— Optimus – Ratchet encontrou Optimus vagando pelos corredores do novo esconderijo – O que pensa que está fazendo? Você me prometeu que iria recarregar e descansar por um bom tempo. Qual o problema agora? – Ratchet rapidamente notou algo errado. Optimus parecia triste e bastante abatido. – Sabe que sou seu médico, mas, antes de tudo, seu amigo, certo?

Optimus estava exausto e precisava mesmo descansar. Mas se ignorar seu médico era ruim, ignorar seu amigo, era pior ainda.

— Smokescreen – Optimus foi direto ao problema.

— Ah, droga! Bumblebee ou Hot Rod?

— Por enquanto, apenas um início de Hot Rod – Optimus ficou feliz por Ratchet não ter diagnosticado um mal maior que aqueles dois.

— É, acho que não tem muito o que fazer, é o preço de ser um Prime – Optimus pareceu triste – Ok, fique tranquilo, vou fazer algo a respeito.

— Ratchet…

— Não se preocupe, Optimus, não vou brigar com ele nem nada do tipo. Eu nunca disse isso antes mas, acho que essa equipe precisava de um médico como Rung afinal.

***

Ratchet só voltou a sala de comando depois de se certificar de que Optimus se desligou completamente na maca de recarga em seu consultório.

Pouco tempo depois Smokescreen apareceu. O jovem mech ficou rondando de um lado para outro, encarando o médico.

— Precisa de algo, Smokescreen? – Ratchet sabia muito bem do que, ou melhor, de quem Smokescreen precisava, e não o levaria a seu consultório nem que o jovem mech estivesse se desmontando bem a sua frente.

— Eu precisava ver o Optimus, sabe onde ele está?

— É Prime pra você, Prime, entendeu? E se você quiser perguntar qualquer coisa sobre alguma missão, ou alguma informação importante, você pode falar diretamente comigo. Optimus tem mais o que fazer.

— Como por exemplo? – Smokescreen pareceu não gostar daquela história do Prime estar ocupado demais para atender o mech que salvou sua vida.

— Dormir – Ratchet queria parar ai, mas sabia que isso seria muito infantil e nada profissional da sua parte – Ele estava muito cansado e chateado também. Parece que algum sem noção começou a assediá-lo, do nada. Deve ser algum pervertido qualquer. Só pode ser coisa de um decepticon de quinta.

— Ele disse isso pra você?

A expressão de choque e a voz trêmula de Smokescreen acabaram o entregando. Embora Ratchet já soubesse, aquilo teria sido mais que o suficiente para o médico e amigo de longa data de Optimus.

— Ora seu… – Ratchet parou e respirou fundo. Já havia prometido a Optimus que não brigaria com Smokescreen – Não pode pedir algo assim ao Optimus – Ratchet ficou indignado com a audácia do jovem mech – Quem você pensa que é para se dirigir a um Prime como se ele fosse um mech adolescente e fazer uma proposta indecente dessa?

— Ei calma ae, não precisa falar assim comigo, tá bem. Olha, o Opt… o Prime gosta de mim, ele confia muito em mim. Ratchet, ele quase me deu a Matriz, você sabe o que significa isso; a Matriz. – Ratchet rolou os olhos. – Ele queria dar a vida dele pra mim. Então acho que sim, eu devia insistir em fazer do Prime meu Conjunx Endura.

— Não é possível, o Optimus ele… – Ratchet considerou por um momento se devia mesmo revelar aquela parte tão íntima e dolorosa da vida de Optimus. Mas sabia que se não dissesse nada, Smokescreen não desistiria daquela loucura – Ele já teve um Conjunx Endura. Ele já teve um vínculo muito forte no passado então, por favor garoto, esqueça isso.

— O Optimus, digo, o Prime? Um conjunx? Isso parece tão improvável e estranho, ele é tão fechado. Bom, pelo menos isso significa que ele pode amar afinal, certo? – Ratchet bufou irritado. – Mas se ele perdeu seu conjunx ele pode formar um novo vínculo comigo e…

— Não, não pode – Ratchet apertou o bisturi contra o próprio servo, quase o arrancando completamente – O vínculo permanece ativo, o conjunx do Prime está vivo e, o Optimus… ainda o ama.

Smokescreen paralisou. Aquilo definitivamente era muito ruim. Se o conjunx do Prime estivesse por perto suas chances seriam zero. Além disso, se Optimus realmente ainda o amasse, era provável que tivessem algum tipo de contato com alguma frequência. Conjunxs não conseguiam ficar longe por muito tempo. Era provável que ao menos se tocassem, vez ou outra, caso contrário, Ratchet não teria dito aquilo com tanta firmeza.

— Ratchet, por um acaso você e o Prime…?

— O quê? – Ratchet acabou soldando um dedo no outro, ao invés de se concentrar em consertar o dedo cortado – Ficou louco garoto? Eu e o Optimus? Por que uma merda dessas passou pela sua cabeça?

— Desculpe – o jovem mech pareceu relaxar depois de notar que estava errado em suspeitar de Ratchet – É que vocês são tão parecidos.

— Bem, isso é verdade – Ratchet pareceu ficar cheio de si ao ser comparado ao Prime – Mas estamos mais para irmãos do que, ah, você sabe. Além do mais, acho que precisamos de alguém diferente de nós e não igual – Smokescreen estreitou as óticas para Ratchet – Não estou dizendo que Optimus é um velho chato e ranzinza, até porque eu também não sou.

— Bom, de qualquer forma isso é um alívio. Quer dizer que ainda tenho chance.

— Não, não tem. Você não entendeu, eu não sou o conjunx dele, mas alguém é.

Smokescreen ficou encarando Ratchet como se esperasse que ele fosse simplesmente, como diziam os humanos, “cantar feito um passarinho”, e dizer o nome do maldito que ele teria que socar até abrir uma vaga na centelha do Prime.

— Pode esquecer. Se o Optimus não te disse nada, nem deveríamos estar tendo essa conversa.

— Mas eu preciso. Como vou saber se tenho chance se não sei com quem estou lidando.

— É o conjunx do Prime, do Optimus Prime. Francamente, é claro que você não tem chance alguma, moleque.

— Ele é bonito? Jovem? É legal? Gentil? Gosta de correr?

— Não, ele não é nada disso.

— Uhm, tem certeza de que não é você, Ratchet?

— Suma daqui, agora! – Ratchet arremessou uma ferramenta qualquer que se estilhaçou na parede assim que Smokescreen desviou dela e saiu correndo para fora – Ah, eu precisava disso.