Meu Colega de Sala é um Androide escrita por Lord Iraferre


Capítulo 1
01 – Super Inteligência




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Kentaro é um androide.

Como eu sei disso? Simples, contemplei muitos exemplos de sua anormalidade nos últimos meses para que tudo isso seja simples coincidência.

Não bastasse ser um androide, seu propósito até aqui é destruir minha vida ou pior destruir a reputação que eu trabalhei arduamente para construir nos últimos dois anos.

Primeiro de tudo, deixe-me me apresentar.

Sou Vivien Mitchell, filha de Thomas e Barbara Mitchell, e tenho três irmãos todos mais velhos do que eu, embora apenas o primogênito ainda more em casa. Eu tenho 15 anos e estou cursando o segundo ano do ensino médio. Tenho o cabelo castanho claro, que geralmente deixo solto, sou magra mas não anoréxica, meus olhos são verdes e não são poucos os que me consideram muito atraente.

Sou a melhor aluna de minha escola. Na verdade, isso não faz jus a realidade, então deixe-me tentar explicar melhor:

Se a minha escola tivesse um monarca eu seria a rainha, sou a própria imagem da escola no quesito excelência. Como presidente do grêmio estudantil todas as decisões relevantes passam pela minha pessoa. Ou seja, sou a pessoa mais inteligente, bonita e popular da escola.

E é por esse motivo que alguém com inveja de mim criou um androide com o intuito de causar a minha ruína.

Seguindo a sujestão de Victor, meu irmão mais velho, uma autoridade no assunto robótico, visto que ele não só leu e consumiu toda sorte de conteúdo relacionado a robôs, androides, ciborgues e etc, mas também junto comigo assistiu e fez extensivas analises de filmes de ficção cientifica, que inclui, mas não se resumem aos filmes do exterminador do futuro, incluindo os últimos títulos que são horríveis (Deus abençoe a dedicação de meu irmão pela causa). Eu decidi registrar todas as informações possíveis sobre os limites das habilidades de Kentaro, assim como meus experimentos que apontam para evidencias de suas origens cibernéticas, caso um dia seja necessário provar a minha causa judicialmente.

A verdade é que tenho tantas evidencias que se colocasse todas no papel eu precisaria desmatar uma Amazônia inteira, por isso irei focar nas características mais proeminentes. Com uma visão de clareza em mente começarei do começo por assim dizer, narrando os eventos de forma cronológica.

Tudo começou na primeira segunda feira do mês de agosto, que marcava o começo do segundo semestre de aulas. Eu estava retornando para a escola após algumas semanas de férias agradáveis com minha família.

É muito comum que os primeiros dias de agosto tenham uma rotina mais lenta tanto para alunos quanto para professores, com o fim do inverno e o início da primavera se aproximando. Por isso todos foram para as suas respectivas salas sem muita pressa.

As duas primeiras aulas naquela manhã eram uma dobradinha de matemática. "Eba!" disse ninguém nunca, especialmente alguém que tinha como professor o Sr. Ravi Dhakar, um homem cuja aparência era a de um cientista maluco, sempre com seu colete desgastado e um penteado que parecia que ele acordou colocando os dedos em uma tomada 220.

Quando chegou na sala ele arranjou seus materiais sobre a mesa enquanto os alunos se colocavam em suas carteiras.

— Bom dia classe. — disse Professor Ravi após todos os alunos se encontrarem sentados, ele sempre tinha um sorriso estranho no rosto, o tipo de sorriso de alguém que passou tempo demais com equações e números a ponto de eles começarem a fazer sentido.

— É bom ver que estão todos aqui hoje, espero que suas férias tenham sido uma adição de valores e não uma subtração em suas vidas — ele deu uma risada seca. — Hoje eu...

Nesse momento ele foi interrompido por uma batida na porta, um jovem então entrou na sala e entregou um pedaço de papel para o professor. Para ler o papel Professor Ravi pegou de seu jaleco um par de óculos de grau tão alto que se colocado no sol não haveria formiga na Terra que seria capaz de escapar do extermínio, ao compreender o que estava escrito ele acenou para o garoto com um sorriso e se voltou para os alunos a sua frente.

— Classe deem boas-vindas ao novo aluno — disse verificando o papel novamente, seus óculos se pendurando na ponta de seu nariz precariamente. — Seu nome é Kentaro Yoshikawa.

Kentaro respondeu a saudação da classe com uma tímida reverência.

Professor Ravi então se voltou para a aluna sentada na carteira ao lado da minha.

— Senhorita Arenas poderia se mudar de lugar, aqui diz que ele tem que sentar na linha de frente. — disse dando um peteleco no bilhete. — Obrigado.

Esse era o primeiro sinal de que algo estava errado, mas eu era inocente demais para ter percebido isso na época. Rosa Arenas era minha melhor amiga, ela se sentava ao meu lado desde o início do ensino médio, o único lugar disponível na sala era do outro lado, próximo a porta e próximo de minha arquirrival Anna Borodina, também conhecida como a Ruiva Gótica, ou como eu a chamava "She-Devil".

Com a saída de minha amiga eu me encontrava em uma posição vulnerável já que me sentava ao lado da janela e Rosa era minha única confidente.

Kentaro então se aproximou de sua nova carteira com passos precisos, não era baixo, mas também não era alto, tinha o cabelo preto recém cortado, quase rente a cabeça, mesmo assim os fios eram espetados que lhe davam a aparência de um porco espinho que teve que se alistar no exército. Seus olhos puxados também eram escuros, e continham um ar de esperteza como se soubesse de primeira que você escondeu o lanche para não dividir com ninguém na hora do recreio. Seu corpo estava em ótima forma e quando se sentou na cadeira tinha uma postura impecável.

Como eu disse antes, naqueles dias eu não havia reparado nos sinais, por isso tentei ser amigável e disse:

— Seja bem vindo.

Mas ele não me respondeu, nem mesmo olhou para mim, a única reação foi que seu corpo enrijeceu como se tivesse sido pego colando.

Fingindo estar distraído Kentaro se virou e tirou o estojo da mochila e murmurou baixinho:

— Prova surpresa.

Naquele momento o Professor Ravi havia voltado à frente da sala e disse:

— Como eu ia dizendo hoje eu pretendo começar o semestre de forma a saber o que vocês se lembram do primeiro semestre, por isso vou realizar um teste surpresa.

O silêncio absoluto reinou sobre a sala, me peguei com a boca semiaberta.

— Não precisam ficar tão chocados — disse o professor balançando a cabeça e rindo enquanto entregava os testes. — É um teste curto, se colaborarem deixo vocês conversarem na segunda aula. Porque ninguém é de ferro.

Quando ele disse isso Kentaro me lançou um olhar de lado, e antes que eu pudesse lhe perguntar alguma coisa ele voltou a olhar para frente.

A verdade é que não fiquei surpresa com o teste em si, porque como disse antes sou a melhor aluna da escola, mas o fato de Kentaro saber sobre o teste me fez ficar com uma pulga atrás da orelha.

Mal o teste havia pousado sobre a mesa de Kentaro e ele já se encontrava respondendo. E não foi uma surpresa que cerca de dez minutos depois ele já havia terminado. Eu sorri para mim mesma confiante em minhas habilidades e completei o teste em um tempo apropriado para verificar minhas respostas duas vezes.

Como havia prometido a segunda aula o Professor Ravi passou corrigindo as provas e deixou os alunos conversarem entre si contanto que não falassem muito alto.

Eu passei os próximos minutos calada, não apenas porque minha melhor amiga se encontrava do outro lado da sala, mas porque parte de mim refletia tentando juntar as peças para saber o que não estava encaixando naquela situação.

Faltando uns quinze minutos para o fim da aula o professor já havia corrigido todas as provas, a expressão em seu rosto era de desgosto.

— Vejo que a maior parte de vocês esqueceu tudo o que foi ensinado esse ano. Com exceção de nossa querida Vivien que foi a única a tirar um dez.

Ninguém reagiu com surpresa ao ouvir isso porque afinal eu nunca falhava. Quando o professor entregou o teste para Kentaro eu pude ver brevemente que ele havia tirado um nove, surpreendente para alguém que havia acabado de chegar na escola, mesmo assim o meu sorriso estava mais largo do que nunca.

Quando o professor terminou de entregar todas as provas ele percebeu que o aluno novo estava com a mão erguida.

— Pois não Kentaro?

O jovem fez um sinal para que o professor se aproximasse, e ele assim o fez, mesmo estando ao seu lado tudo o que pude ouvir ele dizendo foi:

— A sétima pergunta...

Conforme Kentaro se explicava o sorriso no rosto do professor se alargava. Quando ele terminou as sobrancelhas do professor estavam levantadas

como as de um desenho animado desafiando as próprias leis da física.

— Vejam gente que curioso. — disse o professor. — Eu errei... A resposta correta para a pergunta 7 é 42 e não 44, ou seja — ele puxou uma caneta e riscou o 9 na prova de Kentaro e colocou um 10. — O que faz com que todos os que marcaram a resposta b ganhem um ponto extra e quem colocou na c perdem um ponto, o que significa que você Vivien tirou um 9 e o único que acertou tudo foi Kentaro, parabéns meu jovem.

O professor deu uns tapinhas no ombro de Kentaro que não demonstrou nenhuma reação.

Todos na sala ficaram em silêncio mais uma vez, alguns deixaram escapar um assobio ou outro.

— Está querendo dizer que Vivien não foi a melhor? — perguntou Anna segurando uma gargalhada.

Naquele momento o sinal bateu marcando o fim da aula, alguns alunos vieram até Kentaro parabenizá-lo. Em todo esse tempo Kentaro não ousou olhar em minha direção.

Meu rosto estava quente como um vulcão, essa foi a primeira grande evidência de que Kentaro é um robô, e se ele não tivesse sido tão óbvio eu não teria percebido que sua missão era me derrubar.


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