Cigarret - Nova Vida escrita por mariehartdie


Capítulo 1
Primeiro dia, não tão revigorante




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Capítulo 1

Primeiro dia, não tão revigorante.

"Mais um dia acordo às seis horas da manhã e fico imaginando o "porquê" de ainda estar me sentindo tão só na maior parte do tempo, confesso que não posso reclamar, pois não sou a primeira nem a última adolescente em plenos dezesseis anos a se sentir assim, a minha vida virou de cabeça para baixo no instante em que perdi uma pessoa importante, ou seja, outra coisa meio clichê que adolescentes com hormônios a flor da pele tem o costume de sentir ao ficarem tristes com uma morte, acho que qualquer pessoa em qualquer faixa etária também sentiria o mesmo, e periodicamente pensar que vai morrer de tristeza, confundindo ou estando com depressão, sendo pretensiosamente egoísta ao ponto de não se importar como os outros estão levando a vida, mas quando é o seu pai, a coisa muda drasticamente, porque você sempre pensou que aquilo nunca iria acontecer com você, mas alguma coisa ou outra sempre acontece, por enquanto estou na jovialidade dos meus dezesseis anos, mas muitas pessoas dizem que tenho mentalidade madura para minha idade, sim, isso realmente me faz sentir muito melhor, obrigada Tia Elô apesar de não sentir que seja verdade, tenho que lembrar isso a ela depois logo depois que terminar isso aqui, na verdade achei você ontem, já não aguentava mais ficar ouvindo "Meus Pêsames e Condolências" ou um "tanto faz" que as pessoas não tinham coragem de dizer apesar de tristes, olhares que eu conseguia processar direcionados a mim, sei que meu pai não foi uma pessoa extraordinária, ele poderia ter sido o alcoólico mais mal resolvido em relacionamentos amorosos, mas ainda sim era meu pai, que simplesmente morreu, de repente. Ele e minha mãe sempre foram separados praticamente a minha vida inteira, mas isso não quer dizer que ele não era um bom pai, pelo menos para mim. Ele nunca teve uma relação muito boa com as outras duas filhas dele e já que eu era a caçula, era a que mais 'sofria' com apego fraternal, ambos meus pais tem filhos de outra pessoa, meus pais não tiveram um bom relacionamento, um maltratava o outro, já ouvi histórias de que a minha mãe um dia achou uma arma no criado mudo ao lado da cama, e só não havia matado o meu pai por falta de balas, isso indica que as pessoas da minha família não são muito normais, ou talvez sejam, decidi começar a escrever um diário de lamentações, então espero que toda essa confusão no decorrer dos dias comece a fazer algum sentido.

Dia 05 de agosto, Roniara Maia, uma segunda feira... revigorante/debilitante.

Assim que terminei de escrever umas poucas linhas do diário de segunda mão que achei num tipo de armário mal intencionado, empoeirado e vazio, exceto pelo caderno de couro desgastado, fui tomar um banho que demorei um pouco devido ao novo chuveiro de água quente, coloquei uma calça jeans e a farda razoável da escola, adicionei os livros que precisaria na mochila e desci rápido pois não poderia me atrasar, estava com fome, minha mãe estava dormindo como sempre e eu teria que fazer algo ás pressas, mas pensando bem eu não converso com minha mãe faz um bom tempo, pelo menos não uma conversa de verdade. Tratei de eu mesma preparar o meu café, fiz um ovo frito, peguei o achocolatado e o pão com ovo para comer pelo caminho, porque já eram sete e meia da manhã. Sai de casa, a parada ficava bem perto de casa, saí correndo como se não houvesse amanhã, mas o meu ônibus já havia ido embora, perdi a hora mais uma vez e teria de ir andando para a escola, o sedentarismo das férias não ajudou muito, e as horas chorando não foi muito atrativo para a minha aparência, al

Depois de meia hora de caminhada subindo uma ladeira sem fim cheguei na faixada horrenda daquela escola, a cor era laranja e estava precisando de uma boa reforma, mas o que mais se pode esperar de uma escola pública, parei um pouco para respirar e também porquê estava pingando de suor, decidi entrar, era a primeira vez que vinha a escola depois do ocorrido e sabe aquela sensação de todos estarem olhando pra você, pois é, não era sensação, era certeza. A metade daquelas pessoas mandaram mensagens pelo facebook com suas intermináveis condolências e pêsames que nem tive paciência para responder a todas elas, porém durou pouco tempo e agora esses olhares de pena já eram de se esperar, mas eu não iria suportar porque era irritantemente desconfortável, procurei desesperadamente o meu horário na bolsa e vi que a minha primeira aula iria ser de matemática, o que era péssimo já que detestava a matéria, o difícil é você entender o resto só é duas vezes mais complicado, mas é claro que há aqueles que dominam a matéria, deve ser um dom o qual não possuo contando com a minha linha de raciocínio.

O sinal tocou e fui na secretária, me disseram que continham armários novos no corredor L, e isso foi impactante porque nunca houve armários nessa escola, andei pelo corredor e vi os armários laranjas, óbvio, e fiz uma nota mental de comprar um cadeado, segui em frente e encontrei a sala barulhenta que estava me esperando, assim que cheguei vi o homem de 27 anos, alto e de cabelos castanhos, o professor chamado Dereck, ele aparentava ser bem mais novo, e até era bonito, dei um aceno e fui para o fundão.

Gosto dessa ideia de ser invisível, mas infelizmente isso é uma coisa que eu não consigo ser por minhas notas altas, menos em matemática, e ter o único cabelo cacheado da sala, olhos castanho avermelhado e uma beleza meramente mediana, mas essa a minha opinião, as outras pessoas me definem como muito bonita e acreditem não estou me gabando, mas ser bonita e inteligente, menos em matemática, não é tão legal quanto parece se você quer ficar sozinha e todo mundo te conhece, às vezes fico pensando no que fazer para sair daqui. Levanto minha cabeça para examinar a sala toda, e todos tinham voltado a seus respectivos lugares, mas tinha um problema, e um de que não gostei, havia um garoto, eu não o conhecia até agora, já que seus olhos azuis e cabelos pretos eram bem chamativos, mas o problema não era exatamente esse, o que não gostei na verdade era que ele estava me encarando tão descaradamente que Evellyn que estava ao meu lado me cutucou e soltou um riso, mesmo ele percebendo que eu o o flagrei e estava encarando de volta, não sentiu vergonha alguma continuou encarando por mais um tempo, até que o professor Dereck iniciou a aula e ele lentamente voltou a sua cabeça para o professor sorrindo.

A aula foi massante, não consegui me concentrar na metade, Dereck estava falando da bhaskara e finalmente o sinal tocou, me levantei e sai da sala direto para o corredor, não estava com vontade de conversar com ninguém, muito menos o misterioso dos olhos azuis, cheguei na cantina e estava lotada, entrei na fila para comprar um sanduíche de atum, peguei uma bandeja e esperei para comprar o lanche do tio da cantina que parecia mais um presidiário aposentado do que um distribuidor de lanches da cantina de uma escola pública, sorri para ele agradecendo e segui, fui em direção a uma mesa não prestando atenção em muita coisa e prensando nas coisas, quando dei por mim quando eu menos esperava um garoto loiro estava correndo desesperado, sabe aquele momento em que você tem um deja vu e tudo acontece em câmera lenta? Sim, isso aconteceu por minha demência e falta de bom reflexo, o garoto esbarrou em mim eu cai no chão com minha bandeja assustada e frustrada olhei para cima, encontrei os olhos do tal garoto que me fez esborrachar no chão, eram bem parecidos com os olhos azuis do garoto de mais cedo só que não era ele, depois da sensação da humilhação, da vergonha por ter atum da cabeça aos pés me levantei agora com raiva, possessa, porque a única coisa que eu queria nesse dia era tranquilidade, e um idiota que parecia ainda estar na quinta série acha que é uma boa ideia sair correndo no meio de um lugar cheio de pessoas com bandeja nas mãos, fechei os olhos tentando me controlar, suspirei fundo e olhei para a cara do imprestável:

— Seu idiota! Olha só o que você fez. – falei num ataque histérico o fulminando com os olhos.

— Calma ai, que bicho te mordeu? Pode baixar essa bola aí? – ele falou pondo as mãos para o alto, mas a falta de paciência era explícita da minha parte.

— Baixar o que? Se enxerga garoto, antes de se dirigir a mim, tenha um resquício de dignidade e peça desculpas. - disse apontando o dedo na sua cara.

— Olha aqui baixinha, não sei se você sabe quem eu sou, mas sou o filho do diretor dessa escola, e acho melhor você se acalmar esquentadinha. – aquilo me fez rir descontroladamente atraindo olhares de todos do pátio.

— Primeiro não te perguntei de quem você é filho, isso não tem a mínima importância e segundo, já que é o filo do diretor deveria ter mais modos. - ele ia falar mais alguma coisa, mas não me dei o trabalho de esperar a resposta e sai em direção ao banheiro e quando eu menos esperava o tapado veio atrás de mim e logo estava na minha frente me fazendo parar abruptamente.

— Saia da minha frente, você quer sair da minha frente? - disse tentando de todas as formas continuar em direção ao banheiro, mas ele me impedia ficando na minha frente.

— Você por gentileza poderia me desculpar, madame? - disse se curvando, como se estivesse em alguma novela.

— Não, sua alteza, você acha mesmo que desculparia você agora? - mal-educado.

— Por que não? - colocou a mão na cintura suspirando.

— Porque você é um idiota mal-educado, simples, agora quer fazer o favor de sair da minha frente?

Ele saiu dando espaço para finalmente eu ir ao banheiro, ignorei totalmente o fato de que estava com fome e meu sanduíche de atum no percurso porque agora era o enfeite da minha roupa. Entrei no banheiro e minha farda estava toda suja, que raiva daquele garoto, tentei me lavar como pude então do nada lembrei que tinha um casaco preto na mochila, o peguei e o coloquei, deu até pra disfarçar a blusa manchada mas a calça estava arruinada, sai do banheiro ainda bufando e esbarrei em alguém, sinceramente esbarrar nas pessoas está virando uma rotina que não estou a fim de ficar repetindo, quando olhei para a cara da criatura na minha frente preferi dar meia voltar para o banheiro porque era o loirinho desastrado da cantina, não fiz isso, esperei ele dizer logo o que ele queria, mas o novato estava com a turminha atrás dele o que era bem esquisito.

— Perdeu alguma coisa?

— Eh. Não. – falou como se não tivesse acontecido nada, acho seriamente que meus hormônios não estão me ajudando.

— Então, com licença. - sai andando tentando recuperar o resto de minha dignidade e quando dei uma olhada para trás, coisa que eu não deveria ter feito, o garoto estava me seguindo, se afastando da turminha.

— O que você quer? Já não basta ter me melado inteira de atum justo no primeiro dia de aula e de ter se gabado de seu lindo pai, achando que poderia me fazer baixar a bola, sinto muito lhe informar, mas você não sabe com quem está se metendo, então dá para me deixar em paz, porque a minha TPM está extremamente irritante nesse momento e você é aparentemente o alvo, então pare de me seguir.

— Tudo bem.

Dei o sorriso mais falso que poderia transmitir e fui embora com todo mundo presente no local olhando para nós, pelo visto hoje nós iriamos ser a fofoca da escola, as pessoas amavam uma bela de uma fofoca, tinha a consciência de que estava sendo muito infantil, mas aquele garoto me deixou irritada demais sem motivo. Fui para a minha próxima aula, e nem entendi muito do assunto, de novo, o professor de biologia falava de prófase, anáfase, telófase ou algo do gênero, me senti incluída no crepúsculo por causa dessas divisões de células que o Edward e a Bela falam no filme, depois de um tempo querendo que um milagre acontecesse, foi concedido, o sinal tocou e fui à última a ficar na sala, eu e meu perfume de atum com mortadela defumada, guardei as coisas e pensei que tinha que revisar a matéria em casa.

Estava terminando de fechar minha mochila, mas logo percebi que havia mais alguém na sala, levantei a cabeça e o mesmo garoto de olhos azuis de cabelos pretos que havia visto mais cedo estava me encarando, estava na sala me encarando de novo, de uma forma mais discreta, olhei para ele e desviei o olhar pois estava cansada do dia desgastante de hoje, consegui ignorá-lo por um curto período de tempo e logo me irritei.

— Se vai ficar me olhando o dia inteiro é melhor falar logo o que você quer ou quem sabe tirar uma foto para você ficar admirando quando chegar em casa.

— Bom, nada em particular, só achei legal o que você fez na cantina, Jonathan estava merecendo um sermão.

— Se você está tentando puxar conversa, começou com o pé esquerdo, se você está falando do filho metido do diretor, estou cansada do assunto.

— Queria mesmo é agradecer por ter feito ele baixar a bola dele, te conheço há um dia e já vi conquistou a escola inteira, mas não se preocupe no colégio interno em que estávamos nunca ele nunca foi boa coisa, mas Jonathan fez um bom trabalho para nos fazer sermos expulsos e parar aqui.

— Nossa que recíproco, vocês formam um belo casal. – irônica agora sabia dos olhos idênticos, eles eram irmãos gêmeos, mas não muito iguais pelo visto, sabia disso porque todos sempre souberam que o diretor tinha filhos gêmeos, mas saírem de um internato e virem para uma escola pública? Quero nem imaginar o que eles aprontaram.

— Você é sempre assim? – seus olhos me analisavam, puxando o assunto de repente.

— Assim como?

— Sempre na defensiva?

— Não, eu só quero ficar sozinha, porque não muito bem acompanhada está ficando estressante. – me dirigi a porta sem nem olhar para o garoto de cabelos pretos de novo.

—Prazer também, sou Peter Schneider. – olhei para trás quando estava chegando à porta, a curiosidade falou mais alto.

— Por quê me falou seu nome completo?

— Porque é assim que me apresento às pessoas, digamos que seja uma marca registrada particularmente minha.

— Adeus Peter Schneider da marca particularmente registrada.

Saí deixando Peter sozinho na sala, andei pelo corredor e desci a rampa que estava escorregadia, quando olhei para o céu vi que tudo estava nublado, estava perto do portão da escola e de repente começou a chover e pensei, ''ótimo, isso era tudo o que eu precisava agora'', resolvi ir para casa na chuva mesmo, não me lembrei de trazer o guarda chuva, comecei a andar sentindo cada gota incessante de água caindo, me fazendo resmungar por molhar o livro que deixei na mochila desde a semana passada "Morte Súbita" da J.K Rowling, de repente uma picape nada modesta parou do meu lado, meu instinto de correr me alertou porque era mulher e um carro estava praticamente me seguindo, a sensação de se sentir insegura o tempo todo é desgastante, porém só comecei a andar um pouco mais rápido, o motorista do carro buzinou e levei um susto, no mesmo instante o vidro fumê abaixou e uma cabeleira preta e molhada parou ao lado.

— Está querendo me sequestrar agora Schneider? Porque isso assusta.

— Quer carona? - Peter perguntou com a cara de culpado, e deveria se sentir mesmo.

— Não, mas obrigada marca registrada. – recomecei a andar.

— É sério, entra.

— Me dê um bom motivo. – falei arqueando as sobrancelhas e tremendo de frio.

— Você, primeiramente está horrível, depois vai molhar seus livros e vai pegar um baita resfriado.

— Ah muito obrigada pela consideração, conseguiu aumentar a minha autoestima. – fiquei uns dez segundos me segurando e o ''tudo bem'' saiu de uma forma involuntariamente constrangedora, corri para o carona com a mochila na cabeça e entrei no carro, sem dizer uma palavra.

Ele deu a partida no carro sorrindo de lado e fui indicando silenciosamente as ruas que ele deveria seguir para chegar à minha casa, chegamos rápido, minha casa não era tão longe e até agora estava me perguntando o que ele estava fazendo com um carro, parei para pensar um pouco ou ele andava ilegal ou com certeza tinha 18, mas parecia mais novo, ele parou o carro na fachada vermelha com branca do meu bloco, quando estou abrindo a porta do carona para correr para casa ele me puxou de volta me fazendo fechar a porta e encarar ele, um segundou depois percebi que estava tão perto dele que podia sentir seu hálito de morango refrescante.

— Não quer levar o guarda-chuva? – disse olhando fixamente para meus lábios o que me fez me afastar dele.

— Você tem um guarda-chuva?

— Tenho.

— E porque não me disse antes? – incrédula.

— Porque se dissesse você não viria comigo.

— Nossa que galanteador.

Bufando pegando o guarda chuva e saindo do carro batendo forte a porta, assim que pus os pés na rua corri até meu "apertamento'', fui direto ao meu quarto e nesse momento voltei para minha realidade, a minha mãe ainda não tinha chegado, e a pontada da dor no meu coração ao lembrar do meu luto foi menor hoje, e agradeci imensamente por isso, talvez o cotidiano me fizesse voltar a ter algo de interessante na minha vida de agora em diante, me desse algo para que não precisasse pensar na minha realidade, porque às vezes você pode se afogar mesmo não estando de baixo d'água.


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