Através de um espaço distorcido:

Pelos escombros de Giudecca passa um Cavaleiro ainda, sendo cuidadosamente observado pela garota que antes auxiliava, humildemente, o Senhor dos Mortos. A sombra de um pilar remanescente a protege, enquanto Fênix passa calmamente por ela.

Em sua mente, com a destruição do Muro das Lamentações, passa uma esperança de vingança. Em seus olhos, uma bela infância, rodeada de felicidade em seu castelo, com seus pais, um irmãozinho a caminho, o cachorro com que corria pelo jardim, os passarinhos que alimentava, tudo destruído diante de si, tudo por causa de uma estranha caixa, e de tudo o que estava acontecendo.

Em silêncio e pela primeira vez, deixou rolar as lágrimas que conteve por anos, e viu, naquele homem por quem sentira algo tão diferente dos sentimentos que conhecia naquele mundo de sombras, alguém que poderia ajudá-la a redimir todos aqueles acontecimentos.

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Algo chama a atenção de Shiryu, antes que ele entre na fenda aberta no Muro das Lamentações. Olha para trás, com expressão séria e desconfiada.

- O que foi, Shiryu? – pergunta Hyoga.

- Nada... Podem ir na frente que eu já os alcanço.

Corremos através do caminho escuro, enquanto, na entrada, o Dragão sente a aproximação de três cosmos hostis. Logo eles surgem, três inimigos que ainda restavam, eram soldados, porém, os mais fortes entre eles. Apenas os Juízes, Lune, Myu, Valentine, Faraó e Flégias eram mais fortes que eles, que tinham um nível muito parecido com o de Laime e Niobe. Chegaram já com imponência e arrogância.

- Vocês não poderão atravessar este muro!

- Saia da frente, Cavaleiro de Dragão!

- Pff... – responde o rapaz, devolvendo a imponência com desprezo – Se quiserem que eu saia, terão que passar por cima de mim...

O rapaz despertara a fúria dos três guerreiros de Hades, que não pensam duas vezes em ir para cima dele, atirando-o com força brutal ao chão. Vendo-o caído acreditam tê-lo vencido. Afinal, como poderia enfrentar três deles ao mesmo tempo? Mas um feixe de luz passa ao centro de suas cabeças, um corte se abre nos elmos, e eles caem aos seus pés, perfeitamente divididos ao meio.

Shiryu se levanta, seu braço esquerdo brilha com o cosmo dourado da Excalibur. Ao explicar que os Cavaleiros de bronze receberam várias heranças dos dourados, os espectros são obrigados a perceber que aquele guerreiro lutaria até o fim, que eles só passariam dali por cima de seu cadáver, o que não era, nem de perto, algo fácil de se conseguir.

Um deles se coloca à sua frente, seu corpo e armadura eram de uma garota, mas o rosto sério e o cabelo curto e rebelde criavam dúvidas.

- Pois bem... Já que quer tanto morrer, eu, Queen de Alraune, arrancarei a sua cabeça! "GUILHOTINA DA FLOR SANGRENTA!"

Teve a impressão de ter decapitado completamente o Cavaleiro, mas é o seu pescoço que fora cortado e começa a sangrar. Mais uma vez a Excalibur atingira seu alvo, e mais uma vez Shiryu se erguia para combater, após ter caído com a rápida esquivar que teve de fazer. Seu pescoço também fora cortado. O segundo espectro voa para cima dele, Gordon de Minotauro tinha mais de 1,90m, era muito forte e carregava um enorme machado consigo.

- Essa tal de Excalibur está atrapalhando demais, Vou destruí-la com meu machado... "GRANDIOSO MACHADO ESMAGADOR!"

O rapaz tenta usar novamente o golpe cortante, mas a força gigantesca do machado atinge o ponto mais fraco de seu ataque, quebrando seu braço.

- Contra meu machado, até a Excalibur não passa de um galho seco... Eu quebrei seu braço e você não pode mais empunhá-la. Só resta arrancar sua cabeça. Morra, Dragão!

Mas ao se aproximar do Cavaleiro, não tem tempo de utilizar novamente sua técnica, é o braço direito dele que se ergue, trincando toda a sua Surplice.

- "COLERA DO DRAGÃO!"

Voa longe, aos pés dos seus dois companheiros, o último deles finalmente percebe que aquele garoto era realmente forte, e resolve atacar com todas as suas forças para eliminá-lo de vez.

- Parece que vou precisar atacá-lo com vontade para acabar com você. Você sucumbirá ao vento de Sylphid de Basilisco, o pássaro monstruoso o levará à outra dimensão. "VÔO DO EXTERMÍNIO!"

Shiryu seria levado para o espaço dimensional do outro lado do muro, se este mesmo não tivesse aparado seu corpo. O impacto em suas costas é enorme, sente toda a pressão em suas costelas, e volta ao chão, sangrando, exausto. Mas nada o impede se levantar uma vez mais, afirmando que não sairia dali por nada, que seguraria os três ali. Nenhum dos golpes o fazia recuar.

Sylphid não vê saída, ataca novamente com todo o seu cosmo. Mais um "Cólera do Dragão", e o espectro se espatifa no chão, levando o piso consigo.

- Ainda não entenderam? Se querem mesmo me vencer, venham os três. Só então mostrarei a mais poderosa técnica do Dragão.

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Corremos, atravessando a escuridão, mesmo que saiba que meus amigos estão ao meu lado, sinto uma imensa solidão neste lugar. Logo podemos ver a saída, o buraco se abre do lado oposto da mesma forma que do lado do inferno. Mas o que era aquilo...? O espaço abria-se imenso à nossa frente, olhei para baixo, era como um escuro abismo sem fim, meus pés se afastam cuidadosos da beirada, estranhando a sensação de que fosse cair, atraída pela imensidão.

À frente tudo era negro como o céu da noite. A escuridão só era quebrada pelas galáxias gigantescas que passavam por nossas visões, com seus bilhões de estrelas, envoltas em poeira cósmica que mesclavam os agrupamentos com várias cores. Podíamos ver também alguns planetas pairando à nossa frente, alguns com anéis coloridos à sua volta, e pequenos asteróides por toda parte.

Todos aqueles corpos tão próximos e se movendo de forma tão estranha, era como se o tempo e o espaço se distorcessem diante de nossos olhos, era por isso que os humanos não poderiam passar por ali, nossos corpos seriam sugados para outra dimensão no primeiro instante, mas conosco não seria assim, nossas armaduras estavam protegidas pelo sangue de Atena.

Uma intensa e diferente luz brilha logo adiante, expandindo seus raios como se girasse rapidamente. Com certeza era aquele o caminho para o Elíseos, não tínhamos tempo a perder. Seiya e Shun saltam sem pensar duas vezes, mas logo quando eu e Hyoga saltaríamos, um imenso cosmo surge às nossas costas, decidido a nos impedir. Olho repentinamente para trás, era o último dos espectros de Hades que havia sobrevivido, o Juiz, Minos de Griffon. Hyoga permanece de costas para ele, pouco á minha frente.

- Nunca os deixarei partir. Não posso permitir que vermes como vocês cheguem ao Elíseos!

O juiz tenta avançar, mas é barrado por uma resistente parede de gelo.

- O que? Mas de onde surgiu isso?

- Esse muro de gelo é uma variação do Esquife eterno que herdei de meu mestre, Camus, acredita-se que nem mesmo a força combinada de vários Cavaleiros de ouro podem destruí-lo. Ele o deterá até que possamos atravessar.

- Ora, seu idiota! Acha mesmo que essa parede ridícula vai me deter?

Ele golpeia seguidamente o muro de gelo, até que, com um golpe mais forte, o estilhaça. Tinha mesmo uma força incrível para conseguir tal ato...

Shun e Seiya chamam por nós, para que o ignorássemos e os seguisse para o Elíseos, mas se o fizéssemos, todos poderíamos ser atingidos pelos golpes de Minos, antes de atravessarmos.

Tomamos ambos posição de combate, mas Hyoga apóia uma das mãos em meu busto e me empurra para fora do muro, lançando-me dentro do espaço dimensional. Me assusto com seu gesto, perdendo o equilíbrio e caindo na imensidão atrás de mim.

- O que...? Hyoga, o que está fazendo?

- Saia daqui, Nala. Eu enfrentarei Minos.

A batalha começa, Hyoga avança com todas as forças, mas o "Pó de Diamante" é barrado por apenas uma mão e mandado de volta. Ele cai, ao abrir os olhos, pode ver a imensidão negra abaixo de seu rosto.

- Você espera mesmo me conter, criança... Então será o primeiro a sucumbir sob meus golpes. Vamos, levante... Ou será que precisa de ajuda?

Ergue o indicador apenas, e o corpo do garoto se eleva ao ar, sob total comando do espectro e de seus fios invisíveis.

- Morra, Cavaleiro de Cisne... "MARIONETE CÓSMICA!"

- Hyoga! – exclamo preocupada.

- Aaaaargh! Nala... Vá embora...!

- NÃO! Eu não vou sem você, não seja idiota!

Seiya e Shun são puxados para longe, para o lado oposto ao Campos Elíseos, e eu começo a ser também puxada para longe deles. Mesmo com as armaduras banhadas pelo sangue de Atena, parecia não haver como nossos corpos suportarem àquele lugar criado pelos Deuses, e por onde só eles deveriam poder passar.

Os garotos começam a se afastar, a pressão sobre nossos corpos é gigantesca, parece capaz de nos partir em pedaços. Mas sem que perceba, das costas de Pégaso brota um par de asas brilhantes. Ele não entende, mas não tem tempo para tentar fazê-lo, vai rapidamente para perto de Shun, segurando-o pelo pulso.

- Seiya? De onde surgiram essas asas?

- Sei lá... Deve ser o poder do sangue de Atena, que libertou as asas originais do traje de Pégaso. Bom, agora a gente pode ir para o Elíseos. Vamos!

A pressão sobre meu corpo também começa a aumentar, não consigo mais controlar a direção para onde vou.

- Aaaaargh! Droga! Desse jeito eu vou ser sugada...

- Na... Nala...! Aaaaargh!

Tento elevar ao máximo meu cosmo, já estava muito longe de Seiya e Shun. Algo brota de minha armadura, olho para trás, surpresa.

- O... O que? Asas? Mas minha armadura nunca teve asas... Por que...

Contra Minos, sinto o cosmo de Hyoga também se elevar, e logo o rapaz está de pé, os fios do Juiz não fazem mais o menor efeito. Estavam completamente congelados, assim como o olhar surpreso do dono da técnica.

- Parece que Seiya e Shun já estão longe, e Nala está com dificuldades. Eu não posso mais ver onde ela está... Tenho que ajudá-la!

- Devia se preocupar mais consigo mesmo, garoto.

- Isso não é preciso, acabarei logo com você... Esta é a técnica suprema do Cisne. "EXECUÇÃO AURORA!"

Ele é lançado para trás, sua Surplice congela e se parte em pedaços. Sem pensar duas vezes, Hyoga se lança ao espaço. Pouco depois, atrás dele, sente novamente o cosmo de Minos.

- Eu já disse que não os deixarei ir ao Elíseos! ... Ah... Mas o que?

Seu corpo começa a sofrer com a pressão absurda, o que restara de sua vestimenta se destrói, e seu corpo se desintegra. "Então..." – pensa surpreso o Cavaleiro – "É isso o que acontece quando não se está protegido como nós? Será que...". Olha em volta, procurando por qualquer pista minha, sabia que tinha me afastado da entrada para o Elíseos.

Ao longe, reapareço, com as asas conseguira controlar meu corpo e a pressão não me atingia mais. Ele eleva seu cosmo, e as asas do Cisne crescem em suas costas também, ele vem até mim.

- Nala... Tudo bem?

- Eu é que pergunto... Você o venceu?

- Eu o atingi, mas quando me lancei aqui, ele tentou vir junto, e foi sugado para outra dimensão.

- Caramba... Vamos, Seiya e Shun já devem ter chegado...

- Sim... Aliás, não me lembro de nenhum tigre com asas... Ainda mais que se pareçam com uma borboleta...

- Nem me pergunte. To tão confusa quanto você.

Deu de ombros, sorrindo e resolveu que deveríamos esperar por Shiryu, que não saberia como chegar ao nosso destino.

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- Muito bem... Cavaleiro de Dragão. – dizia um dos espectros inimigos – já que está pedindo, uniremos nossos poderes e o atacaremos juntos.

O sangue escorre de sua testa, por cima de seu nariz. Sua expressão, porém, torna-se calma, ele olha para o nada, para onde deveria estar o céu, e um carinhoso sorriso se desenha em seus lábios.

"Shunrey... Você deve estar nos Cinco Picos Antigos, rezado por mim, como sempre faz. Mas depois de tantos combates, este pode ser o último. Se eu não puder voltar... Me perdoe, Shunrey."

Ela estava lá, ajoelhada sobre a rocha, rezando fervorosamente. Sua expressão era calma, até que um estranho pressentimento passa por seu coração, fazendo-a sentir uma sensação de frio e aperto no peito, e ela se enche de preocupação. Seus olhos brilham, quase marejados, enquanto ela fita as estrelas no céu, e o eclipse que continua a crescer. "Shiryu..."

Os três espectros atacam em conjunto, seus poderes combinados são um turbilhão de poder. Na hora exata, Shiryu explode ao infinito seu cosmo, e os inimigos não têm mais como escapar do poderoso e derradeiro ataque contra eles. O Cavaleiro recorre a todo o poder do último ensinamento de seu mestre.

- "COLERA DOS CEM DRAGÕES!"

Os três literalmente voam, completamente vencidos, e suas Surplices se despedaçam. Com o impacto dos golpes, Shiryu também é lançado longe, através do buraco aberto no Muro das Lamentações e para além do espaço dimensional. Sem conseguir parar, seu corpo começa a sentir a forte pressão do local, mas ele ainda está confuso para raciocinar tudo ao mesmo tempo e reagir.

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Escutamos a forte explosão vinda do inferno. Viramos rapidamente, num reflexo, vendo Shiryu se aproximar em grande velocidade. Hyoga o segura com as mãos pelos seus ombros. Ele abre os olhos, encontrando-nos ao seu lado.

- Hyoga! Nala!

- Tudo bem, Shiryu?

- É... – Disse com um sorriso, ainda meio dolorido – Opa... To atrapalhando alguma coisa – ironizou.

- Pelo jeito ta melhor do que parece... – tornou Hyoga com jeito emburrado e faces coradas. – Vamos, temos que alcançar Seiya e Shun.

Puxou o amigo pelas ombreiras e segurou minha mão, e juntos seguimos para a luz, onde teríamos nosso último combate.