Através dos Seus Olhos escrita por ReLane_Cullen


Capítulo 1
À Primeira Vista




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As luzes da cidade não passavam de um borrão diante dos meus olhos. O vento gelado que entrava no carro, já me fazia sentir saudades do calor e da secura de Phoenix. Totalmente diferente da fria e úmida Chicago. Se eu odiava a neve e tudo relacionada a ela, por que eu estava me mudando justamente para a Cidade dos Ventos? A resposta é simples, no entanto um pouco longa.

Eu nasci em Chicago, e morei aqui até os meus sete anos. Foi quando os meus pais se separaram, ou quando minha mãe descobriu que não o amava mais. Minha mãe resolveu então recomeçar e me levou para o outro lado do país.

Phoenix logo se tornou um lar para nós e eu me adaptei rapidamente ao clima local. Era tão quente, tão aconchegante.

Durante as minhas férias, minha mãe me mandava para Chicago, para que eu passasse algum tempo de qualidade com o meu pai. Mas já fazia um tempo desde que eu não ia para lá. Conforme eu fui crescendo eu fui vendo o quanto Renée precisava de mim. Ela era uma ótima mãe, mas às vezes eu tinha a impressão de que eu era a adulta ali, enquanto ela era a adolescente impulsiva.

Há cerca de três anos, minha mãe acabou se casando novamente. O nome dele era Phil, um jogador de futebol americano. Devido à profissão, Phil viajava todo o país, mas minha mãe não ia junto porque tinha que ficar em casa comigo. Eu via o quanto ela estava infeliz com isso. Eu havia me tornado um estorvo na vida dela, mesmo que ela negasse isso com veemência.

Foi por isso que eu me inscrevi na Escola de Artes de Chicago. Eu havia terminado o colegial no último semestre, e eu não estava planejando ingressar numa faculdade tão cedo. Eu ainda estava indecisa sobre o que fazer, e a Escola de Artes me pareceu ser o passatempo perfeito. Além do mais, eu sempre fui apaixonada por música. Influência da minha mãe. Ela amava músicas de todos os tipos, era a pessoa mais eclética que eu já havia conhecido.

Quando eu era pequena, ela havia me colocado numa escola de ballett, o que não deu muito, já que desde pequena eu sou o ser mais desastrado desse planeta. Depois de eu ter arruinado umas das apresentações da minha turma, minha mãe se convenceu que eu não levava o menor jeito para a dança, e acabou me matriculando numa escola de música.

Aparentemente eu era melhor em cantar e tocar do que em andar e correr. Não demorou muito para que a música se tornasse a minha paixão.

Agora, aqui estava eu, em um táxi, indo em direção à casa do meu pai, onde eu ficaria por um ano e meio antes de ir para a faculdade.

O táxi parou em frente ao prédio, onde Charlie já estava me esperando na portaria.

“Bella!” ele exclamou quando me viu saindo do carro. Ele pagou ao motorista, e me ajudou a retirar as malas do carro. “Me desculpe por não ter ido te buscar. Precisei resolver alguns problemas na delegacia.”

“Sem problemas.” Respondia enquanto pegava algumas malas do chão.

“Você está ótima.” Charlie me elogiou sem graça. Dei um sorriso tímido

“Você também” Falei da mesma maneira que ele. Eu tinha herdado de Charlie a minha incapacidade de falar sobre os meus sentimentos, ou de demonstrá-los abertamente. Isso era uma das coisas que Renée mais odiava em mim. Eu sempre a fazia lembrar-se dele.

“Ok, vamos subir.” Ele falou me guiando em direção ao hall do prédio.

O apartamento continuava o mesmo. Basicamente nada havia mudado desde a última vez que estive aqui. O meu quarto era o cômodo mais intacto. As paredes ainda eram rosa - claro, e a cortina de renda branca também ainda estava lá. Acho que por baixo daquela armadura de policial durão, Charlie era na verdade um sentimental.

Ele me deixou à vontade para desfazer as minhas malas. Seria fácil conviver com o meu pai, ele não ficava cuidando de mim o tempo todo, coisa que Renée fazia insistentemente. Seria bom ter o meu espaço respeitado por aqui.

Tirei da minha mala somente os meus pijamas e a minha necessérie Amanhã eu arrumaria as minhas coisas adequadamente. No caminho para o banheiro, Charlie me perguntou se eu estava com fome, eu apenas respondi que já tinha comido alguma coisa na rua. Era estranho vê-lo se preocupando comigo.

Tomei meu banho e escovei os meus dentes. Depois fui para o meu novo quarto. O meu mundo pelos próximos dezoito meses. Nessa hora, meu coração apertou, e eu senti as lágrimas, a tanto guardadas saírem dos meus olhos, e escorrerem pelo meu rosto. Eu já sentia falta da minha mãe e do Phil. Eu sentia falta de estar em casa.

Acordei na manhã seguinte com o barulho da televisão. Depois do meu ‘momento humano’ no banheiro, fui até a sala onde meu pai estava assistindo a reprise de algum jogo de futebol.

“Bom dia!” cumprimentei-o, enquanto                ainda espantava o sono do meu corpo.

“Bom dia. Dormiu bem?” meu pai perguntou, desviando os olhos da TV e olhando para mim.

“Sim” respondi sorrindo.

Fui até a cozinha em busca de algo que servisse como café-da-manhã. Pelo menos havia cereais no armário. Já não podia dizer o mesmo sobre comida. Passei a manhã toda desfazendo as minhas malas e colocando as coisas no lugar. Fiquei feliz em não ter trago todo o meu armário para Chicago, eu só tinha trazido as roupas de frio. Caso contrário, aquela arrumação teria me custado o dia todo.

Tanto no almoço quanto no jantar, Charlie me levou ao restaurante que ficava na esquina da rua. Era interessante e um pouco cômico o vê-lo bancando o pai.

O domingo passou se arrastando. As horas pareciam ter cem minutos, ao invés de sessenta. Acabei descobrindo que Charlie não sabia cozinhar, e eu me perguntava como ele tinha sobrevivido sozinho por tanto tempo. Como eu tinha cozinhado no almoço, no jantar ele decidiu pedir uma pizza para nós.

Depois do jantar, fui para o meu quarto mandar um email para a minha mãe. Eu deveria ter enviado um ontem, mas eu estava tão ocupada com a arrumação e com o meu pai, que acabei esquecendo de lhe enviar. Não me surpreendi quando vi três mensagens dela na minha caixa de entrada. No último email ela já estava beirando o desespero, já estava até cogitando acionar o FBI e me declarar desaparecida se eu não entrasse em contato com ela nas próximas vinte e quatro horas. Aquilo era típico da minha mãe. Respondi ao email dela, e também alguns emails dos poucos amigos que eu tinha em Phoenix.

Antes de ir dormir, resolvi arrumar a minha mochila para o grande dia. Coloquei três cadernos dentro dela: um que tinha as minhas composições, em sua maioria partituras inacabadas. O outro era o meu caderno de poemas, e o último um caderno em branco para as aulas.

Aulas. Senti um frio percorrer a minha espinha com aquele pensamento. Eu odiava ser a ‘garota nova’, e eu sabia que me mudar no meio do semestre não ajudaria muito a passar imperceptível aos demais olhares.

Se bem que ser invisível nunca foi um real problema para mim. Eu não era o tipo de pessoa que chama atenção.

Eu nunca fui o gênio da turma. Minhas notas não eram ruins, mas também não eram boas os suficientes para que eu me tornasse a nerd da turma. Não que eu realmente almejasse esse título.

Também nunca fui o tipo de garota que chamava atenção fisicamente. Pele branca, olhos e cabelos castanhos, estatura mediana, um corpo normal. Um rosto comum. Uma garota comum. Era fácil ser mais uma na multidão com uma aparência como aquela.

Mas não era apenas fisicamente que eu não me encaixava. Era difícil para mim me relacionar com as pessoas. Era como se eu visse o mundo de uma forma diferente dos demais, era como se o meu cérebro funcionasse numa freqüência diferente, como AM e FM.

Esportes estavam completamente fora de cogitação. Com a minha coordenação motora, tentar bancar a atleta seria potencialmente perigoso. Para não dizer completamente vergonhoso.

Se isso não bastasse ainda tinha o fator timidez, juntamente com a incrível facilidade que eu tinha em ficar com as bochechas vermelhas. Chegava a ser constrangedor.

Com muita sorte eu conseguiria, no máximo, um amigo e conseguiria passar despercebida pelo restante do curso.

Apesar dos meus protestos, Charlie me levou até a escola em sua viatura. Para a minha sorte o estacionamento estava vazio, e os poucos alunos que já haviam chegado, deviam estar dentro da escola devido ao frio.

Fui direto para a secretaria, onde fui atendida por uma simpática senhora. Ela me entregou o mapa da escola e a chave do meu armário e disse que eu teria o meu teste de nivelamento às nove horas. Isso me dava cerca de uma hora para explorar o local.

Fui até o meu armário deixar o meu material. Até que não foi difícil achar o meu armário no meio de tantos.

Pela minha visão periférica, percebi quando ao meu lado, um garoto abria o seu armário.

“Olá, você é nova aqui?” ele falou e eu olhei para ele. Ele era loiro, cabelos cor de mel, tinha olhos azuis como o mar. Ele era alto, e os músculos deles eram bem distribuídos pelo seu corpo. Ele era lindo. O que um cara desses fazia falando comigo?

“Sim. Eu sou Isabella Swan, mas pode chamar de Bella.” falei um pouco tímida.                             

“Jasper Cullen. Você veio fazer o quê? Teatro?” Em que mundo eu faria alguém pensar que eu faria teatro? Será que ele tinha problemas de visão?

“Não, música. Você faz o quê?”

“Artes plásticas” Ele respondeu entusiasmado

“Legal!” Tentei devolver o mesmo entusiasmo na minha voz

“Você está em que nível?” Ele me perguntou realmente interessado. Será que as pessoas por aqui, realmente eram legais?

“Ainda não sei. Vou fazer meu nivelamento daqui a pouco.” Respondi, dando uma breve olhada no relógio para me certificar da hora.

“Ah! Se precisar de ajuda, o meu irmão também faz música aqui.” Só esperava que o irmão dele fosse tão simpático quanto ele.

“Ok.” Sorri.

“Bella, vou indo nessa. Foi muito bom te conhecer. Te vejo na hora do almoço?” Ele perguntou, enquanto fechava o seu armário.

“Ok.” Respondi simplesmente e ele foi embora, sumindo na multidão.

Aquela tinha sido a primeira vez que eu havia sido tão bem recebida em um lugar. Já tinha até com quem almoçar. Geralmente eu acabava sozinha em alguma mesa, ou na mesa dos ‘excluídos’.

O Sr. Sherman - que seria o responsável pelo meu teste- chegou às nove e meia. Assim que ele chegou, ele me pediu que eu o acompanhasse até a sua sala.

“Srta Swan, primeiramente eu gostaria de lhe perguntar: Por que música?” Ele falava enquanto se sentava em sua cadeira.

“Sinceramente, por que eu falhei na minha tentativa de ser uma bailarina.” Ele riu, e eu abri um meio sorriso.

“Isso é sério?” Ele perguntou, desacreditado.

“Em parte sim. A outra parte é que minha mãe sempre adorou música. E ela tinha um teclado, e ela sempre tocava. Além do mais ela adora cantar” Eu ainda me lembrava muito bem das músicas que ela cantava quando eu era pequena.

“Ela é profissional?”

“Só se for profissional de chuveiro. Enfim, eu acabei herdando a paixão e o gosto pela música.” Só que um pouco menos eclética, completei mentalmente.

“Qual o seu estilo?” Ele perguntou, enquanto fazia anotações em um papel.

“Para ouvir, quase todos. Minha mãe sempre me falou que música boa era aquela que tocava a alma, sem importar o estilo a qual ela pertencia. Acho que para tocar, quase todas, embora as minhas composições geralmente beirem o clássico.”

“Será que você podia tocar alguma composição sua?” Nessa hora eu congelei. Por que eu tinha que ter aberto a minha boca e falado que eu compunha? Bella idiota!

“Eu não tenho nenhuma acabada.” Tentei me esquivar do seu pedido.

“Não tem problema.” O Sr Sherman me assegurou com um sorriso reconfortante. Ou pelo menos era esse o efeito que ele esperava causar em mim. Embora tenha ocorrido justamente o oposto.

Ele me levou até uma das salas que tinham um piano. Minhas mãos estavam tremendo. Abri minha mochila, e peguei o meu caderno. Analisei brevemente o seu conteúdo, e decidi por uma música que eu tinha dado o nome de ‘Thinking’, era uma das composições mais intimistas que eu já havia feito.

Após me ouvir o Sr Sherman me assegurou que eu ficaria junto do pessoal do nível avançado. Ele levou o resto da manhã me explicando sobre a instituição e me mostrando as dependências da mesma.

Quando o sinal que indicava o almoço tocou, o Sr Sherman me liberou.

O refeitório já estava lotado. Depois de pegar a minha comida, fui em busca de um lugar. No meio da multidão, eu vi duas mãos acenando para mim. Era o Jasper. Junto dele, na mesa, haviam outras duas pessoas: uma garota loira, linda, que parecia ter saído de uma revista de moda e um garoto grande e forte, que tinha os cabelos pretos. Esse parecia ter saído de um campeonato de vale-tudo.

Sorri para ele e fui em sua direção. Eu podia sentir inúmeros olhos cravados em mim enquanto eu ia em direção à mesa deles. Enquanto as demais mesas estava completas, a mesa deles era a mais vazia. Será que eles eram esquisitos demais que ninguém queria ficar perto?

Quando cheguei até a sua mesa, Jasper se levantou e me apresentou aos seus amigos.

“Bella esses são meus amigos, Emmett McCarthy e Rosalie Hale, pessoal essa é a Isabella Swan”

“Oi Isabella, é um prazer conhecê-la” Emmett, que, diga-se de passagem, era o maior cara que eu já tinha visto na vida, abriu um sorriso verdadeiramente infantil ao me ver.

“Igualmente, mas pode me chamar de Bella.” Sorri sincera para ele. Olhei em direção à loira. Ela apenas fez um movimento com a cabeça me cumprimentando. Não se pode agradar a todos.

“Então como foi o teste?” Jasper perguntou, enquanto eu me sentava na mesa.

“Vou ficar com a turma avançada” Respondi animada com o meu feito

“Você faz o quê?” A loira Rosalie, finalmente se manifestou. Não sabia se ela realmente estava interessada, ou se só queria participar da conversa de alguma forma.

“Música.”

“Meu Deus, você vai ficar na sala do Edward.” O choque nas palavras dela me deixaram assustada. Qual era o problema de eu ficar na mesma sala do tal Edward? Será que era namorado dela? Duvido. Do jeito que ela tava grudada com o grandão ali, ele que devia ser o namorado dela.

“Edward?” Perguntei confusa.

“Meu irmão.” Jasper explicou ao meu lado.

“Ah, ta. Por falar nisso, cadê ele?” Perguntei um pouco interessada, afinal já era a segunda vez no dia que eu ouvia falar no irmão dele. Era normal estar curiosa para conhecê-lo.

Eles se entreolharam por um momento, como que buscando as palavras certas para me dizer.

“Digamos que o Eddie é um pouco anti-social...” Emmett explicou fazendo uma careta engraçada. Abri um meio sorriso, como que dizendo para ele que eu entendia. Mas não pude deixar que o receio passasse pelos meus olhos. Eu tinha a intuição de que era muito mais que isso.

 “Mas não se preocupe, que ele não morde.” Jasper falou em um tom brincalhão. O que fez Emmett rir, e Rosalie esboçar um pequeno sorriso.  Algum tempo depois, o sinal tocou. Estava na hora de eu finalmente conhecer a minha turma.

“Acho que essa é a minha deixa.” Falei enquanto me levantava da mesa.

“A gente se vê depois?” Jasper perguntou. E eu me perguntava o por quê daquilo. Ele não poderia estar interessado em mim. Além de ser uma coisa impossível, aquele monumento se sentir atraído por mim, eu não conseguia sentir nada no ar. Nenhuma tensão. Nada.

“Claro” Reafirmei com um tímido sorriso.

“Foi um prazer te conhecer Bella.” Emmett falou com um lindo sorriso no rosto. Não sei o porquê, mas eu já gostava dele.

“Igualmente.” Respondi da mesma maneira. Sorri para Rosalie, que me deu um sorriso amarelo em troca.

O refeitório ainda estava ficando vazio. A maioria dos alunos estavam se levantando em direção às suas salas. Uma garota baixinha passou por mim. Ela tinha os cabelos escuros, repicados. Ela me lembrava uma fadinha, devido à sua altura e beleza. Mas o olhar que ela me deu, não foi nenhum pouco angelical. Ela me fulminou com os olhos. Acho que se ela tivesse uma arma ali, ela me mataria. Meu Deus, o que foi que eu fiz?


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?