Através dos Seus Olhos escrita por ReLane_Cullen


Capítulo 30
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Notas iniciais do capítulo

Não tenho muito o que dizer a não ser que serei odiada após esse capítulo. Adeus mundo cruel..... Beijos e até a próxima (se vocês não me matarem hauhuhdfudhdufhu)



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Capítulo 30- Acertar

Fazer as malas era uma coisa interessante. Não pela ação em si, mas pelo significado que aquela viagem teria. Separar o que levar era o primeiro passo para dizer adeus, mesmo que de forma temporária.

No entanto, ultimamente, eu me perguntava o quão temporário esse adeus seria. Um mês? Dois? Mais que isso? Eternamente? Nos últimos dias minha mente estava sempre seguindo uma linha de raciocínio pela qual eu preferia não seguir, mas eu sabia que seria impossível não considerar o que minha mente insistia em gritar tão alto.

Felizmente, o telefone tocou, adiando aqueles pensamentos mais uma vez.

"Alô?" Atendi.

"Eu consegui!" Edward comemorou do outro lado da linha.

"Conseguiu o quê?" Minha mente ainda estava um pouco longe para que eu pudesse pensar com exatidão.

"O transplante! Eles ligaram." Aquela noticia me despedaçou em duas. Eu estava feliz por ele, mas ao mesmo tempo triste por que eu não poderia estar lá.

"Edward, isso é maravilhoso!"

"Eu não sei se eu consigo acreditar ainda."

"Claro que acredita."

"Obrigado." Ele agradeceu emocionado.

"Eu não quero agradecimento." Ele não tinha que estar agradecendo, não mesmo.

"Mas eu quero agradecer, posso?"

"Tudo bem." Sorri. "Quando que vai ser a cirurgia?"

"Eles disseram que o quanto antes eu estiver lá melhor."

"E quando você vai?"

"Amanhã à tarde." Ele respondeu. "Eu liguei para te chamar para vir para cá. Eu, Emmett e Rose estamos a fim de nos despedirmos de você."

"Uma festa de despedida?" Perguntei receosa. Por que festas sempre me perseguiam?

"Não é uma festa." Ele argumentou. "Só nós quatro, um filme e comida."

"E o Jazz?" Perguntei, embora eu já imaginasse a resposta que eu ganharia.

"Ele continua na mesma. Ou vive na rua ou trancado no quarto. Eu não sei o que fazer."

"Nem eu." Suspirei. Eu não aguentava vê-lo se destruindo daquela forma, mas ao mesmo tempo eu não sabia o que fazer para ajudá-lo.

"Será que isso é permanente?"

"Não sei. Ele sofreu um golpe muito duro. Ele realmente amava Alice, e perdê-la assim, ainda mais da maneira que foi, deixou-o transtornado. Talvez, enquanto isso estiver recente, ele ainda continue desse jeito." Ao menos era nisso que eu preferia acreditar.

"Já tem mais de uma semana que ele está assim."

"O que seus pais dizem sobre isso?"

"Na verdade, está quase impossível encontrar o Jasper em casa. Pela manhã ele não sai do quarto e antes que nossos pais cheguem ele já está na rua. Minha mãe chegou um dia mais cedo para conversar com ele, mas ele não quis ouvir. Disse que ele sabia o que estava fazendo e que não era para ninguém se meter." Suspirei. Os irmãos Cullen sabiam seguir uma linha dramática como ninguém.

"Ele ainda não tem dezoito anos, seus pais ainda são responsáveis por ele."

"Eu sei. Eu acho que eles estão se culpando pelo filme estar se repetindo."

"A sua situação e a do Jasper são completamente diferentes. Eu não minimizo o sofrimento dele, mas um rompimento é muito diferente de uma doença grave."

"Você é suspeita para falar disso." Implicou.

"Colocando-me no lugar dele, eu consigo entender. Se eu perdesse você eu iria enlouquecer, mas eu também sei que em algum momento alguém - ou alguma coisa- me fariam colocar os pés de volta no chão."

"Eu nunca vou te deixar."Ele reafirmou.

"Certas coisas fogem do nosso controle." Comentei pensativa. Às vezes vontade só não bastava.

"O que você quer dizer com isso?"

"Nada, é só que às vezes não depende de nós determinar se será para sempre." O silêncio se instalou entre nós e eu fiquei com medo de que ele desconfiasse dos meus pensamentos. Por que eu não aprendia a ficar com a boca fechada?

"Então, você vai vir?" Ele finalmente falou.

"Claro! Só vou ajeitar umas coisas e estou indo para aí."

Desliguei o telefone e terminei de empacotar o restante das minhas coisas. Eu não levaria muita coisa em comparação com o que eu havia trazido, mas mesmo assim eu estava com quase três malas lotadas. Deixei a arrumação pela metade e me arrumei para ir até os Cullens.

“Olha só o que eu descolei para nós.” Emmett apareceu na sala com uma garrafa de vinho. Já estávamos no meio do filme e já havíamos devorado uma pizza, mas pelo visto ele ainda não estava satisfeito.

“Vinho? Carlisle e Esme estão em casa. Você enlouqueceu?”

“Ih, relaxa e vamos comemorar.”

“Dispenso. Eu tenho que voltar dirigindo.” Recusei. Se eu chegasse em casa cheirando a álcool, mesmo que mínimo, Charlie me mataria.

“Tão responsável!” Rose revirou os olhos.

“E quem disse que você vai voltar para casa?” Edward perguntou logo em seguida.

“Edward, eu dormi aqui semana passada e hoje o Charlie está em casa.” Eu queria ficar, e muito, mas o meu dever como filha falava mais alto. Ou pelo menos tentava.

“Por favor! É nossa última noite juntos antes da viagem.” Ele implorou, fazendo um biquinho. Minhas defesas balançaram.

“Eu não sei.”

“Ah, vai Bella você vai deixar o cara na seca por semanas!”

“Emmett!” Edward chamou sua atenção.

“Nessa o ursão tem razão. O Edward está precisando se aliviar.”

“Meu Deus, vocês transformam sexo numa coisa tão....” Edward procurava uma palavra que melhor definisse seus pensamentos.

“Normal?” Rose sugeriu.

“Será que dá para voltarmos para o filme?” Discutir sexo com Emmett e Rose era pior do que com a minha mãe.

“Eu posso voltar sem dar.” Emmett e suas infames piadas.

“O ano 2000 ligou e pediu a piada de volta.” Rose não perdeu sua chance.

“Filme!” Gritei! O filme em questão não era lá grandes coisas. Só tinha sangue e morte, mas era melhor que ouvir Emmett e Rose certas vezes. Impelida a ficar, acabei não resistindo ao vinho. Aquela seria minha última noite em Chicago,  por que não aproveitá-la devidamente?

O vinho deixou as inibições um pouco de lado, o que fez as piadas rolarem solta e o clima ficar muito mais agradável e engraçado. Após o filme, cada um foi para o seu quarto, embora eu não duvidasse que Rose tivesse ido para o quarto do Emmett da mesma maneira que eu tinha ido para o do Edward.

“Eu não quero ficar longe de você.” Murmurei, enquanto eu acariciava seu rosto.

“Eu sei.” Ele murmurou, beijando meu pescoço.

“Quanto tempo vai demorar sua recuperação?” Perguntei.

“Varia. Pode chegar até a 8 semanas.”

“Tempo demais.” Suspirei.

“Eu sei. Não tem como você ir me visitar?"

"Não sei. Se o Phil conseguir ficar alguns dias em casa eu prometo que vou." Eu sabia que seria quase impossível de acontecer, mas a esperança era a última que morria, certo?

A conversa terminou ali mesmo, pois tínhamos coisas mais importantes para fazer com nossas bocas e corpos do que ficar deitados conversando.

***

Na tarde seguinte, lá estava eu mais uma vez no aeroporto. Pronta para mais uma vez ser assombrada pelo fantasma da despedida. Despedidas não deveriam existir. Esse ritual social deveria ser banido da face da terra. Ele não trazia nenhum propósito a não ser lágrimas e sofrimento. A separação machuca, mesmo que por uns dias. O distanciamento e o não saber da vida do outro faz horrores com um coração.

“Chegamos ao fim da linha” Carlisle anunciou, Edward e eu nos distanciamos deles, para ter um pouco de privacidade.

“Eu não acredito que você está chorando.” Edward comentou, ao ouvir o meu fungar.

“Fica quieto.”

“Bells, não precisa chorar” Ele me abraçou.

“Precisa sim. Eu queria ir com vocês.”

“Eu sei disso. Eu não estou chateado.”

“Eu estou com medo. E se a cirurgia não der certo?” Perguntei, tentando em vão controlar o meu choro.

“Não seria eu que deveria ficar com medo?” Ele provocou. “Se não der certo eu não posso fazer nada além de tentar de novo.”

“E se não for possível tentar de novo?” Eu sabia que eu estava sendo pessimista demais, mas aquela separação estava acabando comigo.

“E se tudo ocorrer bem?” Ele perguntou.

"Eu sou uma péssima namorada. Ao invés de apoiá-lo eu faço justamente o contrário." Disse me afastando dele, mas ele não deixou.

"Eu sei que você está com medo que eu vire aquele Edward rabugento e acabe magoando você."

"Não é isso."

"Então o que é?"

"Eu tenho medo que você acabe magoado se nada der certo."

"Bella, a única pessoa que pode me magoar é você."

“Eu não quero dizer adeus.” Disse me agarrando ainda mais a ele.

“Isso não é um adeus, é um até logo.” Ele sussurrou no meu ouvido.

“Neste momento eu não vejo a diferença.”

“Meninos, temos de ir” Carlisle avisou. Nós nos separamos e voltamos para onde o restante nos aguardava.

“Tchau, Esme” Abracei-a.

“Tchau querida. Mande um beijo para sua mãe.”

“Claro. Avisa assim que a cirurgia terminar?”

“Você vai ser a primeira a saber.” Ela se despediu, dando-me um beijo no rosto.

“Tchau Carlisle.”

“Tchau. Se precisar de alguma coisa, não hesite em pedir. ” Ele ofereceu.

“Obrigada.” Abracei-o. E por incrível que pareça não foi tão estranho quanto eu imaginava que seria.

“Tchau Edward.” Ele me abraçou.

“Tchau. Liga assim que você chegar na Florida.”

“E eu quero falar com você assim que você acordar da cirurgia.”

“Pode deixar.” Ele concordou. “Se você vir o Jazz...”

“Eu falo com ele.”

“Espero que tudo ocorra bem com sua mãe.” Ele desejou.

“Obrigada.”

“Eu te amo, tá?”

“Eu também te amo.” Sussurrei, antes de nossas bocas se encontrarem num beijo. Acariciei cada pedacinho do rosto dele, prestando atenção em cada sensação numa tentativa de gravar tudo na minha mente. Eu precisava de alguma coisa que me ajudasse a passar os dois meses ou mais longe dele.

“Nós nos vemos em breve.” Ele prometeu.

“Com certeza" Abracei e beijei-o mais uma vez, antes de finalmente deixá-lo partir.

Esme, Carlisle e Edward andaram em direção ao portão de embarque, deixando eu e Emmett para trás.

“Você vai ver. Oito semanas passam voando.” Emm tentou me consolar.

“Assim espero.”

“Vamos embora?”

“Vamos. Eu ainda tenho muita coisa para arrumar.” Só de imaginar tudo que tinha ficado do dia anterior me desanimava.

“Quanto tempo você vai ficar lá?” Emmett perguntou enquanto andávamos pelo aeroporto.

“Até minha mãe dar à luz.”

“Se você precisar de ajuda, é só falar que eu vou rapidinho pra lá.” Ele se ofereceu e eu achei tão fofo da parte dele, que quase o abracei ali mesmo.

“Obrigada, mas não vai ser preciso. Qualquer coisa tem o Jake”

“Jake, Jake....Aquele pirralho não é páreo para mim.” Ele fez uma careta.

“Eu vou sentir sua falta.” Admiti. Eu já estava acostumada com as brincadeiras e os constrangimentos que faziam parte do dia-a-dia com Emmett.

“Eu também. Ainda mais agora que a Alice não fica mais com a gente.” Ele passou o braço em volta dos meus ombros.

“Vocês conseguiram falar com ela?”

“Rose conversou com ela. Ela diz sentir falta do Jazz, mas eu não consigo ver eles voltando.” Ele previu com um semblante triste. Eu odiava admitir, mas ultimamente eu tinha a mesma opinião.

“E o Jazz?”

“Na mesma. Ou até pior. Ele não voltou ontem para casa.”

“A Esme sabe?”

“Não. Eu escondi. Se ela soubesse ela não ia querer viajar. E o Edward precisa dela agora.”

“O Jazz também” Apontei. “Você não parece preocupado.” Observei. Ele me parecia muito calmo diante do sumiço do Jasper.

“Eu sei onde ele está.” Ele respondeu simplesmente.

“Onde?” Perguntei imediatamente.

“Nada disso. Não vou dizer. Do jeito que você é você vai acabar indo aonde ele está.”

“Ou eu posso pedir meu pai para ir.” Não que eu fosse pedir alguma coisa ao Charlie, mas Emmett não precisava ficar sabendo.

“Eu não acho que prendê-lo seja a melhor solução.”

“Meu pai sabe assustar uma pessoa sem colocá-lo na cadeia.”

“Está bem.”Emmett pegou um pedaço de papel que tinha no bolso e rabiscou o endereço para mim. "Mas nem pense em ir lá sozinha" Ele alertou.

“OK. Pode me deixar na escola? Eu tenho que entregar uma coisa ao Prof. Banner.” Pedi. Era melhor fazer hoje do que deixar para a manhã seguinte.

***

“Aqui estão todos os trabalhos que o senhor me pediu.” Entreguei os papéis e o CD na mão do professor.

“Ok. O restante você vai enviar por email, certo?”

“Sim.”

“Boa viagem.” Ele desejou.

“Obrigada.” Saí da sala e acabei dando de cara com James.

“Você torna tudo muito fácil.”

"O quê?"

"Você me ouviu. Você facilita demais para mim."

"Eu não entendi."

"Quando eu saí com você naquele dia. Eu estava procurando alguma coisa que a torna-se a minha aliada, ou pelo menos que eu pudesse arrancar alguma informação de você. "  Ele pausou e me analisou meticulosamente. "Mas você saiu melhor que uma encomenda. Além de você ser amiga da Alice, você tinha o Jasper comendo na sua mão. E qual não foi a minha surpresa quando você me largou para ficar com o ceguinho?"

"Você sabia?" Eu estava concentrada demais em entender tudo aquilo para poder me preocupar com as ofensas ditas por ele.

"Eu não sou idiota. Eu sabia que ninguém estava em casa, com a exceção dele. Sabe Bellla, ser trocado por um cego magoa."

"Olha aqui seu..."

"Eu ainda não acabei." Ele falou alterando a voz. "O mais cômico foi você cair no meu joguinho. Os segredos, as precauções, os cuidados para preservar as relações alheias..." James sorriu sinistramente. "Sua atitude foi minha maior aliada para acabar com eles."

"Eu não tenho culpa de nada."

"É claro que tem! Se não fosse todo esse seu cuidado, você teria me exposto, falado tudo desde o princípio. Mas você não fez isso. Você poderia ter me desmascarado para a Alice ou aberto o jogo completamente para o Jasper ou o Edward, mas você também não fez. Na verdade, todo esse mistério só me ajudou a convencer a Alice de que você queria roubar o Jasper dela."

"Você é doente."

"Talvez." Ele deu de ombros. "Mas não vou ser eu quem vai ficar com remorsos enquanto estiver longe." Ele pausou por um instante e depois continuou. "E se eu fosse você nem me preocupava em voltar."

"Por quê?"

"Convenhamos, quando o Edward voltar enxergando, você acha que ele vai querer ficar com você? Olha, você é bonitinha mas a Tanya ganha disparada."

Sacudi minha cabeça, tentando ignorar o comentário. "Ele me ama."

"Bella, você foi o remédio dele enquanto ele estava doente. Você acha mesmo que ele vai querer ficar com você, ainda mais sabendo de tudo o que você fez para acabar com o relacionamento da Alice e do Jasper?"

"Mas eu não fiz nada!" Gritei.

"O que ele vai pensar quando eu disser que você contribuiu com o meu plano só porque queria ficar com o irmãozinho dele?"

"Ele não vai acreditar em você."

"Eu tenho certeza que a Tanya pode convencê-lo."

“Você é louco.”

“Depende da sua perspectiva.” Ele sorriu largamente.

“Adeus, James.”

“Tenha uma excelente viagem.” O sorriso cínico dele fez um arrepio correr o meu corpo.

Saí correndo da escola, sem querer nem pensar no que ele havia me dito. Eu só sabia que eu precisava agir. Peguei o primeiro taxi que passou e dei o endereço ao motorista. Eu só esperava que Emmett estivesse certo.

Quando o táxi parou eu tive que conferir duas vezes para me certificar que estava no local correto.

“Tem certeza de que vai ficar?” O motorista perguntou.

“Tenho.” Dei o dinheiro a ele e saí do carro.

Aterrorizante não era suficiente para descrever aquele lugar. Eu parecia ter entrado e um filme e parecia que a qualquer momento haveria uma guerra entre gangues nas ruas. A maioria das paredes estavam pichadas, as pinturas descascadas, a iluminação era ruim... Eu estava começando a me arrepender de ter ido até ali.

Não tive que andar muito até chegar ao bar, o qual refletia muito bem as características daquela vizinhança. Ao contrário das ruas, o bar estava lotado. As pessoas, no entanto, não pareciam ser das mais amigáveis e nem do tipo com quem você quer fazer amizade.

“Ei, gracinha. Você está perdida por aqui?” Um homem segurou o meu braço. O hálito mau cheiroso e a aparência repugnante dele só me deixavam ainda mais assustada.

“Com licença.” Tentei me soltar, mas o homem apertou ainda mais sua mão em volta do meu braço.

“Não vai embora não, fica aqui com a gente.” Ele sorriu e aproximou seu rosto do meu.

“Solta meu braço.” Disse firmemente, tentando não transparecer o medo que corria nas minhas veias. Meu coração batia tão forte que eu me perguntava se ele estava conseguindo ouvi-lo.

“Nada isso! Quer beber alguma cosia?” O seu olhar desceu pelo meu corpo num claro gesto de apreciação, o que me deixou ainda mais nauseada. Eu deveria ter seguido o conselho do Emmett.

“Eu já disse para me soltar.” Gritei. Num gesto brusco consegui me soltar, mas de alguma maneira o homem conseguiu me segurar de novo.

“Belinhaaaa!” Uma voz conhecida me chamou e eu fiz um esforço descomunal para me soltar daquele troglodita que me segurava e dessa vez consegui alcançar meu objetivo.

“Jazz?”Encarei-o por um momento. Sua roupa estava suja e amassada, deixando claro que ele não a trocava havia alguns dias. Barba por fazer, cabelo mais desgrenhado que o normal e olhos vermelhos de cansaço e por excesso de bebida completavam o quadro.

“O que você está fazendo aqui?” Ele perguntou rispidamente. O cheiro de álcool em seu hálito me deixou zonza.

“Eu pergunto o mesmo.”

“Você conhece essa belezinha?” O bêbado troglodita nos alcançou.

“Conheço. Vem cá.” Jasper me puxou pela mão e me abraçou, deixando bem claro para o homem que ele não devia se meter comigo.

“Jazz, vamos embora.” Sussurrei quando o homem foi embora.

“Eu não vou a lugar nenhum, Bella.” Ele disse, desvencilhando-se do abraço.

“Jazz, cinco minutos. Por favor.” Implorei.

“Está bem.” Ele me pegou pela mão e andou até um beco que havia ao lado do bar. “Comece a falar.”

“O que aconteceu com você?”

“Você ainda pergunta?” Ele retorquiu.

“Eu sei que você deve estar arrasado, mas essa palhaçada já foi longe demais.” Minha voz saíra mais dura do que eu tinha intencionado, mas doía demais vê-lo daquele jeito.

“Palhaçada?”  Ele riu sem humor. “Quando meu querido irmãozinho se fechou do mundo era depressão. No meu caso é palhaçada?”

“Não foi isso o que eu quis dizer.” Arrependi-me pela má escolha de palavras.

“Foi exatamente isso.” Ele me encarou por um instante. “Você levou o problema do meu irmão numa boa. Respeitou o espaço dele. Por que você não faz isso comigo?”

“Por que você é meu porto seguro. Você foi o meu chão desde o primeiro momento que eu entrei naquela escola e eu não aguento ver você nesse estado.” Ter conhecido o Jasper antes e ter que ver essa triste mudança causava um efeito bem diferente de quando eu encontrei Edward quase destruído e vê-lo mudar tão drasticamente.

“A última coisa que eu quero nesse momento é compaixão.”

“Eu já disse que eu não tenho pena de você.” Quantas vezes eu teria que repetir?

“Ultimamente eu andei pensando... Por que você não se apaixonou por mim? Se eu tivesse largado a Alice para ficar com você eu não estaria tão miserável quanto estou agora.” Jasper deu um passo em minha direção e estranhamente eu dei um passo para trás.

“Que história é essa?” Encarei-o confusa.

“Nós temos química, você já disse que me ama... Por que não tentarmos?” A cada passo que ele dava para frente eu dava um para trás. Infelizmente a parede atrás de mim impediu-me de continuar.

“Jasper eu juro que....” Não consegui terminar meu alerta por no segundo seguinte sua boca já estava sobre a minha. O beijo não tinha qualquer carinho ou paixão reprimida. Os únicos sentimentos eram uma fúria descontrolada e a dor que ele estava sentindo, e que fazia questão que eu também sentisse. De alguma maneira, ele conseguiu deslizar sua língua pela minha boca e aprofundou o beijo. Senti quando uma de suas mãos pegou um dos meus seios e aquele foi todo o incentivo que eu precisava sair daquele estado de surpresa e retomar o controle da situação. Eu queria consolá-lo, eu queria ter o poder de tirar aquela dor que ele sentia, mas não seria daquela maneira. Jasper não me amava, não daquela maneira. Ele só queria me usar para apaziguar a sua dor e para ferir a todos ao seu redor.

"Jasper, Jasper!" Empurrei-o e ele me encarou por um momento. Enquanto ele tentava recuperar o fôlego eu vi quando o entendimento cruzou sua mente.

"E-eu..." Jasper não terminou de falar e saiu correndo, deixando-me ali sozinha.

Assim que saí do beco, dei de cara com James que me olhava cinicamente.

Corri de volta para a rua, mas fui na direção oposta ao bar. Como por um milagre, um táxi passou no local, impedindo-me de ficar vagando pelas ruas. Assim que cheguei ao apartamento, fui direto para o meu quarto e joguei-me na minha cama.

Um turbilhão de memórias e sentimentos invadia minha mente e coração. Eu estava com raiva do Jasper, mas ao mesmo tempo eu não conseguia odiá-lo pelo o que ele fez.

Parecia que tinha sido ontem que eu havia falado com ele pela primeira vez, ou que eu tivesse esbarrado no Edward ou da minha primeira conversa com a Alice.

Junto com essas memórias as palavras do James ecoavam em minha mente. Ele tinha razão, eu havia facilitado tudo para ele. Com a melhor das intenções, eu tentei ajudar a todos, mas tudo o que fiz foi fazer desmoronar as relações ao meu redor. Era verdade que eu havia feito alguma coisa boa, mas não havia sido bom o bastante. Tentando fazer tudo certo, acabei fazendo uma bagunça maior ainda.

Quando cheguei os Cullen só tinham que se preocupar com o Edward e sua atitude anti-social. Agora eles tinham que se preocupar com um filho que estava se auto destruindo.

Quando eu cheguei, Alice, Jasper, Emmett e Rose eram melhores amigos inseparáveis. Agora, Alice e Jasper eram completos desconhecidos. E Rose e Emmett lutavam para conseguir conversar com ambos sem que a conversa terminasse numa discussão.

Quando eu cheguei, Alice havia se tornado minha melhor amiga. Agora, coma as minhas atitudes eu nem sabia como classificar a relação hostil que vivíamos.

Quando eu cheguei, Edward me odiava. Agora, ele me amava, mas quando James contasse o que ele tinha visto e falasse do seu plano, deturpando tudo o que eu havia feito, eu tinha certeza que ele voltaria a me odiar. Uma vez Edward havia sucumbido às provocações de James e Mike, e as vozes na minha cabeça me diziam que nada seria diferente dessa vez.

Se eu não tivesse os conhecido, a probabilidade de tudo ser como antes era grande. Com certeza, o Edward conheceria uma garota que o faria sair daquele estado de torpor que ele vivia. Ou talvez até Tanya recuperaria o bom senso e voltaria para ele. Não importava, seja como for, eu tinha certeza que tudo seria melhor se eu nunca tivesse aparecido na vida deles.

Movida pelo aperto no meu peito e pelas lágrimas que agora caíam, eu peguei meu caderno de poesia. Eu precisava escrever alguma coisa, ou enlouqueceria. As palavras e as rimas surgiram com mais facilidade do que eu esperava, levando em conta minha confusão emocional.

Acertar

O que foi que eu fiz?

Desejaria fugir

Desse navio afundando

Apenas tentando ajudar,

Machuco a todos

Agora eu sinto o peso do mundo

Está nos meus ombros

O que você pode fazer

Quando o seu melhor não é bom o suficiente

E tudo que você toca desmorona?

Porque minhas melhores intenções

Continuam fazendo uma confusão de coisas

Eu apenas quero corrigir isto de alguma forma

Mas quantas vezes serão necessárias

Para acertar?

Posso começar novamente

Com minha fé abalada?

Porque eu não posso voltar atrás e desfazer isso?

Eu só tenho que ficar e encarar os meus erros

Mas se eu ficar mais forte e sábia

Eu vou passar por isso?

O que você pode fazer

Quando o seu melhor não é bom o suficiente

E tudo que você toca desmorona?

Porque minhas melhores intenções

Continuam fazendo uma confusão de coisas

Eu apenas quero corrigir isto de alguma forma

Mas quantas vezes serão necessárias

Para eu acertar?

Quando pontuei minha última frase, arranquei uma folha em branco e comecei a escrever o texto que para sempre eu me arrependeria de ter escrito.

***

"Tchau, pai." Despedi-me dele. Estávamos parados em frente ao portão de embarque. Faltavam menos de quinze minutos para o meu vôo decolar.

"Ligue assim que chegar." Ele pediu, abraçando-me.

"Está bem." Separei-me do meu pai, apenas para ser envolvida nos grandes braços do Emmett. "Tchau, Emm."

"Tchau." Ele me apertou, quase me sufocando.

"Você pode entregar isso pro Edward quando for visitá-lo?" Entreguei uma pequena caixa a ele.

"O que é? Uma fantasia para vocês usarem na hora H?" Somente o Emmett para me fazer rir. "E por hora H entendam o Halloween." Ele concertou a besteira ao ver o olhar do meu pai.

"Tchau, Rose." Abracei-a.

"Tchau. Vê se liga, está bem?"

"Ok."

Caminhei em direção ao portão e entreguei meu cartão de embarque. Olhei mais uma vez para eles e acenei em despedida.

Todos os acontecimentos, todos meus medos e minhas incertezas, levavam-me apenas uma decisão: no momento que eu embarcasse naquele avião não haveria volta.


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Notas finais do capítulo

N/A: Poesia da Bella é a música Get it right do Glee Cast.



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