Antes do para sempre escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Já estou indo, meu bem — Peeta avisa, beijando minha bochecha, enquanto lavo nossos pratos do café da manhã.

— Vai voltar mais tarde? — pergunto, secando as mãos, me sentando na bancada para vê-lo dar dois laços nos tênis novos que eu o comprei. Assente, sorrindo, vindo até mim de novo.

— Por quê? Já está contando os dias para o nosso aniversário? É depois de amanhã — pisca, pondo as mãos ao meu lado, me fechando na bancada. Reviro os olhos sinceramente, mas com um sorriso.

— Por nada, eu só queria saber se vai fazer o jantar — respondo, sincera. Passo a ponta dos dedos por seu maxilar, e dou um sorriso sincero, o observando tão de perto. — Traz cupcakes de caramelo?

Agora é ele quem revira os brilhantes olhos azuis, mas assente, se inclinando para me beijar. Retribui sinceramente, o abraçando pela cintura. Suspiro quando seus beijos migram para meu ombro, e suas mãos sobem um pouco a minha blusa.

— Eu acho que posso me atrasar um pouco... — murmura, juntando nossos corpos, ainda com roupas, mas nós dois pulamos de susto. Um gato entrou pela janela, ou melhor, uma gata: Butter. Algumas semanas depois que Buttercup morreu, acabei aceitando Peeta trazer um outro que rodeava nossa casa, e dessa vez com pêlos marrons. Caímos no risada, ainda que chateados pela intromissão. Ela é muito boa para dar furos assim.

— Sinal para você não se atrasar — assente, derrotado.

— Mas não pense que eu esqueci! — rio, aceitando seu beijo na minha bochecha.

Logo sai de casa, e eu me sinto ansiosa. Checo o calendário pela centésima vez.

Suspiro, andando de um lado para o outro. Não é a primeira vez que penso em não tomar o contraceptivo. É a terceira vez, mas essa é diferente porque não tenho mais desculpas, além da minha paranoia. Nas outras vezes, eu pensei em parar por outros efeitos colaterais, como uma queda de cabelo insuportável que eu tive, dez anos atrás, e depois um surto de espinhas, que precisei cuidar com muitos cremes no rosto. Dessa vez… enfim é real.

Ligo então para a única pessoa que eu posso contar o que está de passando na minha cabeça nesse momento. Depois de dois toques, ouço sua voz, preocupada, do outro lado da linha.

— Aconteceu alguma coisa, Katniss?

— Mãe, eu quero parar de tomar o anticoncepcional.

Falei de uma vez só. Não gosto de mandar recado. Ela fica em silêncio por um instante. Nossa relação ainda é conflituosa, mas nunca discutimos. O fato de eu ligar a cada dois meses ou ela fazer essa ligação é um sinal. Nos vemos pelo menos quatro vezes no ano, e nunca por mais de um final de semana, quando ela vem até aqui.

— Por injeção? Prefere comprimidos? Não estou entendendo. Tem muitas opções.

— Não... eu quero… tentar.

Acho que falei muito baixo. Tem um nó se formando na minha garganta, e eu não estou conseguindo falar direito. Estou tornando público pela primeira vez em quinze anos que quero tentar a possibilidade da maternidade.

— Hm, e no que eu poderia ajudá-la?

Suspiro, encostando a testa na parede, ainda com o telefone no ouvido. Fecho meus olhos.

— Como eu tenho certeza se é o que eu tenho que fazer? Como isso pode dar certo?

Surpreendentemente, ela ri do outro lado da linha. Sinto meu rosto ficar vermelho de vergonha, e antes que eu desligue a ligação, ela fala.

— No momento em que você quer que dê, Katniss. Você já fez tanta coisa. Ninguém pode ser uma mãe melhor do que você... você foi melhor do que eu fui para sua irmã em tempos tão ruins. Imagine todas as possibilidades incríveis agora.

Silêncio. Lágrimas surgem nos meus olhos, me fazendo fechá-los. Não vou chorar agora. Não posso. Jurei que iria conseguir fazer isso, mas acho que não vou.

— Quando... você vem? — pergunto, mudando o assunto, tentando parecer o mais cética possível.

— Eu vou para o 12 daqui três semanas. Mas posso ir antes se você quiser.

— Tudo bem daqui três semanas — digo, em um fio de voz. — Tudo bem. Peeta ainda não sabe.

Silêncio.

— Imaginei. Semana que vem eu chego. Ligo antes para você me buscar na estação. 

— Ok.

— Se cuida, tudo bem? Sei que hoje é o dia da injeção. Tenta não se sobrecarregar com isso. Dificulta muito quando está tentando engravidar, e estresse deixa seu rosto com espinha — consigo dar um sorriso, mas mantendo os olhos fechados e a testa na parede. — Te vejo em breve. Manda um abraço para o Peeta, e agradece pelos doces que ele manda sempre, eu e toda a equipe do Quatro adora. Annie também.

Me despeço, desligo o telefone, e fico um instante parada, absorvendo as coisas. Preciso ver minha ginecologista de toda forma. No meio do caminho, posso desistir da ideia. Cinco vezes.

Tomo um banho muito longo, com a boca seca de ansiedade. Bebi mais água que o suficiente para todo o dia em poucas horas na manhã. Penteei meu cabelo com tanta calma, que pude contar facilmente os cinco únicos fios que se soltaram. Effie está sempre mandando itens de beleza para mim, e Peeta me incentivou muito a usá-los. Hoje em dia eu consigo me sentir bem comigo mesma.

Eu reclamaria se não me fizessem sentir um pouco menos ruim, depois de tudo. Meu cabelo está hoje volumoso, com brilho, e longo. Longo o suficiente para uma trança embutida caindo sobre meu ombro direito, até um abaixo da minha cintura. Peeta gosta de desfazer pacientemente, para refazer, quando passamos as tardes no quintal ou na campina, algo muito comum aos domingos.

Como estamos no início da primavera, última semana de março, faz um pouco de calor, então visto somente uma blusa sem manga azul, e uma calça branca. Por causa desse gato que Peeta trouxe, nossas roupas escuras precisam ficar em plásticos no guarda-roupa, porque Butter solta muito pêlo, e gosta de perambular por toda a casa. Pego uma bolsa, uma simples e bonita, uma das obras de Cinna. Uso quando tenho algo importante para fazer no distrito, então está em tão bom estado quando chegou até mim.

Meus passos são lentos. Uma criança aprendendo a andar é mais rápida que eu. Criança.

Passo inevitavelmente pela praça do distrito, onde muitas delas estão voltando para casa, depois de uma manhã inteira na escola. Suspiro, e ao cair em mim, estou com um sorriso no canto do rosto, observando-as gritar e brincar. É comum eu trazer as crianças de Delly aqui, já que sou a babá não-oficial dela, que é minha vizinha. Não tenho ideia de como ocupei o cargo, só se tornou algo divertido que faço quando ela e o marido precisam de uma folga. 

Prim estaria com 28 anos hoje. Ela certamente apoiaria minha decisão, tanto por amar Peeta e poder fazer qualquer coisa que ele a pedisse, e também porque ela adoraria ter um sobrinho ou sobrinha para cuidar e amar. Se ela estivesse aqui, e o mundo estivessem como está hoje, eu já seria mãe? Ela já seria mãe? Teria encontrado um grande amor aqui ou no 13?

Suspiro, fechando os olhos por um momento para não começar a chorar. Ela não está mais aqui, eu estou. Tenho a oportunidade de consertar as coisas, e finalmente me deixar viver algo que eu sempre quis, no fundo. Peeta estará ao meu lado, lembrando que tudo vai ficar bem. As coisas já estão caminhando bem.

Decidida, entro no consultório, onde minha médica espera com um sorriso, pronta para preparar a seringa, já que sou sempre objetiva e curta para esses assuntos. Não penso muito antes de vie aqui. Mas hoje eu pensei. Pensei muito.

— Quero tentar engravidar.


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Notas finais do capítulo


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