Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 17
CAP EXTRA - A longa história


Notas iniciais do capítulo

Esse cap não fazia parte dos meus planos, eu contaria a história de Zaniala superficialmente no prox cap, mas entendi que vcs precisam conhece-la melhor, compreende-la para aceita-la e gostar dela, e entender, posteriormente algumas atitudes que ela tera.
Aproveitem!



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ZANIALA

 

Eu nasci no século XIX, 1803 pra ser mais exata, na Espanha. Fui batizada Zaniala Allende Salazar.

 Minha família era cristã, conservadora e abastada. Tínhamos um vinhedo em Frigiliana, província de Málaga. Éramos eu, minha irmã mais nova Ximena, meus pais Xavier Zenon Salazar e Anita Allende Salazar, e os empregados de nossa fazenda.

Nunca tinha saído dali e nada conhecia sobre lendas e mitos. Todas as histórias que me foram contadas ao longo de minha vida humana faziam parte da cartilha católica de minhas tradições familiares.

Então eu tinha 16 anos e minha irmã 14.

Adorávamos passar as tardes correndo pelas videiras, rindo e gritando, e depois, já quase ao anoitecer, nos banhávamos no rio de nossa propriedade, antes de voltarmos aos pulos para o jantar, quando meu pai muito aborrecido, nos passava o maior sermão.

Naquele dia ele havia pedido ao Aragão, um de nossos empregados, para nos acompanhar. Estávamos sendo vigiadas e controladas para não excedermo-nos, como dizia mamãe, mas a verdade é que, se não fosse por ele, eu não estaria aqui.

Brincávamos perto do rio, enquanto Aragão vigiava o entorno com seu machado a tira-colo.

Afastamo-nos um pouco dele sem perceber, quando um homem lindíssimo de olhos vermelhos nos atacou. Ele se moveu rápido, mais rápido do que meu olhar pode captar, e quando consegui focalizá-lo novamente, minha irmã estava inerte em seus braços, enquanto ele parecia beijar-lhe o pescoço.

Pensei em correr, mas quando me virei para fazê-lo já era tarde demais. Ele já me tinha em seus braços frios, os lábios duros, firmes em meu pulso.

Senti uma dor fina, depois vertigem. Queria correr e gritar, mas não encontrei forças.

Quando meus olhos se fechavam, vi sua cabeça, que agora estava no vão do meu pescoço, ser arremessada para longe de mim num único e preciso movimento.

Aragão havia dado-lhe um golpe fatal com seu machado.

Ele me carregou, deixando para trás o corpo sem cabeça do estranho e minha irmã já morta, correndo comigo para a casa, enquanto eu me permitia ser tragada pela escuridão.

Por três dias, só o que eu sentia era dor. Meus gritos ecoando por todos os cômodos da fazenda.

Quando abri meus olhos, era noite, e eu estava sozinha no meu quarto. Me sentia estranha.

Levantei e olhei no espelho de meu aparador.

Meus olhos eram de um vermelho similar ao do homem que havia nos atacado, meu corpo parecia estar mais forte e esbelto, elegante, e minha feição delicada estava estonteante. Eu reconhecia meu rosto, mas era um novo rosto, melhorado, mais bonito. Meus sentidos estavam estranhamente aguçados, meus movimentos mais precisos.

Não tive tempo de sentir surpresa por tudo aquilo ou tristeza pela lembrança da morte de minha querida irmã.

Um cheiro forte e delicioso me acometeu.

Lembro de ter sentido uma queimação muito grave e angustiante na garganta, e de ceder ao desejo incontrolável de saciar aquela agonia que parecia sede.

Me movi tão rápido quanto meu corpo exigia, mais rápido do que pude raciocinar, apenas seguindo cegamente o instinto que me dominava por completo naquele momento.

Quando me dei conta, eu tinha meu pai, minha mãe e todos os empregados da casa sobre o chão, mortos e exangues.

Aquilo me aterrorizou.

Tentei chorar, mas não brotavam lagrimas de meus olhos.

Então eu corri para fora dali. Corri por dias ou semanas, não sei ao certo, tentando fugir de minha dor, do brutal assassinato em massa que tinha cometido, da perda dolorosa de toda a minha família. Até que já estava num lugar que não reconhecia, numa mata densa que mal entrava luz. Me sentei ali mesmo e fiquei parada tentando compreender o que tinha acontecido, o que eu tinha me tornado.

Ouvi som de água corrente, e me encaminhei para a direção do som.

A queimação já me acometia novamente. Era insuportável.

Antes de entrar na área onde o rio cortava a floresta, percebi um odor diferente. Era quente e molhado como o cheiro que me levara a matar, mas apesar de me atrair, não era o cheiro certo, não era tão apetitoso e irresistível. Mas a sede que eu sentia era incontrolável, e aquele cheiro, ainda que não fosse o melhor, era atraente o suficiente para que eu ficasse novamente cega e afoita.

Então eu tinha um animal em meus braços. Cravei meus dentes onde sentia o fluxo mais forte. Senti a queimação amenizar enquanto o liquido escorria por minha garganta.  A satisfação e o alivio foram tão grandes que procurei por outros animais. Era muito fácil. Descobri que tudo de que precisava era o mínimo de concentração, então os cheiros me invadiam e eu os buscava, seguindo a direção dos pequenos barulhos que eles faziam.

Passei muitos meses assim, acredito que mais de um ano, mas não tenho certeza. Perdi completamente a noção do tempo naquele lugar. No meio daquela floresta que eu não sabia onde era, sem mais ninguém humano, ou como eu ao meu redor. Apenas o rio e os animais, que em pouco tempo eu já tinha perícia em caçar.

Mas me sentia sozinha e confusa.

Porque não sentia fome, frio ou sono? Porque eu conseguia ficar horas sem mover um milímetro, a espera de um animal para sugar seu sangue, que me dava tanto prazer em consumir? O que eu tinha me tornado? Precisava descobrir.

Corri por mais algumas semanas até que encontrei um pequeno vilarejo. Tinha medo de me aproximar das pessoas e não resistir ao cheiro, e me descontrolar mais uma vez como feito em minha casa.

A lembrança me fez arder por dentro e a tristeza me tomou.

Eu arderia no fogo do inferno pelo que fiz, e faria isso feliz, pois não fugiria de minha culpa.

Mas agora eu precisava me concentrar em entender o que havia acontecido.

Tomei coragem e andei pela margem do vilarejo, buscando alguém que me parecesse receptivo.

No canto de uma igreja havia um senhor. Ele alimentava as cabras e galinhas enquanto entoava um cântico conhecido. Era um cântico cristão que meus pais cantavam em épocas de festa.

Notei que ele olhava fixo para frente, como se olhasse o horizonte mas não o visse realmente.

Tomei coragem, dei dois passos em sua direção e me assustei.

Faíscas brilhantes saiam de minha pele, jogando milhões de cores aos meus olhos.

Em um átimo eu me escondi novamente na margem da floresta. O brilho desapareceu.

Então, como um teste, estiquei meu braço para uma pequena fresta de luz que incidia ali, e percebi que o sol fazia minha pele cintilar, como uma pedra brilhante.

Qualquer um notaria que eu não era normal, então eu quase desisti de falar com aquele senhor.

Mas ele notou minha presença.

- Quem está aí? – Perguntou virando seu rosto em minha direção.

Então notei que seus olhos tinham uma cor estranha. Um cinza leitoso, opaco. Seus olhos olhavam para frente, mas se moviam erraticamente, sem foco.

Ele era cego.

Perfeito, pensei.

- Preciso de ajuda... – Falei e mais uma vez me surpreendi. Minha voz era como música, delicada e melodiosa.

O senhor me buscou com as mãos.

- Se aproxime menina... Eu não posso vê-la, mas sinto que está com medo... O que houve criança?

Deixei que ele se aproximasse o suficiente para tocar meu braço. Seu cheiro era o mais tentador que eu havia sentido em meses, mas eu me controlei com todas as minhas forças. Eu precisava de ajuda e não queria matar novamente.

Me deixei conduzir até o pequeno casebre ao lado daquela igreja.

Ele era o padre daquele vilarejo, Alfonso era seu nome, e como homem de Deus, havia se comprometido a ajudar qualquer alma, ainda que a de uma assassina como eu.

Contei-lhe minha história, que ele pareceu ouvir atentamente apesar de não ter demonstrado terror ou indignação, o que me surpreendeu. Ele me perdoou em nome de Jesus Cristo e me pediu que permitisse a ele cuidar de mim.

Concordamos que eu não deveria me deixar ser vista pelos moradores do lugar, pois eles não entenderiam minha natureza e me queimariam viva, na fogueira da inquisição.

Ali fiquei por anos, escondida no casebre, sendo cuidada como uma filha pelo padre Alfonso. Ele me trazia pequenos animais todos os dias, trazia livros para mim, muitos livros, onde eu busquei incessantemente a resposta para minha nova natureza, e no inverno me deixava caçar na floresta.

Ainda não compreendíamos o que eu era, mas eu não me importava tanto mais com isso. Me sentia segura e feliz com ele, ali naquele lugar.

Mas os anos se passaram. Trinta e dois anos. E padre Alfonso adoeceu e morreu aos 95 anos de vida.

Nada em mim parecia ter mudado ao longo destes anos. Constantemente eu me olhava no pequeno espelho de mesa que havia sido presente do padre, procurando os sinais de meu envelhecimento. Mas não acontecia. Apenas meus olhos alternavam entre o dourado claro brilhante, e um dourado âmbar, mais escuro e concentrado, quando eu passava mais que dois dias sem me alimentar.

Olhei em volta.

Nada mais me segurava naquele lugar. Decidi que era hora de retomar minha busca pelas explicações.

Não precisava de muita coisa, então apenas peguei uma bolsa de veludo roxo que pertencera ao padre, coloquei dentro o pequeno espelho e a bíblia que ele lia todos os dias antes de se deitar, e segui de volta para a floresta.

Anos e anos passei sozinha, vagando pelo mundo, me alimentando de animais, parando em  pequenos vilarejos e grandes cidades à noite para me proteger da luz do sol e de olhares curiosos.

Até que conheci um homem parecido com aquele que me fez o que sou.

Parecido apenas pela intensidade de sua beleza e pelos olhos.

Retriat era seu nome.

Ele era nômade, assim como eu. Vivia pelo mundo, sem moradia, sem raízes.

Mas ele se alimentava de pessoas. E aquilo me deixou apreensiva. Tive medo de que ele me fizesse algum mal.

Mas Retriat foi uma surpresa em minha vida.

Curioso com meus olhos e meu modo de ser, ele buscou meus conhecimentos, tão limitados, e me retribuiu com os seus, muito vastos.

Compreendi finalmente o que eu era, todas as minhas capacidades e necessidades.

Com ele eu descobri que tinha poderes extraordinários, aptidões que nem todo vampiro possuía, mas que eu detinha e controlava com habilidade.

Passei treze anos ao seu lado. Mas não se alimentar de sangue humano era inviável para ele. E era insuportável para mim, conviver com sua desumanidade exacerbada. Então decidimos seguir cada um para um canto do mundo, caminhos diversos, sem ressentimentos.

Conheci muitos outros vampiros ao longo dos anos posteriores, aprendi a detectá-los facilmente e a distinguir se era seguro ou não me apresentar a eles. Absorvi o máximo de conhecimento que pude de todos com quem tive contato.

Há dois meses, quando explorava o Alasca, conheci um clã que agia como eu.

Nunca antes tinha me deparado com outros vampiros que não se alimentassem de sangue humano, então fiquei muito intrigada com os Denali. Eles me acolheram graciosamente quando perceberam minha natureza pacífica e me falaram muito do clã Cullen.

Intrigada e sedenta de dados sobre nossa espécie, decidi que seguiria para Washington em busca de Carlisle Cullen, o líder do clã, para obter mais informações sobre este modo de vida, que percebi, ser exceção em nosso mundo.

Nunca imaginei que, em minha busca incansável por conhecimento, encontraria também o encantamento e a paixão à primeira vista.

 

 

 

 

Observei seus movimentos ágeis e elegantes, enquanto me conduzia ao seu líder, que ele estranhamente chamou de pai.

Senti como se meu coração pudesse bater.

Nunca, nem mesmo nos meus dezesseis anos humanos, ou nos meus cento e noventa e um anos vampíricos, eu havia sentido tal emoção.

Mas os olhos dourados e profundos de Edward Cullen, me provocaram a sensação de poder estar viva, realmente viva, novamente.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

E ai? Sou boazinha, né? Cap extra com detalhes tão preciosos... Beijos!



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