Sete Vidas escrita por SWD
Dean chegara cedo ao Hot Machine e já tinha bebido muitas. Mas ainda estava no controle de seus atos. Era resistente à bebida. A angústia e o vazio que sentia no peito também eram.
Em outra realidade, teria aceitado o chamado de Faith. Mas nessa, ela não tinha os atributos que poderiam interessá-lo.
Tinham se passado 48 horas e ele não fazia idéia do que tinha acontecido com o pai e com o irm .. com Sam Harvelle. Preocupava-se igualmente com o destino dos dois. Não importava qual dos dois tivesse vencido.
Ele, Dean, certamente teria perdido.
A última coisa que lembrava era de ter sido encontrado pelo policial Levine ainda preso à parede. Depois disso, só lembrava que acordara, já na manhã seguinte, em sua própria cama, no motel, com dores horríveis no corpo todo.
Mas, quando fora à delegacia questionar o policial, ele dissera que o encontrara desacordado no chão. Que recebera a denúncia de uma movimentação suspeita no quarto 212 e que fora investigar. O encontrara desacordado, sem sinais de uso de álcool ou de drogas, e o deitara na cama. Que dera o caso por encerrado. Não tinha notícias do irmão Jared, nem de nenhum incidente nas redondezas.
Dois dias inteiros rodando pelas estradas da região e nada. Nenhuma pista. Nenhum sinal. Nenhum dos dois atendia aos seus insistentes chamados no celular. E ali estava ele, enchendo a cara para não cair no choro.
Para não se entregar ao desespero.
Dia de treino. Kyle, Owen e Mark entram no bar.
Ashley não estava com eles. Kyle tinha pedido um tempo no namoro. Ao ver Dean, numa mesa lateral, Owen disfarçou e sugeriu que fizessem algo diferente naquela noite. Afinal, há quanto tempo não pegavam um cinema só os três? Kyle e Mark se entreolharam, olharam para Dean, olharam para Owen e disfarçaram que tivessem feito a mesma associação de idéias.
Owen repetiu a sugestão e, desta vez, Kyle aceitou entusiasmado.
Mark deu a desculpa que ainda tinha que estudar para uma prova e que não queria dormir muito tarde, para deixar que os dois fossem sozinhos.
Kyle e Owen saem e Mark se aproxima de Dean.
— Ainda na cidade?
— Aguardando notícias do meu pai .. e do meu irmão.
— Eles não vão voltar. Nenhum dos dois. Sabe disso, não sabe?
— Como pode s.. ?
Dean interrompe a pergunta, ao olhar nos olhos de Mark.
PARECIA EXISTIR TODO UM UNIVERSO NOS OLHOS DE MARK.
Neles, Dean encontra as respostas que buscava sobre o desfecho da batalha decisiva e sobre o destino final de John e de Sam. São respostas direcionadas diretamente para sua alma, não para sua mente racional. Quando o contato visual é quebrado, a lembrança da revelação e o conhecimento objetivo do que aconteceu se perdem, mas o coração de Dean foi acalmado.
O vazio foi preenchido por uma emoção quente e reconfortante, de aceitação e de transcendência.
— Sinto por você, Dean. Mas é a sua chance de começar uma vida nova. Uma vida normal.
— Sozinho?
— Vai aparecer alguém. Antes até do que você imagina. Você ainda vai ser muito feliz.
Dean abaixa a cabeça até encostar a testa na mesa. Fica assim por longos segundos. Então levanta a cabeça e ergue o copo num brinde.
— A você, pai. A você, mano. Onde quer que estejam.
Dean bebe de um só gole e faz uma prece silenciosa, de olhos fechados.
— Ia perguntar se posso pagar uma bebida, mas acho que você já bebeu toda a sua cota diária. Ainda assim: posso me sentar ao seu lado?
— Quer mesmo sentar ao lado de um bêbado chato? Aviso logo que não estou nos meus melhores dias.
— Vou arriscar. Não acredito que seja um chato, mesmo estando bêbado.
— É daqui mesmo?
— Não. Estou de passagem. Viagem de negócios. Moro em Los Angeles. Conhece?
— Pouco. Muito grande. Muito iluminada.
— Muito iluminada? Não entendi.
— Fui por muito tempo um caçador. De coisas que não caminham na luz.
— Foi? Não é mais?
— Ainda não sei. Por um tempo acompanhei meu pai. Depois, um irmão. Agora, simplesmente não sei. Acho que vou seguir novos rumos.
— Porque não vai para a Califórnia. Los Angeles é uma cidade cheia de oportunidades.
— Não conheço ninguém lá.
— Agora conhece. Conhece a mim.
Só então, Dean se dá conta que o sujeito está lhe passando uma cantada. Era um moreno de olhos escuros. Rosto forte, másculo. Bastante interessante, por sinal.
— Não posso dizer que nos conhecemos. Pelo menos, não ainda.
— Depende mais de você.
— Você é sempre tão direto?
— Senti algo diferente quando vi você. Amanhã estou voltando para Los Angeles. Era agora ou nunca. Queria me dar essa chance.
— Meu nome é Dean Winchester.
— Prazer, Dean. Eu sou o Luke. Luke Braeden.
Os dois homens apertam as mãos demoradamente, ambos atentos à emoção daquele primeiro contato físico entre eles.
Ainda estavam com as mãos unidas quando o relógio da mesa de cabeceira do quarto 212 do Blue Mountains Motel marca 21:03.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!