Perfeita - Shortfic escrita por Dana


Capítulo 1
Carrossel




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Yoona não tinha o costume de beber tanto. Mas hoje, numa noite quente de verão, ela se esforça em colocar um pé na frente do outro.

— Um pé na frente do outro, um pé na frente do outro. Haha, é divertido. Uau, tudo girando, como no carrossel... Embarque nesse carrossel... por tomar muitas doses...

Ela para e ri, tudo é tão engraçado. Olha ao redor. Chegou. Desde que veio para a Coreia do Sul Yoona mora com o pai, que calhou de ser o responsável pela segurança da banda de maior sucesso do mundo. BTS. Não que Yoona tenha achado ruim, ela até que gostava das músicas, e descobriu com o tempo que conviveu com os meninos que eles são apaixonantes.

Um deles um pouco mais do que os outros.

— Cadê a porta? Meu Deus, a porta sumiu. E agora? - Um choramingo sentido lhe escapa.

— Yoona? - ela gira rápido demais ao ouvir seu nome e se desequilibra, procurando apoio na parede. -O que houve com você? - Jin encosta sua bicicleta azul na parede e vai até ela.

 - Jiiin. O Mundialmente bonito. Se abusar universalmente bonito, né não?! Você não contou os outros planetas. Ai ai, tão bobinho. Você com certeza é mais bonito que qualquer alienígena.

— Yoona, está bêbada?- Jin segura o riso.

— Ei ei ei, não ria.- a garota coloca um dedo em seus lábios bem desenhados, o fazendo se afastar.

— Não faz isso.- ordena passando a camisa pela boca.

— Sua boca é muito macia, deve ser bom te beijar, não é mesmo?- um riso bobo lhe escapa e ela esconde o rosto pela vergonha.

— Você está falando português desde que cheguei, eu não entendo, sabia?

— Sério?! Uah, eu sou tão inteligente... consigo entender coreano e responder em português. Uah. Eu sei falar inglês também? I’m so smart.

— Sim, claro, very very much. O que está fazendo aqui fora? Por que não entrou? Se te pegarem assim não vai ser bom.- Jin entende bem que os staffs não aprovariam ela nessa situação.

— Eu queria... mas oppa, a porta sumiu... Não tem mais.- Yoona choraminga, realmente sentida de que a porta não existe mais.

— Oh não! E agora? Como vamos entrar?

— Eu não sei.

— Bom, olhe só. Ta Da!- Jin pula e balança as mãos para a porta, logo ao seu lado.

— O QUE? Incrível. Você é mágico também? Não acredito.

— Worldwide handsome e mágico. Eu entrego tudo. Vamos lá.- ele coloca a senha e abre a porta.

Ela se desencosta da parede, o que faz com que tudo volte a girar mas segue confiante até a luz fraca da porta.

Jin está guardando a bicicleta quando a bolsa de alça comprida que Yoona usa enrosca na maçaneta e de repente ela está no chão.

— Aish. Sério? Como você fez isso? Venha, venha!- Jin a puxa pelo braço, tentando a fazer levantar, mas o chão parece tão confortável para a garota.- Como pode ser tão pesada?

— Eu não sou pesada. Eu sou forte.- ela faz um biquinho, o que faz Jin resmungar.

— Não. Forte são Namjoon e seu pai. Aliás, vamos esperar Namjoon para te ajudar, não vou fazer força, ele chega logo.

— O que? Namjoon tá aqui?-  Yoona o puxa pelo braço, sendo tomada por uma mistura de desespero e euforia, sua voz soa enrolada, a língua pesa.

— Está um pouco atrás, eu sou muito rápido na bicicleta.- Jin se abaixa ao seu lado.

— Não, ele não devia estar aqui, me ver assim. Vocês não deviam estar dormindo? Está tão tarde.- Yoona olha para o relógio de pulso que marca quase três da madrugada.

— O trabalho de hoje demorou mais do que o normal. E você também, o que faz tão tarde andando por aí bêbada?- sua pergunta soa como uma bronca de irmão mais velho, Yoona sente seu corpo esquentar com o gesto de preocupação. Já há alguns meses com o pai, que não tem tempo para ela, sentia falta de ser cuidada.

— Eu queria testar uma coisa.- sussurra como um segredo.

— Que coisa?

— Se alguém poderia substitui-lo.

— Substituir quem?

— Eu não posso te dizer que é o Namjoon, não posso.- coloca uma mão em seu ombro, confortando-o por não poder lhe contar o que o álcool já a fez dizer sem perceber.

— O Namj...

— Shiiiiu.- corre em apertar seus lábios com o polegar e indicador. Evitando que fosse dito em voz alta.

— Pode soltar meu nariz?- Jin pede com uma voz anasalada, ela o solta, limpando o dedo na camisa do rapaz.- Por que quer substituir Namj...

— Shi shi shi...- antes que sua mão volte a toca-lo, Jin a segura no ar, em um movimento rápido, lançando um olhar de “vamos, diga logo.” - Eu fui a uma balada, procurando alguém para... você sabe...

— Continue.

— ...e eu achei. Se parecia com ele, ele me levou pra um lugar,

— Yoona!- Jin gritou desaprovando.

— mas ele não beijava bem, não tinha o cheiro dele... não era ele. Por que eu não posso tê-lo?- ela choraminga, procurando os ombros largos de Jin, querendo consolo, a vista começando a ficar embaçada.

A amizade que fez com os sete se aprofundou mais com Namjoon. Ele a entendia, e quando não entendia não a julgava, ele era inteligente mas bobo, bonito mas humilde, sexy mas despretensioso. Yoona não entendia, só se sentia atraída a ele, seu coração o queria, seu corpo o desejava. Ela sentia borboletas no estômago, eletricidade em seu corpo toda vez que passava perto dele, toda vez que eles se encostavam sem querer, quando ele a olhava. Mas ela sabia que não poderia o ter.

— Você... está falando do Namjoon?- Jin segura os ombros da amiga, procurando seu olhar, a encarando com uma expressão séria.

— É um segredo... tem que ficar quietinho.- ela sussurra em resposta.

— Yoona, não...

Sua cabeça começa a pesar, a voz de Jin fica distante, como a de alguém atrás de um vidro. Mas a verdade é que ela não quer escutar Jin dizer o que já sabe. O torpor do álcool lhe é bem vindo e Yoona se deixa levar.

— Namjoon-a... bem... só bêbada... leva-la... pesada – escuta fragmentos da voz de Jin.

Yoona é levantada por braços fortes. Sente um cheiro familiar, viciante, tomando conta do seu nariz e garganta. O cheiro dele, não o de um perfume, ou qualquer outro produto de higiene, mas o cheiro dele, sua pele, seu cabelo, sua respiração. Ela inspira fundo. Roubando o que pode. O sentindo ali. E em todo lugar dela.

— Tão bom... – sussurra para o aconchego do pescoço de Namjoon. Ele não a ouve.

— Yoona, o que você fez? Onde estava?- sua voz sai esmagada pelo esforço de a carregar.

— Você está bravo?- um medo estranho toma conta de Yoona.

— Não.- Namjoon diz, claramente bravo. Ele também não entendia o porque. Ou não queria admitir a razão.- Droga.- resmunga, mais para si mesmo do que para qualquer outro.

Por que vê-la apoiada nos ombros de Jin o deixou tão bravo? Tão rápido quanto possível a tirou dele. O coração batendo forte sob a camisa. Ela estava tão bonita. Ela sempre esta bonita. A calça colada nas pernas torneadas, a camisa branca larga no colarinho mostrando uma parte do seu ombro, ele queria a lamber ali.

— Droga.- Namjoon resmunga balançando a cabeça, expulsando os pensamentos. O que esta acontecendo comigo? Ele se pergunta.

— Desculpa.- ela sussurra, oscilando entre a sobriedade e embriaguez.

— Não é você.- ele tenta a tranquilizar.

Entra no pequeno apartamento acoplado a sua própria casa, sabe que o pai dela não está então segue direto para o quarto, a soltando no colchão, seus ombros e braços pedindo por descanso.

— O que você fez? Por que esta bêbada?

— Eu bebi.- diz simplesmente. Seu corpo agradece pelo colchão macio, mas sente a falta do calor dos braços de Namjoon. Ela se espreguiça, torcendo o corpo no colchão, puxando um dos joelhos até a altura da cintura.

Namjoon desvia o olhar, tentando organizar os pensamentos. Ele se preocupa com ela.

— Que você bebeu está claro, mas por quê? Você geralmente não faz isso.- ele se concentra em tirar os sapatos dela.

Yoona o encara sob as pálpebras pesadas, o álcool lhe dá coragem.

— Por sua causa.

— O que?- a pergunta escapa em um engasgo, ele para e a encara, deixando de lado o esforço em tirar sua bota. A expressão de dor no rosto da garota o faz prender a respiração.

— Eu não posso ter você. Eu queria esquecer isso. Tentar achar outra pessoa... não sei. Isso me machuca.

— O que está dizendo?- o coração do rapaz bate tão rápido que parece que o quarto está girando.

— Você entendeu.-o olhar dela é penetrante. Sim, ele entendeu.- Por favor, fica.- a mão dela aperta o lençol do colchão, seu olhar é suplicante.

Namjoon sabe que não deveria. Seria impossível. Seus pensamentos são como socos em seu estômago, lhe roubando o ar e a firmeza. Não deixa de pensar nas suas responsabilidades, nos membros, no army, nos repórteres, nela, no que teria que passar. É demais para ele pensar no que ela passaria. Ela aguentaria? O sentimento de agora sobreviveria? Ele queria com todas as forças não se importar com isso e a pegar nos braços, passar a noite ali, olhando para suas pintinhas do rosto como se nada mais fosse interessante no mundo.

A sua vontade de ficar o deixa aterrorizado, com medo de não ser capaz de controlar a si mesmo ele se afasta.

— Não.- a palavra sai esmagada. Sem aguentar a expressão no rosto da menina ele a deixa, as pernas fracas e os sentimentos confusos lhe roubando a força.

Ela tem evitado Kim Namjoon. O seu “não” ecoando por sua mente como uma música chiclete, a humilhação torcendo suas tripas, a vontade de voltar para sua casa no Brasil disputando lugar com a vontade de ficar perto dele apesar de tudo. Como se não bastasse, sua lembrança de estar bêbada se mistura ao “não”.

— Ah, que merda!- ela grita ao lembrar da cena. Frustração, raiva, tristeza a corroendo. E o produto de limpeza corroendo a sujeira do banheiro, nunca esfregou azulejos com tanta força. Mas nada mais a distrai, tentou procurar emprego, foi em pontos turísticos, se escondeu de Jimin; que se tornara um amigo muito próximo; por entre as árvores do condomínio e nada, nada, apaga da sua memória a rejeição de Namjoon.

Como ela gostaria de ter bebido mais umas doses, de ter ficado mais tempo no apartamento daquele cara, ou de não ter vindo para a Coreia do sul. 

— Ah, que merda!- o lamento sai antes que perceba, e as lágrimas também. Não sabe se por Namjoon ou por tanto produto de limpeza que jogou ali. Sente falta de ar e sai para a janela pequena da cozinha, se senta de frente a ela, esperando alguma brisa.

— Yoona!- a voz anasalada de J-hope invade o ambiente, a garota abre os olhos e o vê, junto de Jimin e Tae se aproximando pelo caminho de pedras. J-hope balança o braço, em um oi.

— Oi meninos, estão bem?- ela se inclina para fora da janela, para que consiga ver todos os três em lugar de eles se apertarem na janela pequena.

— Tudo bem, e você sumida?-Jimin lhe lança um de seus sorrisos sedutores. Como pode ser tão fofo e sexy ao mesmo tempo? Ela se pergunta.

— Estou bem.

— Vamos lá em casa.- Tae sugere.

— Ah, é que eu estou ocupada aqui, lavando o banheiro.

 - Vamos pedir comida e assistir um filme.- Hoseok completa.

Ela quer muito ir. Sente saudade da energia deles, a recarregam, transformam os pensamentos negativos em sentimentos positivos.

— É que eu tenho que terminar aqui, mas obrigada por me convidar.- só de pensar em encontrar Namjoon sua barriga dá uma torcida e sente vontade de fazer o número dois. Não quer confirmar em seu olhar o seu “Não” daquele dia, não quer ser rejeitada mais formalmente, como sabe que ele faria.

— Eu sei que você quer ficar sozinha, mas não devia, sabe?! Não é bom.- Tae diz, preocupado e cuidadoso.- Já faz um tempo que não te vemos.

— Vocês são tão bons, ninguém merece esse cuidado.- ela se sente realmente tocada.

— Eu vou te ajudar a terminar de limpar o banheiro e daí vamos lá pra casa.- Hoseok começa a dobrar a manga da camisa branca, realmente determinado.

— Não, não, não.- ela se inclina para fora da janela, impedindo-o de continuar andando.- Eu vou então, agradeço muito.- diz por fim.

Eles vão para a casa, e a garota para o banheiro terminar de limpar e para fazer o número dois, amaldiçoando a dor de barriga nervosa.

***********

Ao chegar na porta, respira antes de bater, o cabelo úmido depois do banho lhe refrescando do calor do verão. A risada de J-hope o precede, abre a porta ainda rindo.

— Yoona, vamos pedir teopokki.

— Hm, ok.- suas mãos estão tremendo e suadas. Passa pelo quarto de Namjoon prendendo a respiração, mas a casa está silenciosa. Segue J-hope até o quarto deles e Jimin está elegantemente jogado na cama. Limpa a garganta antes de perguntar.- Onde estão os membros?

— V está no vlive com o army.- Jimin vira seu celular para ela, mostrando Tae em seu quarto, comendo algo e falando.- Os outros estão na hybe, não vão voltar tão cedo.

Solta a respiração que segurava, ele não está aqui. Olha o relógio no pulso. 19 horas. Dá tempo de assistir um filme e sair fora antes que voltem. O plano está certo em sua mente.

— Então a casa é só nossa?- balança as sobrancelhas para Jimin, que ri.

— Toda nossa. Que loucura podemos fazer?- os três riem. É bom estar com eles, no coração ela agradece.

— Podemos receber massagem da Yoona.- Hoseok diz como se fosse uma ideia genial.

— Ah, então é por isso que me queriam aqui. Não pela minha companhia, mas pela massagem. Estou entendendo tudo agora.- enquanto estava ali e ao redor dos meninos foi exigido que Yoona fingisse ser uma das staffs, para não gerar nenhum rumor, calhou de ela fazer massagens muito boas, as quais eram muito apreciadas por todos.

— O que? Jamais seria por isso... – Jimin garante soando pouco convincente, se recosta na cama. Pede para ela sentar e começa a lhe cutucar com o pé, como faz quando quer massagem.

— Vocês são nojentos, sabiam disso?- mas não resiste a carinha dele e começa.

— Ei, por que ele é o primeiro? Vamos de pedra, papel e tesoura.- Hoseok pula da cama e os dois bagunçam todo o edredom que havia sido posto no chão, no fim Jimin é o vencedor.

— Uau, você foi a melhor coisa que nos aconteceu ultimamente.- Hobi diz naturalmente, enquanto procura por um filme na Netflix.

— Fico feliz em poder ajuda-los de alguma maneira.- e é sincera quando diz. Ela retribui tudo o que lhe dão emocionalmente com as massagens, que gosta de fazer aliás.

— Ah, mas não é só por isso.- Jimin rebate, sacudindo o pé, indicando que fala da massagem.- Você é muito divertida, disposta e faz comidas muito boas.- ela sorri como resposta, não sabendo como responder.

— É verdade, gostamos muito de você, é como uma irmã mais nova.- Hobi diz. Sua maneira verdadeira de falar a faz acreditar no que diz.

— Obrigada, vocês podem não saber mas me ajudam bastante.

— Oh, nós sabemos.- Hoseok ri alto ao ouvir Jimin dizer.- Eu sou conhecido como alguém que ajuda outras pessoas a crescer, já estou acostumado.- isso causa mais gargalhadas em Hobi.

Quando a comida chega se sentam no chão, ela os servo por ser a mais nova, no fim decidem por assistir uma série. Depois de fazer a massagem em Hobi, ele se oferece para fazer nela, o que recusa três vezes, mas ele insiste três vezes, então não teve escolha, o que foi maravilhoso do seu ponto de vista.

*********

Yoona acorda assustada, se pergunta onde esta. Um suspiro ao seu lado a situa. Jimin. Os três dormiram. Jimin na cama, J-hope e Yoona no edredom no chão, ele ainda segurando o pé da garota, e com a cabeça caída na cama de Jimin. Ela olha para o relógio, 2h30 da madrugada.

— Merda!

 Levanta do chão com o coração disparado, escuta a casa, silêncio, talvez não tenham chegado ainda.

Em silêncio ela desliga a tv, direciona um Hobi sonolento até a cama e o cobre. Pega as caixas onde estavam as comidas e espia o corredor. Nenhum sinal de vida, deixa seus chinelos no quarto e segue cautelosamente até a cozinha, deixando tudo lá, depois alguém separa o lixo.

Por que o quarto dele tem que ser perto da porta? Ela xinga mentalmente.

Uma tosse a assusta. Jungkook. Mas ele continua no quarto. Segue seu caminho, só mais uns passos.

— Yoona?- o sussurro de Namjoon a faz congelar. Cogita a ideia de ficar parada, imóvel, invisível.- Tudo bem?


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Notas finais do capítulo

Posto o proximo capitulo em breve. Comentem!



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