Um amor improvável escrita por Tianinha


Capítulo 16
A promoção




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Fabinho aproveitou a hora do intervalo na agência para ir até a Toca do Saci. Precisava falar com Malu, fazê-la se afastar de Bento. Diria a ela que Bento estava querendo dar um golpe nela. Estava cansado de ver Bento rondando sua família. Não gostava de ver Bento para cima e para baixo com sua irmã, usando sua irmã para fazer pinta de galã para a imprensa. Porém, não conseguiu falar com Malu. Ao chegar na Toca do Saci, Fabinho viu um garoto atravessar a rua sem olhar. Ao tentar desviar a moto, para não atropelar o garoto, perdeu o controle e caiu. Malu correu até o garotinho, que estava caído no chão:

— Você está bem?

Fabinho tirou o capacete e não conseguiu levantar do chão. Sentia uma dor enorme no ombro e na cabeça. Gemeu. Estava tonto também. Malu foi dar uma olhada nele. Depois, Malu foi falar com a criança atropelada:

— Onde você mora? Você não tem um número pra me dar, do seu pai e da sua mãe? Onde que bateu? A moto bateu onde? Na sua perna? — o garoto quis se levantar, mas Malu o impediu. — Não, não, não se mexe! Deita! Deita! Você vai se machucar mais! Espera a ambulância. Relaxa. Relaxa. Isso.

Fabinho continuou deitado no chão, e agora estava cercado por um grupo de pessoas. Até que viu uma mulher abrir caminho entre as pessoas e se aproximar dele.

— Calma! Calma, calma! Não se mexe. — disse a mulher.

Fabinho não podia acreditar. Aquela mulher era Irene, sua mãe?

— Você está bem? — disse Irene.

Irene passou as mãos no rosto do rapaz, procurando acalmá-lo:

— Calma. Já chamaram o resgate. Calma. — dirigiu-se às pessoas ao redor. — E aí, gente? Cadê o socorro?

Fabinho estava emocionado. Finalmente encontrara sua mãe. Depois de uma vida inteira querendo saber quem é sua mãe, finalmente iria conhecê-la.

— Mãe? — murmurou, porém Irene não ouviu.

Irene agitava os braços, procurando afastar as pessoas.

— Abre, abre aqui, gente! Sai de perto!

— Mãe! — murmurou Fabinho.

Irene olhou para ele, sem entender o que ele dizia.

— O quê que foi? Você falou comigo?

Fabinho estendeu o braço e procurou tocar o rosto dela com o dedo. Queria ter certeza de que não se tratava de ilusão de ótica. Irene pegou em sua mão e fez um carinho, enquanto dizia:

— Calma. Calma. Fique calmo. Está tudo bem. Está tudo bem.  

Acabou sendo levado para o hospital. Permaneceu horas desacordado. Acordou, e ficou sabendo que batera a cabeça e havia também sofrido um deslocamento no ombro. Estava usando uma tipóia. Malu foi vê-lo.

— E aí, como é que você tá? — perguntou Malu.

— Você tá aqui por minha causa, Malu? — perguntou Fabinho.

Será que Malu se preocupou com ele? Será que ela gostava um pouco dele? Era sua irmã, afinal. Esperava conquistar o afeto dela também.

— Eu vi o acidente. — disse Malu.

Fabinho ficou preocupado. Esperava que ela não chamasse a polícia. Não queria mais problemas com a justiça. Fizera o possível para evitar o acidente.

— Você chamou a polícia? Não foi minha culpa, você viu. Aquele moleque entrou na frente da moto.

— Não, que isso! Eu vi, eu tava lá! — disse Malu. — O pessoal da emergência também achou que não era caso de polícia. Ah, eu guardei a tua moto na Toca do Saci.

— Que bom. — disse Fabinho. — Eu achei que a minha moto tivesse no depósito da polícia.

Morria de medo de que descobrissem que era uma moto roubada.

Malu não entendia por que Fabinho tinha tanta preocupação com a polícia.

— Nossa, você tem alguma coisa com a polícia?

— Não, só não queria arranjar mais problema pra mim, né? — disse Fabinho. — Por causa de um moleque imbecil que não sabe atravessar a rua.

Malu ficou chocada com a forma como Fabinho se referiu à criança:

— Como é que você tem coragem de chamar um garoto indefeso de idiota?

Fabinho achou que Malu era mesmo muito certinha, muito politicamente correta. Não a conhecia direito, mas já gostava dela. Malu era inteligente, e um doce de pessoa. Mas era certinha demais. E dramática. No ponto de vista dele, um garoto que atravessa a rua sem olhar só podia mesmo ser imbecil. Não é porque era criança que deixaria de ser. Afinal, foi por causa do garoto que ele, Fabinho, estava agora na cama de um hospital.

— Malu, se eu tô aqui, a culpa é dele. Ainda vou ter que gastar um dinheiro com a minha moto.

— Ué, tua família é rica, isso não é problema. — disse Malu.

— Não gosto de encher o saco da velha. — disse Fabinho.

Estava torcendo para que Malu não chamasse sua mãe adotiva. Não queria que a mãe viesse para São Paulo, de jeito nenhum. Senão, descobririam tudo. Saberiam que ele e a mãe eram pobres e que a mãe havia assumido a culpa por um crime que ele cometeu. Se bem que Malu não teria como ligar para sua mãe, pois ele não havia dado o telefone da mãe a ninguém. Nem havia razão para isso. 

— Eu quase liguei pra tua mãe. — disse Malu. — Só que não tinha o telefone. Mas pensando bem, melhor assim, né? Pra que deixar tua mãe aflita lá no interior, se nada de grave aconteceu? Exceto, você se referir a ela como velha, né? Nossa, Fabinho, que grosseria! — ia andando em direção à porta, porém voltou. — Ah, uma coisa. O que você tava indo fazer na hora do acidente? Me procurar na Toca do Saci?

Fabinho não respondeu. Em outro momento falaria com ela, pediria para se afastar de Bento. Lembrou-se da hora em que se acidentou, quando Irene o socorreu. Seria mesmo Irene? Será que ele não havia sonhado? O que será que ela estava fazendo naqueles lados da Toca do Saci? Precisava encontrar a mãe, conversar com ela, saber o que havia acontecido, por que ela se separara de seu pai e sumira por tanto tempo. Queria saber se Irene era mesmo sua mãe. Resolveu perguntar para Malu se ela conhecia Irene:

— Malu, aquela mulher que me socorreu, quem é ela?

— Rita. — disse Malu. — Ela veio com você e com o menino pro hospital.

Então sua mãe biológica tinha mudado o nome. Certamente, fazia de tudo para não ser reconhecida. Por que ela se escondia, fugia do Plínio? Por que ela tinha tanto medo? Terá sido apenas por ter flagrado Plínio com a Bárbara, ou havia alguma coisa a mais aí? Plínio não era um homem violento, abusivo. Isso ele tinha certeza. E Plínio ainda amava Irene, mesmo depois de tanto tempo. Do contrário não teria guardado a fotografia que havia tirado com ela. Por que ela fugia, então? Por que a mãe o deixara naquele lar? Precisava falar com a mãe, saber de toda a história. Fabinho disse:

— Ela tá aí ainda? Você pode chamar ela? Eu queria agradecer.

— O menino, você não quer saber como é que tá? — perguntou Malu.

Malu achava impressionante como Fabinho só pensava em si próprio. Isso só vinha confirmar a impressão negativa que sempre teve do rapaz. Malu não gostava de Fabinho, nem um pouco. Era um rapaz egoísta, interesseiro e sem escrúpulos. Vivia perseguindo o Bento. Ela ficou sabendo que Fabinho destruíra a estufa do Bento, e também andara inventando uma série de mentiras, fazendo intriga contra o Bento. Até apareceu no apartamento de Plínio, falando absurdos contra o Bento. Pelo o que Bento dissera, Fabinho nunca prestou. E ela confiava no julgamento de Bento, que conhecia Fabinho desde criança. Além do mais, ela sentia que havia alguma coisa errada com Fabinho. Ele tinha uma energia estranha.

— Ele deve tá melhor do que eu, né? — perguntou Fabinho.

Do ponto de vista de Fabinho, a criança não deve ter se machucado muito. A moto quase nem encostou no menino. Quem estava em pior estado era ele.

— Você chama essa Rita pra mim, por favor? — Fabinho pediu.

Malu resolveu ir atrás de Rita, ver se a encontrava no hospital.

— Obrigado. — disse Fabinho.

— Nada. — disse Malu, antes de sair do quarto.

Malu estranhou o fato de Fabinho estar tão interessado em Rita. Aliás, Malu achava que conhecia Rita, ela não lhe era estranha. Porém, não estava conseguindo se lembrar de onde conhecia Rita. Procurou Rita por todo o hospital, porém, não a encontrou. Ela tinha ido embora sem se despedir. Fabinho ficou sabendo que Malu não encontrara a tal Rita, então pediu um cartão da mulher. Agora teria o número do telefone da mãe. Poderia entrar em contato. Ficou olhando o cartão de sua mãe, que Malu deixara com ele.

— Rita! 

Ficou sabendo que a mãe era artista de rua. Fazia estátua viva, teatro, e também era contadora de histórias. Não tinha emprego fixo, vivia de bicos. Com certeza, a mãe não ganhava muito. Mal podia sustentar a si própria. Fabinho achava que era urgente encontrar a mãe, para que ela lhe contasse toda a história. Assim, poderiam procurar o Plínio. Fabinho não suportava a ideia de sua mãe estar passando por dificuldades, enquanto a megera da Bárbara estava lá, no bem-bom, usufruindo do dinheiro do pai dele.

No dia seguinte, Fabinho assinou a alta. O que ele tinha não era grave para permanecer tanto tempo no hospital. Resolveu ligar para Rita, ou melhor dizendo, Irene. Mas tinha de inventar alguma desculpa. Não dava para se apresentar como filho dela pelo celular. Precisava encontrá-la pessoalmente. Pegou o cartão, olhou o número e ligou para o celular dela.

— Alô? — disse Irene.

— Oi, por favor, eu gostaria de falar com a Rita. — disse Fabinho.

— É ela. Quem está falando? — perguntou Irene.

— Rita, meu nome é Ivan. — disse Fabinho. — Eu tenho uma sobrinha que vai fazer aniversário. Eu queria contratar os seus serviços. Você é contadora de histórias, né?

— É. Eu também faço marionetes e mímica. — disse Irene. — Mas qual a idade da sua sobrinha?

— A idade? É... Oito anos. A Fabíola tem 8 aninhos. — disse Fabinho.

— Fabíola. — disse Irene.

— Rita, eu queria conversar com você pessoalmente. — disse Fabinho. — Eu estou com umas ideias. Será que você pode conversar hoje?

— Não, não, não. Hoje eu não posso, não. — disse Irene. — Eu estou muito ocupada. Hoje, eu não posso.

— E amanhã, pode ser? — perguntou Fabinho.

— Amanhã? — disse Irene. — Tá bom, tá bom. Eu ligo pra você, pra combinar o horário.

— É que, na verdade, eu... — disse Fabinho. — Tá, tudo bem. Eu espero então, você me ligar.

Fabinho tinha pressa em encontrar a mãe. Esperara a vida toda por isso.

— Tá bom. Até amanhã. Obrigada. — disse Irene.

— Até amanhã. — Fabinho despediu-se.

Fabinho foi à agência. Claro que havia avisado Natan sobre o acidente que sofrera. Quando chegou, viu Maurício andar rapidamente em direção à saída. Maurício nunca mais aparecera na agência, desde que descobrira que Natan havia traído Verônica com a Bárbara. Pelo que Fabinho sabia, Maurício brigara feio com o pai, até cortara as relações com ele. O que Maurício viera fazer ali? Ele voltara a trabalhar com o pai?

— Grande Maurício! — cumprimentou Fabinho. — Voltou?

Maurício nem dera atenção para ele. Estava bufando de raiva. O que será que tinha acontecido? Será que Maurício tivera outra briga com Natan?

— O que deu nele? — perguntou Fabinho, para o que estavam ali presentes.

— Sei lá. — disse Júlia. — E você, o que fez aí, nesse braço?

— Eu sofri um acidente, comentei com o Natan. — disse Fabinho. — Ele não avisou, não? Não falou nada?

— Ele tem mais o que fazer e nós também, né, cara? — disse Edu.

Estava na cara que o pessoal ali da agência não estava nem aí para ele.

— Eu tô vendo. — disse Fabinho. — Tô achando essa agência tão vazia.

Fabinho sabia que faltavam Érico e Sílvia.

— Ah, é. — disse Júlia. — Porque o Érico foi demitido, a Sílvia pediu demissão em solidariedade, o Natan precisa fechar um slogan. Resumindo: tá aquele climinha delícia de sempre, né?

— O Érico foi demitido, é? — disse Fabinho, fazendo o sonso. — Que doideira. Um cara tão bacana, né?

— O pior você não sabe. — disse Edu. — Descobriu que é corno um dia antes de se casar, né? Conta pra ele, Mel. Você conta melhor que eu.

Fabinho viu que havia uma nova estagiária na agência.

— É verdade. — disse Mel.

O celular de Fabinho começou a tocar. Fabinho disse:

— Só um minutinho, querida.

Atendeu ao celular. Esperava que fosse sua mãe ligando.

— Alô, Rita? — era propaganda. Fabinho ficou furioso. — Não quero telefone, não, meu amigo. Obrigado. Não, não. Não quero, não. Obrigado.

Desligou o celular.

— Que chato que não era Rita, né? — disse Mel, rindo.

— Será que foi por causa dessa Rita que ele não caiu de moto? — perguntou Edu.

— Me erra, maluco! Tá louco? — disse Fabinho.

— Olha só! O estagiário cheio de marra! — disse Edu. — É o quê? Tá achando que vai ficar no lugar do Érico, né? Faz o seguinte: aproveita o braço bom, pega lá o layout que eu mandei imprimir. Vai lá.

Fabinho nem se mexeu do lugar. Mal podia esperar pelo dia em que não precisaria mais se submeter às ordens do babaca do Edu.

— Vai lá. — disse Edu.

Fabinho não teve outra saída, a não ser fazer o que Edu mandara. Horas depois, foi até uma das salas do andar de cima da agência, onde Natan se encontrava. Natan o chamara. Ao entrar na sala, Edu e Júlia passaram por ele, a caminho da saída. Não estavam nada animados. Certamente, levaram bronca do chefe.

— E aí, Edu? Julia! — cumprimentou Fabinho.

Eles saíram sem dizer uma palavra.

— E aí, Fabinho, como é que está esse braço?

— Tudo sob controle. — disse Fabinho. — Eu sou duro na queda.

— Ótimo! — disse Natan, levantando-se da mesa. — É de gente assim que eu preciso! Escuta, eu vou te preparar pra você assumir o lugar do Érico.

— No planejamento? — perguntou Fabinho.

— Não. — disse Natan. — Ele que inventou esse nome. O trabalho do Érico era atender os clientes. E atendimento não é nenhum bicho de sete cabeças! Eu vou confiar em você, hein, garoto? Não me decepcione.

Fabinho ficou satisfeito. Natan parecia estar reconhecendo e sendo grato por tudo o que havia feito por ele. Sabia que Natan ia acabar colocando alguém no lugar do Érico, e que esse alguém seria ele. Afinal, Natan estava comendo na sua mão. Quem sabe seu pai ficaria impressionado quando soubesse que havia sido promovido.

— Caramba, Natan! Eu não sei nem como agradecer. — disse Fabinho.

— Sabe, sim. — disse Natan. — Com competência e lealdade.

Fabinho sorriu e disse:

— Mais leal do que eu, você não vai encontrar.


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