Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 74
vida 5 capítulo 23




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Dean voltou a estacionar o Impala no exato lugar onde o estacionara da primeira vez. Pulou sobre o muro também no mesmo ponto de antes, enganando as câmaras. Sentia a presença de ghouls, mas de muito poucos. Seria de se imaginar que saíssem à noite, mas não essa debandada quase geral. Poucos humanos, também. Não sabia o que estava acontecendo, mas não ia amaldiçoar a sorte.

Aproximou-se da mansão pelos fundos e saltou para uma sacada no segundo andar. A fechadura não era um problema para as habilidades de Dean, mas quando destravou a janela avistou um sensor de impacto & vibração na janela. A casa tinha proteção eletrônica. Que diabo de bruxa era aquela que trocava magia por tecnologia? Bem, tentaria uma janela sem sacada. Bingo. Sem proteção. Muito pequena para um homem, mas perfeita para seu corpo de menino franzino.

O corredor estava deserto. Alias, a casa inteira estava deserta e às escuras. O melhor era não acender nenhuma luz. Seria o mesmo que ligar um farol. E não precisava, já que, como ghoul, enxergava bem à noite. Ao contrário, a luminosidade excessiva do dia é que o ofuscava, embora menos se estivesse na forma humana. Já para fazer pleno uso da visão noturna, precisava reassumir a forma de ghoul.

A mansão era enorme. Encontrou a biblioteca. Grande como seria esperado. Mas era claramente um lugar onde a bruxa recebia visitantes, talvez o lugar mais público de toda a mansão. Não era o local que alguém escolheria para esconder um Livro de Feitiços. Assim, à vista de todos. Se bem que .. não dizem que o melhor lugar para se esconder uma árvore é no meio de uma floresta. Não era tão impossível que o Livro estivesse ali, afinal.

A biblioteca tinha um pé-direito equivalente a dois andares. Uma escada de correr dava acesso aos livros das prateleiras mais altas. Uma boa parte dos livros eram edições recentes. Nathalie Helms se instalara na mansão há dez anos. Era, portanto, a contribuição dela para o acervo da biblioteca. Inúmeras edições da tragédia grega Medeia. A bruxa parecia ter obsessão por aquela obra. Traduções em diversas línguas. Tanto de montagens que respeitavam o texto original quanto de releituras e recriações. Livros que analisavam o mito sob as mais diferentes abordagens. Pensando bem, Medeia era carente, impiedosa e desequilibrada. Nathalie Helms devia se identificar com ela.

Os Argonautas, numa edição bem antiga. Poema épico de Apolonio de Rodes. Também diversas edições. Até mesmo edições infantis. Uma com um Jasãozinho herói. Dean gostava de mitologia o suficiente para lembrar que Jasão, o comandante da Argo, fora marido de Medeia. Ele a deixou por uma mulher mais jovem. Ela matou a rival e depois os próprios filhos. Para uma pessoa simpatizar com Medeia, precisava ser também completamente desequilibrada.

Estranhou encontrar tantos livros de biologia. Fisiologia, genética, clonagem. Livros sobre ervas e propriedades medicinais de plantas. Bem, estes estavam mais de acordo com os interesses de uma bruxa.

Escutou quando um carro parou na entrada da mansão. A bruxa estava de volta. E não viera sozinha. Olhou pela janela. Adam. Analisou suas reações. Enfeitiçado. Como Kyle. Mas, pelo jeito, não estava em perigo imediato. Ao contrário, parecia que o irmão ia se divertir bastante. Olhou detalhadamente para a bruxa. Não conseguiu evitar uma pontinha de inveja. Que boca. Que peitos. Que cooooorpo. Bruxa ou não, Nathalie Helms tinha um corpo capaz de enlouquecer qualquer homem.

Viu quando Nathalie rasgou as roupas de Adam. Não conseguiu deixar de achar a cena excitante. Se imaginou no lugar de Adam. Afinal, Adam estava ocupando um lugar que era seu por direito. Respirou fundo e se afastou da janela. Tinha um objetivo. Voltar a ser humano. Nem que precisasse matar a bruxa. Matar? Bem, talvez pudesse arrancar a informação por outros meios. Deu um sorrisinho sacana. Um sorriso que não tinha nada de Dean Milligan, mas tinha muito de Dean Winchester.

Foi quando escutou o que parecia o desligamento de uma unidade compressora de ar condicionado. O som parecia vir de trás da estante mais próxima da porta. Aproximou-se, olhando com atenção cada detalhe da estrutura daquele trecho da estante. Um minúsculo vão em torno daquele módulo, inexistente no restante da estrutura. Deixava passar um ventinho frio. A entrada para a verdadeira biblioteca era ali.

Devia haver uma botoeira em algum lugar. Levou quase dez minutos até encontrar.

Agora sim. Uma autêntica biblioteca de bruxa. Alguns volumes realmente antigos. Inglês arcaico. Latim. Grego. Uma língua que não fazia a menor idéia qual fosse. Mais outra que não conhecia, mas que tinha semelhança com o grego. Vários volumes nesta língua, um deles com ilustrações de plantas. Alguns volumes no que parecia ser alemão. Uma biografia de Eurípedes em grego arcaico. Medeia novamente. E, num lugar de destaque, um volume que devia ser muito especial para estar num cofre de vidro. Vidro a prova de balas. Parecia que encontrara o que viera buscar.

Contemplava extasiado o livro, quando escutou o tiro. Correu para fora do cômodo e fechou a entrada. Não podia alertar a bruxa sobre suas descobertas. Um grito de pavor, e não era a bruxa gritando. Uma outra mulher. Mais três tiros. Antes mesmo de chegar na base da escada sente o cheiro embriagante de sangue humano. Um novo grito da mesma mulher. Desta vez de dor. Pavoroso. Interminável. E, para completar, havia um outro ghoul no segundo andar.

Escuta uma porta batendo violentamente contra a parede ao ser bruscamente aberta. O grito cessa de repente e agora é a bruxa quem está gritando. Não entendeu o que foi dito, mas sentiu o ódio que permeava cada sílaba. Se escondeu como pode, se comprimindo contra a parede. O ghoul passou correndo. Carregava uma mulher sobre os ombros. Desceu a escada aos saltos e, em segundos, desapareceu na noite.

Seus olhos se arregalaram com a visão magnífica e terrível da bruxa nua, gritando impropérios e maldições, e tentando estancar o sangue que escorria de um ferimento de bala no braço. Quando ela desapareceu em uma das muitas portas do andar inferior, Dean subiu a escada guiado pelo cheiro de sangue fresco.

Adam luta para se manter consciente, mas está perdendo muito sangue. A perda de sangue faz que sinta muito frio. Mesmo assim, não era da sua natureza entregar os pontos. Era um guerreiro. Sempre lutou com todas as suas forças, mesmo quando tinha tudo contra si, mesmo quando não parecia haver esperança. Mas ao ver o ghoul entrando, foi tomado por uma sensação de fim de jogo. Um jogo que ele perdera.

- Vá em frente. Boa refeição.

- Adam, você pode não acreditar, mas vou fazer de tudo para salvá-lo. Irmão.


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Notas finais do capítulo

09.02.2011