Jin estava em seu quarto, acomodado numa poltrona esculpida em pedras, rodeado por almofadas vermelhas. Enquanto refletia sobre sua vida anterior ao encontro com Kai na floresta, rememorou os dias felizes no castelo. Recordou-se das alegrias cotidianas, das travessuras animadas de Jimin e Taehyung, que corriam pela casa sujando tudo e furtando doces na calada da noite. Na mente de Jin, surgiram as imagens das tentativas de Hoseok de entreter as duas crianças, quase resultando em incêndios provocados acidentalmente. Inevitavelmente, suspirou melancolicamente ao lembrar-se de Namjoon.

“Joonie, você nunca vai me perdoar não é mesmo?” — A lembrança do cheiro de Namjoon invadiu os sentidos de Jin, e uma lágrima silenciosa percorreu seu rosto.

“Ao menos vocês ficaram bem e tiveram uma vida feliz e segura. Meu sacrifício foi necessário, apesar de ter doído tanto”

Jin suspirou, imerso em pesares profundos. Distraído em seus pensamentos, foi despertado por um bater de asas peculiar. Ele começou a procurar a origem desse som intrigante, dando a volta em seu quarto para identificar sua fonte. Ao olhar para o chão, ao lado de sua cama, deparou-se com um pequeno pássaro verde debatendo-se, tentando desesperadamente alçar voo. Jin se aproximou com cuidado, abaixando-se para pegar a pequena criatura, que continuava agitada e assustada.

— Calma amiguinho, só quero te ajudar. Se perdeu e acabou ficando preso aqui? — Jin o pegou cuidadosamente no colo e então o colocou em sua cama para examiná-lo melhor. 

— Sua asinha está quebrada. Mas eu posso te ajudar, confie em mim.

Foi até sua prateleira e pegou uma pequena bolsa de couro e a levou até a cama. Abriu a bolsa e pegou um frasco e alguns esparadrapos. 

— Você vai voar novamente, amiguinho — Jin aplicou o remédio no local que estava ferido e então o enfaixou — Prontinho, logo logo você estará bem. 

...

Alguns dias se passaram, e Jin dedicava-se com carinho ao cuidado do passarinho. Finalmente recuperado, com as asas completamente curadas, Jin o conduziu para fora da caverna. Seus olhos ardiam sempre que enfrentava a luz exterior, resultado do tempo prolongado passado na caverna com Kai, tornando suas vistas sensíveis. Jin estendeu a mão, oferecendo ao passarinho a oportunidade de voar, mas a pequena criatura permaneceu em suas mãos.

— Você está livre, meu amor. Voe!

O passarinho se remexeu em sua mão, agitou suas asinhas e, finalmente, levantou voo. Jin o observou voar livremente pelo céu e não pôde conter as lágrimas diante da beleza daquela cena.

“Eu queria voar livremente como esse passarinho”.

Jin olhou para trás, na direção leste, em direção a Regium City, onde se encontrava a cidade real, o castelo, onde Namjoon permanecia.

“Será que um dia vou encontrá-lo novamente? Será que um dia ele vai me perdoar?”

Com um suspiro profundo, ele olhou para o céu novamente.

“Eu quero poder voar”.

Foi então que Jin tomou uma decisão corajosa.

“Eu vou voar… pra bem longe daqui”.

Jin colocou a mão no peito e sorriu.

“Me desculpem se eu estiver sendo egoísta, mas eu não aguento mais ficar aqui. Sei que vocês agora podem se defender caso o Kai queira lhes fazer mal devido ao meu sumiço. Não posso mais continuar aqui”.

Então, ele correu o mais rápido que pôde, afastando-se da caverna o máximo possível. Correu com todas as suas forças, sem olhar para trás, deixando para trás o local sombrio. O ar puro enchia seus pulmões, e a natureza o cercava. Seus pés tocavam as folhas secas no chão, suas mãos deslizavam pelos arbustos, e suas narinas absorviam o doce aroma das flores. Jin apreciava profundamente essas sensações, sentindo uma saudade imensa delas.

…

Jin decidiu não ir para o castelo, evitando um possível encontro com Namjoon. Acreditava que após seis anos, Namjoon já teria construído uma nova vida e não queria resgatar o passado de forma desconfortável. Pensava que talvez Namjoon nem se lembrasse mais dele. Em vez disso, escolheu seguir para o oeste, em direção às terras de Harenae, onde residiam seus amigos Elfos da Luz, seres gentis e sábios de Amicitia. Ao chegar, avistou Hoseok à distância, participando de uma animada celebração com outros elfos.

— HOBI! — Chamou Jin, aos prantos.

Hoseok se virou rapidamente ao ouvir a voz do irmão. 

— JIN? — O ruivo correu o mais rápido que pôde em direção a ele, se jogando em seus braços para abraçá-lo — Jin… — Hoseok falava baixinho e chorando, o apertando em um abraço cheio de amor, ternura e saudade. 

— Finalmente me livrei daquele lugar, Hobi. Foi difícil, mas reuni toda coragem para conseguir fugir, e o que me deu forças foram suas visitas, você nunca desistiu de mim. Agora estou aqui e nunca mais iremos nos separar, seremos uma família novamente.

— Jiiin — Hoseok apenas soluçava de tanto chorar.

…

Os dois irmãos partiram para Yeoldae, um pequeno vilarejo próximo às montanhas de Horn, e Jin estava encantado com a oportunidade de viajar novamente com Hoseok. O ruivo caminhava a passos animados, quase dançando ao longo do trajeto, enquanto cantarolava músicas élficas que celebravam a natureza e o sol. Hoseok exibia felicidade e animação por ter seu irmão de volta, expressando esses sentimentos de forma evidente.

— E as namoradinhas ou namoradinhos? Heim Hobi? Já arrumou algum? — Jin sorriu para o ruivo.

— Eca! — Hoseok fez careta — Relacionamentos amorosos é para os fracos, que nojo. Eu vi como Jimin e Taehyung ficam quando falam de rapazes, beijos e casamento, isso é patético. Prefiro casar e namorar comigo mesmo — Hoseok deu de ombros.

Jin riu e balançou a cabeça. 

— Então você vai ter que me aguentar por toda a eternidade.

— É o que eu mais quero, Jin, apesar de você ser um chato às vezes e não deixar eu fazer o que quero.

— Acho que é melhor eu continuar não deixando você colocar fogo em tudo — Jin riu, então fez um carinho na cabeça do irmão.

— Te amo, Jin — Hoseok o abraçou.

— Também te amo, Hobi. Meu irmãozinho cabelo de fogo.

Eles prosseguiram a viagem, explorando florestas e montanhas. Em um dia ensolarado e agradável, enquanto Jin preparava algo para comer, um pássaro começou a cantar alto, emitindo uma melodia peculiar. Jin ergueu o olhar para o céu, arqueando a sobrancelha ao reconhecer aquele canto familiar. Estendeu a mão, e o pássaro desceu voando até pousar delicadamente em seu dedo. Observando um pedaço de tecido amarrado em seu pé, Jin desfez o nó e desdobrou a tira de pano. Hoseok, curioso, correu para ver o que estava acontecendo.

No tecido, letras grandes escritas com lama e terra formavam a palavra "DANGER".

— O que é isso? — Perguntou Hoseok, confuso. 

Jin sentiu um aperto no peito, sabia exatamente do que se tratava aquela mensagem.

— Hobi, o Rei Park morreu, e Jimin precisa de ajuda. Precisamos ir até ele!

Fim…

… ou não, é aqui que tudo começa…