Get Back escrita por Shakinha, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Get Back


Notas iniciais do capítulo

Toda essa problemática do Percy já foi assunto de mesa de bar aqui e amplamente discutido sob efeito de alguns copos de Stella Artois. Fico feliz que a pessoa que eu tirei tenha colocado na lista de pedidos uma fic sobre ele, mais especificamente sobre o arrependimento dele. Foi muito bom trabalhar com esse personagem tão complicado.



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Outono, Paris, 1997. Charlie Weasley chegou no café mencionado na mensagem ao meio dia e escolheu uma mesa. Era próximo à estação Gare du Nord, um lugar bem movimentado, e ele se perguntou o motivo daquela localização. Não se passaram nem cinco minutos após ele se acomodar em sua cadeira e uma pessoa se sentou à sua mesa.

— Desculpe, mas estou esperando-

Ele se calou quando viu quem estava ali e fez uma careta de desgosto.

— O que você está fazendo aqui?

Percy Weasley era quem estava sentado à sua frente.

— Podemos conversar?

— Olha, não é um bom momento, estou esperando uma pessoa.

— Sou eu quem você está esperando, Charlie.

O mais velho olhou sem entender. Estava ali porque recebera uma mensagem de um colega da reserva da Romênia convidando para almoçarem juntos, não de seu irmão renegado. A não ser que...

— Espera... Você me mandou aquela mensagem?

— Olha, foi muito difícil sair da Inglaterra, mas eu realmente preciso conversar com você.

— Desde quando sabe escrever em romeno?

— Eu trabalhei um ano no Departamento de Cooperação Internacional em Magia, era minha obrigação saber me comunicar com outras nações. Sem contar que romeno era uma língua que, mesmo que minha mensagem fosse interceptada, ninguém se daria ao trabalho de traduzir.

Charlie respirou fundo antes de prosseguir.

— Então, já que estou aqui, o que quer falar comigo?

Percy suspirou e desviou o olhar do irmão.

— Eu... Eu quero voltar para casa.

— O quê?

— Eu quero voltar para casa! Eu sei que eu fiz muita coisa errada, mas eu me arrependi. – A voz dele começou a ficar embargada. – Mas eu não sei se vão me aceitar de volta.

— Quer dizer que depois daquela merda toda e daquele teatro fodido que você fez, agora você diz que quer voltar?

— Charlie...

— Não, agora você me escuta. Eu não estava lá quando aconteceu, mas os meninos me contaram. O que você fez com nossos pais dois anos atrás foi absurdo, Percy!

— Eu sei! E fui orgulhoso demais para voltar atrás quando descobri que eles estavam certos e eu só estava sendo usado como um peão, mas as coisas chegaram em um ponto que eu não podia mais contatar nenhum de vocês!

Charlie sabia que ponto era esse. A tomada do Ministério no verão, a morte de Rufus Scrimgeour e todo o caos instaurado desde então.

— É, a gente costuma deixar para engolir o orgulho quando a água bate na bunda. Não dá para não te julgar, mas dá para entender.

Percy revirou os olhos para as expressões nada polidas que o irmão mais velho costumava usar, mas assentiu.

— Imagino que a sua vontade seja a de me acertar com um soco.

— Pode crer que eu teria feito isso se tivesse te encontrado longe dos nossos pais antes dessa bomba estourar, mas agora... Agora eu só quero entender o que aconteceu. Eu soube que você apareceu lá em casa no Natal do ano passado, papai disse que você parecia bem sem jeito, sem conseguir encarar ninguém.

— Era só um esquema do Scrimgeour para falar com Harry, eu estava ali de desculpa para ele aparecer lá em casa. Realmente, foi difícil encarar todo mundo, especialmente a mamãe.

— Eles ainda se preocupam com você, sabe. Nossos pais. Com certeza te perdoariam e te aceitariam de volta.

Os dois ficaram um momento em silêncio e Percy esfregou os olhos marejados por detrás dos óculos. Charlie aproveitou para pedir o almoço.

— Por minha conta hoje.

— Charlie, não precisa...

— Você paga a próxima.

— Certo.

Os pratos não demoraram a chegar e o irmão mais velho retomou o assunto enquanto comiam.

— Falando sério, precisava daquele drama todo em 95?

— Não era drama, Charlie, eu tinha uma ideia completamente errada do que estava acontecendo. Acho que minha ambição me subiu à cabeça.

— Da próxima vez que se sentir ambicioso assim, faça como o tio Ignatius: se case com uma dama da alta sociedade. É melhor do que sair fazendo merda.

— Espera, eu quero conquistar eu mesmo as coisas, não vender minha alma e alugar a glória de outra família.

— A parte de vender a alma você fez, ainda bem que de um jeito que pelo menos consegue voltar atrás. Olha, por mais que a gente tenha sentido raiva de você, e não foi pouca, ainda somos sua família. Sabemos que no fundo você é uma boa pessoa e nunca chegou perto de ser um bruxo das trevas. Volte para casa.

Um brilho surgiu nos olhos de Percy, mas logo se apagou.

— Charlie, eu não posso fazer isso. Não agora. Estou sendo vigiado de perto, ainda trabalho no Ministério porque é o que eles querem, para vigiar o papai e o resto da família. Foi quase impossível sair de Londres para te enviar uma mensagem de Paris, mas vim pelo modo trouxa com aquele novo trem que atravessa o Canal da Mancha por baixo. Ele não sai de King’s Cross e eles não se preocupam em colocar gente vigiando St. Pancras.

— O desprezo aos trouxas é tanto que eles nem cogitam a ideia de nos transportamos pelos meios deles. Engraçado que eu também vim nesse trem hoje de manhã, parece que pensamos igual.

Uma risada acanhada escapou dos lábios dos irmãos.

— Sabe... – Percy voltou a falar. – Acho que tudo que eu queria era reconhecimento. Queria que alguém visse meu trabalho e desse valor a ele. Pensei que o convite para assumir o cargo de assistente júnior do Ministro da Magia fosse por causa do meu trabalho à frente do Departamento de Cooperação Internacional. No final, não era nada disso. Meu trabalho naquele departamento foi um fiasco e Fudge só queria que eu fosse um espião.

— Ele só não contava que você fosse brigar com a família inteira, sair de casa e cortar contato com a gente. Muito útil esse serviço de espionagem.

Percy riu, mas o semblante de tristeza logo voltou a ocupar sua face.

— Não sei o que vou fazer agora. Não posso mais sair de onde estou, não posso voltar para casa, me sinto com as mãos atadas. E tudo que eu queria era só não ser uma cópia malfeita do Bill.

Charlie colocou a mão no ombro do irmão mais novo.

— Você vai arranjar uma saída, eu sei disso. E você não é uma cópia malfeita do Bill, vocês não tem nada a ver! Sério, a única coisa que vocês tem em comum além da quantidade de N.O.M.s é que vocês detestam purê de pastinaca.

Percy fez uma careta.

— Relaxa, Percy, um dia você vai ter o reconhecimento que merece. Todo mundo comete erros na vida, só agradeça de poder voltar atrás. Tem gente que não tem essa possibilidade, o arrependimento acaba vindo tarde demais.

— Ainda bem que não foi tarde demais para mim, não é? Quer dizer, eu acho que não.

— Não, não foi. Você ainda está aqui, nossos pais estão aqui e nossos irmãos também. Eles vão acreditar no seu arrependimento. Eu acreditei.

— Obrigado, Charlie.

Os irmãos se levantaram e deram um abraço de despedida. Percy saiu em direção à estação Gare du Nord para voltar do mesmo jeito que viera. Seu desejo era voltar junto com Charlie, mas isso não era possível, não no momento. Não podiam ser vistos juntos em Londres ou qualquer outro lugar da Grã-Bretanha.

Quando tomou seu lugar no trem, Percy se sentia mais leve, com a sensação de que tinha feito a coisa certa. Seu arrependimento era verdadeiro e Charlie soubera disso. Só esperava que não fosse tarde demais quando conseguisse finalmente voltar para casa.


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