisas ter medo. Eu não vou desaparecer mais.

- Vê lá se começas a ver onde colocas os pés. – Alicia avisou abraçando a amiga. Lara sorriu e olhou nos olhos de Alicia. O seu coração foi ao chão. Alicia sabia de tudo. Mas isso não a surpreendia. Afinal sendo amigas de infância, sabiam todas as emoções uma da outra apenas com o olhar. Mas se Alicia tinha notado, será que… Lara engoliu em seco e abraçou Jack.

- Como é que conseguiste tirar-me dali? – Lara sorriu abertamente, mas Jack continuava imóvel e frio. O seu olhar negro estava pregado em Darius.

- No túnel que decidimos seguir, havia uma entrada. Foi aí que reparamos na alavanca. – Barbossa explicou.

Lara olhou o engenho e viu que era a cabeça de um tigre.

- Ainda bem. Dá-me a impressão que vocês já estavam… a sufocar lá dentro! – Jack exclamou e Lara engoliu em seco.

- É, um buraco escuro não é muito agradável. – Darius disse e Lara viu que este estava a tentar abafar o assunto. – Mas ainda bem que ninguém se magoou.

- É mesmo. – Jack arregalou os olhos. – O que não quer dizer que daqui adiante alguém não morra. Comido por um tigre. Mordido por uma cobra. Sufocado num sarcófago. Trespassado por uma lança ou afogado num poço.

- Credo Jack. Com um chama desgraças como tu, não se precisa de inimigos. – Alicia resmungou.

- É melhor continuarmos o caminho. – Bootstrap aconselhou.

- Boa ideia. – Jack largou Lara quando esta o ia beijar.

- Ele está tão… frio. – Lara disse, tentando engolir a dor e a culpa. – Parece que não ficou contente de me ver.

- Claro que ficou. Não ficou, foi felicíssimo de te ver em cima dele. – Alicia sussurrou, apontando para Darius que seguia à frente.

- Como assim? A parede onde estávamos apoiados, abriu-se, caímos e desculpa, mais vale ter caído em cima dele do que partir a cara no chão! – Lara exclamou sussurrando.

- Lara… - Alicia disse. – Está chapado na tua testa que algo aconteceu lá.

- O quê? – Lara arregalou os olhos em pânico.

- Ok, exagerei. – Alicia disse. – Mas eu conheço-te. A cara que tu estavas quando caíste. O sorriso do Darius e o teu e depois as vossas caras olhando o Jack.

- Impressão tua, Alicia. – Lara disse querendo parecer natural. – Nada aconteceu nem haveria motivo para isso.

Lara olhou a sua filha colada a Jack. Este ia à frente e recusava-se a olhar para si. Alicia estava um autêntico poço de desconfiança e Darius… Lara amarrou o cabelo, com vontade de se jogar dum penhasco. Tinha uma família linda. Meia doida mas linda. Um marido que era o desejo de qualquer mulher e inexplicavelmente deu consigo colada a outro que embora não fosse de se deitar fora, sabia que não sentia nada por ele. Sentiu uma dor no peito tão grande que quase desmaiou, mas não queria parecer fraca. Não agora. Jurou que diria tudo a Jack quando encontrassem o Olho-de-Tigre, mas até lá faria de conta que nada se tinha passado.


O túnel escuro era iluminado pela luz intermitente do fogo. Um grupo de pessoas caminhava lentamente, o silêncio era pesado e a sensação de medo era constante.

- Será que este túnel é o certo? – Elizabeth perguntou.

- Nenhumas das opções aliviam. – Thomas disse. – Se este for o certo, os outros…

Elizabeth engoliu em seco quando vislumbrou a hipótese.

- É claro que se porventura, o túnel deles for o certo, seremos nós que… - James disse.

- Querem parar? – Elizabeth colocou as mãos no ar. – Parecem dois urubus.

- O que foi isto? – Raguetti parou no meio do caminho. – Vocês não ouviram?

- Deixa-te de coisas seu palerma. – Pintel resmungou. Ao virar-se deu de trombas com um pequeno animal pendurado no tecto baixo. – Oh, medo de um morcego?

Pintel riu e pegou no morcego que soltou gritos estridentes.

- Ah parem com isso! – Thomas exclamou, rolando os olhos.

- Não devias fazer isso. – Raguetti aconselhou.

- Porquê? A família dele vai-se vingar? – Pintel perguntou rindo-se. No mesmo instante, um bater de asas e guinchos fez-se ouvir.

- Abaixem-se! – James exclamou, quando centenas de morcegos passaram a voar.

- AI A MINHA CABEÇA! – Pintel berrou, quando os animais passaram rente, arranhando-o.

- Eu bem avisei, careca teimoso! – Raguetti exclamou, tentando-se livrar dos mamíferos voadores.

- Melhor continuarmos daqui para a frente de boca fechada. – Thomas resmungou.

- Tu não és nosso capitão! – Pintel deixou assente.

- Mas eu sou Rainha dos Piratas! – Elizabeth exclamou. – Agora calem-se antes que vos corte as cabeças.

Os dois piratas encolheram-se e limitaram-se a seguir os restantes sempre praguejando sozinhos.

- Nunca pensei que tivesse coragem para isso. – James falou.

- Foi da boca para fora. Sou pirata, não um monstro. – Elizabeth sorriu. – Mas às vezes é preciso colocar ordem na casa.

- Porque parou? – James perguntou ao ver Thomas estático.

- Estou com um pressentimento ruim. – Thomas disse.

- Pensei que só a Lara fosse perita nisso. – Elizabeth bufou. – Oh, porque é que o chão tem desenhado pequenos círculos?

- NÃO! – James e Thomas agarraram Elizabeth, antes que esta pusesse a mão sobre um dos círculos.

- O que há de errado? – Elizabeth recuou assustada.

- Observa. – James pegou numa pedra e lançou-a para o meio dos círculos. No mesmo segundo, várias lâminas surgiram do chão.

- É preciso ter cuidado onde põe os pés. – Thomas avisou. – Contornem muito lentamente as lâminas.

- Isto está a ficar demasiado perigoso. – Elizabeth falou, tentando parecer calma.


Lara colocou-se ao lado de Jack e por um momento nem um nem outro falaram.

- É melhor pegar a Mary no colo. O solo está cheio de bichos estranhos. – Lara recomendou.

- Não! – Mary exclamou e correu, pegando a mão de Alicia.

- Menina teimosa. – Lara bufou.

- Oh, ela sai aos seus! – Jack exclamou. – A teimosia pode ser algo bom e mau, dependendo de como é utilizada.

- Pois. Fala o teimoso por si. – Lara sorriu, mas Jack continuava sério.

- Mais vale ser teimoso do que mentiroso. – Jack disse e Lara captou a indirecta.

- Jack… Ai! – Lara exclamou quando tropeçou. Jack e Darius ampararam-na e Lara sentiu uma grande tempestade se formando. – Eu estou bem. Podem me largar.

- Tenha cuidado ou ainda se magoa. – Darius recomendou.

- Tire… as… patas… de… cima… da… minha… MULHER! – Jack exclamou puxando Lara para si.

Todos estancaram vendo a cena. Jack Sparrow nunca se envolvia em pancadaria, aliás fugia sempre que possível. Era como se os problemas corressem atrás dele e ele corresse à frente. Mas desta vez, até Barbossa estava de olhos arregalados.

- Eu só a ajudei. – Darius disse quase num tom de desculpa.

- Oh, mas não era preciso! Eu já estava segurando e quando assim for e desde que a Lara não esteja numa situação de vida ou morte sem ninguém por perto a não ser você… fique longe dela, seu parasita grego! – Jack ameaçou. – Estão olhando para onde?

Jack passou à frente e Barbossa mandou os outros seguir.

- Talvez fosse melhor voltar para trás, ou ainda vai provocar uma guerra aqui no meio. – Alicia aconselhou.

- Mesmo que o quisesse não posso. – Darius disse, olhando para Lara que engoliu em seco e continuando a caminhada.

- Mas afinal o que é que se passou há bocado? – Alicia perguntou em tom baixo. – Eu nunca vi o Jack assim, Lara.

- Tudo se vai resolver… eu acho. – Lara continuou.

A verdade é que fora sempre ela a mais ciumenta. Jack era um mulherengo irreparável e mesmo sendo fiel, Lara detestava as mulheres que o rodeavam e olhavam quando paravam em qualquer porto. Já Jack, só tivera ciúmes de Thomas e mesmo assim não se comparavam à magnitude daqueles que sentia por Darius. Desde que aquele homem tinha entrado no Pearl, Jack reparava na maneira que este olhava para Lara. Detestava a sua simpatia, a sua disposição. Concluindo, detestava tudo naquele homem. E embora soubesse que Lara o amava incondicionalmente, que fora capaz de deixar o seu mundo para trás para ficar consigo, o medo que sentia por esta ter ficado sozinha com Darius era indescritível. Quando abriu a armadilha e viu esta cair em cima de Darius e ambos sorrirem cumplíces, o medo tinha se transformado numa incerteza descomunal e numa raiva incontrolável.

- Há uma luz ao fundo. – Barbossa disse.

Uma luz alaranjada sobressaía anunciando o fim do túnel. Todos desembainharam as espadas e pistolas, menos Mary que se tentava libertar de Lara e Alicia.

- Não senhora. Tu ficas aqui comigo. – Lara disse e Mary cruzou os braços emburrada.

Bootstrap foi na frente e espreitou, deixando os outros numa expectativa crescente.

- Podem vir. – Bootstrap comunicou.

Alicia abriu a boca até ao chão. O que se apresentava à frente deles era um espaço enorme. Fazia lembrar um rio subterrâneo, mas em vez de água, um líquido laranja fogo corria lentamente.

- Aquilo é… - Alicia engoliu em seco.

- Lava. – Lara completou. Contrastando com o fogo líquido, pequenos rasgos de negro pintavam o cenário.

- Há uma entrada do outro lado. – Barbossa apontou para um outro túnel.

- Oh mas para lá chegar é preciso ter asas! – Jack exclamou olhando as pequenas bolhas que se formavam na lava e o calor que irradiava.

- Existe um caminho. – Darius caminhou até uma plataforma e seguiu com o olhar um trilho estreito de plataformas que davam acesso à outra margem.

- O melhor é mesmo dar de frosques. – Alicia virou costas mas ficou estática quando olhou para a parede que se erguia à sua frente. – Outro moai?

Todos se viraram e puderam admirar uma estátua com quase três metros de altura. O ar sereno que a sua face de pedra transmitia, fazia lembrar os moais que povoavam a ilha.

- Mas não parece um moai. – Lara observou.

- Não? A mim parece a cara chapada dos outros todos. – Jack torceu o nariz.

- Os moais não possuem membros inferiores e superiores como este. – Lara aproximou-se e tocou na pedra do gigante.

- É melhor sairmos daqui. – Darius sussurrou para Alicia. – Algo me diz que este rio de lava não é o único obstáculo.

- O que quer dizer com isso? – Alicia olhou-o assustada.

- Os olhos dele brilham. – Mary apontou para cima. As cavidades outrora vazias davam lugar a uma luz vermelha intensa.

No mesmo instante o chão tremeu e a lava começou a borbulhar com mais intensidade. Com o horror estampado na cara dos presentes, viram a grande estátua se desprender da parede e dar um passo em frente.

- Agora sim é o momento certo para dizer: FUJAM! – Alicia exclamou.

- Para as plataformas! – Barbossa ordenou enquanto atirava na estátua, sem fazer o mínimo estrago. Como sentindo alguma espécie de dor ou mossa, a estátua abriu a boca e emitiu um som ensurdecedor, fazendo as pedras se soltarem do tecto.

- Leva a Mary daqui! – Jack ordenou enquanto disparava contra a estátua gigante.

-Vamos. – Darius colocou as mulheres na frente.

- Eu não vou sem o Jack. – Lara disse. Com Mary ao colo tornou-se um autêntico inferno passar por aquelas plataformas rodeadas de lava, com o chão tremendo, as pedras se soltando do tecto e uma estátua enorme atrás de si.

- Cruzes! – Alicia exclamou levando a mão à boca quando viu que nada fazia parar a estátua e quase se desequilibrava caindo na lava mortífera.

- Os tiros de nada adiantam. – Bootstrap falou e ajudou Alicia. – Temos de sair o mais rápido daqui.

Lara foi a primeira a chegar à margem junto com Mary. Os restantes chegaram quase deitando os pulmões cá para fora. A estátua entrou dentro do rio de lava mas ao contrário do que pensaram, esta não derreteu e continuou caminhando até à margem contrária.

- MAS SERÁ QUE ESTAS COISAS NUNCA MORREM? – Alicia berrou e Barbossa agarrou o seu braço puxando-a antes que uma pedra do tecto a esmagasse.

- Para a entrada. – Darius disse.

-Vocês estão bem? – Jack perguntou passando a mão pelo cabelo da filha e pela face da mulher, fazendo Lara jurar que contaria tudo o que se tinha passado antes, doesse o que doesse. Jack não merecia.

- Estou. Mas é melhor não perdermos tempo. – Lara disse e Jack pegou em Mary, correndo depois em direcção à entrada.

Barbossa foi o último a entrar e para horror dos restantes a entrada foi completamente tapada por uma derrocada, deixando-os numa escuridão arrepiante.

- Alguém tem uma tocha? – A voz de Alicia fez-se ouvir. – Eu não sou muito adepta de lugares fechados sem luzes e com bichinhos subindo pelas pernas acima.

- Apenas uma. – Gibbs acendeu uma e fez-se luz.

- Agora mais que nunca tenham cuidado onde põem os pés. – Barbossa aconselhou.

- Será que as surpresas nunca mais acabam? – Jack perguntou resmungando.

Lara ia responder mas algo fez com que se apoiasse à pedra. Uma sensação horrorosa apoderou-se de si.

- Love, o que é que se passa? – Jack agarrou Lara antes que esta desabasse no chão.

- Fogo. – Lara disse quase não conseguindo falar. – É como se estivesse sendo queimada por dentro. – Lara gritou e levou as mãos à cabeça numa tentativa infrutífera de parar aquilo. De novo gritos e gargalhadas invadiram a sua mente e sentia como se mil labaredas consumissem o seu corpo.

- Acalma-te Lara. – Alicia pegou a mão da amiga e Lara começou a se acalmar. Foi como se Alicia passasse uma sensação de alívio.

- Já… - Lara engoliu em seco e viu que estava completamente suada. - … passou.

- O que é que foi isso, Lara? – Jack perguntou e Lara viu uma preocupação genuína neste.

- Há algo maligno dentro destas paredes. Eu sinto-o. – Lara disse tentando-se manter calma.

- Vão na frente. Nós já lá vamos ter. – Jack disse.

- Por favor Alicia. – Lara pediu.

- Ok. Mas não se afastem muito. – Alicia aconselhou, dando a mão a Mary e continuando o caminho com os restantes.

- É algo relacionado com os sonhos, certo? – Jack franziu o sobrolho enquanto ajudava a mulher a levantar-se. – Houve vezes que gritaste exactamente o mesmo durante a noite.

- Eu não me lembro. Mas a sensação que tive. É como se estivesse amarrada a uma fogueira e fosse consumida pelas chamas. – Lara disse. – É horrível sentir o fogo devorar-nos o corpo.

- Eu faço uma ideia. – Jack disse e Lara olhou para a marca no pulso deste.

- Eu não te mereço. – Lara disse e esvaiu-se em lágrimas.

- Porque dizes isso? – Jack arregalou os olhos. – Tu és a mulher que amo, linda, carinhosa e uma verdadeira heroína. Deste-me o maior tesouro da minha vida e dizes isso?

- Jack… - Lara balbuciou sentindo o chão se abrindo a seus pés.

- Claro que tirando o facto de no pacote ter vindo essa princesa doida que passa a vida a intrometer-se… acho que aguento. – Jack sorriu e beijou Lara.

- É por causa dela, Jack. – Lara disse. Sabia que ele nunca iria compreender. Afinal nem ela própria compreendia. – Se a influência da Mayara se resumisse aos sonhos.

- Como assim?

- Eu consigo sentir os seus medos, as suas paixões, as suas vontades, Jack. É como se ela se estivesse infiltrando em mim e eu não pudesse fazer nada. – Lara limpou as lágrimas. – Além do mais… eu acho que sei quem foi o noivo dela.

- O noivo? – Jack franziu ainda mais o sobrolho. – Tu disseste que nunca o conseguiste vê-lo claramente.

- Até há um tempo atrás. Até aquela noite em que acordei sobressaltada. – Lara respirou fundo. – Eu acho que o Darius é a reencarnação do noivo da Mayara.

Jack ficou mudo e a sua expressão não mudou. Lara preferia mil vezes que este rebentasse de uma vez.

- Isso só pode ser gozo? – Jack riu mas ficou sério quando viu que a mulher não mentia. – Espera aí, tu estiveste trancada com o NOIVO daquela gaja? Da tua vida passada?

- Jack, ele não é o noivo. É apenas a reencarnação. E mesmo assim não tenho a certeza. – Lara explicou. – O Darius não sabe de nada e…

- O que é que aconteceu naquele espaço de tempo? – Jack perguntou calmamente.

- Eu só quero… - Lara desabou a chorar. - … perdoa-me. Eu não estava em mim e ele não teve culpa. Para mim não significou nada e…

- O que é que se passou, Lara Stevens? – Jack agarrou-a pelos braços.

- Eu beijei-o. – Lara começou a chorar e agarrou-se a Jack mas este estava rígido que nem uma pedra.

- Tu… - Jack fechou os olhos tentando assimilar a maior dor da sua vida mas tudo se esfumou quando ouviram o grito familiar de Mary.

- Mary… - Lara sentiu um aperto e olhou Jack. O olhar que este lhe devolveu era desolador mas não pensou duas vezes, colocando-se no encalço dos restantes.

- O que é que se passou? – Jack perguntou.

- A Mary estava encostada à parede e de repente esta deu uma volta, levando-a para o outro lado. – Alicia explicou, tentando em vão achar algo que abrisse a entrada oculta.

- Mas será que as surpresas nunca mais acabam? – Jack falou com raiva e Lara viu que embora este tentasse disfarçar, estava um autêntico caco.

- Temos de continuar. – Lara disse.

- E vais deixar ficar a Mary? – Alicia indignou-se.

- Não. Mas todos os caminhos vão dar a Roma, certo? – Lara pegou na tocha e andou sempre.

- Ela tem razão! – Barbossa exclamou.


- Aí! – Mary queixou-se quando viu que tinha esfolado o joelho. Tentou habituar os olhos à escuridão, mas não enxergava nada à sua frente. – Mãe? Pai?

O silêncio deixou-a em pânico, mas um barulho de asas próximo ao seu ouvido, fez com que morresse de medo. No entanto, o medo deu lugar a curiosidade quando viu do que se tratava. Um insecto parecido com uma borboleta voava à sua volta. Emitia uma luz azulada e isso encantou Mary. O pequeno animal seguiu por um túnel baixo e estreito e Mary foi atrás. Não queria perder a única luz que tinha.

Não percebeu quanto tempo passara quando deixou de ver a pequena borboleta. Estava exausta e deixou-se cair no chão. Distinguia uma luz ao fundo, mas não sabia se tinha forças para lá chegar? "E se for outro gigante?" O receio apoderou-se de si.

- O que é que eu faço? – Mary perguntou baixinho. Um miar suave fez com que se levantasse. – Quem está aí?

Ouviu de novo um miar e olhou para os seus pés. Uns olhos brilhantes miravam-na acompanhados por um ronronar insistente.

- Um gatinho? – Um sorriso iluminado rasgou a face de Mary. – Também estás perdido?

Pegou no gato ao colo. À medida que se aproximava da luz, viu que este era meio alaranjado e bastante fofinho. Pensou seriamente em levá-lo consigo quando voltasse ao Pearl. No final do túnel, o gato saltou dos seus braços e Mary olhou o que a rodeava abrindo a boca de espanto.

- É lindo! – Exclamou.


- Ahrg! Nunca mais chega ao fim. – Elizabeth resmungou. O túnel era infinito e duvidava seriamente se este teria fim.

Subitamente este alargou-se e entraram numa galeria maior, mas igualmente escura e fria.

- Há desenhos nas paredes. – Thomas indicou. Desenhos aleatórios decoravam as paredes húmidas.

- Não consigo sequer perceber que letra é esta. – James disse e Elizabeth aproximou-se.

- Não é latim nem grego. – Elizabeth olhou os traços esquisitos. – Será mesmo uma letra ou apenas rabiscos sem sentidos?

Um dos marujos da tripulação de Will passou a mão por um dos desenhos. Num deles, um pequeno quadrado recuou e ouviu-se um barulho vindo do interior da terra. Num completo horror viram as paredes começarem a diminuir a distância entre si, perspectivando um fim horrível para estes.

- Eu não quero morrer esmagado! – Raguetti exclamou em pânico.

- Procurem nas paredes algo que possa estar solto. Deve haver maneira de parar isto! – James ordenou e numa luta contra o tempo, os piratas empurravam em vão os desenhos.

- Tem que estar aqui, Tem de estar aqui! – Elizabeth exclamava para si própria tentando dominar o medo.

- Achei! – Thomas anunciou. Empurrou um dos desenhos e viram um pequeno cubículo abrir-se numa das paredes.

- Depressa, antes que se fechem completamente. – Elizabeth disse e um a um entraram a gatinhar no estreito túnel. Antes de se fechar completamente um grito foi ouvido.

- O que foi isto? – Thomas perguntou.

- Um dos marujos do Will não conseguiu. – Pintel disse, fazendo-os engolirem em seco.

- O ar está a diminuir. – James notou. – Temos de sair daqui.

Rastejaram dentro daquele ambiente claustrofóbico até chegarem a uma abertura.

- Obrigada. – Elizabeth agradeceu quando Thomas a ajudou a sair.

- O que é que se segue? – Thomas perguntou.

James caminhou até um rebordo na parede e molhou o dedo no líquido presente. – Azeite. – Disse, depois de reconhecer a utilidade daquele engenho. Tombou a tocha e uma linha de fogo percorreu toda a extensão do rebordo, revelando um corredor bastante largo.

- Ao menos temos luz para o iluminar. – Thomas encolheu os ombros.

Elizabeth deu um passo em frente e tudo o que se passou a seguir foi como se o mundo se movesse muito lentamente. Pisou algo e um clique foi ouvido. A voz de James ecoou ordenando que se baixassem e Elizabeth sentiu um empurrão que a fez estatelar-se no chão. Olhou e viu Thomas ao seu lado. O que viu a seguir foi quase uma repetição do que acontecera há mais de seis anos atrás. O seu coração gritou de novo, mas a voz não saiu. A dor era tão profunda e insuportável que tudo ficou preto a seguir.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Novo capítulo!

Obrigada pela review Camila!

Espero que gostem!!! Saudações Piratas!!!

JODIVISE



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