Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 78
vida 5 capítulo 27




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Dean constata surpreso que se materializara na entrada da Mansão Helms, em meio a dezenas de ghouls mortos. Ao olhar para os ghouls mortos, percebeu que não era mais a mesma pessoa que abrira fogo contra outros iguais àqueles menos de 24 horas antes. Não os via mais como monstros que precisavam ser exterminados. Percebia agora que viviam famintos e apavorados.

A bruxa os usava como cães de guarda. Os usava para fazer desaparecer os vestígios dos seus próprios crimes. Eles pareciam ter potencial para ser bem mais que isso. Sentiu pena deles. Por um momento, se sentiu um deles. Um ghoul.

Voltara a ter fome e a se sentir como o garoto assustado que ele nunca fora. Estava com medo. Medo do futuro. Seus dois irmãos estavam morrendo e não havia nada que ele pudesse fazer. Adam perdera muito sangue, ele nem mesmo podia doar um pouco do seu. Adam precisava de sangue humano e ele não era humano.

O que podia ser pior que ficar preso naquela realidade, na forma de monstro, sem ter ninguém para apelar? Mesmo que os irmãos se recuperassem, nunca o aceitariam como um verdadeiro Winchester. Sempre o veriam como um monstro que se apropriara das memórias de um garoto morto. De uma forma ou de outra, ficaria sozinho.

Bobby? Ellen? Não sabia ao certo nem mesmo se eles existiam naquela realidade. E mesmo que fossem exatamente iguais aos que conhecia, ia se apresentar a eles como sendo quem? Um Dean Winchester que nunca existira? Um ghoul arrependido? Arriscar-se-ia a passar por humano para caçadores experientes?

Lisa? Não. Nem mesmo desespero justificava ir procurá-la. Não tinha pleno controle sobre os próprios atos. Colocaria em risco a vida dela e a de Benjamim. Benjamim? Não, com certeza absoluta não existia um filho seu naquela realidade. No máximo, um filho de Adam.  

Sentiu-se sozinho como nunca antes na vida. E não seria diferente no futuro. As primeiras lágrimas começaram a escorrer pela sua face, embora sua expressão se mantivesse serena. Surpreendeu-se quando viu outro ghoul se aproximar e parar a seu lado. O outro foi o primeiro a quebrar o silêncio.

- Porque voltou?

O que mais surpreendeu Dean foi o tom calmo e a forma casual com que a frase foi dita, como que vinda de um velho amigo. Na defensiva, Dean respondeu de forma agressiva.

- Foi VOCÊ que saiu correndo carregando uma mulher que gritava, não foi? O que FEZ COM ELA?

- Nada. Ela está em segurança.

A fala suave transmitia confiança e desarmou Dean. Ele respirou fundo e encarou o ghoul, tentando entender sua atitude tão .. inesperada.

- Reconheço você. De outro lugar. De outra vida. Mark Levine, não é?

- Ele morreu. Eu o matei.

- E o que pretende fazer agora?

- O que há para ser feito? Sou um ghoul, não tenho outro lugar para ir.

- E a mulher?

- É Catherine Hayden, mãe de Kyle Hayden, o rapaz que você resgatou essa manhã. Kyle e Mark eram muito amigos, mais que amigos se me entende. Mark ficou órfão quando ainda era um garoto e se acostumou a pensar na mulher, em Catherine, como uma segunda mãe. Este sentimento existe dentro de mim.

- E o que ela fazia aqui?

- Queria matar a bruxa. Fazê-la pagar pelo sofrimento do filho. Evitar que voltasse a fazer o mesmo com outro. Essas coisas.

- E atirou em Adam?

- O amante da bruxa? Sim. Mas, creio que atirou às cegas. Estava sob um encanto hipnótico que explorava seus medos. Primeiro, serpentes. Depois, fogo.

- Adam é meu irmão e está morrendo.

- Irmão de Dean Milligan?

- Irmão de Dean Winchester. É quem eu sou na verdade. Vim de outra realidade. Quando eu deixar esse corpo, se deixar algum dia, Dean Milligan voltará a ser um ghoul sanguinário, como todos vocês.

- Talvez, mas acho que não. É raro, mas às vezes acontece com os da nossa espécie. Nós chamamos de abominação. Quando a personalidade do humano que foi devorado prevalece. Foi isso que aconteceu comigo. Achei que tivesse acontecido com você também.

- E quando isso acontece com um ghoul, como os outros reagem?

- O normal é que sejam atacados e destroçados, mas não devorados. Para que o mal não se propague.

- E vai ficar aqui, esperando ser destroçado?

- Como eu disse, sou um ghoul. Não tenho outro lugar para ir.

- Escute. Escolha ser um ghoul ou ser um homem. Mas qualquer que seja sua escolha, não se entregue. Lute por sua vida. Eu não sei como vim parar aqui. Mas nada nem ninguém me impediria de voltar aqui. Não depois da bruxa dizer que podia me transformar num HOMEM. Se existe uma maneira disso ser feito, eu vou lutar com todas as minhas forças para me transformar em um. Isso não te atrai nem um pouquinho? Em nenhum momento desejou ser, de fato, um homem?

- Um homem? Mark Levine? Todos sabem que ele está morto.  

Dean se deu conta do surrealismo daquela situação. Jamais se imaginara dando conselhos de vida a um ghoul. Conversando amigavelmente com um monstro assassino. Principalmente, depois que o monstro confessara ter matado Mark Levine. Lembrou do seu encontro com Mark no Hot Machine Bar, quando ainda era um homem. Estava desesperado, temendo pelo pai e por Sam e, de alguma forma, Mark trouxe paz a seu coração. Se perguntou se Mark não era um anjo.  

Pensando bem, isso se repetia agora. A conversa ajudara a tirá-lo do clima depressivo que entrara, reavivara seu espírito de luta, devolvera sua determinação em voltar a ser humano. Estava agradecido ao ghoul, mas sua presença começava a incomodá-lo. Desta vez, tinha certeza que não se tratava de um anjo.

A bruxa tinha voltado a seus aposentos. Seu verdadeiro quarto de dormir, não a alcova onde fizera sexo com Adam Winchester. Sentia-se exausta. Seu corpo precisava se recuperar do trauma físico. Sua mente precisava se recuperar do tremendo esforço para dar forma aos dois encantamentos, ambos muito difíceis. Sua alma precisava se recuperar do golpe de ver outra mulher se interpondo entre ela e seu objeto do desejo, trazendo de volta a sombra de Κρέουσα. Mal deitou e mergulhou num sono profundo e sem sonhos.

- Está dormindo.

O susto foi tão grande que Dean quase gritou. Estava concentrado na mulher e não notara o ghoul novamente a seu lado, silencioso como uma sombra.

- Não volte a fazer isso.

- Eu quero.

- Quer o quê?

- Ser um homem.


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Notas finais do capítulo

27.02.2011

Κρέουσα = Creusa, segunda esposa de Jasão



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