Através dos Seus Olhos escrita por ReLane_Cullen


Capítulo 40
Grand Finale


Notas iniciais do capítulo

N/A: Heeeeyyy! Saudades! Eu devo ter batido recorde com essa demora, mas juro que eu tive motivos para isso. A verdade é que nos últimos meses minha vida foi uma verdadeira confusão, e ainda está sendo. Em julho, finalmente, terminei a faculdade e eu achava que teria mais tempo para escrever e tudo mais, quando eu recebi um baque muito grande. Descobrimos que minha priminha de 3 anos tem câncer e vocês podem imaginar a loucura que minha vida ficou (e ainda está) :/ Claro que também teve o problema de reescrever esse capítulo diversas vezes. Sério, eu perdi a conta de quantas vezes eu o editei/reescrevi hehehehehe Tudo o que eu tenho para desejar é que vocês gostem desse final ;) Bem, nos encontramos lá em baixo



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Capítulo 40-Grand Finale

O medo era paralisante.

Acho que eu nunca tinha entendido porque as pessoas diziam aquilo até aquele momento. Meu cérebro ordenava meus pulmões a gritarem até o ar cessar dentro deles; ordenava que minhas pernas se movessem e corressem o mais rápido possível para longe dali. Mas a verdade é que eu permanecia ali, completamente parada, no aguardo do que a mente doentia de James havia arquitetado para aquela noite.

Feixes de luz iluminavam a lâmina que James carregava na mão, bem como a arma que ele exibia na cintura. Eu lamentei, uma vez na vida, não ter prestado atenção aos vídeos de defesa pessoal que meu pai me obrigara a assistir uma vez.

A dor no meu braço fez com que eu despertasse daquele transe. Alice mantinha suas unhas cravadas em mim, com tanta força que tinha começado a perfurar a minha pele.

"O...O q-que você quer?" Tentei parecer durona, mas a minha voz vacilou – o que deixou claro meu real estado.

"O que eu quero eu já tenho bem na minha frente, mas acho melhor irmos para um lugar mais reservado." Ele piscou, antes de nos dirigir um estranho sorriso.

Colocando a faca de volta a sua bainha, James pegou a arma e apontou em nossa direção e a sacudia em seguida, como se indicasse para onde deveríamos ir. Finalmente, Alice soltou o meu braço e eu vi pequenas gotas de sangue escorrerem de onde as unhas dela estavam. Prendi a respiração. Aquela não era hora para os meus ataques.

Como Alice ia à minha frente foi ela quem abriu a porta do que antes era o armário de limpeza, e que agora mais parecia uma sala de tortura. Em meio a esfregões, vassouras e produtos de limpeza, havia duas cadeiras e vários pedaços de cordas ao redor.

Olhei de soslaio para James, analisando as possibilidades que eu tinha de me atirar em cima dele, enquanto Alice fugia dali para buscar ajuda. Eu sabia que o resultado seria desastroso, mas nossas chances seriam melhores se uma de nós estivesse fora dali.

Eu poderia me jogar contra ele, o que faria com que nós caíssemos e, com alguma sorte, quando ele tentasse me ferir com a faca, ou até mesmo a arma, eu conseguiria me desviar do golpe e conseguir correr...

Suspirei quando entrei naquele maldito armário.

Se o medo era paralisante, o desespero era ilusório. Desesperados nós pensamos ser capazes de tudo, de enfrentar a todos, como se a adrenalina que pulsa em nossas veias fosse alguma arma secreta capaz de nos dar super poderes.

Mas é nessa hora que a razão, às vezes, aparece e nos mostra que continuamos os mesmos seres mortais e inaptos de horas atrás.

Alice estava parada alguns centímetros à minha frente, enquanto James ainda estava parado atrás de mim. Estávamos ali inertes, sem saber o que fazer, apenas esperando por aquele que momentaneamente controlava o futuro de nossas vidas.

De repente, Alice arregalou os olhos e antes que eu pudesse fazer perguntas, senti uma pancada na minha cabeça e então tudo ficou escuro.

Tudo o que eu sentia era minha cabeça latejando, enquanto tentava recobrar a minha consciência e meus sentidos. Eu podia sentir uma coisa áspera em torno dos meus pulsos, impedindo-me de movê-los. Meu braço esquerdo doía e tudo o que eu conseguia ouvir era um misto de vozes que eu não conseguia identificar. Eu só queria a tranquilidade e a paz que o torpor oferecia. Eu não queria abrir os olhos para aquela realidade.

Eu não queria...

...mas mesmo assim eu fiz.

"A bela adormecida acordou." Não pode ser! Eu conhecia aquela voz. Meus olhos ainda estavam tentando focar em alguma coisa, quando eu vi aquele rosto.

Mike Newton.

"Mike?" Perguntei confusa. O que ele estava fazendo ali? Será que ele tinha ido me salvar? Mas se fosse isso porque eu ainda estava amarrada?

Pisquei mais algumas vezes, até que minha visão se acostumou com a claridade.

"Oi, princesa." Ele sorriu sadicamente "Como você está?" Mike acariciou meu rosto

"Tira as mãos de mim." Ordenei. A repulsa que eu sentia dele naquele momento, era impossível de colocar em palavras.

Olhei para o lado e vi que Alice estava desacordada, amarrada e encostada na parede assim como eu. Um filete de sangue escorria de sua têmpora esquerda, manchando seu rosto.

"O que vocês querem?" Cuspi as palavras. Minha cabeça doía e meu corpo implorava para que eu fechasse os olhos e esquecesse aquilo tudo.

"Você não faz ideia?" James sorriu pra mim. "Esse é o final perfeito para a minha vingança."

"Tudo isso por ela ter te abandonado." Estranho como numa situação daquelas, eu ainda conseguia usar meu sarcasmo.

"Se ela não tivesse conhecido aquele idiota do Jasper, tudo estaria como antes. Ele a tirou de mim. E eu vou fazer o mesmo. Só que de maneira mais permanente." Ele sorriu orgulhoso, como se ele tivesse criado uma teoria digna de um prêmio Nobel. "Mas você é um bônus muito agradável."

"É por isso que ele está aqui?" Apontei Mike com o meu queixo. Ele permanecia estranhamente distante de tudo aquilo.

"Talvez" James encolheu os ombros.

"Sabe, Mike, eu sempre te achei idiota, mas nunca achei que você fosse tão burro de entrar no jogo dele." Ri daquela situação patética, para não me entregar ao choro.

"Cala a sua boca." Mike vociferou, antes de desferir um tapa no meu rosto. As lágrimas ardiam nos meus olhos, mas eu não derramaria nenhuma gota. Não na frente deles.

"Bella..." A voz fraca e incerta de Alice me chamou.

"Alice, você está bem?" Perguntei preocupada. De soslaio vi que ela ainda tentava relembrar os últimos acontecimentos enquanto abria os olhos.

"Olha quem finalmente resolveu se juntar a nós."

"James deixa a gente ir, isso não vai acabar bem." Ela pediu sua voz soava distante e confusa.

"Isso não vai acabar bem para vocês" Ele riu. Mike juntou-se a ele.

"As pessoas vão começar a sentir nossa falta, eles vão procurar por nós." Tentei lembrá-lo de que não estávamos sozinhas. A qualquer momento nossos amigos perceberiam que algo estava errado.

"A escola é grande. O que nos dará bastante tempo..." Mike deixou as palavras no ar, como uma ameaça.

"Só espero que seja a tempo do grandfinale" Eu tentava parecer confiante. E eu precisava acreditar naquilo mais do que tudo.

"Você já me tem, James. Deixe a Bella ir." Alice falava lentamente, enquanto tentava despertar por completo. "Por favor."

"Agora não posso mais fazer isso." Ele lamentou, falsamente. "Bella agora já sabe de todo o meu plano." Ele explicou, "Se ela tivesse sido uma boa menina desde o início, as coisas poderiam ter sido bem diferentes." Ele se agachou na minha frente. "Nós poderíamos ter sido incríveis juntos". Ele piscou e esticou a sua mão para tocar o meu rosto. Retesei ao sentir aquela mão me tocando.

"Eu confiava em você. Eu te amava, James." Ao contrário de mim, Alice não conseguia segurar as lágrimas.

"Amor? Você chama aquilo de amor?" Ele vociferou. "Eu vou para outra cidade e no instante seguinte, esquece tudo o que vivemos. E por quê? Por causa do Cullen." Ele pronunciou a última palavra como se fosse um palavrão.

"Jasper não tem nada a ver com isso." Alice se prontificou em defendê-lo.

"O cara mal olha para você e mesmo assim você o defende." James gritou, ficando cada vez mais raivoso.

"Eu amo o Jasper!" Alice respondeu no mesmo tom.

"Cala a boca, sua piriguete." James deu-lhe um tapa no rosto. O choro dela se intensificou, me dando a certeza de que aquele tapa tinha sido bem mais forte do que aquele que eu tinha recebido.

"Alice." Chamei-a para saber se estava tudo bem, mas ela não me respondeu.

"Você sempre foi uma biscate que gosta de ter todos aos seus pés." James a segurou pelos cabelos, obrigando-a a encará-lo. Pude ver que da sua boca escorria outro filete de sangue.

"Mike, por favor." Implorei. Talvez uma parte de mim ainda esperasse que aquele garoto que eu conheci ainda estivesse ali, mas talvez eu nunca tivesse conhecido Mike de verdade.

"O que foi, Bella? Querendo um pouco de atenção?" James andou em minha direção, mas de repente parou e olhou para o relógio. "Droga, está na hora do combinado." Falou para Mike

"Já?" Ele agarrou os olhos surpreso. O que eles tinha combinado afinal?

"Sim." James assentiu. Ele voltou para onde Alice estava, atingindo-a mais uma vez na nuca, fazendo-a desmaiar.

"O quê? O que vocês vão fazer com ela?" Perguntei desesperada. Alice estava desacordada, e eles estavam soltando as amarras que a mantinham sentada.

"Isso se chama dividir para conquistar. " James respondeu, enquanto Mike puxava um dos carrinhos de limpeza que estavam no fundo do armário. "Não podemos passar o tempo todo com vocês aqui. Sem contar que nossas chances de fuga aumentam se estivermos separados." Com um cuidado que me surpreendeu, eles colocaram Alice num compartimento pequeno demais para colocar um adulto de estatura mediana, mas o espaço parecia ser suficiente para acomodá-la. "Aguarde o meu sinal."

"Pode deixar." Mike assentiu.

"E não faça nada estúpido." James ordenou, antes de Mike sair dali empurrando o carrinho.

"Por que é ele quem vai levar a Alice?" Perguntei assim que a porta tinha sido fechada. James considerava Alice o verdadeiro prêmio dele. Não conseguia entender como ele podia confiá-la a Mike.

"Não confio nele sozinho com você." Ele apontou. "Ele poderia colocar tudo a perder, se vocês dois ficassem sozinhos."

[EPOV]

"A fila do banheiro deve estar gigantesca, as meninas tão demorando demais." Comentei, olhando o relógio. Eu não tinha visto a hora que elas saíram, mas eu tinha certeza que já tinham passado mais de trinta minutos.

"Por que mulher demora tanto no banheiro?" Jasper reclamou.

"Por que temos muita coisa pra fazer." Rosalie tentou explicar.

"Vocês fazem tudo, menos usar o banheiro." Emmett riu.

"Engraçadinhos." Ela fez uma careta. "Mas elas realmente estão demorando." Rosalie constatou ao olhar o relógio. "Eu vou lá ver o que está acontecendo"

"Eu vou com você." Disse prontamente.

"Eu também." Jasper ofereceu.

"E quem vai ficar aqui caso elas voltem?" Rose raciocinou, e ficamos os quatro nos encarando, tentando decidir.

"Eu vou com a Rose e vocês dois ficam." Emmett decidiu.

"Por quê?" Jasper retorquiu, impaciente.

"Porque sim."

Rose e Emmett sumiram na multidão e a inquietude que tinha dado os primeiros sinais, agora tomava sua forma completa assemelhando-se a uma angústia facilmente confundida com pavor. Ao mesmo tempo em que minha mente se enchia desses inúmeros "e se..." sucedidos por finais impronunciáveis.

"Oi, meninos." Angela apareceu sorridente na nossa frente. Ben estava ao seu lado, com um sorriso amistoso.

"Angela, Ben. Como vão?" Sorri como se nada me preocupasse naquele momento. Ou pelo menos era isso que eu queria que eles acreditassem.

"Muito bem. Ainda não consigo acreditar que tudo acabou. Quer dizer, eu ainda lembro do meu primeiro dia aqui como se fosse hoje. As sensações, o clima, os rostos..." Ela falava de um jeito saudosista, que até chegava a ser um pouco sonhador. Eu também lembrava do meu primeiro dia. O temor do desconhecido. O mais próximo do que eu estava sentido agora. "Nem parece que tudo aconteceu faz só quatro anos."

"O que vocês vão..." Ben iniciou uma pergunta, mas a chegada ofegante de Emmett e Rose o interrompeu. "Emmett, Rose, oi" Ele sorriu amistoso, mas seu sorriso logo desapareceu ao ver o olhar de desespero no rosto dos recém chegados.

"Elas não estão lá." Rose anunciou, tentando normalizar a respiração.

"Como assim?" A voz de Jasper soava desesperada.

"Não estão. O banheiro está quase vazio e eu fiquei gritando pelas meninas, mas ninguém respondeu."

"Será que vocês não se desencontraram?" O banheiro era grande, talvez elas tenham saído na hora que ela estava procurando em um dos banheiros individuais.

"Só tem um caminho, e o Emmett ficou na entrada do banheiro."

"O que aconteceu?" Angela perguntou.

"Alice e Bella sumiram" Emmett respondeu.

"Como assim sumiram?" Bem alternava os olhares entre nós, esperando que alguém desse a resposta.

"Vocês acham que o James..." Angela deixou as palavras no ar. Bella tinha lhe confiado uma pequena parte do inferno que vivíamos desde a fuga de James.

"E quem mais faria uma coisa dessas?" Um sorriso amargo apareceu no rosto do meu irmão. Eu nunca fui bom com os sentimentos das pessoas, essa parte sempre tinha sido a especialidade do Jasper. Eu era bom em transformar sentimentos em músicas, Jasper era bom em senti-los. E demonstrá-los. Mas apesar da minha inaptidão como tradutor, eu diria que aquele sorriso era um misto de medo e arrependimento. Como eu disse antes, o "e se..." é inevitável.

"O que faremos agora?" Ben questionou.

"Ir atrás dele." Meu irmão respondeu sem pestanejar.

"Mas nem sabemos para onde ele foi." Angela relembrou.

"Talvez ainda esteja na escola." Emmett não estava apenas sendo otimista, mas ele estava usando a lógica. Não teria como o James fugir com duas garotas, de um escola movimentada, num espaço relativamente curto de tempo.

"Podemos anunciar no microfone." Bem sugeriu.

"É melhor não causar pânico." Angela ponderou. "Além do mais, não sabemos o que ele vai fazer com elas caso as pessoas descubram."

"Vocês vão procurando enquanto eu ligo pro Charlie." Decidi.

"Você não vai ficar aqui sozinho enquanto o próximo norman Bates vaga por esses corredores. Vamos todos falar com o Kevin Costner do dia, e você liga pro Charlie quando estivermos lá." O jeito mandão de Rose conseguiu me arrancar um quase sorriso.

"Isso não pode estar acontecendo." Murmurei, enquanto andava em direção a saída.

"Precisamos de calma." Emmett tentava se convencer.

"Precisamos é de tempo." As palavras de Jasper eram verdadeiras, mas nem por isso deixavam de ser menos cortantes ou dolorosas.

A coisa de que mais precisávamos era aquela única coisa que nenhum humano era capaz de controlar.

E quanto mais o relógio avançava, mais percebíamos isso.

Estávamos os seis encostados no carro do Kevin Costner do dia, como Rose insistia em chamá-lo, embora ele nos tenha dito que seu nome era Paul Lahote. O oficial Lahote tinha entrado em contato com Charlie, que já estava a caminho. Eu sabia que ele estava vindo o mais rápido que ele podia, mas ainda parecia insuficiente.

Algum tempo depois disso, três viaturas entraram no estacionamento da escola. Charlie sequer esperou o carro parar e disparou como um foguete do lado do carona.

"Ok, garotos. Contem-nos mais uma vez o que aconteceu." Charlie pediu, fazendo um péssimo trabalho em mascarar seu desespero. Eram amores diferentes e exatamente por isso não podíamos mensurá-los e dizer qual era o maior, porém algo me dizia que o sofrimento dele era maior que o meu.

Emmett assumiu a responsabilidade de contar todos os detalhes para Charlie, que ouvia tudo pacientemente. O momento que elas tinham ido ao banheiro, a demora, a procura...tudo.

"Lance e Madison, vocês vão pelos fundos e vasculhem o primeiro andar. Riley e Adam venham comigo. Precisamos achar essas garotas" Assim que acabou de ouvir a história, Charlie disparou as ordens.

"E nós?" Emmett disparou.

"Vão ficar aqui com o Paul." Charlie disse categoricamente.

"Eu não posso ficar aqui esperando." Jasper declarou no mesmo tom.

"Isso é trabalho para a polícia." Respirei fundo ao ouvir aquilo.

"Charlie, você sabe muito bem que isso não vai acontecer. Eu não vou conseguir ficar aqui, parado, enquanto a Bella e Alice estão lá dentro." Charlie me fitou por um momento, depois olhou para o céu, como se estivesse esperando alguma resposta cair de lá. Quando seus ombros encolheram, eu entendi que ele estava se rendendo.

"Adolescentes!" Charlie suspirou. "Por que vocês precisam ser sempre tão teimosos." Ele olhou ao redor, ainda procurando uma resposta para aquela situação e então nos encarou novamente. "Eu não preciso alertá-los dos perigos, assim como não preciso avisá-los que como policial eu não posso deixar que civis acompanhem uma operação de resgate. Mas, eu sei o quanto essas meninas significam para todos vocês. E sei que vocês darão um jeito de entrar lá, com ou sem a minha autorização. Então é melhor que venham comigo."

"Eu vou ficar. Eu me conheço muito bem e sei que só atrapalharia vocês se eu fosse" Rose disse. E logo Angela e Ben disseram que ficariam ali, fazendo-a companhia.

"Ok." Emmett assentiu, e beijou-a na testa.

"Traguem minhas amigas de volta." Ela sussurrou com lágrimas nos olhos.

Nossa escola era composta de três andares, cada um com dois corredores principais, compostos de outros corredores menores. Não era exatamente o labirinto do Minotauro, mas a iluminação fraca e todo o peso daquela situação pioravam a situação.

Estávamos em um dos corredores menores do térreo, quando um barulho chamou a atenção de todos. Charlie sinalizou para que todos fizessem o mais absoluto silêncio. Enquanto ele andava em direção a porta, ele gesticulou para que dois policiais passassem a frente dele, e aguardassem na outra extremidade da porta. Eu, Jasper e Emmett aguardávamos um pouco mais afastados, mas perto o suficiente para ver o que estava acontecendo.

Um dos policiais deu um chute na porta, abrindo-a e Charlie entrou no cômodo. Com a arma em punho, ele encontrou um arfante Mike tentando manter Alice em seu lugar.

"Vamos garoto, você sabe o que fazer." Charlie ordenou. "Mãos para cima e afaste-se da menina."

"Eu tenho uma faca aqui." Ele ameaçou, sua voz tão trêmula quanto suas mãos.

"E antes que você possa fazer qualquer coisa, uma bala estará na sua cabeça. É isso o que você quer?"

"Não, eu...não..." Mike estava visivelmente transtornado. Ele não sabia o que fazer naquela situação.

"Vamos, entregue a menina." Charlie ordenou.

Mike pegou Alice pelo braço e a jogou na direção de um dos policiais, que a segurou. Depois, o idiota largou a faca no chão e colocou as mãos para cima, rendendo-se.

"Jazz!" Alice correu até meu irmão, e o abraçou. Nem por um segundo Jasper titubeou, e logo a envolveu em seus braços. Meu coração ainda estava apertado, mas vê-los daquela maneira - entregues ao choro e ao alívio- trazia um pouco de paz para o meu próprio coração. Talvez eles ainda tivessem uma chance.

Eu e Emmett nos aproximamos dos dois, abraçando-os, já que Alice não conseguia desgrudar de Jasper nem mesmo para falar conosco. Ao fundo, Charlie lia os direitos de Mike enquanto o algemava. Se algum dia eu tivesse duvidado que a estupidez pudesse ser perigosa, hoje seria o dia o qual eu descobriria o meu erro.

Nunca entenderia como um pária feito Mike teve a capacidade de se aliar a um psicopata feito James, e ainda ajudá-lo na execução de seu plano maluco.

"Mike abriu a boca. O plano era eles mudarem de salas periodicamente e ao término da festa os dois se encontrariam em um bar que fica há cinco quarteirões daqui, onde os dois pretendiam fugir com as meninas." Charlie comunicou. "Levem-na para o Paul." Ele disse a um dos policiais.

"Não!" Alice gritou.

"Alice..." Jasper implorou.

"Não, eu não saio daqui até encontrar a Bella." Ela respondeu firme.

"E você tem alguma ideia de onde ela possa estar?" Um dos policiais perguntou.

"Nós ficamos presas no armário do zelador, e depois Mike me trouxe para essa sala." Ela fechou os olhos, como se estivesse tentando ordenar os pensamentos. "Acho que James subiria, enquanto Mike iria ficar com o primeiro andar por ser mais fácil de escapar."

"Até o James percebeu que o Mike precisaria que facilitassem as coisas pra ele." Emmett brincou, mas não conseguiu arrancar nenhum sorriso.

"O que faremos agora, chefe?" Um dos policias perguntou.

"O reforço já chegou?" Após receber uma resposta positiva, Charlie continuou. "Eu preciso de policiais em todo o perímetro até o tal bar que o garoto falou. Não sabemos se James ainda está aqui, então temos de cobrir todas as possibilidades. Nós vamos nos dividir entre os dois andares restantes. Haja o que houver, não façam nada sem a minha ordem."

"Sim, senhor." Eles responderam em uníssono.

Se eu achava que o primeiro andar estava escuro, acho que eu não possuía um adjetivo apropriado para a falta de iluminação no segundo.

A escuridão nunca me assustara. Por anos ela havia sido minha companheira mais fiel, aquela que me dera forças para suportar o fato de que eternamente ela se faria presente. Podia até parecer confuso, mas a escuridão tinha sido a cura para a própria escuridão.

Mas aquela era diferente. Era uma escuridão que guardava os piores temores de todos ali presentes. Os pequenos flashes de luz vindos das lanternas, mostravam que aquela angústia que me sufocava, não era exclusiva. Era possível vê-la no olhar apreensivo de Charlie, na expressão séria de Emmett, nas mãos entrelaçadas de Alice e Jasper...

"Chefe?" O rádio de Charlie tocou.

"Prossiga."

"Localizamos sua filha. Ela está em uma das salas de música do terceiro andar."

"Não façam nada" Ele ordenou. "Aguardem a minha chegada." Charlie olhou para nós quatro e depois para os policiais, como se estivesse pensando em algo. "Eu preciso de dois coletes." Ele falou decidido.

"Chefe?" Um dos policiais o olhou duvidoso, questionando as ordens dele.

"Não discuta." Charlie rosnou. "Meninos, vou precisar de vocês." Ele informou. "James é uma pessoa que precisa estar no controle total da situação. É a natureza dele, e eu temo como ele possa reagir ao se sentir encurralado."

"O que temos de fazer?" Perguntei.

"Apenas agir como se não estivéssemos aqui. Ele precisa achar que está no controle da situação. Apenas não o provoquem." Ele nos encarou. "Nós estaremos com vocês."

O policial a quem Charlie tinha pedido os coletes tinha se aproximado de mim e Jasper, com o intuito de nos ajudar a vesti-lo. O colete formava um certo volume por debaixo das roupas, mas nada que levantasse suspeita. Silenciosamente, os policiais se afastaram e caminhamos para a sala onde Bella estava. A distância era de uns duzentos metros apenas, mas num momento como aquele, parecia o percurso de uma maratona.

Paramos a porta e fiquei debatendo sobre qual seria a melhor maneira de entrar. Avisar James que estávamos ali, ou entrar sorrateiramente? O fator surpresa seria nosso aliado ou inimigo? Como que sentindo minha indecisão, Jasper girou a maçaneta e nós dois entramos. A cena que vi fez meus punhos cerrarem, numa tentativa de conter toda a raiva que sentia. Bella estava com as mãos amarradas atrás das costas, com James atrás dela, mantendo uma mão no revólver enquanto a outra passeava pelo corpo dela.

"Ora, ora. Finalmente resolveram aparecer" Ele disse, com um estranho sorriso no rosto. Era como se ele realmente estivesse feliz em nos ver ali.

"James, solta ela. Isso é entre eu e você." Jasper ordenou.

"Na verdade, isso" Ele fez um gesto entre ele e Jasper "ganhou interessantes desdobramentos nos últimos meses." Ele suspirou e segurou Bella pelo queixo, obrigando-a a nos encarar. "Olha só, Bella. Seus dois amores." Ele riu. "Eu me pergunto se Alice sabe que você está aqui tentando salvar Bella, quando deveria estar procurando por ela." Enquanto James falava com Jasper, meus olhos estavam fixos nos de Bella. Eles não tinham nenhum sinal de que ela havia chorado, e apesar da sua aparente calma, seus olhos entregavam tudo o que ela estava sentindo.

"Ah, as ironias da vida." James suspirou dramaticamente. "Ao menos você não pode dizer que não via porque estava cego." Ele fez uma careta, como se estivesse se sentindo culpado. "Cedo demais?" Ele perguntou, antes de soltar uma gargalhada.

"James, deixe a Bella ir. Nós somos o seu problema. Fomos nós que as roubamos de vocês." Eu sabia que eu não deveria provocá-lo, mas se toda a raiva dele se direcionasse a mim, talvez Bella conseguisse escapar.

"Mas por quê eu deixaria ela ir? Ela é parte importante nesse processo." Ele falava como se estivesse conversando com uma criança de cinco anos. "Então, Bella? Escolhe um."

"Você é doente." Bella resolveu se manifestar. Sua voz estranhamente segura.

"Escolhe um, sua puta." Ele gritou, irritado, dando um puxão no cabelo dela.

"James!" Eu gritei. Fiz menção de ir para cima dele, mas Jasper me segurou pelo braço.

"Uh, temos um candidato? Mas e agora? Eu atiro em você ou nele?" Ele se virou para Bella. A arma dançando entre mim e ela.

"Para com essa loucura James, ainda dá tempo." Ela pediu, talvez numa última tentativa de fazê-lo recuperar a lucidez.

"Anda Bella, escolhe!" Os gritos de James eram proporcionais a força que ele usava ao segurar Bella pelos cabelos.

"James, por favor." Ela implorava. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ela lutava para deixá-los no lugar.

"Estou perdendo a paciência." Ele disse rispidamente. "1,2..." A contagem foi interrompido por um disparo. Levou uma fração de segundo para eu entender o que estava acontecendo.

"AAAAAHHH!" O grito de Bella me trouxe de volta a realidade. James estava caído ao lado dela, com um tiro certeiro na cabeça. Eu não precisava me virar para saber que era Charlie quem havia atirado.

"Bella" Aproximei-me dela. Ela ainda estava em transe, olhando para o corpo sem vida de James. Quando ela olhou para mim, era como se ela estivesse acordando de um pesadelo.

"Edward." Ela suspirou antes de se agarrar a mim.

No instante em que meus braços a envolveram, ela estremeceu e começou a chorar. Eu a abracei ainda mais forte, como se eu quisesse fundir os nossos corpos. Nunca era perto o suficiente.

"Está tudo bem, meu amor." Sussurrei entre as minhas próprias lágrimas. Eu não sabia conter o alívio e a gratidão de tê-la ali em meus braços novamente. Um lugar que só pertencia a ela. E de onde ela nunca mais sairia.

Em algum momento, Bella conseguiu se separar de mim apenas para ser abraçada por seu pai, Jasper e Emmett. A verdade é que todo aquele desfecho passou por minha mente como uma imagem destorcida. O reencontro entre Alice e Bella, o alívio de Rose. Angela e Ben. A ida para a delegacia. Os depoimentos.

Era tudo tão confuso.

O relógio da delegacia marcava três horas da manhã. Meu pai acompanhava o depoimento de Jasper, enquanto minha mãe estava sentada algumas cadeiras depois de mim, com um braço em volta de Emmett. Eu sabia que meus pais viam Emmett como sendo filho deles, mas até aquele momento acho que eu não tinha idéia do quanto minha mãe realmente se importava com ele. Rose estava rodeada pelos pais, e o mesmo acontecia com Alice. Apesar do susto, todos pareciam aliviados de que todo aquele sofrimento havia finalmente chegado ao fim. Bella permanecia sentada no meu colo, completamente enroscada no meu corpo. Ela estava quieta, e já tinha algumas horas desde a última vez que ela tinha chorado. Apesar da aparente quietude, eu sabia que ela não estava dormindo.

Charlie apareceu na nossa frente e sorriu para mim.

"Vem filha, eu vou te levar pra casa." Ele fez um carinho na cabeça de Bella e ela levantou os olhos para encará-lo.

"Eu quero ficar com o Edward." Ela respondeu numa voz quase infantil.

"Ele pode dormir lá em casa." Charlie concedeu, sabendo muito bem que naquele caso, ele não conseguiria, e nem queria, impor sua vontade.

Durante todo o caminho, Bella permaneceu do mesmo modo. Imóvel, sentada no meu colo e segurando a minha camisa com tanta força, como se temesse que eu fosse desaparecer a qualquer momento.

Quando chegamos ao apartamento, fui direto para o quarto dela. Bella se deitou na cama e eu fiz o mesmo. Quando eu a abracei, ela se virou para mim, encostou a cabeça no meu peito e se entregou ao choro novamente.

"Shhhh, vai passar." Eu sussurrava, enquanto beijava cada pedacinho do seu rosto. Gradativamente, Bella foi relaxando e seus olhos foram fechando.

"Eu te amo." Ela declarou, fechando os olhos.

"E eu amo você mais." Sorri e beijei sua testa.

[BPOV]

Um borrão. Era tudo o que aquelas pessoas representavam para mim. Rostos desconhecidos com histórias ocultas às quais eu era alheia e assim permaneceria. Do mesmo modo que para elas eu era apenas um borrão, em um banco traseiro de um carro passando por elas nas ruas. Elas também desconheciam a minha história e era assim que eu preferia. Era bom fingir que aquele pesadelo nunca tinha acontecido.

Não!

Aquela noite não tinha sido um pesadelo. Pesadelos nos assustam por um momento, uma noite e vão embora com um abraço dos pais ou o abrir de olhos. Para não mencionar que a única lição que nos deixam é a de evitar certos filmes a noite.

No entanto, a tragédia sim é capaz de fascinar. Não é sem razão que tantos autores recorrem a ela. Shakespeare foi o grande mestre, mas foi me apropriando das palavras de Oscar Wilde que eu finalmente pude entender tudo aquilo.

Ele tinha razão. A tragédia da vida real não é tão artística quanto à das histórias. Não há gritos histéricos de donzelas em perigo e nem heróis corajosos, dispostos a salvá-las. Há apenas o medo e a incerteza; a morte e a vida.

Seus efeitos não duram um momento e nem uma noite... Eles persistem a todo instante, infiltrando-se até nos momentos mais tranquilos. Sangra sua paz, sua sanidade, segurança e confiança. Mas nada disso se compara com a realidade de descobrir que sua vida nunca mais será a mesma.

A tragédia te obriga a moldar toda sua vida tendo aquele momento como ponto de partida. Porém, o sucesso da tragédia depende do seu fracasso, e do meu também.

Eu me perguntava quantas daquelas pessoas também não precisavam colocar um sorriso no rosto todos os dias e fingir que os monstros que lhes assombravam não passavam de temores infantis.

Como que lendo meus pensamentos, Edward colocou sua mão sob a minha e a apertou. Ele me fitava intensamente e eu sorri ao ver aqueles olhos que por tanto tempo ele decidira esconder e que agora diziam tudo o que eu precisava saber.

Emmett parou o carro na vaga mais próxima da entrada do Aeroporto Internacional O'hare. Olhei o relógio e suspirei aliviada ao notar que ainda tínhamos tempo suficiente.

"Eu não acredito que ele resolveu não vir." Emmett reclamou ao entrarmos no saguão do aeroporto.

"Aquele cabeça de vento merece uns bons tapas." Rose se juntou ao resmungo

"Será que podemos mudar de assunto?"

Eu também achava que ele deveria estar ali. Levando em conta as últimas semanas eu poderia até arriscar que meu casal favorito faria seu triunfal retorno. Infelizmente, as aparências enganam.

"Ela está ali." Edward localizou o pequeno pontinho roxo em meio à multidão.

"Vocês vieram!" Alice exclamou e sorriu ao nos ver e se separou dos pais, vindo na nossa direção. Seu sorriso falhou ao notar que uma pessoa estava faltando.

Ainda me lembrava daquele dia. Quatro dias já haviam passado desde o Baile de Horrores, como alguns tinham apelidado aquela noite, quando ela comunicou a todos sua decisão. Eu pensava que aquela era uma reação imediata a tudo aquilo. Porém as semanas passavam e a decisão era mantida. Alice insistia que precisava de um tempo só para ela, um tempo para assimilar e compreender tudo o que tinha acontecido. Um tempo e um lugar onde ela pudesse recuperar a autoconfiança e a habilidade de confiar nas pessoas ao redor. Eu entendia e sentia a maioria dessas coisas... Só não conseguia entender o porquê de ela ir para o outro lado do mundo para conseguir isso.

"Ah, minha hobbit! Vou sentir suja falta" Emmett a sufocou num abraço. "Beba bastante vodka por mim."

"Emmett!" Alice protestou e sorriu apologeticamente para os pais. "Obrigada por tudo. Por estar lá quando eu precisei, mesmo quando eu estava sendo uma verdadeira idiota."

"Eu faria tudo de novo." Meu urso de pelúcia sorriu.

"Eddie" Ela se virou para ele e sorriu ao ver a careta que ele fazia. "Eu não tenho palavras para agradecer por tudo o que sua família e você fizeram por mim. Obrigada por não desistir de mim e por me salvar quando eu mais precisei." Àquela altura Alice já estava aos prantos e meus olhos invejosos tentavam seguir o mesmo caminho.

"Alguém me ensinou a não desistir dos amigos mesmo quando eles são um pé no saco." Edward sorriu. "Eu também quero te agradecer por tudo o que você fez nesses anos. Eu fui um imbecil, mas você não falhou nem um único dia, sempre levou meu almoço e conferiu se eu estava bem. Obrigado." Ele a puxou em um abraço que durou incontáveis minutos. Uma lágrima traidora escorreu pelo meu rosto. Ao meu lado, Rosalie e até Emmett tinham os olhos mareados.

"Bel..." O choro embargou sua voz, ocasionando meu próprio choro. Abracei-a e ficamos ali, silenciosamente pedindo desculpas e agradecendo por tudo o que havíamos vivido.

Ambas havíamos errado, em graus e por motivos diferentes, mas havíamos aprendido. E com isso, machucado as pessoas que mais amávamos na vida, bem como a nós mesmas. No entanto, uma força ainda nos unia como se tudo aquilo não tivesse acontecido. De certa forma, ela era aquela mesma Alice que passava horas conversando comigo sobre nada e sobre tudo. Contudo, numa olhada mais cuidadosa era possível ver as cicatrizes que ela carregava no olhar. Senti outro par de braços ao nosso redor. Era Rose. Ficamos as três abraçadas e chorosas, sem nem nos importarmos se estávamos chamando atenção.

"Eu já desisti de fazer você ficar." Rose falou um pouco mais calma.

"Apenas volte, ok?" Alice assentiu e a abraçou.

"Eu tenho tanta coisa para falar..." Ela começou olhando para mim, mas eu a interrompi. Se Alice continuasse a falar eu não conseguiria parar de chorar.

"Tudo já foi dito." Sorri para ela, tentando segurar o choro. "Só quero que você volte. É tudo o que eu peço."

"Eu amo vocês." Ela declarou antes de nos abraçar.

"Eu também." Rose e eu dissemos em uníssono.

"Dê um abraço nele por mim." Ela pediu num sussurro.

Nas últimas semanas a animosidade e a indiferença entre Alice e Jasper tinham dado lugar a uma amizade e até uma certa cumplicidade que parecia ser uma pequena amostra do que o relacionamento deles tinha sido ou do que poderia ser. Mas talvez, todos estivessem enganados. Jasper não viera se despedir. E ele era o único que poderia fazê-la mudar de ideia.

Alice embarcou e era como se uma parte de mim tivesse ido embora naquele avião. Olhei para Rose e sua expressão espelhava a minha. Nós estávamos nos despedindo da pessoa que tinha sido a responsável por manter todos unidos, mesmo quando ela não fazia mais parte de nós.

Edward mantinha um braço em volta de mim, como se esperasse que eu desabasse a qualquer momento. Mas foi no instante que alcançamos o saguão do aeroporto, e reconheci um rosto na multidão, que eu realmente desabei.

Ele tinha vindo, mas era tarde demais.

"Jazz!" Corri até ele e o abracei.

"Ela já foi, não é?" Ele perguntou com um olhar tão desesperado que fez meu coração quebrar. Jasper me apertou mais em seus braços e senti-o estremecer quando finalmente se entregou ao choro. Vê-lo tão frágil me deixava sem ação. Ele precisava de mim como um dia e precisei dele.

"Eu sinto muito!" Encarei seus olhos azuis, agora vermelhos pelo choro.

"Eu só queria me despedir e dizer..." A voz dele embargou. Ele sacudiu a cabeça. "É melhor assim."

"Jazz?"

"Não. " Ele respondeu com veemência. "Não tenho nada a dizer."

Eu apenas assenti, aquela era a decisão dele e eu iria respeitar. Segurando-o pelo braço, voltei para perto do grupo.

Era interessante ver como as pessoas, cada um a sua própria maneira, reagiam diante dos problemas. Uns tentavam esquecer, outros perdoavam, outros se escondiam atrás de barreiras invisíveis, outros apenas fugiam... Mas quem seria hipócrita o suficiente para julgar qualquer uma dessas ações como certas ou erradas? Será que existia certo e errado numa situação dessas? O que significava ser forte ou fraco? E quem tinha o poder para determinar tal coisa?

Emmett nos deixou na casa dos Cullen antes de seguir em direção a casa de Rose. Assim que entramos Jasper foi para o seu quarto sem nos dirigir a palavra.

"Você acha que eu deveria..." Edward perguntou incerto e meneou a cabeça em direção a porta. Assenti com um sorriso e ele subiu as escadas atrás do irmão.

Era maravilhoso ver como ele tinha mudado; saído da sua pequena concha. Eu podia imaginar o quão difícil era para ele dar o primeiro passo. Tentar conversar com o irmão, quando há meses atrás os papéis eram invertidos. Ver Edward se importar com Jasper e agir de acordo me deixavam realmente feliz. Eu sabia que ele ainda estava um pouco longe de ser aquele garoto que Rose vivia falando, e sinceramente eu duvidava que ele um dia voltasse a ser. O tempo, as experiências e as circunstâncias nos mudam. Porém a essência de alguma forma permanecia.

Dedilhei as teclas do piano em busca de uma distração. Depois daquele verão tudo estaria diferente. Nova York seria meu lar nos próximos uma garota que odiava o frio eu estava cada vez mais indo para o norte. Antes de a escola acabar, Edward e eu tínhamos decidido ir para Califórnia, mas com a rotina de exames que Edward realizaria em Nova York a cada seis meses, decidimos nos mudar de vez para a cidade. Não teríamos como nos manter na faculdade e bancar duas viagens para Nova York todos os anos, sem contar Chicago e Phoenix.

"Eu achei que depois de tanto tempo ao meu lado suas habilidades no piano seriam melhores." Sorri ao ver Edward parado a porta.

"Como foi com ele?"

"Bem." Ele suspirou e sentou-se ao meu lado.

"Eu acho que não posso fazer isso." Confessei mordendo o lábio.

"Isso o quê?"

"Nova York. Não posso ir e deixar Jasper aqui."

"Ele vai ficar bem." Edward me garantiu, mas meu coração não conseguia acreditar naquilo. Ele não ficaria bem, não depois de tudo aquilo.

"Você não entende..."

"Eu entendo." Edward afirmou e pude ver em seus olhos que ele sabia do que eu estava falando. "Ele me contou. Mais tarde ele vai falar com os nossos pais." Assenti. Era um alívio saber que Jasper estava pronto para contar tudo aquilo que ele tinha vivido naqueles dias obscuros entre sua fuga e seu aparecimento em Phoenix. "Além do mais, Emmett e Rose vão ficar na Universidade local, então ele não estará completamente sozinho... O que foi?" Ele perguntou quando um sorriso apareceu em meus lábios.

"Apenas lembrando a primeira vez que tocamos nessa sala;" Edward fez uma careta ao ouvir aquilo.

"Você estava em todo lugar e isso me deixava louco" Ele riu bem humorado. "Eu estava acostumado a escuridão e aí você chegou, iluminando tudo ao seu redor e isso me deixava com raiva. Meu espaço tinha sido invadido, sua voz estava em todos os lugares e eu desejava um pouco da sua luz para mim" Encostei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos. Sua voz melodiosa e a batida do meu coração tocavam em sincronia.

Edward passou um braço em minha volta e eu me aconcheguei ainda mais nele. Seu cheiro me envolvia, fazendo que até mesmo aquela nova sensação recebesse um toque de familiaridade.

"E então você se tornou o meu sol, enquanto eu era a terra girando ao seu redor. Eu podia sentir o sorriso na sua voz e isso me trazia uma paz inexplicável. Algo me aquecia todas as vezes que eu ouvia sua voz" Eu ri. "O que foi?"

"Cada vez que eu ouvia a sua voz parecia que meu coração ia sair do meu peito. Nunca senti essa tal calmaria."

"Você me entendeu." Ele disse entre uma risada e um revirar de olhos. "Você me fez enxergar além dos meus problemas."

"Você me ensinou que fechar os olhos pode ser essencial. Acho que estamos quites."

"Eu te amo." Ele sussurrou no meu ouvido.

"Eu te amo mais." Sorri perdida em seus olhos.


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Notas finais do capítulo

N/A: É estranho estar aqui. É estranho ter que dizer adeus, ou nesse caso um até breve para esses personagens. É diferente não tê-los mas vagando pela minha mente, implorando para serem escritos. Eu tenho algumas histórias no fandom, e cada uma tem um lugar cativo no meu coração por diversas razões. Mas ADSO foi uma experiência única. ADSO me fez pensar, me fez questionar sobre deficiências e incapacidades de uma maneira que nunca tinha me tocado antes. Porque antes eu nunca tinha tido alguém próximo a mim com um problema como esse, e com ADSO eu comecei a ter o Edward. E eu tenho que ser grata por esse ser imaginário, que me fez enxergar as coisas por uma nova perspectiva. Mas ele não foi o único que me fez mudar, vocês, mais que qualquer outra pessoa no mundo, foram as responsáveis por muitas lágrimas que derramei, bem como muitos sorrisos em frente a tela do computador. E o que me deixou transbordando de gratidão, foi saber como essa história tocou cada uma de vocês. Eu só queria agradecer a cada uma de vocês pelo tempo gasto lendo/ e postando reviews. Muito obrigada, mesmo.

E por último e não menos importante, eu gostaria de agradecer a minha "sis" a minha amiga Hypia Sanches por sempre betar meus capítulos e aturar minhas loucuras e problemas.

Sinceramente, me faltam palavras para dizer adeus pelo simples fato que eu não quero fazê-lo.

E talvez eu não precise fazê-lo :) Quem sabe vocês não terão ADSO em suas mãos dentro em breve? Nunca se sabe... ;)

Continua em: SEGUINDO SEUS PASSOS.