" O PRETO MAIS BONITO " escrita por Talita Albuquerque


Capítulo 1
1 - Um disfarce necessário.


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo será uma introdução completamente focada em Thomaz e o que está o levando ao internato. Espero que gostem do que vão ler!



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Saltando do carro no encostamento, Thomaz Wayne observou as altas árvores que cercavam a estrada, com um sorriso leve nos lábios e um brilho nos olhos. Sentindo a alça da sua fiel câmera fotográfica roçando em seu pescoço, ele puxou o ar para dentro dos pulmões, sentindo o cheiro da floresta, lhe oferecendo boas-vindas a cidade de Jericó. Movendo seus olhos pela estrada deserta por causa do horário, lembrou com empolgação e expectativa, que ao final desta mesma pavimentação, estava o anonimato e o recomeço que tanto desejava. Animado por estar em um lugar completamente isolado, onde não estaria sendo constantemente vigiado ou fotografado por qualquer coisa que a visse fazer, enquanto tentava ser um adolescente normal como os outros. 

Com um sorriso ainda presente nos lábios, Thomaz posicionou sua câmera à frente dos seus olhos, capturando tudo que estava diante dos seus olhos, ficando mais animado a cada captura que fazia. Querendo avaliar se sua percepção ao capturar as expedidas árvores que cercavam a estrada, entrou na galeria. Enquanto rolava as fotos, sorri orgulhoso das fotos que tirou, porque ainda que não fosse um profissional, percebia que tinha jeito para coisa.

O sorriso sumiu instantaneamente dos lábios, quando fixou seus olhos na fotografia que acabou capturando por acidente, enquanto esperavam o helicóptero no heliporto. Dando um zoom na imagem, Thomaz estudou a postura do pai. Ele se encontrava com as mãos dentro dos bolsos do casaco, enquanto mantinha seus olhos sobre o céu. Não era preciso ser um gênio ou um telepata para deduzir sobre o que ele estava pensando.

Devido ao passado doloroso e que até hoje refletia sobre as paredes da mansão Wayne, Thomaz tinha total discernimento de que não era tarefa fácil para o pai permiti-lo ir para longe. Ele tinha acabado de completar doze anos, quando descobriu a tragédia que recaiu sobre seus avós paternos, na noite que eles voltaram acompanhados pelo pai do cinema. Como qualquer criança, ele questionou a ausência dos avós, tendo Alfred, prometendo contar tudo, quando ele crescesse um pouco mais e tivesse mais mentalidade para conseguir lidar com o que ele revelaria. Confiando que Alfred o contaria quando chegasse a hora certa, ele deixou o assunto de lado, mas os sussurros por onde passava e os olhares estranhos que as pessoas o conduziam sempre que tinha chance de fazê-lo, o estimulou a ir atrás de respostas. Conseguindo furtar o celular de Alfred que estava ocupado, algo que acontecia na empresa da família, Thomaz apenas precisou colocar o nome do pai na barra de pesquisa para descobrir porque seus avós estavam sempre ausentes.

Quando Alfred o encontrou, ele apenas conseguiu entregar o celular, e sem dizer absolutamente nada, foi para a cama.  Olhando para o teto, lembrou do que leu sobre o assassinato dos avós. Bruce entrou no seu quarto alguns minutos depois, onde eles se encararam em silêncio. Eles até podiam não ter tido a mesma história, todavia tiveram o mesmo resultado no final.

Ambos estavam sozinhos. Pelo menos, até um descobrir sobre a existência do outro através da carta que a mãe enviou para Alfred, antes de partir para sempre. Triste pelo que o pai passou, ele apenas estendeu os braços, desejando consolar o pai e de alguma forma, o pai também o consolou, quando o abraçou de volta. Eles disseram as mesmas poucas palavras para o outro. E elas foram suficientes para tirar o peso que carregavam no coração, por terem tudo arrancando de si, sem ao menos tentarem lutar para manter consigo.

Viver e crescer na mansão Wayne, ofereceu ao jovem Thomaz a oportunidade de compreender melhor a forma que seu pai interagia com o mundo e com as pessoas de modo geral, depois de tudo que aconteceu. Felizmente com os anos de vivência, ambos conseguiram aprender a entender o comportamento do outro, à proporção que se ajustava à dinâmica de pai e filho, que agora fazia parte da sua vida. O pai não era reconhecido pela mídia por ser um progenitor presente nas atividades que aconteciam nos colégios que estudou nos anos seguintes.  

No entanto, o que lhe faltou na interação colegial e social, segundo a mídia local fazia questão de exaltar sempre que tinham a oportunidade de fazê-lo, o pai compensou na mansão Wayne. Enquanto os meios de comunicação social criticavam incansavelmente a ausência de Bruce nas interações escolares, ele tinha o pai frequentemente ao seu lado.

Como o pai nunca fez questão de esclarecer as críticas sobre como era a interação entre eles, Thomaz apenas seguiu o exemplo dele. Não se importou em responder às milhares de perguntas que os colegas de classe, professores e até mesmo psicólogos faziam quando o chamava para conversas particulares. Thomaz tinha a forte dedução que nenhum deles estavam preocupados puramente. Eles estavam exclusivamente ambicionando ganhar algum dinheiro em cima do sobrenome Wayne.   

Só ele sabia que dentro da mansão Wayne, as coisas eram bem diferentes das fofocas que chegou a escutar, quando estava no banheiro ou quando andava pela cidade, usando um moletom que ocultava seu rosto. Claro que ele se ausentava da mansão em dias extremamente nublados ou chuvosos, onde as pessoas estavam preocupadas demais em fugir da chuva ou do vento forte para prestar atenção em mais um adolescente andando pelas ruas.

Na época com treze anos, Thomaz aproveitou os momentos de liberdade que sentia, quando conseguia fazer isso. Pelo menos foi assim, até o pai conseguir identificá-lo em meio a milhares de pessoas andando pelas ruas, fugindo da chuva. Como ele fez isso, para ele foi um mistério na época. A única coisa que lembrava é que o pai o encontrou e que foi forçado a escutar um sermão que durou quase vinte minutos. Thomaz tentou argumentar que sabia se defender, afinal ele o treinava desde que o trouxe para a mansão, mas o pai estava imaleável, o proibindo veementemente de fazer isso de novo. Naquele dia após ser desautorizado a se ausentar de casa sem segurança, eles tiveram sua primeira discussão, onde Alfred precisou intervir para controlar os ânimos de ambos, que estavam alterados. Quando o pai saiu da sala, ele ficou em silêncio, enquanto Thomaz reclamava da proibição injusta. Ele explicava a Alfred, que se ausentava escondido, porque não suportava os olhos de todos sobre si, vigiando cada passo seu.

Era desgastante e sufocante a sensação que tinha de estar dentro de uma prisão de vidro, onde todo o observava. Sair escondido de casa, foi a única forma que conseguiu encontrar para ao menos tentar ser um garoto como outro qualquer, apesar de tudo. No final, Thomaz com treze anos, acabou confessando um pouco sobre a pressão que começava a sentir e não entendia porque o pai estava agindo assim, já que o treinou e o preparou para saber se defender se caso fosse necessário.

A reação do pai foi totalmente desnecessária e que ele precisava confiar nos ensinamos que o passou, afinal foi com essa finalidade, não foi? No final da sua enxurrada de auto defesa, estava um pouco sem fôlego, enquanto olhava fixamente para Alfred que se mantinha silencioso. O que Alfred lhe respondeu, estava enraizada na sua mente e no seu coração, para sempre.

“Seu pai o treinou, mas espera com fé, que você nunca precise colocar em prática o que aprendeu. Seu pai perdeu muito e você como ninguém sabe disso, Thomaz. Afinal, a dor dele viver em você, porque assim como ele, você infelizmente nunca será capaz de conhecer seus avós. Sua chegada trouxe luz para a escuridão que era sua vida. Perder você o fará se perder para sempre. Ele só quer proteger o que o mantém de pé, que no caso é você”

As palavras de Alfred tiveram um peso enorme sobre ele, que depois de ouvir o grau de importância que tinha para a vida do pai, voltou seus olhos para o quadro dos avós pendurado na sala. Naquele momento, Thomaz relembrou da tristeza que sentia ao infelizmente compreender que jamais poderia conhecer o homem, que sua mãe em forma de homenagem, o registrou. Não querendo fazer o pai reabrir as feridas que carregava no coração, não voltou a sair sozinho pela cidade.

A tensão que pairava sobre eles, felizmente foi desaparecendo aos poucos, tendo ambos voltando a harmonia que compartilhavam. Os dias foram se tornando semanas, meses e até se transformarem em anos. Hoje aos dezessete anos, Thomaz podia dizer com o amadurecimento que alcançou, que o pai o amava, ainda que não fosse capaz de verbalizar essas palavras. 

— Você realmente quer fazer isso, Thomaz? – a voz forte de um homem que estava na sua vida alguns anos, soou no silêncio da estrada.

— Vamos lá, você sabe que a melhor maneira de passar despercebido é sendo o mais discreto possível, Alfred. – Thomaz lembrou-o, voltando sua atenção para o homem com uma expressão insatisfeita no rosto.  

— Eu entendo isso, mas esperar a carona de um estranho é realmente o melhor caminho? Alugamos um automóvel, para irmos ao internato, Thomaz. – Alfred lembrou-o, confuso com a decisão dele em parar no meio da estrada e escolher chamar por um aplicativo de viagem.

— Bom, eu não precisaria ser tão meticuloso se vocês tivessem alugado um carro comum neste povoado. – Wayne alegou, suspirando longamente. – Chamaremos a atenção assim que cruzamos aquele portão com um carro que nunca é visto ou conhecido nesta região do país, Alfred. – Thomaz reclamou da escolha do automóvel que foi alugado. 

— Estou vendo que fez uma investigação bem meticulosa. Típico do seu pai, devo informá-lo. – Alfred comentou com um sorriso, lembrando de outra pessoa, que costumava agir igualmente. 

— Eu aprendi com os dois melhores, então não me culpe por agir assim. – Thomaz replicou de volta, com um sorriso provocador nos lábios, piscando para Alfred.   

— Eu entendo sua posição, Thomaz. – o homem mais velho alegou, mantendo sua atenção nele. – Compreendo que queria estar em lugar, onde o sobrenome Wayne não seja sua sombra como acontece frequentemente em Gotham. – findou suas palavras, revelando que sabia porque ele estava se ausentando para mais longe possível. 

Thomaz sentiu sua respiração travar dentro dos pulmões ao ter suas inseguranças e medos revelados de forma tão natural. Incapaz de rebater ou negar que ele estava errado em suas hipóteses, firmou seus olhos no homem que considerava seu avô paterno. O vínculo que ele e o pai construíram com Alfred ultrapassaram a função de chefe e empregado, a qual o mesmo foi designado por seus avós paternos no passado. 

— Alfred, eu... – Thomaz arriscou esclarecer o que estava acontecendo e sentindo, mas se viu sem saber como usar as palavras e explicar a confusão que estava dentro de si mesmo. 

— Está tudo bem, você não precisa falar sobre isso, se não se sentir pronto para compartilhar seus temores. Leve o tempo que precisar para si mesmo, Thomaz. – o mordomo o incentivou a fazer isso, colocando a mão sobre o ombro dele. 

— Obrigado Alfred. – o adolescente agradeceu pelo conforto e o apoiou que ele estava lhe oferecendo, colocando sua mão sobre a dele.

— Apenas lembre-se que sempre estaremos aqui por você, a qualquer momento. Principalmente seu pai. – Alfred  o garantiu, se afastando logo em seguida, o deixando sozinho com seus pensamentos.

Mantendo seus olhos sobre ele, o jovem Wayne reconheceu as marcas do tempo nos cabelos embranquecidos, assim como em seu semblante. Alfred Pennyworth que foi contratado para ser o mordomo e segurança particular do pai, tornou-se seu tutor, quando o destino tirou a vida dos seus avós de forma brutal e covarde. 

Mesmo que o pai e Alfred nunca mencionam os laços que os une fortemente aos longos dos anos, Thomaz sabia que Alfred foi muito mais do que apenas o responsável pelo pai. Alfred foi a direção, a bússola que ajudou o pai a se orientar, quando tudo desmoronou. Ironicamente o pai tinha uma fortuna incalculável nas mãos, e propriedades por todo mundo, mas o dinheiro não traria a vidas tiradas. 

Thomaz saiu dos pensamentos melancólicos, quando Alfred o questionou, mudando de assunto.

—  Então o que vamos fazer? Ficar parados até alguém aparecer por aqui, é gentilmente nos oferecer carona?  –  o mordomo perguntou, não confiando que isso aconteceria.

Assim como Thomaz, ele e Bruce fizeram uma investigação meticulosa sobre o lugar que o mesmo queria estudar e pelo que descobriram, as pessoas de Jericó não eram nada receptivas com os estudantes do internato. Então oferecer uma carona até a instalação do colégio, que eles tentaram  e ainda tentava fechar em qualquer oportunidade, parecia algo improvável  de acontecer. 

 –  Basicamente isso. –  o adolescente respondeu confiante que o seu plano daria certo, aonde ele chegaria sem levantar suspeitas. 

—  Bom se por acaso alguém aparecer, o que  eu acho pouco provável, quem garante  que nós levará até lá, quando descobrir para onde queremos ir? –  Alfred perguntou, desejando descobrir até onde o plano de Thomaz seguia.

 – Se não quiser nos levar, teremos que dar o jeito Bruce Wayne.   –  o adolescente brincou, lembrando da forma  que o  pai resolvia algumas pendências.

—  Jeito Bruce Wayne? –  Alfred o perguntou, levantando a sobrancelha, confuso.

—  Oferecemos dinheiro. Muito dinheiro.  –   Thomaz respondeu a pergunta, piscando para Alfred. 

Alfred gargalhou alto, desejando que Bruce estivesse ali só para ver a cara  dele ao ouvir a acusação do  filho, ao afirmar que ele usava dinheiro para resolver alguns problemas. Thomaz gargalhou junto, tendo até mesmo o motorista que era o segurança que Bruce mandou com eles, se juntando às risadas. Eles pararam de ouvir o som de um carro se aproximando. Se virando em direção ao  som, avistou uma caminhonete velha vindo pela estrada. Confiante, ele se posicionou na beira  da estrada, fazendo sinal, torcendo para quem dirigisse parasse. 

Ele tinha  um horário marcado para encontrar a diretora e não podia perder tempo, esperando alguma alma viva aparecer na  estrada. Aliviado quando o carro realmente parou, Thomaz correu para cumprimentar a pessoa, com um sorriso de  agradecimento. 

— Obrigado por parar, senhor.    –  Thomaz foi gentil e sorridente ao olhar para o homem dentro da cabine  do carro,  mas o sorriso sumiu ao ver a expressão nada receptiva do homem.

Consciente que isso aconteceria, Alfred tomou a frente da situação, cumprimentando o homem, que  ainda não falou nada.

—  Como meu neto disse, agradecemos por parar seu carro. O carro  que viajamos parou  de funcionar e infelizmente  não podemos continuar na beirada da estrada, esperando o ônibus passar.    –  Alfred falou de forma cautelosa, mantendo a atenção no homem  que o fitava.

— Não  tem ônibus indo nessa direção.  Na verdade, ninguém ousar ir na direção do internato dos excluídos. –  o homem respondeu com a voz carregada de desprezo.

—  Ohh,  eu entendo. Que bom  que o senhor apareceu  então, senhor? –  o mordomo tentou estabelecer uma conexão com o mesmo. 

 –  Trevor.  –  foi  a única coisa que o homem disse,  ainda o fitando.

— Humm.. Senhor Trevor, eu preciso levar meu neto  ao internato, será que o senhor poderia nos deixar na frente dele, por acaso?  –  Alfred o perguntou, já sabendo a resposta que teria. 

— Esse tipo de carro  nunca é visto por aqui, ou em  qualquer parte para ser franco. –  Trevor comentou, olhando  para o Audi preto estacionado há alguns metros atrás de distância, pelo vidro retrovisor. –  Na verdade, mesmo não sabendo  que  o modelo do carro é evidente que dever valer uma fortuna. –  esclareceu, olhando extremamente desconfiado para Alfred. 

 –  Ohh,  o carro? Para ser sincero, eu mesmo não sei qual modelo do carro. Meu neto costuma querer coisas  atualizadas e como pode ver, o automóvel que possivelmente vale uma fortuna, nos deixou na mão, quando mais precisamos. O  senhor faria a gentileza de nos deixar na frente de Nevermore Academy?   –  Alfred o perguntou de novo, esperando  conseguir distrair o mesmo.  

Alfred que esperava uma resposta ácida por causa da  forma  que o mesmo se referiu ao internato, foi surpreendido pela forma que o homem voltou toda sua atenção para Thomaz. Era puro ódio e repulsa que estava presente em sua expressão facial. Thomaz sentiu seu corpo travar instantemente, não acostumado a receber esse tipo de olhar das pessoas. Como um Wayne, sussurros e olhares cheios de curiosidade  e suposições ao seu respeito eram comuns ao longo dos anos, mas repulsa e um ódio tão visível e palpável no olhar, apenas por ele supostamente ser um estudante do internato? Definitivamente isso o pegou de surpresa, o deixando momentaneamente paralisado. 

 – Seu neto é por acaso outra aberração que aquele colégio faz questão de acolher? –  o caminheiro perguntou, com desprezo, esquecendo do carro.

—  Me desculpe, mas isso não é um assunto  que  lhe  cabe, senhor Trevor.  –  Alfred respondeu de volta, começando a ficar irritado com a forma que o  homem encarava Thomaz.  –  O senhor pode ou não nós levar ao internato?  –  perguntou, puxando-o para trás de si.

Alfred sempre foi protetor com Thomaz, assim como Bruce. Principalmente depois de reconhecer a forma que todos olhavam para o mesmo. E  não gostou nada do  jeito que o  homem se atreveu a olhar para ele. Pelo canto do olho, Alfred notou Sebastian se aproximar um pouco mais deles, ficando em alerta,  afinal de contas essa era a tarefa designada a dele por Bruce. Proteger Thomaz, até o mesmo chegar às dependências do Nevermore Acadamy. 

Dentro dos portões, o internato responderia pela segurança  dele,  mas até lá, protegê-lo era a prioridade.  O caminheiro notou a aproximação de Sebastian, o encarando. Alfred percebeu a tensão no ar,  enquanto ambos se encaravam. Thomaz queria falar, mas percebeu  que a atitude de Alfred em puxá-lo para trás,  era  uma indicação para ele permanecer  calado.  

—  Anda com um  cão de guarda? –  Trevor perguntou em tom de deboche, sem desviar seus olhos de Sebastian. 

—  Sebastian não é um cão de guarda, senhor Trevor. Ele é irmão do meu neto e apenas não gostou da forma que o senhor o encarou.  –  Alfred despistou, esperando conseguir contornar a situação.  –  Família são protetoras não são? –  indagou.

—  Sim, família são protetoras. –  o motorista do pequeno caminhão repetiu, com os olhos ainda fixos em Sebastian.  – O senhor está certo, o que seu  neto é, realmente não é da minha conta de qualquer forma. Se me dá licença, preciso seguir meu caminho.  –  deu fim a  conversa, pronto para ir  embora sem oferecer a carona.

Alfred olhou para o relógio no punho, lembrando do horário que a diretora Larissa Weems estipulou para eles se apresentarem no internato. Mesmo não querendo,  ele sabia  que precisava usar o método usado por Bruce, como Thomaz mesmo disse  que faria caso fosse necessário. 

—  Se o senhor, nos deixar na frente do  internato, eu lhe pago quinhentos dólares.   – o mordomo ofereceu, usando um valor alto. 

— Quinhentos dólares?  –  o motorista  repetiu, arregalando os olhos,  surpreso com  a alta quantia oferecida apenas  por uma carona. 

— Quinhentos dólares para nos deixar  lá, e mais quinhentos, se me trouxe de volta,  para  onde  está nosso carro quebrado.   –  Alfred dobrou o valor, sabendo que tinha a atenção  do homem.  

—  Ele não vai.  –  o caminhoneiro negociou, apontando para Sebastian com a cabeça. –  E  eu quero ver o dinheiro. Não pense que vou cair  nessa. –  avisou, olhando para Alfred, por um momento.

—  Ele vai  ficar aqui, não se preocupe. Só queremos chegar lá até o horário determinado pela diretora. – Alfred aceitou os termos homem – Aqui está o dinheiro. –  avisou,  tirando a quantia do bolso, contando na frente do homem, o valor exato que ofereceu.

— Vocês vão lá trás – Trevor o alertou, apontando para trás – Não vou colocar um suporte excluindo dentro do meu carro. – desdenhou, olhando para Thomaz por alguns segundos atrás de Alfred, antes de voltar a desviar os olhos. 

Alfred precisou respirar fundo, antes de perder a cabeça. Ele queria dar uma resposta espinhosa a esse homem preconceituoso e idiota, mas se conteve ao máximo. Revelar a identidade real de Thomaz, quebrando o disfarce que ele queria manter, então parou antes que falasse mais do que deveria. 

— Sem problemas. Nós vamos atrás, senhor Trevor. – Alfred aceitou seguir os comandos dele, se afastando para conversar com Sebastian. 

Levando Thomaz consigo, porque não confiava no homem, Alfred olhou para o segurança, que não tirava os olhos do caminheiro, mesmo com ele estando dentro da caminhonete. 

— Você vai ter que ficar aqui, Sebastian. Acredito que em meia hora, estarei de volta. – o ex-militar avisou, esperando que a conversa com a diretora fosse breve. 

— O que? Senhor Alfred, eu não vou o senhor ir sozinho com esse homem para lugar nenhum. O senhor Bruce deixou claro que eu não deveria tirar os olhos de Thomaz, um segundo sequer. – Sebastian explicou, lembrando da ordem clara que lhe foi passada. 

— Realmente? Quantos anos vocês acham que eu tenho?Dez anos, por acaso?  Sou capaz de me defender sozinho, muito bem obrigado pela confiança nos treinamentos que vocês passaram anos, me ensinando. – Thomaz lembrou em tom de deboche, revirando os olhos pela extrema proteção que todos mantinham sobre ele. 

— Nós precisamos chegar ao internato antes das dez. E pelo lugar deserto que estamos, acho improvável outro carro aparecer tão cedo. – Alfred foi diplomático em suas palavras, deixando claro que não estava aberto a discussões. –  E além disso, se vocês sabem se defender tão bem como acreditam, foi precisamente porque eu treinei o primeiro Bruce. Então, especificamente ele apenas passou adiante. –  finalizou, orgulhoso.

—  Uaua, eu não  sabia que você era capaz de ser tão arrogante  em relação a isso, Alfred. –  Thomaz brincou, para aliviar a tensão que pairava no ar. 

— Só estou dizendo um fato verídico. Posso estar fora de atividade há algum tempo, mas ainda sei como socar alguém.  –  o ex-militar exaltou com confiança, confiando em suas habilidades.

—  Por isso, sou seu fá, Alfred. – Sebastian entrou na brincadeira, ficando  mais leve, porque por breves segundos, esqueceu que foi este mesmo homem  que treinou Bruce, que treinou a ele e a Thomaz, por muitos anos. 

—   Não tentem  me bajular, seus bajuladores. –  Alfred replicou, escondendo o sorriso.  –  Eu lhe telefono se perceber algo de errado. –  prometeu, olhando para Sebastian, que concordou com a cabeça. 

Com a mochila nas costas, Thomaz verificou se a câmera estava bem firmemente presa no cordão de sustentação, antes de subir na parte de trás da caminhonete, tendo Alfred seguindo seu exemplo, também carregando uma mochila. Felizmente, só depois deles se sentarem sobre a carroceria e se acomodar, o tal do Trevor voltou a ligar o automóvel  e seguir em direção ao internato. Com Sebastian os observando se afastar mais e mais a cada segundo, Thomaz  voltou sua  atenção para Alfred, que estava com o olhar distante. Ele soube instantaneamente que ele estava pensando, assim  como o pai estivera na foto que tirou por acidente.

—  Sinto muito por isso, Alfred.  –  Thomaz pediu desculpas por estar praticamente forçado-o a subir em uma camihonete velha, sujando seu terno, quando podia estar confortavelmente sentado no melhor carro, com o ar-condicionado ligado. 

Alfred voltou seus olhos para Thomaz, sendo inundado pelas lembranças dele pequeno, dele querendo carinho e conforto, diferente de Bruce, que se fechou dentro dele mesmo ao presenciar a morte dos pais. A forma que Bruce reagiu já era esperada por causa do trauma, mas  mesmo assim era triste ver que tão novo ele tivera sua infância, família e a inocência arrancada de si de forma violenta.  Assim como o pai,  Thomaz teve sua inocência tirada de si, quando a  mãe dele descobriu um câncer já no estágio final, apenas sendo capaz de enviar uma carta para a mansão Wayne antes de vir a falecer. 

—  Não me importo com isso, Thomaz.  – Alfred respondeu, não aceitando o pedido de desculpas dele, porque não eram necessárias.  – Estou preocupado com a forma que os cidadãos desta cidade tratam os estudantes  do internato. Se o que esse homem  fez, é um exemplo do preconceito que reside nesta cidade, tenho motivos de sombras  para me preocupar com a situação e  especialmente com você.  –  ponderou, voltando  seus olhos para o  garoto  ao  seu lado. 

 – Alfred, tanto você quanto meu pai, precisam entender de   uma vez por todas, que eu cresci e sou capaz de  me defender sozinho.  –  Thomaz  disse com confiança. –  Vamos lá,  você treinou meu pai, e meu pai me treinou.  –  o lembrou,  com um sorriso.  

—  Não estou preocupado com isso, Thomaz. Eu sei que você é capaz de se cuidar muito bem. Já mostrou isso nos treinos. – Alfred disse, elogiando as habilidades que ele desenvolveu ao longo dos anos. 

— Se sabe que vou saber me cuidar, o que está te deixando preocupado? – o herdeiro Wayne questionou, confuso com porque ele parecia tão pensativo. 

— Thomaz, você não entende não é? Você vai estar no meio de uma guerra que já dura anos, pelo que eu investiguei. – o ex-militar confessou que foi além de uma simples varredura. – De um lado, eles que vão repudiar você por acharem que é um aluno dos internato. – apontou com a cabeça, para dentro da cabine. – E do outro, os estudantes do internato que se descobrirem que você é um deles, vai perseguir você. – detalhou, porque estava preocupado.

— Eu posso lidar com isso, Alfred. E em relação aos alunos, eles não vão descobrir que sou um garoto comum. Vou fazer o possível para manter isso o máximo que puder em segredo. – Thomaz prometeu a ele ser cuidadoso.

— Você é tão teimoso quanto seu pai. – Alfred reclamou, com um sorriso ao encontrar tanto de Bruce em Thomaz. 

Thomaz sorriu por um momento com o que considerava um elogio. 

— Bom, então assim como ele, você sabe que vou me sair bem, ou pelo menos tentar. – o adolescente disse com orgulho e confiança.

Alfred concordou com a cabeça, sorrindo para ele. Sendo capaz de ver através das ações dos homens Waynes, ele quis tocar em um ponto delicado, mas se conteve ao perceber que desde que deixaram Gotham, Thomaz parecia mais relaxado. E o sorriso que tanto gostava de ver nos lábios dele, estava de volta. 

Alfred sabia que o segredo que Bruce escondia do mundo inteiro, era necessário para a proteção de todos. No entanto, quem eles queriam acima de tudo proteger, descobriu o segredo que se escondia por trás das paredes da mansão Wayne. Segredo esse que foi a gota da água, fazendo Thomaz correr para o mais longe possível. 

Aceitando as palavras de Thomaz, e confiando que ele saberia se cuidar como garantiu, apenas o som do motor da caminhonete tomou o ambiente. À medida que o carro seguia pela estrada, o herdeiro Wayne sentia sua ansiedade crescendo dentro do peito. Apesar de saber que não seria fácil, é que era um passo arriscado, ele estava disposto a tentar. E o internato que conseguiu achar escondido por trás das imagens pesquisadas da internet, lhe ofereceu a fuga e o recomeço que tanto desejava. O adolescente saiu dos pensamentos, quando escutou o motorista avisar que estavam chegando. Empolgado para ver a magnitude do prédio com seus próprios olhos e não por fotografia, Thomaz ficou de pé, apoiando as mãos sobre a lataria da caminhonete. Se o edifício já era lindo por foto, pessoalmente ele apenas reforçava o que sentiu ao ver a fotografia. O sorriso aumentou sobre seus lábios ao ver que finalmente estava onde desejava ansiosamente chegar desde que descobriu a existência e mais importante a localização.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Deixem a opinião de vocês! Logo mais, estou de volta, trazendo talvez o primeiro encontro entre eles. Como será que vai ser?



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