Tudo fluía tranquilamente no castelo. Jin pessoalmente trouxera os pais de Taehyung para uma grandiosa festa e, em seguida, os reconduziu com segurança para casa. Naturalmente, uma viagem de ida e volta entre Somnium e Daises consumiu alguns meses.

Taehyung já estava completamente adaptado à vida no castelo. O Rei Park o adorava, principalmente por ele proporcionar tanta alegria a Jimin. Os dois desenvolveram uma amizade belíssima, e o pequeno príncipe considerava Taehyung como um irmão. Juntos, estudavam, brincavam e se divertiam muito.

Quando Taehyung completou dezesseis anos, ele insistiu para que o Rei Park o permitisse treinar. O Rei, inicialmente relutante, considerava-o jovem demais e tinha uma promessa com os pais de Taehyung de cuidar dele. Apesar disso, Taehyung persistiu, e a permissão só foi concedida quando Namjoon se ofereceu para ser seu mestre. Namjoon assegurou ao Rei que tomaria todas as precauções necessárias para garantir a segurança de Taehyung, inclusive usando espadas de madeira durante os treinamentos.

No entanto, a situação não foi a mesma para Jimin. Apesar de seus pedidos insistentes, o Rei negou a permissão para que ele começasse a treinar. O Rei explicou que, sendo dois anos mais novo que Taehyung, as regras eram mais rígidas.

...

Enquanto Namjoon instruía Taehyung em alguns golpes, Jin desfrutava de chá com o Rei. Do outro lado do jardim, Hoseok tentava ensinar a Jimin habilidades impossíveis, como criar chamas de fogo com as mãos. Hoseok parecia não compreender que humanos comuns não possuíam a capacidade de conjurar magia.

Após horas de treinamento, Taehyung estava encharcado de suor, mas recusava-se a parar até conseguir memorizar a difícil sequência de golpes. Namjoon teve que intervir para que ele encerrasse o treino e descansasse. Mesmo relutante, Taehyung acatou o conselho e tirou algumas horas para descansar.

Depois do jantar, com o sol ainda se pondo, Taehyung decidiu ir até o jardim para espairecer e apreciar o pôr do sol. Sentou-se em um dos bancos e, ao olhar para o lado, avistou algo que capturou sua atenção. Era uma aljava vermelha contendo flechas e um arco imponente. Seus olhos brilharam, pois nunca tinha visto um arco de perto. Movido pela curiosidade, pegou o arco e o examinou com admiração. Seu material refinado e sua cor vermelha com detalhes dourados o tornavam incrivelmente belo.

Tomado pela empolgação, Taehyung começou a fingir ser um arqueiro, lançando flechas imaginárias para todos os lados.

— Eu posso te ensinar — Hoseok aterrissou no chão, estava deitado em um galho de árvore.

— Hobi! — Taehyung se assustou — eu só estava vendo...

Hoseok se aproximou e posicionou-se atrás de Taehyung, colocando suas mãos na direção certa. Com habilidade, pegou uma flecha e começou a ensinar como armar o arco, orientando-o cuidadosamente. Taehyung, empolgado, absorvia cada detalhe, ansioso para tentar disparar sua primeira flecha.

— Você só precisa mirar para onde deseja e então é só soltar a flecha. Claro que lugares mais distantes exigem mais técnicas, principalmente na questão do vento, mas é algo que você vai aprendendo com o tempo. Por hora, tente acertar aquela árvore ali na frente.

Taehyung segurou a respiração e concentrou-se. Quando se sentiu pronto, soltou a flecha, que atingiu certeiramente a árvore. Seus olhos se iluminaram com a realização da proeza, e ele sorriu radiante, percebendo o potencial e a emoção que o arco e flecha traziam.

— UAU! — Hoseok estava verdadeiramente impressionado — Você leva jeito pra isso, Tae. Acertou de primeira. Daqui a pouco vai estar melhor que eu. 

— Hobi, isso seria impossível, você é um Elfo da Floresta, e elfos no geral são ótimos arqueiros.

— Isso não quer dizer nada e eu não nasci sabendo. Quando aprendi a atirar com flechas, demorei muito para acertar um alvo. Uma vez eu perdi a paciência e enfiei a flecha na árvore.

O sorriso de Taehyung refletia a satisfação e a descoberta de uma nova paixão. Ele olhou para a flecha cravada na árvore, sentindo em seu coração a certeza de que havia encontrado algo que amava fazer. Com Hoseok como seu tutor na arqueria, Taehyung estava determinado a se dedicar e se tornar um grande arqueiro. O crepúsculo pintava o céu enquanto eles continuavam praticando, e a jornada de Taehyung como arqueiro estava apenas começando.

...

Jin bateu na porta de Namjoon, já era tarde e a noite já escurecia o céu de Amicitia.

— Entre — Disse Namjoon.

— Desculpe incomodá-lo, Joonie. Estou preocupado com Hobi e Tae, eles sumiram, não os encontro em lugar nenhum.

— Não se preocupe, eles estão na floresta treinando arqueria. Hobi veio me avisar.

Namjoon se aproximou de Jin, mantendo seu olhar firme no dele. Jin tentou desviar o olhar, consciente de que aqueles olhos eram sua fraqueza, e ele não queria se entregar à paixão que crescia com tanta intensidade.

— A floresta é perigosa, vou buscá-los — Jin ia se retirar, mas Namjoon segurou seu pulso.

— Jin, pare de fugir de mim.

— Não estou fugindo de você, só estou preocupado com os meninos.

Nesse momento, Hoseok chegou berrando nos andares de baixo, anunciando com sua risada espalhafatosa que haviam chegado.

— Eles chegaram e estão bem, qual é a sua desculpa agora?

— Namjoon, não complique as coisas, já conversamos tanto sobre isso.

Namjoon o abraçou.

— Jin, pare de fugir de mim, por favor.

Jin suspirou e se entregou ao abraço.

— Namjoon, por favor, estou tentando ser forte.

— Porque você está resistindo tanto ao nosso amor? 

Jin se afastou para olhá-lo, sem se desfazer do abraço.

— Joonie, eu quero ficar com você, mas...

— Sem “mas”, se você quer é isso que importa. Só me deixe viver essa vida com você. Agora eu posso cuidar de você, posso te ajudar e posso te seguir aonde quer que você vá. Não quero tirar sua liberdade, quero ser livre junto com você. 

Jin o abraçou com firmeza, debatendo-se internamente sobre a viabilidade de um relacionamento entre um elfo e um humano. As diferenças eram evidentes, mas seu amor por Namjoon crescia de forma avassaladora. Não conseguia mais reprimir os sentimentos que se fortaleciam, e segurar tudo aquilo dentro de si tornava-se cada vez mais doloroso.

— Joonie... prometo que não fugirei mais de você.

— Promete mesmo? — Namjoon o olhou, surpreso — Não vai mais sumir e ficar sem me mandar notícias?

— Sim meu amor, eu prometo.

— Você me chamou de “Meu amor”? — O sorriso enorme de Namjoon foi de orelha a orelha. 

— Você não gostou?

— Se eu não gostei? Eu amei! Esperei tanto por isso. Agora podemos finalmente ficar juntos?

— Podemos, meu Joonie — Jin tirou alguns fios de cabelo que caiam sobre os olhos de Namjoon. Admirou seu rosto, amava ver as covinhas quando ele sorria — Você é lindo. 

Eles se olharam, e diante daquele momento tão esperado, se beijaram novamente. Ao contrário do primeiro beijo desajeitado, aquele era doce, calmo e repleto de ternura. Entretanto, as coisas começaram a esquentar rapidamente.

— Joonie... — Disse Jin, com a voz fraca. 

— Jin — Namjoon pegou em seu rosto — Quero te mostrar uma coisa.

— Que coisa? — Jin sorriu e fechou o cenho. 

— Vem comigo — Namjoon pegou em sua mão.

— Onde nós vamos?

— Calma, é segredo. 

Namjoon estava animado, andava na frente segurando na mão de Jin, olhando para trás durante todo o percurso para lhe dar um sorriso radiante. Adentraram na floresta escura, já era noite; as únicas luzes presentes ali eram a luz da lua, que brilhava como prata no céu escuro, e os pequenos vagalumes espalhados pela floresta.

— Chegamos! — Disse Namjoon olhando para uma enorme árvore.

Jin ficou olhando sem entender.

— O que tem aqui?

— Vem, vamos subir.

Namjoon escalou até o galho mais baixo e estendeu a mão para Jin, oferecendo ajuda, talvez momentaneamente esquecendo que Jin era um Elfo da Floresta, habilidoso em escalar árvores com destreza. Mesmo assim, Jin aceitou sua gentileza, segurou sua mão e subiu junto com ele até o topo daquela gigantesca árvore.

Lá em cima, contemplaram a deslumbrante visão de Somnium. À distância, contemplaram as luzes de Regium City e o majestoso castelo ao norte. Era surpreendente como tudo parecia tão tranquilo sem a agitação de Jimin, Taehyung e Hoseok correndo e brincando por todos os cantos.

Para o sul, avistaram as imponentes colinas de Erat, com a lua cheia brilhando intensamente entre elas. Para oeste, o Rio Passion serpenteava, refletindo as estrelas cintilantes do céu noturno.

— Joonie... isso é lindo!

Jin estava impressionado com a deslumbrante beleza daquele lugar. Embora já tivesse testemunhado as paisagens mais mágicas e encantadoras de Amicitia em suas viagens, ali era diferente. Tudo parecia mais radiante, talvez devido à agradável companhia ao seu lado.

— Eu disse que é lindo... eu sempre vinha pra cá quando você partia. Eu olhava todo esse mundo gigantesco e me perguntava se você estava bem onde quer que estivesse.

Jin sorriu, desde o primeiro beijo atrapalhado de Namjoon, há três anos atrás, ele vinha lutando contra seus sentimentos. Nunca imaginou que pudesse desenvolver algo assim por alguém que viu nascer e passar pelas fases mais engraçadas e atrapalhadas da infância. No entanto, agora, Namjoon não era mais uma criança; era um homem crescido e convicto do que queria. Jin sempre sentiu um carinho especial por ele, algo como um amor entre irmãos, mas depois daquele beijo, seus sentimentos mudaram.

— Eu quero ser feliz — Disse Jin —, quero continuar ajudando as pessoas, mas quero me permitir ser feliz também. Quero provar da felicidade ao seu lado. Por mais que eu tenha lutado contra isso, eu não consigo deixar de pensar em você. Cansei de fugir dos meus sentimentos. Joonie... eu realmente amo você.