Um amor inesperado escrita por Tianinha


Capítulo 6
Visita de Amora à Casa Verde




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No dia seguinte ao noivado de Amora, Giane estava colhendo as flores da praça, junto com os vizinhos. Conversaram a respeito da festa. Dona Odila disse:

— Mas é engraçado, né? Se a festa era da Amora, que que o Fabinho tava fazendo lá?

Giane não fazia a menor ideia de por que Fabinho resolveu aparecer em São Paulo, depois de tantos anos sem dar notícias, e justamente no noivado da Amora. Ele e Amora não eram amigos, nunca foram assim tão próximos. Ele estava aprontando alguma, com certeza. Giane só não fazia ideia do que. Não tinha como saber. Só sabia que não podia esperar boa coisa de Fabinho. Aquele lá não era flor que se cheire. Se ele queria tanto se aproximar de gente rica e famosa, algum motivo havia. Aquele não dava ponto sem nó. Era interesseiro. Talvez ele tivesse interesse por status.

— Boa coisa não era, né, tia? — disse Giane. — A senhora não sabe o playboyzinho cafajeste que ele virou. Um grosso.

— Ele já infernizava a vida de todo mundo quando era criança — comentou seu Silvério. De fato, todos ali sabiam que Fabinho era uma peste.

— É, mas agora tá pior, pai. — disse Giane. — Porque ficou riquinho, metido à besta. Tratou lá de se enturmar com aquela galerinha de Bárbara Ellen, amiguinhos da Amora. Ainda... Ainda teve a cara de pau, pai, de tratar mal o Bento e eu, as únicas pessoas que brincavam com ele aqui.

Giane não entendia como Fabinho podia não demonstrar um pingo de afeto por duas pessoas que brincavam com ele na infância. Ela e Bento eram as únicas pessoas que brincavam com Fabinho, porque a criançada da rua não gostava dele. Fabinho vivia aprontando, infernizando todo mundo, dando trabalho para tio Gilson e tia Salma. Parecia sempre querer chamar atenção para ele.  Era uma criança problemática e carente. Giane ficara magoada com Fabinho, por ele ter tratado tão mal ela e ao Bento. Eram amigos de infância, afinal. Pelo visto, ela e Bento não significavam nada para Fabinho.

— Oh, também nunca achei que esse Fabinho fosse coisa boa, viu? — disse dona Odila. Nunca gostou do garoto, tinha verdadeira birra dele.

— Ele e a Amora, viu? — disse Giane, carregando uma cesta cheia de flores. — Só subir um pouquinho na vida para acharem que são melhores que a gente.

Amora e Fabinho eram dois esnobes, metidos à besta, como todos os filhinhos-de-papai riquinhos e mimados. E desprezavam os pobres. Assim pensava Giane, enquanto colocava as flores na cesta da bicicleta.

— Quem tem boa índole é boa pessoa. Rico ou pobre. — disse seu Silvério. A filha achava que todo rico era metido, e na opinião dele, não era bem assim.

— Precisava ver, pai, precisava ver. — disse Giane, ajeitando as flores. — Chegou lá com papinho de que sentiu saudade da Amora. Ah... Porque do tio Gilson ele não sente saudade não, né? Bando de metido à besta! Mas eu aposto. Eu aposto como Amora e Fabinho nunca mais põem os pés nessa rua. Vamos ver.

— Gente, gente. — disse seu Nestor, aproximando-se. — Vocês não imaginam quem está lá na casa do Gilson.

— Quem, coisa? — perguntou dona Odila.

—  A Amora. — disse seu Nestor.

A Amora, ali? Giane não conseguia acreditar. Nunca pensou que Amora ia querer visitar os pobres. Ela nunca se importou com eles. Era uma ingrata.

— O quê? — disse a garota, surpresa.

— Ah, não acredito nisso. Você tá cego. Você não enxerga direito. É isso. — disse dona Odila, seguindo seu Nestor ao lado de seu Silvério. 

— Mas então vamos lá. Ô burra empacada! — replicou seu Nestor.

— Burra empacada não, hein? — reclamou dona Odila.

Giane desceu a rua atrás de dona Odila, seu Nestor e seu Silvério. Nesse momento, um motoqueiro subiu a rua e parou na frente de Giane. A garota se assustou, pois ele vinha em alta velocidade. Não era nem um pouco cuidadoso. Ia acabar atropelando alguém. Esses motoqueiros são malucos. Ela disse:

— Ei, cara! Tá maluco? É assim que você passa na rua? Pirou?

Só viu quem era quando o moço tirou o capacete. Era Fabinho.

— Cadê a Amora? — perguntou o rapaz. Nem a cumprimentou.

— Fabinho?! — surpreendeu-se a garota. O que ele estava fazendo ali?

— Vamos, moleque, fala, cadê a Amora? — perguntou Fabinho, impaciente.

Pelo visto, ele foi ali atrás da Amora. Giane sabia que ele não tinha ido ali para fazer uma visitinha a tio Gilson e tia Salma. O rapaz parecia não ligar à mínima, nem para o casal que o criara, nem para a vizinhança do antigo lar. Em todos aqueles anos, depois que fora adotado, nunca mais apareceu, nem dera notícias. Todos os outros órfãos continuaram mantendo contato com tio Gilson e tia Salma depois que foram adotados, menos Amora e Fabinho. Fabinho era ingrato, não tinha consideração alguma pelas pessoas que cuidaram dele. Alguma ele estava aprontando.

— Eu sei lá onde está a Amora. — Giane deu de ombros. Não facilitaria as coisas para ele. — Quem disse que ela tá aqui?

— O carro dela ali. — disse ele, apontando para o carro do outro lado da rua.

Giane deu uma olhada atrás de si, e disse:

— Uia! Já sabe até o carro dela. Tá fazendo bem o serviço, hein?

— “Fazendo bem o serviço”. Cadê a Amora? — explodiu Fabinho.

— O nome Gilson Rabello te diz alguma coisa? Ou você já esqueceu?

Fabinho foi até a casa de tio Gilson, e Giane foi logo atrás. Chegou quando Fabinho estava abraçando tio Gilson:

— .... Tá inteirão, tá jovem. — disse Fabinho, sorrindo.

Giane foi ao lado de Bento. Na sala estavam Amora, tio Gilson, tia Salma, seu Nestor e dona Odila.

— Opa! Hum! Tudo bem, Amora? — Giane cumprimentou, sarcástica.

— Oi, Giane! — disse Amora, mexendo em seu celular.

— Que que foi, Fabinho, você também resolveu fazer uma surpresa pra gente? — disse Bento. Também não entendia o que Fabinho foi fazer ali, além do mais, Fabinho sempre estragava qualquer clima entre ele e Amora.

— Ué Bento, não te falei que eu queria matar a saudade do passado? Ontem na casa da Amora, e hoje no bairro do meu coração.  — disse Fabinho. Dirigiu-se à Amora. — Aliás, Amora, estranho, eu senti que você ia estar aqui também.  

— É! Que beleza! De repente, todo mundo resolveu ficar com saudade dos pobres, né não? — disse Giane, rindo, irônica. Deu um tapinha em Bento. — Deve ser por isso, né, que eles vivem mandando notícia.

— Mas é muito bom ver vocês de novo reunidos nessa casa. — disse tia Salma, contente, referindo-se a Amora e Fabinho. — Não é Gilson?

— Tá decidido. — disse tio Gilson, abraçado a Fabinho, contente. — Fabinho vai almoçar com a gente também, a gente vai botar a vida em dia. Quero saber de você.

— É, tá tudo certo. Família que me adotou é ótima. Gente fina, educada. Tudo certo. — disse Fabinho.

— E oh Salma, olha como ele tá bonitão, tá elegante. — dona Odila elogiou Fabinho. — E essa jaqueta nos trinques, hein?

— Gostou? Essa jaqueta aqui é de Milão, comprei em Milão, sapato também, bonito, né? — disse Fabinho, exibindo a jaqueta e os sapatos que usava.

— Milão? — disse Salma, impressionada.

— Tinha que ir pra Milão. Milão.  — disse Fabinho. Dirigiu-se a Bento. — Você gosta de flor, Bento? Milão, o que não falta é flor.

Quando o almoço ficou pronto, quase todos se serviram, com exceção de Amora e Giane. Socorro também estava na sala, ao lado de Amora. Socorro e Amora apenas bebiam um suco.

— Hummm. Eu adoro picadinho! — gritou seu Nestor.

— Receita do caderninho da Salma.  — disse tio Gilson.

Fabinho estava sentado no sofá, ao lado de dona Odila e seu Nestor.

— Tem que vender essa receita. — disse Fabinho. — Isso aqui é uma maravilha. Vai ficar rica, tia!

 — Posso perguntar uma coisa? Quem é que vai servir a nossa cocotinha? — perguntou seu Nestor.

Seu Nestor, dona Odila e Fabinho riram. Giane pegou um pote de linguiça calabresa com cebola e ofereceu à Amora:

— Vai uma linguicinha aí, Amora?

— Oi, desculpa, eu não como embutidos. — disse Amora.

Giane sabia que ela ia recusar. Jamais comeria comida de pobre.

— Ah! Você não vai fazer essa desfeita, né? — insistiu Giane.

Socorro não podia deixar de defender o ídolo dela:

— Oh Giane, você não sabe que a Amora tá fazendo a dieta da luz não? Não insiste. Eu, hein! — disse Socorro, tomando o pote de linguiça da mão de Giane.

— Há!  — disse Giane, afastando-se.

Nesse momento, Fabinho arrastou Amora para fora. Ficaram alguns minutos conversando lá fora. Pouco tempo depois, Amora já estava indo embora. Tio Gilson, tia Salma, dona Odila, seu Nestor, seu Silvério, Socorro, Giane, Bento, Fabinho, todos a acompanharam até o carro.

— Ah, jura que você tem que ir, filha? — lamentava-se tia Salma. — Agora o almoço já está servido.

— Ai, eu adoraria, tia, mas eu estou muito atrasada para um trabalho e tem várias pessoas me esperando, mas eu adorei rever vocês. — disse Amora. — Eu vou ser eternamente grata por tudo que vocês fizeram por mim.

— Não precisa agradecer nada, basta você dar notícia de vez em quando que está de bom tamanho. — disse tio Gilson.

— Eu dou, tio. Pode deixar. — disse Amora, abraçando tio Gilson e tia Salma. — Tchau! Tchau!

— Volta, hein! — disse tia Salma.

— Tchau seu Nestor, seu Silvério, dona Otília. — disse Amora.

— Odila! — disse dona Odila.

— Liga não, liga não, tia, liga não. É que ela deve ter muita coisa na cabeça, entendeu?  — disse Giane, sarcástica, e seu Silvério cutucou em seu ombro.

— Espero que um dia possamos ser amigas, Giane. — disse Amora, irônica.

— Mal posso esperar. — disse Giane, irônica, e grunhiu.

— Ai, Amora, eu nunca vou esquecer esse dia. — disse Socorro, emocionada, dando um abraço em Amora.

— Obrigada pelo carinho, Socorro! — disse Amora.

— Tchau, cocotinha! Juízo. A gente se vê. — Fabinho despediu-se.

Giane viu Bento se despedir de Amora e convidá-la para ir a seu aniversário. Amora prometeu que viria. 


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