— Como? - uma onda de calafrios rondou minhas pernas e mal pude aguentar-me com elas.

— É o que você ouviu. - falou num tom de frieza - Eu tô terminando com você. - distanciou-se de mim.

— Eu não tô acreditando no que você tá falando... - murmurei.

— Acredite se quiser...

— Rodrigo... Rodrigo, não faz isso comigo. Você tem que acreditar em mim.

— Eu não consigo. - falou pausadamente e confuso.

— Como não consegue? Você consegue acreditar mais no Henrique do que em mim?

— Você mentiu pra mim garota, me enganou.

— Eu menti pra você? - perguntei inconformada - Eu só escondi algumas informações sobre o jantar.

— Pára de me enrolar meu.

— Eu não quero te perder, eu te amo.

— Não adianta se humilhar...

— Eu não tô me humilhando, eu tô dizendo o que sinto por você.

— Então é melhor você dar um jeito nesses seus sentimentos antes que você se machuque.

— Você já tá me machucando! - meus olhos encheram-se d'água, enquanto ele me observava.

— Eu tenho que ir embora.

— Você não vai embora.

— E você pensa que vai me impedir? - empurrou-me novamente contra a parede, olhando-me de uma maneira que amassava, triturava, queimava o meu coração.

— Pára com isso, não me deixa.

— Parar com o quê garota? Você me trai e pede pra mim não te deixar?!

— Isso não foi uma traição. Ele me beijou a força. Você ainda me ama. - segurei fortemente em seu braço.

— Eu ainda te amo sim, mas depois do que você fez não dá mais.

— Claro que dá, é só a gente esquecer tudo isso. Eu quero você, eu preciso de você e você precisa de mim. Se eu não te amasse eu não teria transado com você...

— Cedo ou tarde você ia transar com alguém.

— Mas aconteceu com você por que você é muito especial pra mim Rodrigo.

— Eu já cansei desse papo. - distanciou-se, largando-me - Faz uma coisa... faz o possível pra me esquecer, vai ser melhor pra você.

— São suas últimas palavras?

— São.

— Então você vai se arrepender por isso.

— Você não vai aprontar nada entendeu?

Ele encarou-me por uma última vez e saiu andando apressado, logo pegando sua bicicleta e indo embora. Mal tive ânimo de voltar à sala de aula, então corri pra quadra e sem pensar duas vezes pulei o muro. Nem liguei pro meu material na sala e que se foda a escola com os alunos, eu só queria correr e chegar logo em casa... no meu quarto... na minha cama.

Tudo girava ao meu redor e quando entrei em meu quarto, joguei-me no chão e chorei mais ainda. Eu precisava fazer isso. E eu não conseguia parar de chorar.

Rodrigo terminando comigo? Seria o fim do meu mundo. Eu sei que fui otária o bastante de não contar o que aconteceu desde o começo, mas a pressão que Henrique fazia me incomodava tanto que o medo de perder Rodrigo me dominava. A volta daquele enorme buraco em meu peito só atormentava-me mais ainda e somente o sono amenizaria a minha dor.

...

Minha mãe chegou do hospital e encontrou-me jogada no chão, e logo correu para socorrer-me, muito preocupada.

— DÉBORAH! O que você tem filha?

— Hã? Nada mãe. - falei ainda sonolenta e ela tentava levantar-me para sentar-me na cama - Me deixa, eu quero ficar sozinha.

— Me ligaram falando que você sumiu da escola e fiquei preocupada.

— O que eu faço da minha vida agora?!

— O que aconteceu? Por que você tá assim?

— Ai mãe... o Rodrigo... ele terminou comigo... - comecei a chorar novamente lembrando-me do ocorrido.

— Calma Déborah. - abraçou-me - Tudo vai ficar bem... você vai ver. Mas me conta: o quê e como aconteceu pra ele terminar com você?

— Aquele otário, imbecil, babaca do Henrique, filho da Simone, contou tudo pro Rodrigo... e eles começaram a brigar... - pausei - agora ele não quer mais nada comigo.

— Ele ainda te ama filha. Não vai ser a merda de um beijo que vai acabar com isso...

— E se não tiver mais jeito? E se ele não quiser mais me ver? - enxuguei as lágrimas do rosto.

— Eu vou dar um jeito nisso, vou conversar com ele e se possível amanhã mesmo.

— Faz ele voltar pra mim mãe, por favor. Sem ele eu não vou conseguir ser feliz, eu preciso muito dele!

— Pode deixar... agora sou eu quem precisa fazer o jantar. Vai tomar um banho bem quente, vai. Isso vai fazer bem pra você.

— Tá bom.

...

Tomei um longo banho e deixei cair sobre o ralo todas as lágrimas e mágoas que rolou naquele dia.

Então desci pra jantar e depois entrei na internet pra distrair minha mente com outras coisas que não fossem Rodrigo, Rodrigo e Rodrigo. Quem sabe assim eu parava de pensar no meu "ex". Nossa, como doí dizer essa palavra... mas enfim.

O dia seguinte amanheceu chuvoso e frio, nem me preocupei em levantar-me da cama para ir a escola. Eu não tava à fim mesmo. Dormi a manhã inteira e se conseguisse dormiria a tarde toda, só pro dia passar voando.

Por volta das 15h da tarde, a chuva continuava e meu celular começou a tocar. Minhas pernas bambearam quando vi a foto, o nome e o número de Rodrigo na tela.

— Alô?

— Eu não aguento mais. - confessou.

— Sobre o que você tá falando?

— Eu preciso falar com você.

— Você já falou tudo o que tinha pra falar, que acabou, que era pra mim te esquecer e eu...

— Déborah, pára com isso?— interrompeu-me.

— Parar com o quê?

— Você me deixa nervoso, me escuta.

— Então fala logo aonde você quer chegar.

— Eu... eu não sei viver sem ter você!— falou pausadamente.

— Eu já ouvi muito isso em música.

— Chega de gracinhas Déborah, eu tô falando sério meu. Você não sai da minha cabeça, eu ainda te amo muito... eu não consigo ficar um dia só longe de você, eu preciso muito de você aqui, comigo.

— Ai, Rodrigo...

— Olha na janela. - interrompeu-me mais uma vez.

— Co... como assim?

— Olha na janela.

Não entendi o que rolava mas olhei rapidamente janela à fora observando o tempo que ainda estava cinza e garoando.

— Olha pra baixo.

E lá estava Rodrigo desligando seu celular e o colocando no bolso da calça. Continuei não entendendo nada, muito menos o que ele fazia ali, mas desci as escadas num segundo para vê-lo... e se pudesse, tocá-lo. Ele veio em minha direção e abraçou-me fortemente sem me deixar ter reações, e antes de soltar-me, soltou um longo suspiro:

— Me desculpa por tudo o que eu falei. A sua mãe foi me procurar e esclareceu tudo... Put's, me desculpa mesmo, eu tava com a cabeça muito quente e disse loucuras.

— Você me machucou muito.

— Eu prometo que nunca mais vai acontecer isso de novo... eu juro!

— Promete? - perguntei esperançosa.

— Eu não seria capaz de cometer esse erro mais uma vez e eu me arrependi muito, como você disse...

— Fui eu quem errou desde o começo.

— Vamos esquecer isso vamos? E... que tal sair dessa chuva?

— Oh claro, foi mal. Com você aqui eu perco a noção do tempo! Mas antes... preciso fazer uma coisa.

— O quê?...

Ele segurou em minha cintura e aproximou seu rosto do meu. Tão próximo que pude sentir sua respiração profunda perto da minha e nos beijamos. Um beijo ardente. Um beijo quente. Um beijo saboroso, que só o meu Rodrigo conseguia despertar sensações esplêndidas em mim.

A minha vida estava de volta. A vida que sempre sonhei, com pessoas especiais e o meu amor verdadeiro. Não sonhei com um príncipe encantado, mas sim com o cara como ele que tanto me fez feliz e que sempre esteve ao meu lado. O pouco tempo que passei com ele depois daquela agonia toda, me restaurou e sem dúvidas me fortaleceu.

Aprendi que nessa vida não se pode trocar por nada. Nenhuma amizade, família ou amor por dinheiro ou bens materiais. Ser feliz é amar tudo isso sem esperar nada em troca.

Em Rodrigo encontrei a confiança, o afeto, a sabedoria, a ousadia, a cumplicidade, a amizade... e o melhor de tudo: me encontrei.

Sei que desde o começo nem tudo foi à minha maneira, mas foi à minha maneira que encontrei a porta pra minha felicidade.

FIM (: