Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 5
Remorso




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ALICE

– Alice... Outra visão secreta? – Jazz perguntou delicadamente, passando os dedos em meu queixo, me fazendo voltar.

Suspirei.

– Sim... Mais uma. – Respondi esmorecida.

– Você parece ter uma sucessão delas Al... Não quer mesmo conversar sobre isso? – Ele perguntou condoído, absorvendo meu sentimento.

– Não... Desculpe Jazz. Não quero falar com ninguém sobre isso até ter certeza dos motivos.

– Sem problemas, meu anjo. Eu respeito sua vontade, mas você e o Edward estão tão estranhos... Eu nem ao menos tenho conseguido ficar perto dele. Ele está sendo tragado cada vez mais fundo em sua dor. Achei que você faria alguma coisa, mas parece que vai pelo mesmo caminho... – Ele pausou me olhando fundo nos olhos, medindo meu humor eu supus – Eu tenho tentado intervir... Mas não tem adiantado.

Dei de ombros.

– Não há nada que possa fazer Jazz... Se tudo que estou vendo realmente se concretizar... Então não há nada que você ou qualquer outra pessoa, até mesmo o Edward possa fazer. – Minha voz soou desesperançada até pra mim mesma.

– Então suas visões têm mesmo haver com Bella e Edward, não é? – Ele perguntou como se estivesse perguntando se o céu era azul. Ele sabia a resposta.

– Sim... Eu... Eu preciso ficar sozinha amor... Preciso pensar.

– Tudo bem... Eu vou descer e ver como nosso irmão está. Mais uma tentativa não me fará mal.

Jasper me beijou suavemente na testa e sumiu pelo corredor.

Eu permaneci em nosso quarto, encostada à janela como ele tinha me deixado.

Colei minha testa no vidro e olhei o rio, que corria seu fluxo.

Eu já perdera Bella uma vez, por decisão de Edward. A dor foi imensa, e eu não gostava do rumo que as coisas estavam tomando. Prometi que se meu irmão inventasse mais uma de suas culpas loucas e dissesse novamente que largaria Bella para que ela fosse feliz sem o contato com nosso mundo, ou qualquer que fosse a motivação, eu o impediria, e teria a ajuda de toda a família, disso eu tinha certeza.

O que eu não esperava era que Bella tomasse a decisão de deixar Edward.

Sim. Era isso que eu via. E a cada dia ficava mais concreto. Mas eu não conseguia enxergar a motivação por trás do ato. Queria desesperadamente encontrar os fatos causadores que culminariam num futuro tão infeliz, para mim, para minha família e, principalmente, para meu irmão. Talvez assim eu pudesse agir, evitar há tempo. Busquei isso a semana inteira, me concentrando em todas as possibilidades, mas nada encontrei. Nenhuma pista.

Relembrei as visões que vinham me assombrando há duas semanas mais uma vez, tentando organizá-las de maneira a fazerem algum sentido, ou descobrir um item, um fato novo, qualquer coisa que pudesse clarear as perspectivas.

Fechei os olhos.

Imediatamente a imagem se formou em minha frente.

– Bella... Por quê? – Edward perguntava, e seu tom era de desespero.

– Eu... Me perdoe. Eu errei quando voltei. Me enganei com meus sentimentos. Eu não sei por que, eu só... Eu só não... ... ...O amo mais. – Bella respondeu sem ação. A dor em seu semblante dizia claramente que ela odiava fazer aquilo. A feria também.

Uma escuridão avassaladora me puxou e eu pisquei os olhos com força.

Outra imagem me consumiu.

Edward estava sentado nos degraus da entrada de nossa casa, cabisbaixo. Eu o olhava da varanda sem querer me aproximar. Sentia sua dor. Era a minha dor também. Dilacerante.

Ele girava alguma coisa entre os dedos. Foquei no objeto.

Um anel... O anel de Elisabeth Masen... O anel de noivado de Bella.

Mais uma vez a escuridão me tragou, e desta vez eu viajei mais fundo, numa visão mais concreta. Faltava pouco para que ela acontecesse.

Bella estava de costas, Edward se aproximava receoso. Quando a mão dele tocou o ombro dela, ela a empurrou com raiva.

– NÃO ME TOQUE!

A escuridão chegou rápido desta vez, consumindo a visão anterior, compondo gradativamente a nova.

Eu abraçava Bella com força, como que para segura-la ali, em meus braços.

–Eu preciso ir... Me deixe ir Alice... – Seus olhos brilhavam com as lágrimas.

Eu a soltava e ela caminhava para longe de mim... E de repente desaparecia, como se nunca tivesse estado ali.

A última imagem era enevoada, distante, mas ainda assim, a mais dolorosa de todas. Para esse futuro faltava um certo tempo, talvez decisões.

Edward entrava pela mata acompanhado por alguém desconhecido, uma mulher de nossa espécie, mas que eu não reconhecia de maneira alguma. Eu apenas o via correr com ela floresta adentro, enquanto nós todos observávamos a cena de nossa varanda. E eu sabia que aquilo era uma despedida. Eu podia sentir a dor do adeus.

–Ah! – Ofeguei, me sentando no chão.

Minhas forças tinham sido consumidas por completo. Um buraco imenso me puxava para baixo, uma espiral de dor e desespero. Meu peito vibrou e meus olhos ficarem secos.

Liberei o pranto sem lágrimas que parecia explodir de dentro de mim, buscando o alívio que viria depois.

Olhei o relógio em meu criado-mudo. Três da tarde. O tempo parecia não passar, e, no entanto, parecia que eu não teria tempo suficiente para evitar aquilo.

Esme se sentou ao meu lado. Eu não tinha notado sua presença até então.

– Querida, o que está acontecendo?

– Ah mãe... Eu gostaria tanto de desabafar essa dor... Mas não posso... Tenho medo da influência que tenho sobre tudo isso... Talvez seja melhor que ninguém saiba. Talvez assim nada aconteça... – Falei pousando minha cabeça em seu ombro e deixando que o pranto seguisse seu curso.

– Não compreendo, Alice – Ela disse em meus cabelos – Mas vou respeitar sua decisão. Sei que está fazendo o que acredita ser o melhor, para quem quer que seja.

Ficamos assim pelo que me pareceu horas, até que Jasper tomou o lugar da minha mãe e me “curou” com uma onda de letargia.

Quando descemos já passava das seis.

Eu me acomodei no sofá, perto de Esme, e ela me abraçou afetuosamente, percebendo que ainda não estava bem.

Jasper e Carlisle falavam com Emmet e Rosalie na internet, sobre os preparativos para o dia da chegada deles a Forks. Eles vinham para o casamento que eu sabia que poderia não acontecer.

Suspirei alto e o Jazz me olhou preocupado.

Ele estreitava a distância entre nós quando estacou o movimento, olhando perplexo para a porta. De repente seu rosto estava transtornado, e sua feição assumiu uma máscara amarga e de pura agonia.

Olhei para ver o que o atingira.

Edward caminhava lentamente, a passos humanos em direção à escada, e eu reconheci em seu rosto, o sentimento que Jasper absorvera.

Edward, o que aconteceu? Pensei.

Ele não respondeu. Apenas se arrastou escada acima, como se lhe faltassem forças.

Voltei meu olhar para meus familiares.

Todos o olhavam com a mesma expressão que imaginei ter em meu rosto. Confusão.

Carlisle fez menção de ir atrás dele.

Eu tive medo do que estava por vir. Talvez já tivesse acontecido.

Estremeci.

– Pode deixar pai, eu cuido disso. – Falei a Carlisle quando ele passou por onde eu estava.

Ele assentiu e eu subi as escadas.

Edward, estou subindo. Você quer conversar? Aconteceu algo de grave?

Nada, nenhuma resposta.

Talvez ele quisesse ficar sozinho.

Mas eu já estava em sua porta.

Analisei sua posição, sentado na beira da cama, mãos espalmadas no lençol. Seu tronco estava arqueado, como se ele estivesse cansado, e seus olhos eram vazios, como se ele não estivesse realmente ali.

Edward?

Nada.

Quer que o deixe sozinho?

Nada.

Ele não estava me ouvindo? Isso era inédito!

Tudo bem que eu estava me esforçando muito ultimamente para que ele não entrasse em minha cabeça, sempre concentrada no vazio para não lhe permitir ver o que eu vira, e eu estava ficando realmente muito boa em lhe deixar de fora.

Mas eu estava falando com ele. Como ele podia não estar escutando?

Alguma coisa muito grave deveria ter acontecido. Ele nunca ficara assim, tão alheio, a não ser... Quando deixou Bella.

Estremeci outra vez.

– Edward! – Chamei-o alto demais para nossos ouvidos sensíveis, e meu tom soou desesperado.

Ele piscou os olhos com força, e me olhou como se me visse pela primeira vez.

– Ah, oi Alice. – Falou.

– O que houve? Estou falando com você há vários minutos, você não me ouviu?

– Não... Não vi que você estava aí.

– Eu não estava aqui, estava lá embaixo, mas vi você subir, andando, as escadas... E sua expressão está tão estranha... Não sabia se era algo que os outros não deveriam saber, apesar de todos terem notado. Então eu apenas conversei com você como sempre fazemos... Pensei enquanto subia e esperei na porta pela sua resposta. Mas você está aí parecendo catatônico... O que está acontecendo? Posso ajudar? – Usei meu tom mais suave e me sentei ao seu lado.

– Edward... Aconteceu alguma coisa entre você e Bella? – Perguntei com medo de sua resposta. Torci para que ele ainda estivesse alheio e não notasse a consternação em minha voz.

– Eu fiz a pergunta... Mas eu fui extremamente indelicado e ela... Ela agiu como nunca agiu antes. Depois simplesmente me ignorou. E todas essas semanas de distanciamento... Ela está estranha comigo, Alice, como se ela não estivesse realmente ali, como se ela não me quisesse mais. – A dor era evidente em sua voz. Meu coração murchou e eu senti compaixão pelo seu sofrimento.

– Edward... Bella ama você, ela largou tudo que tinha conquistado durante sua ausência, perdoou você... Isso é mais do que prova desse amor. Mas, agora eu fiquei curiosa... Você falou que fez “a pergunta”... Que pergunta?

– Eu perguntei a ela se o bebê era meu...

– Edward! – Me levantei num ímpeto – Como você pôde? Ela deve estar muitíssimo magoada.

Tive medo que este fosse o fator que desencadearia tudo.

– Eu sei... Eu agi por impulso – O olhei em dúvida. Nossa raça era muito racional. Não agíamos por impulso. Essa era uma característica inerente aos humanos – Sim, impulso. – Ele respondeu. Deve ter me ouvido. – Me sinto uma humano adolescente... Mas eu tinha que saber Alice. Carlisle precisa ter certeza da natureza dessa criança para poder cuidar da Bella e garantir que a gravidez seja a mais tranqüila possível! – Puxou uma golfada de ar, como se precisasse muito dele – E a atitude dela todo esse tempo... Eu imaginei que era a resposta. Que ela estava com medo de me dizer que o bebê é do... Jacob.

– Como você é tolo, Edward! – Censurei-o – Eu não falei nada porque achei que você, como namorado dela, saberia, teria certeza. Eu duvidei sim, claro, quem não duvidaria se não soubesse das lendas? Mas, você é o mais culto de nós e, além disso, seu amor por ela... Ela tinha certeza absoluta quando conversamos. Tanta certeza que eu voltei atrás e acreditei em sua convicção no mesmo momento. Bella nunca mentiria, não faz parte da natureza dela!

Como ele pôde ser tão cego?

Então talvez esse fosse realmente o motivo. Ah Deus!

– Eu sei Alice! Mas eu também não sabia das lendas... Pelo menos não da parte em que “Uma humana engravida de um vampiro”! – Falou exasperado. – Mas então... Você sabia... Ela lhe disse. O filho é realmente meu.

Então ao invés de assumir uma expressão de felicidade pela confirmação, Edward fez uma careta do que só poderia ser dor.

Eu o encarei confusa. Sentia pena de seu sofrimento, mas raiva por ele sentenciar seu próprio relacionamento, e consequentemente, minha amizade com Bella ao fim. Ao mesmo tempo conseguia compreende-lo. Suas razões eram plausíveis, e além de tudo isso, eu não tinha certeza de que era ele o causador. Poderia ser um outro fator, algo que eu ainda não vira.

Edward estreitou os olhos e me encarou com desconfiança.

Eu sabia que ele estava tentando vasculhar minha mente.

Me concentrei.

– Porque você tem me impedido de entrar? Existe algo que você sabe e não quer me mostrar?

Bastou a pergunta para que eu escorregasse em minha própria mente. Um flash de uma das visões me absorveu, mas eu retomei a concentração rapidamente. Eu sabia que ele tinha visto e o que ele tinha visto, então não me preocupei muito, pois não era nada muito esclarecedor.

– Não... Não é nada. Só não quero que você veja o vestido de Bella, é surpresa. – Menti.

– Alice o que foi isso que eu vi? – Ele perguntou, me forçando a pensar no que eu não queria.

Me concentrei com afinco, mas a escorregada desta vez foi maior, e eu demorei um pouco mais para retomar o foco.

Ele levantou e me segurou pelos ombros no instante em que me preparei para correr do quarto. Acreditei que ele tinha compreendido tudo.

Estremeci novamente e o abracei.

– Me desculpe Edward! Eu achei que escondendo isso de você, talvez... Talvez acontecesse de outra maneira... – Minha voz denunciava meu pranto seco – Eu não quero...

– O que você está me escondendo Alice? Tem haver comigo e Bella! Tem haver com nosso casamento, não é? – Perguntou me afastando, buscando meus olhos.

Subitamente percebi que ele não apreendera o detalhe principal daquela visão.

Então travei minha mandíbula e foquei o vazio.

Me desvencilhei facilmente de suas mãos, já que ele não ofereceu resistência, e corri porta a fora, antes que ele me impedisse mais uma vez.

Constatei que Edward não me seguia, então continuei a correr até perceber que estava longe de casa o suficiente para que ele não invadisse minha cabeça.

Jasper estava em minha frente em poucos segundos.

Sentindo minha dor e confusão, me apertou em seus braços com ternura, sem nada dizer, e ficamos assim, compartilhando aquela que seria a dor que novamente nos invadiria. Muito em breve.


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