Ter um bebê em casa é algo especial. Delly deixou uma panela de sopa na nossa porta, sem entrar para visitar. Effie mandou flores violetas, quando Peeta contou por telefone o nome. Cada vizinho deixou em nossa porta algo especial, para celebrar conosco aquele momento. Eu chorei todas as vezes.

— Butterzinha, não se preocupe, ela sabe que você faz um bom trabalho — Peeta conversa com a gata, me fazendo dar um pequeno sorriso, apoiada no batente da porta, enquanto ele coloca Violeta no berço. — Você é nova, igual ela. Vocês vão praticamente crescer juntas. Não fique preocupada, tudo bem?

A gata mia, se aconchegando ao lado da bebê. Mesmo que ela fosse alérgica, nessa altura eu admito que não conseguiria me desfazer da gata, teríamos que colocar ela em outro cômodo. É muito especial ver esse vínculo. Violeta tem apenas três semanas, mas se dão muito bem. Butter aparentemente estava grudada comigo apenas por conta da gravidez e isso me entristece. 

— Vamos nos despedir da minha mãe e de Annie — lembro Peeta, que vela o sono da menina. — Finneas vai ficar chateado se você não descer.

Isso enfim parece tirá-lo do estado de admiração que ele mantém ativado desde que ela nasceu. Desce comigo ao lado, com nossos dedos entrelaçados. Há um carro esperando para levarem os três até a estação de trem, meu coração está partido.

Tem sido muito difícil para mim conseguir me adaptar com todas mudanças. Muito difícil. Eu estou me sentindo horrivelmente triste, depressiva, ansiosa. Pensar que não teremos o apoio da minha mãe, Annie e até Finneas, que trocou pelo menos cinco fraldas de Violeta, é desesperador.

Abraço cada um rapidamente, então fico atrás de Peeta, me escondendo atrás de seu braço. Estou tentando não chorar, mas não está sendo fácil. Tenho chorado muito desce que ela nasceu também.

— Katniss, você vai se sair bem. Eu consegui. Você vai fazer ainda melhor — Annie diz, passando uma mão pelo meu rosto. — Estaremos de volta quando precisarem. 

Peeta dá um abraço mais longo em Finn, que parece triste por ter que ir embora e deixar o tio favorito. Eles falam sobre algo que não escuto, porque meu coração está batendo rápido outra vez. Estou tendo uma crise de ansiedade, enquanto o carro manobra e então começa a se distanciar. A decisão de irem hoje foi pela cicatrização dos meus pontos durante o parto, para que eu não tivesse nada inflamado e pudesse me recuperar bem, mas eu não estou totalmente recuperada. Atualmente tenho tido dificuldades de saber se um dia ainda vou conseguir estar.

— Quer que eu ajude você a tomar banho? — Peeta pergunta, delicadamente, acariciando meu rosto. Não consigo encará-lo no primeiro momento, então ele segura gentilmente a ponta do meu queixo. — Vamos conseguir. 

Me agarro às suas palavras como se fosse um colete salva-vidas em pleno mar. Porém, antes que eu entre no banheiro, Violeta começa a chorar.

(…)

As coisas não ficaram bem. Na verdade, ficaram piores e mais penosas. Quando Violeta completou um mês, eu não consegui me animar de celebrar seu aniversário de um mês porque ela começou com cólicas que a fazem gritar a madrugada inteira. Estamos na beira de um colapso. Eu estou, ao menos. 

Meu seio esquerdo rachou de repente, e eu gritei, então Violeta começou a gritar de choro também. Foi desesperador, ainda que eu tenha conseguido amamentá-la exclusivamente no seio direito até a recuperação do meu peito, era o lado que ela mais tinha uma boa pega. Chorei e gritei silenciosamente no meu banho várias vezes. Todos os dias tem sido difíceis.

Peeta entrou de licença indefinida do trabalho na padaria, considerando a situação que estamos vivendo, mas isso nunca foi um problema. O problema é que mesmo com todo o suporte, eu estou me sentindo desgastada de corpo, alma e espírito. Estou péssima, não estou conseguindo passar todos os dias o creme no meu corpo para não me afetar tanto conforme naturalmente vou perdendo peso. Tudo tem sido um fardo.

— Vilu, por favor… estou implorando, Violet — murmuro, ninando a bebê que chora em plenos pulmões, um choro fino e estarrecedor. Dou um suspiro aliviado quando a médica entra no quarto. Optei por ela vir aqui para uma consulta de avaliação das cólicas da minha filha, pois não conseguiria lidar com pessoas olhando eu toda destruída e sem energia, além de quererem nesse momento olhar para o rosto dela. Apenas nossos familiares e Delly viram — claro, seu marido e filhos também. 

— Certamente é por algo na sua dieta, Katniss. Observei como ela se adaptou bem para a amamentação, mesmo depois de um de seus peitos racharem, então, não acho que seja porque é ar entrando. Vou recomendar que você troque o leite de cabra ou de vaca por algum que seja vegetal. Com qual frequência tem comido algo apimentado, frito?

— Não com muita frequência, anteontem comemos algo frito mas é raro — Peeta fala por mim, massageando meus ombros. — Katniss tem tido dificuldade para comer também. Geralmente prefere comer nozes, algumas castanhas e beber café com leite.

Assinto. Tenho estado tão exausta que isso tem sido um detalhe importante. A médica me dá um sorriso triste, pegando na minha mão.

— Querida, antes de cuidar de um bebê, você precisa garantir que está bem primeiro. E essas coisas que você tem comido com frequência não são as mais recomendadas nesse momento.

Ela receita exames para mim, então me entrega uma lista de comidas que é mais adequada nesse primeiro momento. Peeta pede ajuda de Delly para conseguir tudo, e minha amiga prontamente é uma grande aliada nossa.

— Você precisa de alguma coisa? — ele pergunta, quando Violeta finalmente dorme. Sinto meu rosto vermelho, não pela sua pergunta, mas pela situação toda. Coloco as mãos nas minhas bochechas, então olho para a palma delas. 

— Eu não sei.

Respondo, sincera, encarando ele. Peeta parece triste. Acho que ele realmente está, porque eu estou. Infelizmente eu não estou conseguindo me reconhecer.

— Vou colocar a banheira para encher — ele avisa, se inclinando para beijar minha testa, sem se importar que eu esteja com cheiro de leite, suor e lágrimas. 

Peeta me dá banho, eu me encolho na banheira, e espero a pausa que precisa dar para ver a razão de Violeta ter começado a chorar outra vez. Era apenas uma troca de fralda. 

Me deito na cama com o coração mais aliviado, com meu corpo mais relaxado também. Ele me abraça.

— A gente vai ficar bem.

E acredito em cada palavra que sai de sua boca. Preciso acreditar.