Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 40
Uma Nova Corte




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Margaery sentia o chacoalhar de sua liteira enquanto observava, colocando a cabeça pela janela, o imenso castelo de Harrenhal crescer diante de si. A imensa fortaleza, que muitos dizem ser amaldiçoada, era era uma coisa feia e disforme, com muralhas e torres negras, e que pareciam aumentar de tamanho a cada instante.

Sentindo um arrepio, Margaery afastou-se da janela e fechou as cortinas de couro de cavalo — sem dúvida as cortinas de tecido mais rico foram vendidas, bem podia deduzir.

Sentia que naquele castelo estava o seu fim.

Estava nevando mais do que nunca. A neve açucarada e brilhante caia em grande quantidade, cobrindo tudo e todos. De fato, havia demorado uma eternidade para a comitiva de Correrrio chegar ao seu destino; a neve havia deixado uma grossa camada no solo, impossibilitando o rápido avanço da enorme turba.

Ao lado da carruagem de Margaery, havia diversas outras liteiras e carruagens. Os mais diversos animais eram usados como montaria: cavalos, cabras de um único chifre, javalis imensos e até ursos que variavam entre uma pelagem totalmente preta ou branca. Aqueles que andavam a pé, no geral, não sobreviviam muito tempo, e usavam botas com espinhos, para facilitar o passo no gelo.

Margaery era acompanhada apenas por uma serva de essos — sem dúvidas a ideia fora de Sansa ou de Daenerys, assim, Margaery dificilmente poderia, de algum modo, manipular a serviçal, pois esta já estava totalmente devota a Daenerys.

Sagaz. Muito sagaz e irritante.

Ao lado da liteira de Margaery, também se encontravam outros estrangeiros, ladeando-a. Um deles era um dothraki, com a pele acobreada e olhos escuros, levando um arakh na cintura e usando peles grossas para proteger o corpo contra o frio. O outro soldado tinha uma pele mais escura do que seu parceiro, e usava uma espada normal, o que a fez deduzir ser de outra parte de Essos.

Estavam-na deixando nas mãos daquelas pessoas nojentas, apenas para que não pudesse se comunicar com ninguém. Muito provavelmente aquela era uma ideia de Daenerys, não de Sansa.

Ela realmente temia tanto Margaery? Sansa não teria lhe contado de que fora ela quem tirou Margaery da Fortaleza Vermelha? Ou apenas estava cautelosa? Afinal, mesmo que Margaery não tivesse sequer pensado em sua segunda fuga, já tentara antes. E certamente Daenerys sabia dos pensamentos de Margaery a respeito dela.

Sim, Daenerys não iria lhe dar paz alguma. De certo vai tentar casar-lhe, mas com quem? Só podia rezar para que não fosse com um estrangeiro qualquer.

Isto é, se Daenerys não resolvesse matá-la…

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Arya estava vendo os tonéis de cerveja que havia nas cozinhas de Harrenhal. Deu uma fungada, e fez uma careta, e Gendry pensou que ela parecia uma loba farejando algo que não gostava.

— Está amarga — declarou a princesa para os serviçais. — Teremos de jogar estes dois fora, mas ainda temos cerveja boa o bastante. Podemos tentar fermentar mais um pouco, mais tarde.

— Posso falar a sós com você? — indagou Gendry, cruzando os braços.

Arya assentiu e eles se afastaram dos servos.

— Crê que Daenerys fará mal a Margaery?

Arya deu de ombros.

— Dificilmente, mas e daí? — Ao falar aquilo, seu amante franziu o cenho, enrugando o rosto, parecendo mais velho e ranzinza.

Sor Gendry parecia mais velho, com vincos na testa, e uma longa linha de expressão que se recusava a sumir por cima dos olhos. Sim, ele parecia velho, apesar de ainda não ter nem trinta: o cabelo estava com a raíz branca, os olhos exibiam rusgas e barba que voltava a crescer estava com fios de prata. A cicatriz em seu rosto era o pior, deixando-o com um aspecto quase assustador.

Arya franziu o cenho diante da expressão do rosto do amante.

— O quê?

— Você e eu quase morremos para tirar ela da rainha! Vai deixar…?

— Não creio que Daenerys vá arriscar matar Margaery — interrompeu-o, cansada só pensar nesse assunto leviano. — Ela ainda tem um bom sobrenome.

— E desde quando Daenerys se importou com algo assim?

Arya fez um muxoxo, irritada pela forma como Gendry não controlava a língua para falar da Rainha Dragão. Como ele poderia ser tão estúpido? Mesmo um idiota como Sor Gendry deveria ter mais bom senso.

— Margaery é a herdeira de Highgarden — lembrou-lhe. — Caso Willas morra sem filhos… — Deixou o resto por dizer.

Sor Gendry levantou uma sobrancelha grossa.

— E ela deixaria uma mulher que a odeia ter um reino inteiro nas suas mãos? — indagou, cético.

— Se a mulher for esperta o bastante para não ir contra três dragões, quem sabe? De qualquer forma, o certo talvez seja casarem-na com alguém que nos apoia.

— E você tem ideia de quem poderia ser?

Ela fez que não com a cabeça.

— E nem liga para o assunto? O homem pode ser um velho de quarenta, e pode machucá-la e…

Arya sorriu. Um sorriso cintilante que fez Sor Gendry arregalar os olhos azuis, surpreso com a reação.

— Acha isso engraçado, Arya? — perguntou, voltando a franzir o cenho.

Ao ouvir aquilo, Arya ficou confusa e abanou a cabeça. O sorriso morreu. Voltou a olhar para o amante.

— Não, não… Claro que não. Olha, Gendry, nos vemos no salão, onde será a audiência para ver Margaery e os outros prisioneiros.

Apesar de estranhar a atitude da amante, Sor Gendry assentiu. Ela andava esquisita ultimamente, mas devia ser apenas o cansaço.

— Certo, certo. — Beijou-lhe a nuca. — Te vejo logo, princesa.

Arya assentiu, cansada. Precisava dormir, mas não tinha coragem: andava tendo pesadelos horríveis, e eles só pioraram nos últimos tempos. Teria de tomar sonodoce, para evitar os sonhos.

 

X I X I X I X I X I X I X I X I X I X I X I X I X I X I X I X

 

— É bom revê-la, princesa — Edmure saudou sua sobrinha, ajoelhou-se, pegando em sua mão e beijando-a.

— Igualmente, meu tio — disse Sansa, que voltou a usar culottes de montar, cavalgando como uma verdadeira nortenha. — Meus pêsames pelo vosso tio. — Disse.

Edmure assentiu e sorriu, mas ela pôde perceber a dor em seus olhos azuis. Sor Brynden era a última lembrança de sua antiga família, ela sabia, e fora uma fiel companheiro de longa data.

Edmure foi até a liteira de onde Sansa havia saído, e ajudou a esposa, Roslin, a descer. A jovem mulher estava imensa de grávida, com uns bons seis meses de grávidez, e tomava cuidado para não cair.

Sansa ouviu uma algazarra começar, e ela e o tio se viraram, surpresos, para a direção do barulho. A princesa achou que deveria ser mais alguma briga com os selvagens, mas logo viu o que realmente era: seu marido.

Sor Harrold, cujo corpo estava coberto de sujeira, com várias áreas escurecidas por crostas duras e secas. A barba e o cabelo estavam grandes, desgrenhados, e o louro até estava escondido pela sujeira.

Se não soubesse quem era, Sansa nunca o teria reconhecido de vista. Observava, quieta, enquanto Harry era puxado pelos grilhões, e homens e mulheres jogavam pedras e dejetos nele, xingando-o.

Não fez nada para ajudá-lo.

Quando outra grande liteira se aproximou, viu que era a de Margaery, acompanhada pelos soldados de Essos — os quais Daenerys escolheu para fazer-lhe vigia, assim que soube que Margaery estava indo do Vale para o Tridente.

Virou-se, vendo que todos os seus companheiros estavam postos ao seu lado, Sansa disse:

— Vamos para dentro, eu…

— Cuidado! — Hos exclamou, apontando para trás de Sansa, que virou-se, enquanto era empurrada para o lado, por sua guarda pessoal, Lady Alys, que bloqueava uma figura alta e cinza que se aproximava da princesa, e apontou para o estranho com a lâmina de seu machado de guerra.

Sansa sentiu a mão de seu tio, coberta por uma luva de couro, agarrar o seu ombro e levá-la para trás dele. Suas damas pareceram querer ficar na frente dela também, com medo da proximidade do estranho; todas, porém, foram afastadas por Alleras, que também se colocou na frente da princesa, que estava atordoada pela confusão.

Daenerys realmente tentaria me matar tão descaradamente?, se perguntou, duvidando daquilo. Tentou olhar para a figura além do Esfinge a sua frente.

— Quem é você? — indagou Lady Alys, apontando para o Estranho com o machado. — Afaste-se da princesa.

Sem responder, a figura alta e cinza se ajoelhou, sem temer o machado.

— Eu vim de longe para revê-la… — Sua voz era um raspar de aço e pedra.

Sansa tremeu. Reconhecia aquela voz. Aproximou-se do ouvido de Alleras e sussurrou:

— Pode abaixar a faca — disse-lhe.

O rapagão virou um pouco o rosto e a olhou de esguelha.

— Hum? — Então, olhando para a adaga que tirara da manga, entendeu o que ela lhe dizia, e voltou a olhar a princesa, dando-lhe um sorriso caloroso. — Ah, perdão princesa, acostumei-me a esconder alguns segredos. De certo, poderá entender-me.

Sansa assentiu. Voltou a olhar para frente.

— Deixai-o passar, Lady Alys.

A mulher a olhou de soslaio, chocada com o que havia acabado de ouvir.

— Princesa, está louca? Este homem…

— Afaste-se. — Sabia que aquele homem nunca a machucaria (ou, pelo menos, que não a mataria).

A contragosto, Alys fez o que lhe era mandado. O homem encapuzado, porém, continuou ajoelhado.

Sansa fez um aceno e Alleras e as damas de companhia, embora temerosos, deixaram-na passar.

— Eu soube que vinha para o Tridente, mas não pude achá-la em Correrrio, mas consegui lhe achar aqui…

Sansa sorriu.

— Erguei-vos, Sandor.

Quando Sansa disse seu nome, todos pareceram se assustar. Mas quando Sandor Clegane ficou em pé, todos ficaram ainda mais assustados.

Sandor era muito maior do que Alys Mormont, e maior ainda do que Tormund, ou qualquer cavaleiro.

— Passarinho — Ele disse, após retirar o capuz cinzento, revelando seu rosto cheio de cicatrizes —, senti sua falta.

— O Cão… — murmurou Alleras, chocado com a altura do homem.

Sansa sorriu novamente.

— Olá, meu velho cão de guarda. Também senti sua falta.

 

X O X O X O X O X O X O X O X X O X O X O X

 

Margaery não teve muito tempo para se arrumar; levaram-na para um aposento numa das imensas torres de Harrenhal, e ela teve de ficar andando por um longo pátio, galeria e escadas durante um bom tempo, enquanto os grilhões lhe machucavam a carne. Após chegar, apenas lhe tiraram as correntes e enfiaram um vestido por cima de sua cabeça, como se a enfiassem em um saco e a acorrentaram de novo.

Após isso, teve de descer tudo de novo e percorrer todo o imenso caminho de volta.

Harrenhal era mais parecido com uma cidadela do que um castelo propriamente dito. Era capaz de aguentar o dobro da corte de Porto Real, se não o triplo dela. Seus músculos estavam a doer de tanto andar para lá e pra cá, mas os seus algozes não se importavam.

Daenerys apenas queria mostrar seu poder para Margaery; mas aquela se esquecia de que, por mais que fosse dona do castelo atual, ela não fora sua construtora, nem ninguém de sua família.

Mas, após ver como as torres eram disformes, Margaery lembrou-se de quem havia as deixado assim: Aegon I Targaryen, o homem que conquistou e uniu os 7 reinos, e queimou aquelas torres com o poder de seu dragão.

Um calafrio percorreu a espinha de Margaery e sua coragem esvaiu-se cada vez mais.

Harrenhal era tão gigantesco, que praticamente todos os exércitos cabiam nele: os guerreiros do Povo Livre, do Reino do Norte, do Tridente, do Vale, das Terras da Tempestade, dos diversos guerreiros que Daenerys trouxe consigo além do Mar Estreito. Todos eles haviam conseguido algum espaço naquela imensa fortaleza de aspecto negrume. Sim, e ainda havia espaço para as suas montarias e armamento, assim como para os lordes e ladies, e seus familiares e as centenas de meistres que traziam.

Era surpreendente que o próprio Aegon, o conquistador, não tenha tomado aquele castelo para si e o usado para formar toda a sua corte. Sim, aquele seria um lugar excelente para para um rei e sua corte.

Margaery se viu perguntando se a mente cruel de Daenerys planejava ficar por lá. Se ela pensava nisso, temia pelo povo da Capital.

 

 

Quando finalmente chegou ao Salão das Mil Lareiras (um nome tolo, pois claramente não havia mil lareiras ali, embora olhos desatentos fossem facilmente enganados), viu Daenerys e um homem ao seu lado, com uma coroa de espadas, e Margaery sabia que esse só poderia ser o irmão de Sansa.

Não fosse a coroa e a notícia do casamento entre a Rainha Dragão e o Rei do Norte, Margaery nunca poderia ter deduzido que aquele homem era o irmão da princesa Sansa: seus cabelos estavam totalmente grisalhos, e havia um olho faltando (tendo uma pedra de obsidiana no lugar), e um único olho vermelho. Sua pele era assustadoramente pálida, os lábios eram machucados, e havia cicatrizes no rosto.

Mais fácil seria deduzir que aquele no trono era um Targaryen do que um Stark.

Daenerys, tal qual o seu consorte, usava preto, com um dragão cozido no peitilho. Sua coroa era muito mais rica e grandiosa do que a de seu consorte, tendo jóias preciosas para formar a cabeça de cada um de seus dragões. Seu cabelo prateado estava trançado com faixas escarlates e sinos de prata.

O Rei Stannis estava ao lado da Rainha Dragão, mas de pé. Parecia cansado, mas ainda firme e com um olhar duro. Seus ombros estavam caídos e havia sombras em seus olhos — e uma alta sacerdotisa ao seu lado.

Margaery nunca vira aqueles dois, mas os conhecia bem. Ah, sim, ela sabia que tipo de pessoas eles eram…

Sansa não se encontrava longe de seu irmão e rei, estando em um banco ao lado de seu cadeirão. Ladeada por dois soldados: uma nortenha — cujo urso preto fez Margaery perceber que era uma Mormont — com um machado de guerra, e um imenso homem imenso de alto.

Quando Margaery viu as cicatrizes no rosto do homem, que tinha metade do rosto queimado, se surpreendeu por constatar que aquele deveria ser Sandor Clegane.

Que fazia ele ali? Aquele homem era acusado de iniciar um caos no Tridente após desertar de seus serviços com o falecido Joffrey. Teria Ysilla escondido isso dela? Ou o homem chegara após a chegada de Margaery em Correrrio? Sabia que ele não estava em Correrrio; não o vira por lá, e Sansa não teria motivos para o esconder…

Os reinos ficaram loucos, pensou, nada mais faz sentido algum!

Ah, mas sem dúvidas, o mais interessante do séquito da princesa era o rapagão atrás dela: alto, esguio, escuto, com cabelos e olhos escuros, de olhar feminino e com elos de diversos metais no pescoço.

O Esfinge.

Margaery sabia bastante sobre este esfinge. Na primeira vez que o vira, apesar de curiosa, não deu tanta atenção para aquele belo rapagão de pele marrom. Nem sequer havia ouvido falar dele durante a maior parte da sua prisão.

Mas Ysilla acabou falando do belo e novo companheiro de Sansa. Ah, sim, ela estava bem irritada da última vez que se viram.

— Aposto que são amantes! — disse Ysilla, de modo apressado. Estivera irritada e com a voz nervosa e chorosa naquele dia. Voltara pouco depois de ter partido. — Ele esteve no quarto dela ontem à noite, acredita? Um despudor sem tamanho!

Margaery assentiu.

— Eu imagino — respondeu, deixando-a continuar.

— Oh, ela é tão malvada! — escarneceu Ysilla. — Eu supliquei para que ela afastasse o meu marido daquela potranca fedida e ela simplesmente disse-me que nada poderia fazer para impedir o caso deles! Imagine só!

Margaery se perguntou em que ponto sua vida havia chegado para que os problemas de Ysilla parecessem pequenos em comparação aos problemas dela e de todas as outras mulheres de Westeros. Em outros momentos ser trocada por uma bastarda de forma tão descarada seria uma afronta sem tamanho, mas, quando se comparado a todo o caos que permeia os sete reinos — algumas esposas, por exemplo, poderiam até ficar gratas por não estarem perto do marido.

De todo o modo, foi bom que Sansa tivesse lavado as mãos quanto aos problemas de Ysilla. A pobre coitada fora traída, e isso, para uma nobre de uma casa tão antiga e honrada como os Royce, era pior do que uma facada.

Sim, Margaery tinha muito a agradecer aos deslizes da princesa. Havia entregado algo que, no futuro, poderia ser bem útil.

Quando Margaery atravessou a soleira imensa do salão — que maior que do que qualquer outro salão que ela já vira em toda a sua vida —, um murmúrio intenso tomava conta do local. Todos os lordes e ladies falavam uns com os outros.

O descomunal salão era capaz de ter uma quantidade absurda de pessoas, e suas imensas lareiras eram capazes de aquecê-los. Diversas velas e tochas foram colocadas para iluminar o escuro e imenso salão.

Ao ver Margaery, o rosto de Daenerys se endureceu. Ela acenou para o intendente real, alguém de Essos do qual Margaery não fazia ideia do nome, e este bateu o bastão no chão, enquanto anunciava o começo da sessão. Todos ficaram atentos, calando-se.

O arquimeistre, que estava um pouco à frente do cadeirão onde Daenerys estava sentada, desenrolou um pergaminho e começou a lê-lo.

— O primeiro a ser visto, é o enviado do Banco de Ferro, Tychos Nestoris.

Eles vão me fazer esperar muito tempo? Seu membros estavam quase cedendo, não suportando os apertos das correntes e a longa caminhada que dera.

Um bravosiano vestindo púrpura e com chapéu esquisito foi para o centro do salão, de frente aos três monarcas. Sua simples aparição foi o bastante para deixar a princesa Sansa nervosa, de um modo simples. (Ou era o que parecia aos olhos destreinados; aqueles bem mais atentos iriam facilmente que aquele homem fora uma verdadeiro terror para a princesa, pois ela simplesmente estava tão nervosa, mas tão nervosa, que fora incapaz de esconder totalmente seu desagrado para com o bravosiano, e perceberiam que ela estava muito mais atemorizada do que parecia).

— Seja bem-vindo, Senhor Tychos — disse o Rei do Norte. — Eu e meus companheiros estamos à par de sua…

— Hmm, grandes companheiros estes, Majestade — o Bravosi o cortou, olhando torto para Daenerys. — De qualquer forma, eu gostaria de saber se, já estando à par de tudo, como irá pagar as suas contas com o Banco de Ferro?

Ao falar aquilo, com cólera perceptível na voz aguda e de sotaque forte, Sansa pareceu ficar mais tensa ainda. Margaery ficou chocada com aquilo: a Stark estava simplesmente apavorada com um banqueiro, mais do que estava com a Rainha Dragão.

Vendo a perturbação na princesa, Alleras abaixou um pouco a cabeça na direção dela. Sansa virou um pouco a cabeça e a ergueu um pouco, para ouvir as palavras do rapagão. Após ouvir, ela assentiu e ambos se afastaram. 

— Temos um bom ouro vindo de Correrrio — Daenerys respondeu, prontamente. — Temos alguns ourives que irão analisar…

— O Banco de Ferro tem os próprios Ourives — interrompeu o enviado. — E, como a própria princesa Sansa e seus duzentos meistres já devem ter lhes dito, o valor não atinge o total necessário.

Alguns olhos caíram em Sansa. Esta fez o que pôde para não se abalar, mas era óbvio que estava desconfortável com aquilo.

— Temos mais a oferecer agora — garantiu Jon. — Os espólios dos Homens de Ferro…

— Dúvido que seja grande coisa, mas vou verificar. — O bravosi parecia extremamente irritado com as respostas. — Mas a dívida há de aumentar até esta guerra acabar! — Avisou-lhes.

— Existe ouro na Capital… — lembrou-lhe Daenerys.

—... e não aqui.

Stannis grunhiu.

— Talvez, se você e seus bando de sanguessugas esperassem a guerra ter algum fim, nós conseguimos lhe pagar!

O bravosi não se abalou.

— E quem sequer garante que vocês sequer vão terminar esta guerra logo? Hein? Vocês estavam se matando até o momento, e pedindo mais e mais empréstimos! Agora, até se uniram com o inimigo!

Margaery olhou para Daenerys. Ela parecia conseguir esconder bem qualquer emoção, mas era óbvio que havia entendido a sua menção indireta naquela frase.

— E agora — continuava Tychos —, ao que fui informado, não pretendem ir ao Sul tão cedo! Como ousam pedir mais ouro e recursos, se nem sequer pretendem continuar esta guerra?

Um clamor começou no salão, todos ficaram irritados com as palavras do banqueiro.

— Lorde Tychos — Sansa começou a falar, tentando acalmar a todos —, se ao menos pudéssemos…

— Eu irei ver o quanto vocês obtiveram com os espólios dos invasores — avisou o homem. — E verei o quanto isto irá ajudar a pagar a dívida. Mas já vou lhes avisando, vossas majestades: o Banco de Ferro não lhes dará mais nada até que toda a dívida seja paga! E tenho dito!

Os lordes e cavaleiros rogaram pragas para o Bravosiano, insultando-o de todos os nomes possíveis. Este, porém, não pareceu ouvir e saiu de forma calma e impassível do salão.

Ele nunca abandonará esta causa, deduziu Margaery, Daenerys praticamente garante a vitória. Então pensou: se ao menos eu pudesse quebrar essa aliança…

Mas não poderia fazer nada. Estava sem aliados fortes nesta nova e estranha corte, totalmente homogênea entre todos dentro dela.

Estava incapacitada, novamente.

Um longo lenga-lenga começou a tomar conta do enorme salão iluminado. O intendente real voltou a bater o bastão, dessa vez, acompanhado pelo arquimeistre Marwyn, que bateu seu cajado valiriano no chão.

Demorou um tempo, mas logo todos voltaram a se acalmar. Marwyn voltou a ler seu pergaminho.

Por um bom tempo, um lenga-lenga sem fim de honrarias e terras concedidas foi feito, deixando Margaery ainda mais cansada e dolorida. Neste meio tempo, tentou achar Ysilla entre os nobres do salão, mas não conseguiu. Não fazia mal, pois não conversariam nesse momento, de qualquer forma.

Enquanto Margaery suspirava, cansada, com um intenso comichão pelo corpo, os nomes iam e vinham, até que finalmente chamaram Lorde Harrold.

— Tragam o prisioneiro, Lorde Harrold Arryn, para diante dos reis! — bradou Marwyn, fazendo outra algazarra se estender pelo salão.

Lorde Harrold fora limpado de toda a sujeira que havia acumulado durante seu aprisionamento de quase um ano. Ainda assim, seus cabelos estavam desgrenhados, estava vários quilos mais magros, com até as bochechas estando chupadas, e com sombras profundas por baixo dos olhos. Os olhos pareciam anuviados, cansados.

O rei deposto usava um gibão azul qualquer e calções marrons. O vestuário estava grande nele, pois havia emagrecido muito.

Conforme era puxado pelos grilhões de forma, quando os soldados o largaram no centro do pátio, Harry tropeçou e caiu de joelhos no chão de ardósia. Homens demoraram-se para acalmarem os ânimos e deixá-lo falar.

Margaery olhou para Sansa. A princesa nortenha dirigia um olhar frio para o marido, não deixando nenhuma emoção perceptível no rosto. 

— Lorde Arryn — disse o Rei Jon —, tens causado um grande problema para os reinos pelo que ouvi de você.

A voz de Harrold estava tão embargada, que Margaery quase não o ouviu quando ele respondeu o cunhado coroado:

— Fiz o que fiz achando ser o melhor… — Margaery não conseguiu ouvir mais nada, se é que ele continuou a falar, pois os lordes voltaram a gritar e bradar pragas horríveis para Harrold, abafando-lhe qualquer que fossem as palavras ditas.

O Rei do Norte levantou uma mão, pedindo silêncio, e uns bons minutos passaram-se até que os lordes o deixassem continuar.

Jon Snow — agora Stark, corrigiu-se Margaery —, olhou para o cunhado de forma dura. Seu olho vermelho parecia uma bolsa de sangue fulgente, e o olho negro, feito de obsidiana, o encaravam de forma dura e cruél, mas a expressão do próprio Rei parecia calma, meditando, esquadrinhando o homem que estava de joelhos ao seus pés.

Todos pareceram segurar a respiração, esperando pela resposta do Rei do Norte.

— Pelo que soube — falou o rei, quebrando o silêncio, numa voz baixa, que fez com que ninguém ousasse falar para que não o abafarem —, vós se defendei com o argumento de que foi lorde Petyr quem o convencestes a fazer aqueles impostos imbecis sobre a plebe e os comerciantes?

Harrold aquiesceu, movendo a cabeça loura de forma agitada, fazendo os elos das correntes tilintar.

— E você achou mesmo que tal estapafúrdia iria, de fato, funcionar? — indagou o Rei Stannis, quebrando seu silêncio. Sua voz era calma, mas dura. — Sua burrice, por si só, já seria um motivo para fazer a sua cabeça saltar para fora do corpo, tal qual foi com Theon Greyjoy.

Margaery queria ter visto a expressão no rosto de Harrold após tal ameaça. Mas apenas viu ele abaixar a cabeça e dizer que “parecia uma boa ideia na hora”.

O Rei Jon, mais uma vez, parou para olhar Harrold e meditar sobre a situação.

— Teria alguma carta como prova? — o rei indagou, no que Harrold respondeu com um chacoalhar negativo da cabeça, fazendo-o suspirar. — Imaginei. Bem, Lorde Hardying — a menção ao antigo sobrenome do rei deposto fez alguns homens gargalharem —, temo que a sua posição seja péssima, e nada me agradaria mais a mim do que livrar a minha irmã de ter-te como um fardo.

Margaery observou a reação de Sansa. Esta pareceu se encolher um pouco, provavelmente envergonhada pela fala protetiva do irmão, apesar de alguns homens terem rido do comentário do monarca.

— Infelizmente — continuou Jon —, Petyr ainda não foi encontrado para julgamento, e, por mais que não ache tão necessário, creio que caso viva até lá, seu testemunho poderia ser importante para o julgamento, Lorde Hardying.

Alguns homens ficaram desapontados ao ouvir aquilo, começa um pequeno murmúrio. Jon, porém, não se abalou.

— E, além disso, ainda existe a questão sobre a sucessão de seu rei — pontuou o monarca. — Você não tem filhos legítimos, e vários podem traçar a linhagem até os Arryn, devo lembrar a todos aqui. — Concluiu: — Por isso, meus lordes, peço a todos que façam suas petições, e terão ajudas dos meistres para traçarem as suas linhagens, e eu e meus irmãos monarcas iremos ler e analisar cada uma delas.

Os lordes, que antes pareciam irritados, ficaram brandos, analisando as palavras ditas pelo rei, vendo que agora poderiam obter o Ninho da Águia e todo o Vale para si. Sim, era uma boa barganha para convencê-los a esperar pela morte de Harrold.

Jon fez um gesto com a mão enluvada, e Harrold foi pego pelos ombros e arrastado para longe.

— POR FAVOR, VOSSAS GRAÇAS — berrou ele, enquanto o tiravam do local, à força. — ME MATEM! NÃO ME DEIXEM COM OS FANTASMAS! SANSA! EU SOU SEU MARIDO, DIGA-LHES PARA QUE ME LIBERTEM, SANSAAAAAAA!

Quando Harrold saiu do local, um silêncio pesado se instaurou no salão. Muitos olharam para a princesa Sansa, vendo um rosto que estava pálido por pó branco — provavelmente, deduziu Margaery, ela passou o pó para esconder os rubores que teria com a situação do marido.

— Até que a questão do Vale seja resolvida — declarou o Rei Jon —, minha irmã, a princesa Sansa, estará encarregada de resolver qualquer situação do reino.

Os lordes apenas acenaram em concordância com a declaração do rei. Margaery imaginou que estavam acostumados com a esposa de Harrold tomando conta do castelo — e que preferiam ela a Myranda, imaginava. 

Voltando a desenrolar o pergaminho, meistre Marwyn disse:

— Lorde Albar Royce e Lady Margaery Tyrell.

Era agora.

Margaery sentiu-se travada. Não conseguiu se mexer. Toda a sua pompa pareceu se esvair assim que ouviu o seu nome.

Quando deu por si, sentia uma dor nos pulsos. Estava sendo puxada pelos grilhões, e nem havia notado. Logo, se viu de joelhos, em frente a Rainha Dragão. Albar Royce estava ao seu lado, também de joelhos, mas ela tentou evitar olhá-lo.

Daenerys a olhava de forma impassível e dura. Seus olhos violetas ardiam num púrpura forte. Seu rosto era perfeitamente simétrico, inumano, numa beleza valiriana que apenas ela tinha.

— Olá, Margaery — disse ela, de forma fria —, soube que andou aprontando enquanto esteve fora de minha vista. — Sorriu para ela, fazendo o sangue de Margaery gelar.


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