EDWARD

Meus olhos estavam fixos em sua figura.

Ela estava sentada em um dos galhos mais altos da primeira árvore em frente ao nosso jardim, com Alice por companhia.

Se eu abrisse o vidro, poderia escutar o que conversavam mais claramente. O zunido baixo de suas vozes era tudo que me alcançava ali, e eu sabia que era deliberadamente que elas sussurravam abaixo do nosso limite de audição.

Bella contava algo secreto a minha irmã. Algo que ela não queria que ninguém mais soubesse. Suas feições iam da dor e angústia à raiva e depois à apatia.

Eu estava certo que ela falava sobre sua decepção para com o lobo. Desabafando com sua amiga mais confiável.

Uma semana inteira já havia se passado desde nosso desafortunado encontro na nascente. Desde aquele dia nós não trocávamos sequer um “bom dia”. Estávamos em plena sintonia na missão de evitarmos a presença um do outro. Toda a família havia notado a animosidade, mas apesar de incomodados com tal situação, nenhum deles, nem mesmo meu pai, se dispôs a tocar no assunto com um de nós dois.

Eu procurava passar meu tempo ao lado de Zaniala, sempre encantadora e divertida, me fazia abafar por algumas horas aquela aflição. Mas nem mesmo o sorriso cativante, o vasto conhecimento e a atitude alegre dela eram capazes de me desconcentrar da minha expiação por tempo suficiente.

A situação estava se tornando insustentável. Eu já não conseguia mais suportar.

- Apreciando a Bela vista, Edward? – Zaniala perguntou, me surpreendendo com sua entrada silenciosa.

Virei-me para encará-la. Seu olhar era divertido, mas sua expressão era séria.

- Desculpe... – Falou sorrindo – Não queria me intrometer. Mas a verdade é que esta situação é por demais... Ridícula.

- Como? – Perguntei surpreso com seu comentário. Ela era sempre muito discreta e sutil. Como poderia estar tendo atitude tão rude?

- Me desculpe Edward... Mas, porque você não vai até ela e conversa? Porque só fica de longe, observando seus passos? Abra seu coração. Você claramente ainda a ama. E vocês têm uma filha! Deviam ao menos se relacionar melhor.

Zaniala sempre me espantava. Não somente pelas tantas semelhanças com Bella, mas pela sua doçura e aguçada percepção. Mais ainda, por sua generosidade. E eu estava errado. Ela desejava me aconselhar e não criticar.

Mas aquele assunto era doloroso demais, e meu orgulho ferido não me permitia ser tolerante.

- Acredito que isso não lhe diz respeito. – Falei suavemente, desejando encerrar o assunto.

- Eu sei. Mas estranhamente eu me preocupo com você. – Pausou, expirando fortemente – Olhe Edward, desde que vi você, senti algo que nunca havia sentido antes, nem mesmo quando era humana... Algo que não reconheço, que não tenho certeza do que seja, mas que me faz querer vê-lo bem e feliz. Dede que cheguei aqui, pouquíssimas vezes o vi sorrir, ou ter brilho no olhar... Na verdade isso só acontece quando você tem sua filha nos braços. O restante do tempo você tem essa expressão amarga, e mesmo quando estamos juntos, a sós, quando você superficialmente parece se divertir e estar bem, eu consigo ver a dor em seu olhar.

Dei as costas para ela, ocultando a confirmação em meu rosto. Caminhei até a janela, observando Bella e Alice ao longe, ainda conversando.

- Se você ainda a ama, lute por ela. – Zaniala falou com a voz suave, já ao meu lado, uma das mãos em meu ombro – Quando você me contou a história de vocês, eu me senti tão... Tocada. Faça alguma coisa, tente. Se não der em nada... Você segue com sua existência da maneira como acreditar ser melhor. Mas não desista sem tentar.

- Ela sofre por ele, Zaniala. – Minha voz saiu grossa, carregada da dor que seguia aquela verdade – Ela sente a falta daquele canalha que jurou ficar com ela para sempre... E desistiu por ela ter se tornado algo que ele repugna. Que tipo de amor era esse? Foi por esse amor que ela jogou o meu amor fora... Eu, no lugar dele, teria abandonado tudo, minha matilha, minha família... Teria deixado tudo sem me voltar para trás. Mas ele foi embora sem nem se despedir... E ela ainda sofre por ele.

O estrondo da parede se quebrando sob meu punho atraiu a atenção de Bella e Alice, que olharam admiradas na direção do meu quarto.

Voltei-me para Zaniala, que me olhava impassível.

- Você já pensou na possibilidade que está deixando fugir? – Ela perguntou antes que fosse possível eu me desculpar – Ele não a quer mais. Não existem mais obstáculos entre vocês. Ao contrário, vocês em uma aliança fortíssima e eterna que estão ignorando... Renesme.

- Ela não me ama mais... E isso eu não tenho como mudar... Não é um simples obstáculo, é um fato contra o qual eu não posso lutar.

- Tente... – Ela insistiu, o olhar em brasa no meu.

- Não! – Interrompi-a rudemente.

Respirei fundo e passei a mão pelo rosto, como se o gesto fosse capaz de limpar a angústia de minha expressão.

- Me perdoe. Você não tem culpa de nada. Eu não devo descontar minha frustração em você. – Pedi sem encará-la.

- Edward, escute. Tantos anos eu vivi, quase duzentos anos de experiências diversas... Nunca senti tal emoção. Eu só posso imaginar a força que tem um sentimento como o amor... E eu juro... Se eu sentisse isso por alguém, se eu tivesse certeza de que fosse amor, eu faria tudo, eu lutaria de todas as maneiras, eu me moldaria e alcançaria o que quer que fosse por esta pessoa... Eu vejo em você essa emoção tão poderosa, eu enxergo a potência do sentimento, e a destruição que causa a falta de sua realização. Tão pouco tempo eu tenho estado aqui com você e sua família... Tantas formas de sentir tal emoção me foram apresentadas. Fascinada é o que eu estou. O amor que une cada um de vocês em um lanço intangível e inquebrantável... O amor puro entre irmãos e pais com filhos que me é evidente aqui... O amor apaixonado entre os casais desta família. Eu daria todo o meu conhecimento, todos os anos que tenho pela frente, os meus dons e bens que adquiri... Tudo, por apenas alguns momentos sentindo isso verdadeiramente. Você faz idéia do que significa? A riqueza que vocês têm aqui? – Discursou ela de forma apaixonada.

- Sim, eu compreendo como sou afortunado. Mas infelizmente isso não modifica a maneira como me sinto em relação a Bella e toda essa situação.

- Você não suporta mais viver desse jeito não é?

- Não... Está intolerável.

- Então tome uma atitude. Converse com ela. Exponha o que sente, seja sincero. O que de pior pode acontecer?

- Ela me rejeitar.

- Isso é o que você já tem. Então você está preparado para o pior. – Zaniala falou de maneira tranqüila, dando de ombros.

Respirei fundo, me voltando mais uma vez para a janela.

Bella e Alice já não estavam mais ao alcance de minha visão.

- Você tem razão. Eu não tenho mais nada a perder. O máximo que pode acontecer é eu permanecer com o que tenho... Nada.

- Isso. Então você vai conversar com ela?

- Eu vou conversar com Alice. Preciso de mais alguns conselhos. Mas obrigado. Você me fez ver as coisas de um novo ângulo.

Zaniala sorriu satisfeita e me abraçou.

Por apenas alguns segundos eu pude vislumbrar o que ia em sua mente, como se ela houvesse aberto espaço para que eu visse lá dentro.

Tão especial... Se ao menos eu tivesse chance...

Me soltei de seu abraço delicadamente, procurando em seu olhar algum sentido para o que tinha ouvido em sua mente.

Zaniala afagou meu rosto com doçura e saiu do meu quarto, me deixando confuso.

Era fato que quando estávamos juntos aconteciam olhares e toques significativos. Daqueles que ocorrem quando duas pessoas estão nutrindo algum interesse uma pela outra. Mas eu não tinha certeza. Nem em relação a ela, muito menos em relação a mim.

Na presença dela eu ficava leve, descontraído, mas Bella não era apagada da minha mente nem do meu coração nesses momentos, ou em qualquer outro momento que fosse. Mas sim, eu estava ciente de Zaniala, e sabia que sua preferência por minha companhia não era mera cortesia.

Mas eu estava interessado nela? Como um dia, no começo de tudo, eu ficara por Bella?

E Zaniala? Estaria?

O fragmento que obtive em sua mente flutuou em meu pensamento.

“Tão especial... Se ao menos eu tivesse chance...”

Se fosse real, se fosse mútuo... Eu estaria preparado para este passo?

Deixar tudo para trás e recomeçar?

Me sentei no chão, de frente para a janela, observando o rio seguir seu curso sem se deixar interromper pelas pedras que lhe obstruíam o caminho em certa altura.

Lutar pelo que perdi, pelo que passou e que eu acreditava não ter chance de recuperar, ou tentar um novo rumo, deixar o fluxo de minha existência me levar à frente, ao que viria a seguir, sem me deter com as lembranças... Eu precisava pensar.

Mas de alguma maneira eu já tinha a resposta à nova indagação que me assomava.