Better Than Misery escrita por Segre, ancientsoulwriter


Capítulo 1
Misery Business




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I'm in the business of misery 

(Estou no negócio da miséria) 

Let's take it from the top

(Vamos começar do começo)

 

O bilhete estava bem na frente da geladeira, colado de forma torta e de maneira que atropelava todos os nossos imãs. A caligrafia rude e rebuscada dizia: Comi o último pedaço do bolo que tava na geladeira, foi mal. Mas as manchas de chocolate indicavam que ela não tinha apenas devorado o meu bolo, como tinha mandado pra dentro os brigadeiros também.

Arranquei o bilhete com certa raiva, e aproveitei que minhas unhas estavam grandes para arrancar os resquícios de fita adesiva que ainda insistiam em permanecer ali, como lembretes irritantes de que, Sam foi mais rápida do que eu. De novo.

—Spencer?! Grito, por que sei que nesse momento ele está trancafiado no quarto, procurando novos objetos para a sua próxima escultura- Spencer, você viu se a Sam passou por aqui enquanto eu estava fora?

—Ela veio aqui mas só ficou um pouquinho! Ouvi ele gritar do outro lado da porta- Eu disse a ela que você não estava, então ela logo se mandou!

Mas não antes de comer último pedaço do bolo que era do meu aniversário.  Pensei, revirando os olhos. 

—Você acredita que ela comeu o último pedaço do bolo? Pergunto, sem conseguir conter a minha frustração.

—Puxa vida! Exclamou meu irmão, mas não era bem essa reação que eu queria. Pelo visto, ele não achou que isso era algo relevante o suficiente para fazer com que ele saísse do quarto- Mas ela parecia meio triste hoje, sabe? Acho que você deveria falar com ela.

Respiro fundo. Minha vontade era simplesmente perguntar: Você ouviu o que eu falei? Mas boas garotas não fazem isso. Então simplesmente digo:

—O que será que aconteceu? 

—Ah, você sabe maninha. Ela e Freddie terminaram a pouco tempo, ela ainda deve estar chateada…

A pouco tempo uma ova. Já faziam duas semanas. E ela fez questão de fazer a maior cara de bunda na minha festa de aniversário, deixando todo mundo desconfortável. Claro que ela bancaria a sensível, apenas para roubar um momento que seria apenas meu. Não contente, ainda comeu o último pedaço do bolo. Pessoas tristes geralmente perdem ou reduzem o apetite, mas isso com certeza não se aplica a Sam, afinal, ela realmente precisava mais daquele pedaço de bolo do que eu.

—É, vou ver como eles estão. Digo, desistindo de tirar a fita do freezer, que assim como a minha vontade de comer um docinho no fim da tarde, foi arruinado. 

Abro a porta sem muita cerimônia. Faço questão de dizer eles. Afinal, Freddie também merece um pouco da minha atenção. Até por que, diferentemente de Sam, ele tem problemas reais, problemas que não são causados por causa de sua personalidade rude e agressiva. Todos nós vimos o quanto ele se prejudicou após o término, deve estar sendo muito difícil para ele.

She's got a body like an hourglass

(Ela tem um corpo em forma de ampulheta)

That's ticking like a clock

(Que está batendo como um relógio)

It's a matter of time before we all run out…

(É uma questão de tempo antes que todos nós explodirmos)

 

Não sei nem por que estou chateada, para dizer a verdade. Sam sempre foi assim. Não é como se eu não soubesse disso. Depois de conviver tanto tempo sem a presença do meu pai por saber que ele estava em algum lugar, ajudando o próximo, resolvi que ia tentar seguir o seu exemplo e estender a mão para ajudar alguém. 

É realmente uma pena que a Sam tenha sido justamente a pessoa que eu resolvi fazer isso. Eu a escolhi simplesmente por que dava pra ver que, pelo menos entre todas as pessoas da escola, ela era a que mais precisava de ajuda. E eu sabia que não ia ser uma tarefa fácil, mas dediquei todo o meu tempo para dar a ela as oportunidades que eu sei que ela nunca teve; dividi tudo com ela, desde do estrelato no meu webshow com o meu nome, até a atenção do meu irmão! 

Mas ela não pode nem ao menos tentar ser grata comigo. Ela nem me agradece por todas as coisas que eu faço, e nem estou falando de palavras, mas também de atitudes! Todos sabem muito bem que Sam nunca fez absolutamente nada por mim. Nunca procurou me ajudar ou me agradar como eu sempre fiz por ela. 

Pelo contrário. 

Ela logo percebeu que usufruir minhas coisas não era mais suficiente; Sam queria mesmo é estar no meu lugar. 

E o pior é que eu quase deixei isso acontecer.

When I thought he was mine,

(Quando eu pensei que ele era meu)

She caught him by the mouth

(Ela o pegou pela boca)

I waited eight long months, she finally set him free

(Eu esperei por longos 8 meses, ela finalmente o libertou)

Eu atravesso o corredor e bato na porta dele. Batidas suaves e ritmadas, como um pequeno timbre sensível de uma trilha sonora de um desenho animado. A resposta vem na hora, afinal, nenhuma pessoa está gritando ameaças do outro lado da porta. Ninguém preocupado se a porta vai quebrar ou não. Nem de longe se imaginam que poderia se tratar de uma violenta invasão domiciliar; sou apenas eu, Carly Shay, fazendo uma pequena visitinha para ver como estão as coisas.

Até por que, segundo o meu pai, os pequenos momentos são enormes. 

—Ah, oi Carly. Freddie diz assim que vê o meu rosto. Ele tenta sorrir, mas não se trata de um sorriso genuíno. Dá pra ver que ele parece bem chateado, pobrezinho.

—Oi, como é que você tá? Pergunto, preocupada, por que estou, realmente. Consigo ver perfeitamente o quanto ele parece quebrado, e estou ansiosa para ser a cola que vai torná-lo inteiro novamente.

—Eu estou bem, eu só… A voz dele foi morrendo no meio do caminho, provavelmente por que ele percebeu que eu não ia cair em nenhuma possível atuação que ele estava prestes a fazer.

—Não precisa ficar bancando o forte o tempo todo. Sei que você está triste. Eu só queria ajudar.

—Desculpa por ontem, era seu aniversário e eu fiquei daquele jeito… Ele começa a se desculpar, embora nós dois soubéssemos que não foi exatamente isso que estragou a minha festa. 

Como sempre, Sam faz alguma coisa e um de nós dois curva a cabeça e assume a culpa. Típico.

—Não se preocupa com isso, tá? Eu imagino que deve estar sendo muito difícil pra você.

—A minha mãe não está falando direito comigo. Soltou Freddie, e logo eu percebo o quanto ele parece assustado. 

Durante muito tempo, ele reclamou por se sentir sufocado por sua mãe superprotetora. Agora parece que até isso foi tirado dele. Eu entendo muito bem essa dor, de ter algo tão puro e inocente, mas garantido, como se fosse feito pra você, e de repente- Bum! - essa coisa é simplesmente arrancada de você.

—Sinto que eu falhei com ela. Continua ele soltando um suspiro pesado.

—Não Freddie, pare com isso, sua mãe ama muito você. Digo, e adoro perceber como o semblante dele parece se suavizar quando digo essas palavras- Se você quiser, posso conversar com ela sobre isso.

—Sério? Mas você acha que seria uma boa ideia? 

Abro um sorriso de canto:

—Olha, como amiga de vocês dois, acho que sou a pessoa mais indicada para explicar o que realmente aconteceu.

—E minha mãe te adora, talvez ela escute mesmo o que você tem a dizer.  Freddie agora está pensativo, meio que considerando minha proposta. Foi realmente mais fácil do que eu pensei.

Minha. Mãe. Te. Adora. Quatro palavrinhas que Sam jamais ouviria da boca do Freddie. Ponto pra mim.

—Mas tem certeza que quer fazer isso?

—Claro que tenho, quero muito te ajudar! Digo, com o olhar mais sincero que tenho. É a vez de Freddie sorrir, e eu me sinto extremamente satisfeita em saber que fui a responsável por isso acontecer.

—Obrigado Carly, não sei o que eu faria sem você. 

Um monte de besteiras, uma atrás da outra, como, por exemplo, namorar a Sam. Respondo em pensamento. Vejo que é a minha deixa para ir embora, mas logo dou dois passinhos para trás, por que acabo me lembrando de uma coisa que gostaria de dizer.

—E Gibby? Você está falando com ele?

O sorriso de Freddie some, e logo eu percebo que a resposta, na verdade, é não.

—Olha, ele me deixou muito chateado. 

—Eu sei, ele errou. Mas veja pelo lado dele, as coisas estavam meio difíceis pra ele.

—Admito que ficar apanhando da Sam o tempo todo não é uma coisa legal, eu mesmo passava por isso, mas poxa, contar pra minha mãe que estávamos namorando? Por que ele não veio até mim e a Sam conversar sobre isso antes?

Faço uma única pergunta:

—E você acha que isso ia adiantar?

Um pequeno silêncio se forma depois disso.  Parece que um pequeno telão passa por nossas cabeças neste momento, exibindo todos os momentos de quando éramos mais novos, onde Freddie implorava por piedade mas Sam nunca arredava o pé. Quando ela queria bater, ela simplesmente queria bater. Nada e nem ninguém poderia controlar aquele comportamento tão violento.

—Fora que, me desculpe, sua mãe ia acabar descobrindo uma hora que vocês estavam namorando. Esconder as coisas nunca é uma boa ideia, você sabe.

Não sei se ele gosta das minhas palavras, mas a verdade machuca, e eu estou muito mais do que disposta a fazer o curativo.

—Você tem razão.  Não faz sentido ficar com raiva de um amigo por uma coisa que nem existe mais. Eu preciso mesmo falar com o Gibby e concertar tudo. Mas dessa vez  vou fazer isso sozinho. Ele sorri de novo, e me sinto triunfante, com vontade de fazer a Dança Maluca ali mesmo- Obrigado por abrir meus olhos. Se eu quero que as coisas voltem ao normal, preciso correr atrás disso. Você é a melhor. 

E, ainda com um sorriso nos lábios, ele me puxa para um abraço. O toque é rápido, mas suave, e eu seguro minha vontade de prolongar aquele momento por mais alguns segundos. Não vou forçar nada no momento. Uma coisa de cada vez. 

O que é pra ser, é pra ser!

Two weeks and we had caught on fire

(Duas semanas e nós pegamos fogo)

She's got it out for me,

(Ela tirou isso de mim)

But I wear the biggest smile

 (Mas eu estou com o maior sorriso na cara)

No dia seguinte, na escola, estou ao lado de Sam, como sempre. Ela murmura alguma coisa a respeito de uma promoção de bolo gordo, fingindo que absolutamente nada está acontecendo. Quero dizer a ela que ignorar os problemas não vão fazê-los desaparecer, mas quando foi que ela ouviu alguma coisa que eu tinha a dizer? Por isso, apenas fico em silêncio, fingindo estar interessada naquele assunto ridículo, enquanto retiro de dentro do meu armário alguns livros para as aulas do próximo período. 

Freddie está conversando com Gibby no corredor. Os dois estão rindo, e ambos parecem bastante aliviados. Não consigo deixar de sorrir, e meu sorriso apenas aumenta quando ele percebe que estamos o observando. O monólogo de Sam é interrompido por alguns segundos enquanto Freddie me cumprimenta com um sorriso tímido e um aceno rápido. Retribuo o gesto por que simplesmente sei que é pra mim, enquanto observo minha melhor amiga encarar tudo com uma desconfortável cara de paisagem. No entanto, ela só abre a boca depois que Freddie dá as costas. 

—Você viu isso? Ela me pergunta- O Freddie e o Gibby fizeram as pazes?

—Pois é. Respondo, tentando permanecer neutra.

—Você sabia disso? Sam me pergunta de novo. Não há sinais de acusação em sua voz, ela apenas está confusa, por que esperava que Freddie fosse ficar chorando para sempre por que o relacionamento bomba relógio dos dois acabou. Coitadinha.

—Claro que não. Minto, apenas para que ela não me acuse de traição. Afinal, para Sam, eu sempre fui única e exclusiva dela. Não posso ajudar mais ninguém que já sou considerada a errada da história, afinal, para ela, eu simplesmente nasci para ajudá-la. Nada além disso.

Percebo que Sam não diz mais nada e fica monossilábica pelo resto do dia, como uma criança irritante que não consegue um doce depois de comer todos os vegetais na hora do almoço. Agora que os dois terminaram, não andamos mais em trio pela escola, o que acaba me obrigando a passar mais tempo com Sam pelos corredores. Mas sei que meu momento realmente chegou quando a aula de matemática está prestes a começar e vejo que a loira se levanta da cadeira e começa a arrumar seus materiais.

—Para onde você vai? Pergunto, embora não esteja com a mínima vontade de saber.

—Vou até a promoção de bolo gordo, igual te falei. Não quero ficar aqui de jeito nenhum. Matemática é um saco, com a Senhorita Briggs ainda…! Você vem comigo?

—Foi mal, mas eu preciso ficar dessa vez. Estou com dificuldade nesse assunto novo sobre triângulos. 

—Qual é, você tirou 7 na última prova.

—Pois eu quero ir ainda melhor na próxima! Exclamo, com o tom mais agudo possível da minha voz, por que sei exatamente que é isso que me faz ganhar todas as nossas discussões. Eu não sou uma pessoa desinteressada nos estudos como Sam. Eu realmente me dedico. E sinceramente, ninguém quer me ver fora do bom caminho.

Ouço Sam suspirar:

—Te vejo mais tarde para ensaiarmos o ICarly.

—Tá bom! Falo, enquanto pego uma caneta e começo a anotar o cabeçalho na folha, até ouvir seus passos para bem longe dali. Assim que tenho certeza que ela deixou a sala de aula, agarro minhas coisas como se minha vida dependesse disso e corro para me sentar ao lado de Freddie, antes que Gibby ou outra pessoa o faça.

—A Sam não vai ficar para a aula? Freddie pergunta assim que eu me sento.

Fico meio aborrecida. Nosso assunto toda hora é a Sam, Sam, Sam. Que chatice. 

Mas isso vai ser temporário. Preciso manter o bom ânimo.

—Você já viu a Sam ficar em qualquer aula ministrada pela Senhorita Briggs? Pergunto, e então ele ri baixinho.

—Tem razão, mas hoje ela estava realmente mais quieta do que o comum. Isso tem a ver com o fato de eu ter feito as pazes com o Gibby?

—Ela ficou um pouco chateada sim, mas você não deve mais satisfações a ela, e você sabe disso. Respondo suavemente, mas isso não impede o choque inicial de Freddie.

—Uau Carly, nunca pensei que você diria algo assim…

—Por que é que você fala como se isso fosse alguma espécie de falha minha? Eu só quero o bem de vocês dois, Sam é a minha melhor amiga, mas eu também sou bem ligada a você! Exclamo, parecendo levemente chateada, por que sei muito bem que este é o ponto fraco dele.

Freddie logo começa a pisar em ovos. Ponto pra mim.

—Eu não quis dizer isso, é que… Eu não acho que a minha amizade com a Sam pode voltar a ser o que era antes, sabe?  É algo muito mais complicado do que a minha questão com o Gibby, e eu temo que a gente acabe transmitindo isso para o nosso show, que é tão importante para nós três…

—Freddie, eu realmente não me importo se parássemos de gravar o ICarly por um tempo. Temos que fazer o que é melhor para todos. Sorrio para ele, enquanto encosto em seu ombro em um gesto de solidariedade- Sabe, existem algumas feridas que apenas o tempo é capaz de curar. Por isso, vamos dar tempo ao tempo, está bem?

Até por que, vingança é um prato que se come frio.

I told him I couldn't lie,

(Eu disse a ele que eu não posso mentir,)

He was the only one for me

(Que ele era o único para mim)


Nós acabamos de gravar mais um episódio de ICarly, e quando Freddie finalmente diz: “Corta”, eu não consigo evitar em me sentir frustrada. Sam não ficou satisfeita em fazer aquela cara de bunda gigantesca no dia do meu aniversário, ela tinha que trazer isso para o programa também! 

Mal acabamos de gravar e muitos internautas já estavam nos escrevendo, perguntando por que Sam parecia triste e apagada no episódio. É claro que ela queria atrair toda a atenção para si. É sempre a mesma história!

Engulo as palavras pobres que eu teria para ela naquele momento e me ocupo em beber um gole da minha garrafa de água, levando bastante oxigênio para o meu cérebro.

—O programa foi ótimo hoje, vocês estavam incríveis. Elogiou Brad, meio que para quebrar o silêncio.

Todos nós assentimos com a cabeça de forma mecânica, até por que sabíamos que nada daquilo era verdade. 

Brad é um dos melhores amigos de Freddie, e tinha vindo nos ajudar com um dos novos quadros do ICarly chamado “Erro no sistema”. A ideia da atração era apresentar formas não convencionais de se arrumar um computador, um celular, uma televisão ou qualquer coisa que estivesse ligada a tecnologia no geral. No papel parecia convincente, e o programa provavelmente teria feito muito sucesso se Sam não tivesse estragado tudo com suas caras e bocas. Agora, ele vai para a seleta lista de quadros que não deram certo, ou melhor, inaugurar a lista de quadros que não deram certo, até por que nós sempre nos esforçamos muito para sermos engraçados. Obrigada Sam.

E então, sinto alguém me cutucar, e isso me irrita de uma maneira que surpreeende até mesmo a mim, simplesmente por que sei que não se trata de Freddie que me chama.

—Ei, a gente pode conversar um pouco?

Não tenho nada pra conversar com você, vê se me esquece.

—Claro!

Ela puxa minha mão:

—A sós.

Agora nós estamos de frente uma para a outra do lado de fora do nosso estúdio. Sam parece insegura e hesitante, e sua atuação só serve para me deixar ainda mais irritada. O que é que ela quer agora?

Tento fazer a minha melhor cara de paisagem enquanto aguardo ela começar a falar seja lá o que for. Penso em perguntar alguma coisa primeiro, para fingir interesse, mas logo percebo que a essa altura, estou tão zangada com ela que sinto que ficar em silêncio é realmente a melhor opção, caso contrário, eu acabaria com ela. 

—Então, eu tava pensando muito hoje e… acho que é melhor a gente parar com o ICarly por enquanto. 

Devo estar muito chocada agora, por que Sam imediatamente recua alguns passos e emenda:

—Não é algo permanente, é só… até a poeira abaixar,  sabe?

—Por que diz isso? Pergunto, tentando ao máximo soar preocupada, por que é exatamente isso que “ a boa e velha Carly” faria. Mas não sei se me sai muito bem na atuação, a verdade é que eu estou puta da vida. Quem ela pensa que é para sugerir uma coisa dessas? Até o meu webshow, que é, literalmente, a única coisa que realmente pertence a mim, que eu não preciso lutar com unhas e dentes para reindivicar, vai ser arrancada de mim?

—É que… eu não estou conseguindo me sentir muito confortável do lado do Freddie. As coisas estão muito recentes ainda. Juro que tô tentando meu melhor, mas não consigo entregar um bom trabalho igual eu tava fazendo antes… o programa de hoje foi super morno, e tipo, nossos fãs não merecem um programa morno. Você não merece um programa morno, sabe? Se for pra fazer de qualquer jeito, é melhor nem fazer.

—Espera um pouco, deixa eu ver se eu entendi. Digo, incapaz de conter a minha fúria. Quer saber de uma coisa? Sam merece e vai ouvir umas poucas e boas agora. Estamos apenas nós duas aqui, sozinhas, o máximo que ela vai fazer é me bater, e uma pequena parte de mim deseja isso, assim ela perde os poucos pontos que ainda tem com o Freddie e nunca mais vai ser amiga do meu irmão- Então, pra você, se um carro simplesmente quebra no meio da estrada, você larga ele lá e não tenta consertar?

—Não é isso, Carly, é que…

—A vida é assim mesmo. Recheada de problemas e desafios. Você não pode simplesmente largar mão de uma coisa só por que um problema surgiu no meio do caminho, eu não sabia que você era tão fraca.

—Mas…

—Além disso- Eu a interrompo, e me sinto mais vitoriosa do que nunca ao perceber que ela curva a cabeça para baixo, olhando para seus próprios sapatos. Finalmente eu coloquei Sam no lugar dela. Puxa, ela realmente deveria ter vergonha- O ICarly é muito maior do que eu e você. Nós temos um trabalho a fazer, fãs para agradar, sabe? Isso tudo é realmente muito maior do que um namorozinho mixuruca que você teve com o Freddie! Está se sentindo desconfortável perto dele? Puxa vida, então imagine o que eu senti durante meses gravando o programa ao lado de vocês dois, que não conseguiam ficar um segundo sem se agarrar! 

Um pequeno silêncio se formou. Sam ainda está encarando seus próprios sapatos. Francamente.

—Você tem razão. Ela disse, por fim- Me desculpa.

—Eu não sabia que você era tão egoísta assim. Digo com a voz mais afetada que consigo para soar decepcionada, mas na verdade, eu não estou nem ligando pra nada disso. Eu realmente me sinto vitoriosa, de forma que nem me lembro mais do pedaço de bolo que Sam comeu. 

Daqui pra frente vai ser desse jeito, ela vai ganhando as pequenas batalhas, para que eu, finalmente, possa vencer a grande guerra.

Well I never meant to brag 

(Bem... eu nunca quis me gabar) 

But I got him where I want him now 

(Mas ele está onde eu quero agora) 

Oh!It was never my intention to brag 

(Oh! nunca foi minha intenção me gabar)

 

—Carly, precisamos conversar. Spencer diz logo após o jantar. 

Hoje somos só nós dois sentados junto a mesa, devorando os tacos de macarrão. Essa cena está ficando cada vez mais comum, já que Freddie sempre diz que vai jantar em casa ou que vai a algum outro lugar, ao mesmo tempo que Sam sempre recusa nossos (educados) convites por achar que Freddie vai estar presente na mesa também. 

Eu estava cansada depois do programa e da discussão, e imaginei que essa seria a oportunidade perfeita de ter uma noite sozinha sem precisar ficar disputando a atenção do meu irmão mais velho. Isso me fez sorrir de canto enquanto eu tomava os últimos resquícios do meu suco de maçã.

—Manda! 

—Por que você gritou com a Sam hoje?

Congelo na mesma hora. O gosto, tão doce, do meu suco, se mistura imediatamente com o gosto amargo da decepção e simplesmente toma conta de toda a minha boca. 

—Ela… te falou alguma coisa?

—Não, eu vi. Respondeu Spencer, ainda mantendo a mesma tonalidade desagradável na voz. Parecia mesmo que ele estava decepcionado comigo, e toda vez que usava esse tom contra mim eu me sentia terrivelmente mal, como se estivesse fracassado em tudo e com todos- Ou melhor, eu ouvi. Dava pra ouvir os seus berros daqui de baixo! O que foi que a Sam fez que te deixou tão chateada?

—Ela queria acabar com nosso programa! Exclamei alto, irritadissima por ter que ficar me justificando.

—Entendo, mas isso não é motivo para sair gritando com os outros, certo? Tenho certeza que a Sam deve ter um motivo pra estar fazendo isso! Respondeu meu irmão, enquanto eu ponderava se era realmente uma boa ideia continuar ali, ou se seria melhor ir simplesmente embora, e deixá-lo falando sozinho.

—E ela teve, só não queria ficar no mesmo espaço que o Freddie! Digo, sentindo os tacos de macarrão, se revirarem, aos poucos, no meu estômago- Não sabia que pra você eu tinha que ser obrigada a aguentar tudo calada!

O olhar do meu irmão se suavizou um pouco, e seu tom de voz se abrandou consideravelmente depois que eu disse isso. Comprimi o sorriso dos meus lábios. 

Eu estava a beira do choro.  E Spencer nunca soube direito o que fazer quando eu estou a beira do choro.

—Não estou dizendo isso, ok? Eu apenas acho que você deveria ter um pouco mais de paciência com a Sam e…

—Mais do que eu já tenho? Questiono, e de repente percebo que isso se torna uma pergunta retórica. 

Ouço Spencer limpar a garganta, claramente convencido de que eu vencera a discussão, mas um pouco menos disposto a falar isso em voz alta. 

Para ele, assim como a maioria dos adultos, era mais fácil aliviar o clima com alguma besteirinha pra depois dizer que aquilo nunca aconteceu.

Minhas suspeitas se confirmaram quando vi Spencer se espreguiçar pelo canto do olho e dizer:

—Ai ai, quem será que vai lavar a louça hoje, hein?

 

To steal it all away from you now 

(Roubar tudo de você agora)

But God does it feel so good 

(Mas, Deus, isso é tão bom)

 

 

—Você realmente acha isso, querida? 

Estou sentada na cadeira esterelizada que pertence a sala de estar dos Benson. Fiquei realmente impressionada com a forma como fui recebida por Marisa; ela chegou até mesmo a me oferecer uma xícara de chá! 

“Freddie me contou que você vinha conversar” Disse ela, enquanto eu entrava na casa dela, sem esquecer, é claro, de tirar meus sapatos e deixá-los junto a porta. Era uma coisa bem esquisita, parecia que eu estava entrando em um mundo completamente paralelo ao qual eu estava habituada, o que é considerado estranho e até mesmo rídiculo, se pararmos para perceber que na verdade, Freddie é meu vizinho, e eu não estou nem mesmo a duzentos metros de distância da minha própria casa. 

Sorri de canto ao ouvir esse pequeno comentário da mãe dele enquanto eu tentava acostumar meus olhos com o tom imaculado e esbranquiçado que a casa de Freddie proporciona, salvo, é claro, pelo seu quarto.  É claro que ele estava preocupado comigo. Sua demonstração de afeto, embora pequena e discreta, me cativou intensamente. Mesmo sem estar falando com a mãe, ele fez questão de avisar que eu apareceria para conversar.

Até por que, a Sra.Benson sempre surtou quando o assunto era Freddie arrumar uma namorada. Não que ele fosse exatamente muito popular com as garotas, mas toda vez que a possibilidade dele arrumar uma namorada aparecia, ela simplesmente entrava em pânico, como se aquela possibilidade fosse arrancar ela do Freddie ou coisa parecida. 

Eu ainda consigo me lembrar do jeito que ela me tratou depois que beijei Freddie no dia em que ele foi atropelado; permaneço traumatizada com o desinfetante que ela jogou em mim, e a forma patética que eu fugi de seu apartamento, como se fosse uma foragida fugindo da cena do crime e deixando o corpo para trás.

Agora, apenas alguns anos depois de todo esse auê acontecer, aqui estou eu; sentada como uma dama na mesa de Marisa, tentando pedir a ela que perdoe Freddie pelos erros estúpidos que cometemos quando somos mais novos. Ela está sorrindo pra mim e parece bastante compreensiva. Acho que uma parte dela com certeza prefere que Freddie acabe terminando como uma garota como eu do que alguém como Sam. Acho que nós duas concordamos que, nos últimos anos, o padrão de Freddie para com as garotas diminuiu consideravelmente. 

Afinal, até onde eu sei, todas as mães querem e sabem o que é melhor para os filhos. Por que Marisa seria diferente? 

Cause I got him where I want him now

 (Porque ele está onde eu quero agora) 

And if you could then you know you would 

(E se você pudesse, eu sei que você faria) 

'Cause God it just feels so... 

(Porque, deus, isso é tão) 

It just feels so good 

 (Isso é tão bom)

 

Sam está atrasada para a aula, de novo.  Tento fazer o papel de boa amiga, digitando uma mensagem preocupada lhe perguntando se ela vai conseguir chegar a tempo, quando tudo o que eu mais quero é que ela realmente não venha. Assim, quem sabe, eu não conseguirei um pouco de paz. 

O sinal toca, e eu me sinto aliviada em saber que vou poder caminhar até a sala de aula sozinha, sem ter que aturar a presença de amizades que eu sei que não são verdadeiras. Fecho meu armário, e de repente me deparo com a visão de Freddie se aproximando de mim. Ele está sorrindo de orelha a orelha, o que faz com que meu sorriso e a minha felicidade apenas aumentem, por que sei muito bem que eu sou a responsável por tamanha felicidade.

—Carly! Ele exclama, me puxando para mais um abraço. Ele está tão animado que mal consigo me conter também, dou uma risadinha ao ver que ele prolonga o toque- Você não faz ideia do quanto você me ajudou! Obrigado! 

—Ah Freddie, para com isso. Digo, e abro mais um sorriso ao vê-lo levemente constrangido. Finalmente ele percebeu que ainda está me segurando, as mãos dele na minha cintura. Finjo naturalidade apenas para prolongar esse momento um pouco mais- O que eu fiz não foi nada demais. 

—Não, sério, eu realmente pensei que as coisas com a minha mãe não seriam mais as mesmas. Ele admite, com alívio na voz- Nunca pensei que um dia eu sentiria falta de não ter falta de privacidade! 

Nós dois rimos um pouquinho. Ele finalmente solta a minha cintura. Os corredores estão vazios agora. Deveríamos estar na aula.  Mas não importa. Ele está encarando meus olhos e nenhum de nós parece estar com muita vontade de sair dali.

—Você vai ver, logo logo tudo vai voltar a ser como era antes. Digo para confortá-lo, e logo percebo que ele fica um pouco vermelho. 

Ele associou o antes a época que ele ainda gostava de mim.  Garoto esperto.

—É… espero que sim… Ele responde, mais tímido do que nunca. 

Percebo pelo canto do olho uma certa pessoa nos espiando com tristeza no olhar.  Meu sorriso só aumenta. E então, aproveito a oportunidade e agarro a mão dele. 

—A prova de matemática vai ser em dupla, o que acha de fazermos juntos?

Second chances they don't ever matter,

(Segundas chances, elas nunca importam,)

People never change

(Pessoas nunca mudam)

Once a whore, you're nothing more,

(Uma vez vadia, sempre vadia,)

I'm sorry that'll never change

(Desculpe-me, isso nunca vai mudar)

 

A prova de matemática foi um sucesso. Nós tiramos a nota máxima, e ter que ver a Senhorita Briggs nos elogiando a contra gosto foi a segunda melhor sensação que eu experimentei no dia, perdendo, apenas, para quando estávamos fazendo o teste, ele, concentrado em desenhar os triângulos, e eu, fingindo estar absorta em fórmulas, até que nossos braços e cotovelos se esbarravam sem querer, causando um pequeno choque elétrico. 

Depois da prova, Freddie sugeriu que fôssemos ao Vitamina da Hora, só nós dois, para comemorar as duas coisas, o A+  na prova e o fato de que a mãe dele finalmente voltou a falar com ele. Óbvio que eu aceitei, pedi apenas para que ele esperasse pra mim ir no banheiro antes, eu queria aproveitar para ajeitar o cabelo e passar o meu protetor labial de abacaxi, e o de coco logo em seguida. Freddie sempre quis saber o gosto da Pina Colada na minha boca, e eu sentia que hoje ele estava prestes a descobrir. 

Nós pedimos nossas vitaminas. Freddie disse que era por conta dele. Sugeri que ele pedisse a cobertura de chantily na vitamina dele por que sabia que Costela ganharia sua comissão e assim não iria até a nossa mesa nos atazanar com os outros produtos que com certeza não estaríamos interessados em comprar.  No começo, ele ficou meio desconfiado com a combinação, mas assim que nos sentamos e ele deu o primeiro gole, seus olhos brilharam e ele começou a elogiar o quão boa a vitamina tinha ficado, me arrancando algumas risadas.

Estávamos conversando há cerca de trinta minutos e eu comecei a ficar impaciente. Freddie estava muito feliz, conversando acima do normal, mas e aí? Onde estava o meu beijo? Minha vitamina estava quase na metade, e olha que eu estava dando goles muito pequenos, com o intuito de manter a Pina Colada nos lábios por tempo suficiente. O que diabos estava acontecendo? 

Até que a oportunidade (finalmente) surgiu. Freddie falava empolgado sobre um festival que iria comprar ingressos para ir com Gibby assistir, e então sua boca ficou suja de chantily. Bem o cantinho ao lado dos lábios. Me inclinei pra frente bem devagarinho. Freddie foi parando seu monólogo de forma meio abrupta.

—C-Carly? Ele gaguejou meu nome. Eu simplesmente amo o modo como ele fica tímido quando está muito perto de mim.

—Tá sujo aqui- Digo bem baixinho, minha voz está abafada por causa do som da música pop que está tocando na lanchonete, mas isso não importa, por que estou perto de Freddie o suficiente para que ele possa ouvir minha respiração.  Levo meu indicador ao canto da boca dele, recolhendo o chantily e o levando a minha boca- Hmm, esse chantily é muito bom mesmo! 

Não preciso dizer mais nada. Garotas certinhas como eu nunca tomam o primeiro passo, e Freddie sabe disso, por isso, sua mão vai parar na minha nuca. Um movimento leve e simples encerra a nossa curta distância e os lábios dele finalmente se encontram com os meus. Ele pede a passagem para o beijo de língua muito mais rápido do que eu havia previsto, e eu cedo na hora. 

Vai ver Pina Colada é o coquetel favorito do Freddie, não sei.

And about forgiveness, 

(E sobre perdão,) 

We're both supposed to have exchanged 

(Supostamente ambas teríamos que trocar) 

I'm sorry honey, but I'm passing up, 

(Desculpa, querida, mas estou passando por cima)

 

Nós nos beijamos mais umas três vezes desde de que deixamos o Vitamina da Hora. Freddie está me levando pra casa, embora eu sinta em seu âmago que ele quer ficar mais um pouco.  A noite é apenas uma criança, mas ainda temos Spencer e Marisa regulando nossos horários e nos dizendo o que fazer. Por que é que a vida é tão injusta?

—Então… Agora somos tipo, namorado e namorada? Freddie me pergunta assim que chegamos no elevador. Olho pra ele pelo canto do olho e abro um sorriso sugestivo. De certa forma, a frase dele me trás uma certa nostalgia, por que eu me lembro muito bem de ele ter dito algo assim na primeira vez que namoramos.  A única diferença é que naquela época, nós éramos bem menores, e muitas vezes nossos beijos não nos traziam aquela sensação de quero mais, essa sensação que está tomando conta de mim e sei que ele também sente exatamente a mesma coisa. 

Caminho lentamente até os botões e paro o elevador. Coloco minhas mãos ao redor do pescoço dele e deposito um selinho rápido nos lábios dele. 

—Ah, isso depende de você. Digo, me aproximando um pouco mais dele, o que faz com que as costas dele encostem na parede do elevador- Você quer que eu seja sua namorada?

Ele me beija de novo. Acho que a resposta é sim. 

 

Now look this way 

(Agora olhe para cá) 

Well there's a million other girls 

(Bem, há um milhão de outras garotas,) 

Who do it just like you

(Que fazem o mesmo que você) 

Looking as innocent as possible 

(Parecendo o mais inocente possível) 

To get to who they want and what they like, 

(Para pegar quem elas querem e o que elas gostam) 

It's easy if you do it right 

(É fácil se você faz isso direito) 

Well I refuse, I refuse, I refuse! 

 (Bem, eu me recuso, eu me recuso, eu me recuso!)


—Chegou tarde hoje. Diz Spencer assim que eu entro em casa. Passei os últimos dez segundos tentando ajeitar a minha camiseta e meus cabelos bagunçados antes de entrar em casa, mas não sei se isso adiantou muito. Meu irmão está sentado no sofá, olhando para mim de uma maneira que parece transcender os limites da minha mente. 

Se ele está assim, não quero nem imaginar como deve estar na casa da Sra.Benson.

—Fui no Vitamina da hora depois da aula, como eu te avisei. Respondo com naturalidade, caminhando até a geladeira, apesar de não estar com fome. Pego um copo de água apenas para fingir naturalidade e escapar do nervosismo, mas não sei se isso vai realmente adiantar de algo, já que meu irmão responde:

—É, mas o Vitamina da hora fecha as nove, e agora já são quinze pras onze.  Você está namorando o Freddie agora?

—Como você sabe? Pergunto, levemente irritada e levemente curiosa.

—E tem como não saber? Ouvi o burburinho de vocês lá fora, quando vocês chegaram ao hall. Eu estava quase ligando pra você.

—Ok, desculpa, eu realmente exagerei no horário. Não vai acontecer de novo.  Digo, mais para despreocupá-lo- Mas agora eu realmente preciso dormir, amanhã eu vou ter que acordar cedo e…

—Não não, mocinha, pode descer. Diz Spencer, tão sério que eu não me atrevo a contrariar. Apenas desço as escadas e sento no sofá com a maior cara de aborrecida que consigo fazer no momento- Você não respondeu a minha pergunta principal. Você está namorando o Freddie?

—E se eu estiver? Tem algum problema?

—Mas é claro que tem! Ele exclama, parecendo chateado, e eu sinto uma pontada- Por que é que você está fazendo isso, hein? Tudo isso é por que está zangada com a Sam?

—O que você está sugerindo, hein? Agora estou gritando. Ao invés dele me parabenizar pela minha conquista ou ficar feliz por mim, ele vem me criticar?

—Você realmente gosta dele, Carly? Ou só está tentando se vingar da Sam por que acha que ela quer tomar o seu lugar?

—É claro que eu gosto dele, o que você pensa que eu sou? Pergunto irritada, ainda sem parar de gritar. 

O tom de Spencer abranda, embora eu sinta que dessa vez ele não vai recuar. Ele se aproxima de mim, coloca as mãos nos meus ombros e me olha nos olhos de um jeito tão sincero que fica um pouco díficil de desviar.

—Carly, o que você está fazendo é muito perigoso. Você pode magoar muito o Freddie, a Sam e até mesmo você mesma. Dependendo do jeito que as coisas acabarem, vocês não vão nem mais conseguir ser amigos.

Isso é ótimo, por que eu não quero ser amiga do Freddie e Sam já não é mais minha amiga faz tempo.

—Você realmente tem certeza que está apaixonada pelo Freddie?

Me desvencilho dele, irritada.

—Mas é claro que sim né Spencer, mas que pergunta!

Well I never meant to brag 

(Bem... eu nunca quis me gabar)  

But I got him where I want him now 

(Mas ele está onde eu quero agora)

 

Estamos no refeitório e Freddie está logo ao meu lado. Todos olham para nós. Ele parece desconfortável, mas eu tento mostrar a ele o lado bom de se ter uma plateia. Quando o vejo sorrindo, tenho a certeza de que fui bem sucedida. 

Meu garoto está tão feliz que nem parece mais se importar com o resto, e isso é ótimo, por que é exatamente nesse momento que Sam aparece no refeitório, acompanhada, dessa vez, por Brad e Wendy. Fico levemente surpresa por encontrá-la bem ali, já que a única coisa que Sam não gosta quando o assunto é comida são coisas saudáveis e com baixo teor de gordura. Não ironicamente, hoje estão servindo risoto vegetariano com legumes salpicados para acompanhar.

Por qual motivo Sam apareceria aqui justamente agora senão estragar a minha felicidade?

Decido que vou falar com ela. Não quero que sua falsa cara afetada me torne, de repente, a grande vilã da história. Aproveito que Freddie ainda está desfrutando nosso momento juntos e comento docemente sobre a vontade repentina que eu senti de tomar um bom e belo sorvete, afinal, eu o conheço tão bem que sei até mesmo o que vem a seguir. 

Freddie imediatamente se levanta e diz que vai pegar o sorvete pra mim. Pergunto se ele quer que eu vá com ele, por que sei que sua resposta será exatamente essa:

—Não, pode deixar, termina de comer primeiro. 

Ele se despede de mim, me dando um beijo na boca. O gosto dos seus lábios é o equivalente a uma vingança muito bem planejada e executada. Faço questão de deixar os olhos abertos por alguns instantes, por que quero capturar a reação de Sam por trás de tudo isso. 

É como se todo o refeitório estivesse vazio agora, e apenas ela estivesse sentada sob a mesa, testemunhando o que estávamos fazendo. Em seu rosto fica nítido toda a raiva, a tristeza, e a confusão que ela deve estar sentindo no momento.

Fecho os olhos e aprofundo o beijo.

Oh! It was never my intention to brag

 

(Oh! nunca foi minha intenção me gabar)

 

 

To steal it all away from you now

 

(Roubar tudo de você agora)

 

E então Freddie sai. Me levanto da cadeira e começo a caminhar na direção de Sam e de seus dois amiguinhos bobocas. Brad parece tão chocado quanto Sam, mas por algum motivo, Wendy parece estar sorrindo. Eu não sinto mais necessidade de fingir ser amiga da Sam; agora que tenho o aliado supremo ao meu lado, não há nada que ela possa fazer para recuperar o que foi perdido. 

Mas… não sei… essa reação de Wendy me pegou de surpresa, me faz acreditar que eu tenho que me fazer de boazinha por mais um tempo, e eu sempre sigo minha intuição em casos assim.

Transformo meu rosto triunfante em uma carranca cinza e triste, e estou prestes a contar uma história que justifique as minhas ações quando esbarro em algo, ou melhor- Em alguém.

—O que foi, Carly? Aquele nerd não beijava tão bem quanto você esperava?

Fico levemente surpresa por reconhecer e associar tão rapidamente o dono daquela voz.

—Griffin? Era para soar como uma exclamação, mas estou tão surpresa que acabou virando uma pergunta- O que está fazendo aqui?

—Bem, eu estudo aqui. Ele riu um pouco, o que me fez rir um pouco também.

—Achei que você tinha se formado verão passado. Digo, por que sei que ele é um ano mais velho do que eu.

—Eu deveria, mas acabei levando bomba ano passado, por faltas. Ele admitiu dando de ombros. Fiquei surpresa com essa informação de forma inicial, mas logo me dei conta de que eu realmente não vi Griffin passando pelos arredores da escola nenhuma vez desde de que terminamos, então tudo isso fazia um certo sentido.

—E pelo visto esse ano vai ser a mesma coisa, né? Pergunto com um sorriso, apenas para provocá-lo.

—Pra mim é meio difícil ficar aqui, esbarrando com você nos corredores da escola e ficar impotente, só passando vontade.

—Ah, eu sinto muito- Digo, sem conseguir controlar o riso. Na verdade eu não sinto absolutamente nada, apenas satisfação, e ela se multiplica toda vez que eu olho para Sam e vejo como ver a minha popularidade voltando faz com que ela- pasmem- perca o apetite. 

No fim das contas, Carly Shay está retornando para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

But God does it feel so good 

(Mas, Deus, isso é tão bom) 

'Cause I got him where I want him now 

(Porque ele está onde eu quero agora)

 

Estou prestes a ir pra casa quando Wendy me para no meio do corredor:

—Carly, ai meu Deus, Carly! 

Ela parece hipnotizada, seu tom de voz alucinante e aquele sorriso esquisito do refeitório ainda gravado em seus lábios. Desconfio na hora.

—Ah, oi Wendy, e ai?

—Fiquei sabendo que você e o Freddie estão namorando- Ela começa.

Ah, não me diga. Toda a escola está sabendo disso, querida. 

—... Eu simplesmente adorei a novidade, espero que você e o Freddie sejam muito felizes juntos!

—Obrigada. Agradeço com meio sorriso e também metade da minha paciência. Se ela sente tudo isso, por que diabos estava sentada com Sam, lá no refeitório? 

—Como assim “obrigada”? Eu quero saber todos os detalhes, mulher! Desembucha, vai! 

—Detalhes? Repito rindo, por aquilo só podia ser uma piada, e de mal gosto- Por que acha que eu vou contar isso a você?

O rosto de Wendy murcha por instante:

—Como assim, Carly? Nós não somos amigas?

—Não sei, você me parece bem mais do lado da Sam do que do meu. Respondo, cruzando os braços.

—Ah, então vocês estão brigadas? Ela pergunta e eu seguro meu suspiro mais profundo. Tsk, garota irritante- Bem, eu não sabia disso! Por isso mesmo estava andando com a Sam também. 

—Como assim? Pergunto, enquanto faço menção de ir embora. A ruiva apressadamente me segue, e fico satisfeita pela sua linguagem corporal demonstrar que ela realmente não vale o meu tempo. 

—Quer dizer, eu sou amiga de vocês duas, quando eu vi que ela estava triste, resolvi fazer um pouco de companhia pra ela, sem fazer ideia que vocês estavam brigadas ou coisa parecida. Mas já que é assim, e pelo visto eu tenho que escolher um lado, é claro que eu vou escolher o seu! 

—Ah, é mesmo? Pergunto, levemente surpresa. Então a garota começa a enumerar uma lista bem grande de razões pelas quais ela me escolheria como sua aliada. Eu apenas ouço tudo de cabeça baixa enquanto comprimo o sorriso em meus lábios. 

Agora entendo por que costumam dizer que quem ri por último é quem ri melhor. 

And if you could then you know you would 

(E se você pudesse, eu sei que você faria)

'Cause God it just feels so... 

(Porque, Deus, isso é tão) 

It just feels so good 

 (Isso é tão bom)

 

Estou em casa a toa assistindo Meninas Malvadas largada no sofá. Hoje não temos gravação do ICarly, e eu estou devorando um sorvete de morango com rum. É maravilhoso poder ficar estirada no sofá, rindo de qualquer coisa, sem precisar dividir minha comida, guardá-la na geladeira sabendo que no dia seguinte vai ter exatamente a mesma quantidade que eu deixei. Meu pai bem que dizia que a felicidade está mesmo nas coisas simples. 

De repente a porta bate. Pauso o episódio, achando que é impressão minha, mas batem na porta de novo. Me levanto meio desconfiada. Fazem séculos que Sam não vem a minha casa, e acredito que depois de tudo que aconteceu lá no refeitório ela nunca mais vai dar as caras por aqui (Graças a Deus). Não pode ser Freddie, por que ele avisou que hoje iria passar a tarde no clube AV. Sei que Spencer saiu com Meião e só volta de noite. 

A campainha soa mais uma vez. Quanta insistência! 

—Wendy? Grito do outro lado da porta, mas não há resposta alguma se não o barulho irritante da campainha da porta novamente. 

Meio receosa, abro a porta e dou de cara com Griffin do outro lado da porta. Suas mãos estão ocupadas com algumas caixas de madeira gigantescas, e seus lábios estão preenchidos com um sorriso sacana. Me posiciono diante da porta e percebo ele passar as caixas para o braço direito enquanto o esquerdo vai parar na minha cintura, tentando me puxar mais pra perto. Eu permito o toque, mas não me aproximo um segundo sequer. Gosto de testá-lo. 

—O que está fazendo aqui? Perguntei, tentando me manter impassível- Você não me respondeu quando eu chamei. 

—Fiquei preocupado, achei que se eu dissesse que não sou a Wendy você não iria abrir pra mim. Confessou ele, ainda mantendo aquele sorriso cretino na cara. Que ódio eu tinha daquele sorriso.

—E por que acha que eu não abriria pra você? Perguntei e ele apenas deu de ombros, me olhando de cima a baixo como um predador. Mal sabe ele onde está se metendo.

Ele se inclinou na minha direção, pronto pra me beijar, mas eu arqueei a cabeça para o lado por um instante. Quase o ouvi suspirar. Então essa era a sensação que eu causava nele?

—Ei, ei, ei. Você ainda não respondeu a minha primeira pergunta. O que está fazendo aqui, com essas caixas?

—Estou ajudando seu irmão na nova escultura dele. Explicou Griffin. Eu quase dei de ombros. Nunca consegui entender muito bem essa relação de amor e ódio que ele tinha com Spencer.

—Não me diga que é sobre bichinhos de pelúcia. Provoquei, e ele me puxou de novo. Dessa vez eu cedi e nossos corpos estavam próximos de novo.

—Vou te dar uma pequena amostra do que estamos trabalhando. Ele sussurrou, e ia fazer menção de me beijar. Foi quando eu vi.

A porta da casa de Freddie reluzia atrás dele, quase como um farol de navios.  Aquilo era perigoso. Estúpido. Se eu fosse pega, eu com certeza iria me arrepender depois.

Ao mesmo tempo…Griffin estava bem ali, na minha frente. E parecia me querer tanto quanto eu o quero. Talvez até mais. 

Um pouco de experiência nunca é demais para um relacionamento, não é mesmo? Quer dizer, é mais que certo que Freddie já teve alguma coisa com a Sam. Eu não posso ficar pra trás.

Pensei rápido. Minhas mãos foram parar no colarinho dele. O puxei com força na minha direção, de forma que ele deixou as caixas caírem enquanto me beijava. Ele abafou uma risada no meio do caminho enquanto entrávamos de novo no meu apartamento. 

—Espera- Digo, arfante, quando nos separamos pela falta de ar. Eu o prensei contra a porta do meu apartamento e agora me esforço para trancar a maçaneta. Mas Griffin não parece estar muito a fim de esperar, visto que ele agora está afastando meus cabelos e beijando o meu pescoço, o que faz com que minhas mãos amoleçam um pouco.  Não quero esperar. Trancar a porta nunca pareceu uma tarefa tão díficil. 

Não sei quanto tempo se passou, mas foi o suficiente para Griffin me dominar completamente. Que ódio. Ele apenas me fez pensar que estava no controle. Assim que ele percebeu que o meu ponto fraco era o pescoço ele logo me pegou no colo e começou a conduzir a situação toda com uma experiência que, não vou mentir, me deixou com ciúmes. 

Ele já tinha me deitado no sofá da sala e já tinha arrancado minha camiseta, que voou pra cima da tv onde meu episódio estava pausado. Nós dois rimos disso. Quando ele estava prestes a tirar a camiseta e eu pensei que iria contemplar a oitava maravilha do mundo a campainha tocou.

—Carly? Gritou Spencer, e eu simplesmente entrei em pânico- Carly? Você está aí? Eu esqueci minhas chaves! Que caixas são essas aqui na porta, hein?

I watched his wildest dreams come true 

(Eu vi os mais malucos sonhos dele se tornarem realidade) 

Not one of them involving you 

(Nenhum deles envolvendo você)

 

A vida não poderia estar melhor agora. Spencer por sorte não descobriu nada, então eu continuo tendo tudo o que quero. Freddie está ao meu lado, cada dia mais apaixonado, sou a garota mais popular do colégio, e meu programa está salvo. É claro que a Sam parou de dar as caras no programa, mas quem é que liga pra ela se eu tenho uma parceira tão divertida quanto a Wendy ao meu lado, fazendo o programa comigo?  Ela é tão engraçada quanto a Sam, de forma que os internautas nem perguntam mais pelo retorno dela. 

Todos os dias assisto, triunfante, sua cara de derrota quando nos vemos na escola. Nenhuma palavra entre nós foi trocada desde daquele dia. É claro que ela imagina que sua vida foi roubada por mim, mas que prova ela tem de que isso realmente aconteceu? Todas essas coisas sempre pertenceram a mim em primeiro lugar, eu apenas as estou pegando de volta. 

É claro que eu nunca pensei que iria ficar satisfeita com uma melhor amiga sem personalidade como Wendy; ela simplesmente faz tudo o que eu quero, concorda comigo em tudo, e provavelmente é a minha maior fã, perdendo apenas para o Freddie.  Não que eu curta muito toda essa melação por parte dela, mas pode crer que eu prefiro mil vezes andar com alguém assim do que uma pessoa como Sam; isso só garante a minha dinastia. 

Só não posso dizer que as coisas estão perfeitas por que Spencer ainda está meio chateado comigo. Mas vai passar. Tenho certeza que ele vai se acostumar quando ver que meu lance com Freddie é pra valer. É apenas uma questão de tempo. 

Estou em uma loja de vestidos com Wendy. Ela segura de maneira desajeitada os três filtros de roupas que selecionamos: Os “Sim”, os “Não”, e os “Talvez”. Meus planos para este baile vão muito além de reafirmar minha grande popularidade junto a escola e as pessoas. Esta noite, eu vou selar meu destino com Freddie. Para sempre. Wendy sabe disso muito bem, por isso ultrapassamos os limites da loja e adentramos ao fundo, onde se vendem as melhores lingeries. Geralmente os funcionários barram jovens menores de idade, como nós, adentrarem essa sessão, mas quem são eles para dizer o que a estrela do ICarly podem fazer? 

Abro um sorriso enquanto adentro o espaço.  Mal posso esperar para a noite cair e colocar meu plano em prática.  Depois de escolher tudo, caminho com uma Wendy sobrecarregada até os provadores. E é ali mesmo que eu a encontro. Seguro o riso. Então, Sam também vai ao baile?

—O que está fazendo aqui, Sam? Pergunto a ela, sem esconder o meu desprezo- Será que você não sabe que aqui é uma loja de vestidos? A loja de bolo gordo fica do outro lado da rua. 

—Ora, eu sei muito bem que aqui é uma loja de vestidos. Ela me responde de forma ríspida, o que me deixa levemente surpresa. Não era ela que há alguns dias atrás estava toda tristinha? 

A única diferença é que agora não há mais plateia para vê-la chorando e ficar com pena dela. Estamos sozinhas agora. Ela pode mostrar suas verdadeiras garras.  Jogo meus cabelos para trás e vou embora, sentindo Wendy apressada atrás de mim. Penso em dizer mais coisas para ela, tentando desencorajá-la a ir ao baile, mas logo percebo que realmente quero que ela vá. Este é meu desejo mais profundo. Somente assim vou poder selar a minha vitória. 

Passo na frente das garotas amontoadas que esperam na fila e estou aguardando Wendy depositar as várias peças para a funcionária contar antes de entrarmos no provador. Meu olhar se esvai dali por um instante e logo meus olhos pousam em Griffin. O que ele está fazendo ali eu não sei. Mas seu olhar se encontra com o meu e ele abre um largo sorriso. Tento olhar para o lado, mas é impossível. Estou hipnotizada. Ele tem um charme que o Freddie com certeza não tem. E quando o vejo morder o canto do lábio e indicar com a cabeça um lugar mais isolado, como quem diz: Venha, vamos continuar de onde paramos, tenho certeza que estou disposta a arriscar tudo. 

—Wendy, fique aqui. Digo a ela apressadamente enquanto caminho na direção dele. 

Mas, pela primeira vez, ela não me obedeceu. Mais ou menos. 

Não sei quanto tempo se passou desde de que Griffin e eu trocamos amassos no fundo da loja. Ele já estava sem a camiseta e eu implorava para que ele arrancasse logo a minha calça quando Wendy chegou e nos viu naquela situação. 

—C-Carly? Exclamou ela, gaguejando. Empurrei Griffin e me vesti rapidamente.

—Por que é que você veio atrás de mim? Perguntei irritada- Eu não disse pra você ficar lá?

—Disse, mas… As pessoas já estavam começando a ficar impacientes na fila e… 

—Ah, que se dane- Digo- Vem, vamos embora. Vou pedir meu vestido pela internet mesmo. Tem uma loja que eu conheço que entrega no mesmo dia. 

—Tá bom… Ela volta a me seguir, parecendo triste com a bronca que recebeu. Também, quem mandou me desobedecer?- Me desculpa. 

Um pequeno silêncio se formou, até que Wendy finalmente perguntou:

—Por que é que você beijou o Griffin? Achei que você gostava do Freddie…

—Ah Wendy, é que você ainda é uma garota. Falo rindo enquanto adentramos o prédio- Quando você for uma mulher vai entender exatamente do que eu estou falando. O Griffin sabe fazer as coisas de um jeito que o Freddie jamais poderia.

Há tanta verdade no que eu digo que meu corpo inteiro vibra em pura concordância. 

—Mas se é assim, por que não termina as coisas com o Freddie e fica logo com o Griffin?

Ok, eu sempre suspeitei que a inteligência de Wendy fosse limitada, desde da época em que eu a ajudava em geografia, mas isso aí já é demais. 

—Você é maluca? Até parece que eu vou largar o Freddie! Ele é bem mais famoso do que o Griffin, eu jamais conseguiria todo esse status sem ele, ok? 

Suspiro irritada enquanto fecho a porta e peço para que Wendy me deixe sozinha. Muitas vezes me irrita ter que falar o óbvio. 

Well I never meant to brag 

(Bem... eu nunca quis me gabar) 

But I got him where I want him now

(Mas ele está onde eu quero agora)

 

Eram oito horas da noite quando a campainha tocou. Eu ainda estava terminando de combinar meus gloss de abacaxi e coco. 

—Spencer, atende por favor? Grito.

Dou uma última olhada para mim mesma no espelho. Estou usando um vestido roxo que bate um pouco acima dos joelhos, com um decote sugestivo, mas que foi secretamente (e propositalmente) coberto pelo casquinho preto que estou usando, assim Spencer não repara, e quando eu chegar na festa e sentir calor, Freddie repara. Eu não sou um gênio?

Estou a mais pura definição de estar sexy sem ser vulgar. 

—Carly, o Freddie chegou! Ouço Spencer anunciar e dou uma última borrifada de perfume antes de sair.

Estou descendo as escadas o mais devagar que posso, por que sei que quero registrar esse momento para todo sempre dentro da minha cabeça. Lá está Freddie, usando terno especialmente para a ocasião. Ele está lindo, e parece meio fora do ar quando seu olhar se encontra com o meu. Ele estende a mão para me ajudar a descer o último degrau, e apenas aquele mero toque já faz com que meu corpo inteiro comece a formigar. Imagine a cara da Sam quando nós ver! Imagine o que ela fará quando…

—Boa sorte no baile hoje, tomem juízo! A voz de Spencer surge, picotando meus pensamentos. Seu tom é brincalhão e eu quase me sinto aliviada por isso, afinal, estou ficando tão acostumada com o fato de que ele parece estar sempre zangado comigo que ouvir qualquer descontração da boca dele é quase um alívio. Olho pra ele, quase rindo, e então meu rosto morre um pouco. 

Meu irmão está sentado em frente a TV e não parece desgrudar os olhos da tela. Aquela simpatia toda era só um disfarce para Freddie, com certeza. Ele ainda está chateado comigo. Nenhuma novidade até aqui.

—Pode deixar Spencer, eu a trago de volta ás dez. Ouço Freddie dizer. Ele também parece um pouco surpreso e desconfortável com a forma que meu irmão está se comportando. 

Eu dou o primeiro passo e Freddie logo me segue, ainda sem soltar a minha mão. Comprimo um pequeno sorriso nos lábios. Ora Freddie, você não deveria prometer coisas que não sabe se vai mesmo cumprir!

 

Oh! It was never my intention to brag 

(Oh! nunca foi minha intenção me gabar) 

To steal it all away from you now 

(Roubar tudo de você agora) 

But God does it feel so good 

(Mas, Deus, isso é tão bom) 

'Cause I got him where I want him now 

(Porque ele está onde eu quero agora) 

And if you could then you know you would 

(E se você pudesse, eu sei que você faria) 

'Cause God it just feels so... 

(Porque, deus, isso é tão) 

It just feels so good 

 (Isso é tão bom) 

Quando chegamos ao baile, todos nos cumprimentam. Faço questão de aparecer triunfante em todas as fotos. Tenho certeza absoluta de que aparecerei fabulosa em todas elas, já que treinei as poses em casa. 

Todas as vezes que meus lábios vieram de encontro com os de Freddie, aumentei a velocidade, e fiquei feliz ao ver a forma como ele pareceu estar rendido ao meu ritmo e ao meu toque. É oficial, eu o tenho na palma da minha mão. 

Wendy não está por perto, mas isso é apenas uma gota d’água no meio do oceano. Onde é que está Sam? Rio de alguma coisa que Freddie diz enquanto viro meu coquetel. Estou começando a ficar nervosa. Nossa conversa na loja de vestidos vai e volta na minha mente. Será que eu disse algo a ela que a desencoragasse a vir? Eu não me lembro de ter dito algo que a desencoragasse a vir. 

—Uma música lenta! Gritou Freddie para ser ouvido no meio daquela barulheira toda- Vem Carly! 

Ele me puxa para o meio da pista de dança e me agarra pela cintura, caidinho. Descanso meu rosto no ombro dele, mas na verdade é apenas uma forma de tentar ver aquele salão de uma maneira mais panorâmica. Vasculho todas as loiras daquele lugar como se minha vida realmente dependesse disso. 

Quando finalmente dou de cara com ela, que adentra o salão, parecendo nervosa e insegura, diminuo ainda mais a distância entre mim e Freddie. Sussurro algumas coisas no ouvido dele e o sinto estremecer em resposta. Tudo de acordo com o plano.

O olhar de Sam se encontra com o meu, e eu propositalmente fecho os olhos, aproveitando a platéia. Mordo o lóbulo da orelha do meu nerd, e o gosto de sua pele quente, úmida e excitada é de alguém que, merecidamente, obteve a sua recompensa.

E que recompensa.


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