Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 38
Batalha de sangue




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Havia chegado a hora de expurgar o mal do reino.

Dany voava, de forma moderadamente baixa em comparação aos seus voos padrões, sobre as terras devastadas do Tridente. O exército de Jon estava abaixo dela, com os cavalos, enormes cabras chifrudas, e imensos e peludos mamutes, criando sulcos profundos no terreno onde pisavam, juntando terra e neve numa camada de lama grossa e clara.

Drogon protegia Daenerys do frio do inverno de quase dez anos. A neve derretia antes de chegar em sua pele, e, apenas em raros casos, ela sentia pingos de água contra o seu corpo. O bater de asas coriáceas de Drogon era contínuo, parecendo um estalo de chicote, ou trovoadas, ribombando nos ouvidos de Dany.

Não havia inimigos ao longo do caminho para Harrenhal, ao contrário do que haviam imaginado. Apenas neve e morte; o cenário branco e cinza de uma terra devastada pela guerra. Não haviam pessoas vivas, apenas cadáveres pobres e congelados que jaziam, há muito tempo sem vida, no chão e nos galhos de árvores mortas.

Dany se perguntou: algum dia aquelas terras iriam se recuperar?

Enquanto cavalgava, Edmure não pode deixar de notar os detalhes cruéis da atual paisagem em que estava.

Estas são minhas terras, pensou, sem acreditar que os deuses haviam deixado tudo chegar naquele ponto: vilas destruídas, pessoas mortas, plantações devastadas, e um frio tão gelado que ardia na pele. E então pensou: Estas serão as terras de meu filho; preciso salvá-las, para que ele tenha o que reinar.

Sempre que passava por árvores, onde podia-se ver cadáveres dependurados nos galhos, enforcados por cordas apodrecidas, Edmure sentia um calafrio sombrio.

Os cadáveres o lembravam de sua irmã.

Ah, Cat… Se você soubesse que seus filhos estão vivos, estaria feliz? Ou estaria em prantos? Você sequer seria capaz de reconhecê-los?

O lorde do Tridente se viu perguntando se Catelyn estaria, de alguma forma, viva, e olhando para os seus filhos. Ou então, o pai deles, ou mesmo Lysa…

Tantos se foram, ele refletiu, tenho apenas meu tio, e, logo, ele também irá partir.

Peixe Negro cavalgava ao lado de seu sobrinho. O tempo havia sido cruel com ele: estava com os olhos esbaçados, e os cabelos grisalhos estavam curtos e quebrados, e havia diversas rugas de expressão em seu rosto cansado. Os ombros estavam caídos, assim como a corcunda. Sim, Brynden Tully era um homem velho e cansado, e vivera mais do que a maioria dos que amava.

Talvez aquela fosse a sua última batalha.

Pouco a frente de Edmure, liderando o exército, estava Jon, o Rei do Norte, cavalgando um cavalo de guerra negro, a trote largo. Seus cabelos e sua pele se misturavam com a neve, contrastando com as vestes e a armadura escura que envergava. Ao seu lado, seu fiel e imenso lobo gigante, branco como a neve, quase tão grande quanto um cavalo. Seus movimentos eram rápidos e leves, sem qualquer barulho.

A princesa guerreira, Val, cavalgando de forma altiva ao lado de Jon, tão branca quanto o lobo deste, indagou:

— Ainda estamos muito longe?

Jon, sem se virar para encará-la, respondeu:

— Estamos retardados pela neve, mas, de qualquer forma, não sei se será possível ver Harrenhal à distância; apesar de enorme, o mourejo de neve atrapalha a visão. — Ergueu o único olho bom e vermelho, olhando para o céu, fitando o Wyvern negrume no céu escurecido. — Dependeremos de Daenerys.

Edmure avançou o cavalo, chegando perto de Cetim, e se aproximando do Rei do Norte.

— Harrenhal é enorme, majestade — falou o Lorde do Tridente. — É capaz que vejamos a imensa fortaleza a muitos quilômetros.

Val arqueou uma sobrancelha loira.

— Qual o tamanho desta fortaleza? — indagou ela. — Falam como se fosse a maior…

— Harrenhal faria Winterfell parecer uma casa de bonecas — explicou Jon. — Pode não ser a Muralha, mas, pelo que ouvi, deixaria a maioria das construções gigantescas parecendo brinquedos.

Edmure anuiu.

— E é mesmo. Acredite, é avassalador de tão grande.

A princesa selvagem assentiu, embora sua expressão mostrasse que ela não levava fé em suas palavras.

 

Conforma aproximavam-se, ainda que a quilômetros de Harrenhal, e com neve densa na vista, foi possível ver um esgar de suas imensas torres negras e fundidas, como garras retorcidas e quadradas, rasgando as brumas frias e densas do inverno.

— Pelos deuses… — Val falou, estupefata que existisse algum castelo como aquele; quando viu as construções sulistas, achava que todas eram minúsculas demais perto da muralha.

Aquele castelo podia não chegar perto da construção de gelo que impedia os selvagens e os Outros de atravessarem, mas, ainda assim, ela podia imaginar que devia ser imensa para ser vista de tão longe.

— Harrenhal — disse Edmure, olhando para o castelo em que fora prisioneiro. Fitava as imensas torres aparecendo de longe pelos seus olhos, sabendo que elas aumentariam de tamanho conforme cavalgassem.

Harrenhal tivera a construção ordenada pelos homens de ferro, mas feita com argamassa e o sangue de pessoas dos rios. Lá, Haren, o Negro, morrera queimado pelo dragão de Aegon I, o conquistador, junto de todos os seus filhos. Seu próprio sangue e ossos estavam fundidos naquelas pedras.

Desde então, grandes e pequenas linhagens tomaram conta da imensa fortaleza, e todas caíram ante perigos obscuros.

Toda a linhagem que tomava conta daquele castelo, estava amaldiçoada, as histórias diziam.

Edmure pensou: As lendas bem podem ser verdadeiras; as canções são reais agora, e mais sombrias do que imaginamos.

Daenerys havia visto o castelo antes de todos, pois sua (literal) alta posição, permitiu-lhe ter uma visão ampla do terreno. Graças a ela e seu filho, o caminho de neve conseguia ser resolvido, pois ela passava um pouco da chama negra e rubra de Drogon pela paisagem, derretendo a neve grossa.

Dany sabia que os lordes do Tridente não ficariam contentes por ter suas terras queimadas, mas que se danassem: ela estava queimando uma terra morta, que em nada ajudava e em tudo atrapalhava. Se Edmure e seus lordes reclamassem disso, que assim o fizessem.

Dany não podia ver o exército de Sor Jorah e Stannis, mas sabia que eles não deviam estar muito longe — ou assim esperava, pois, enquanto estivessem lutando contra seu inimigo azul, a chegada de outros exércitos seria útil para amedrontar (e, quem sabe, até matar) os rivais no campo.

Claro, Euron deveria saber disso muito bem, sabendo que o ataque estava indo até ele.

Precisavam matar ele, sim; mas Dany sabia que aquela luta teria um preço de sangue e fogo que ela temia não estar disposta a pagar.

Devia fazer o que fosse necessário.

Pelo bem do reino!

As torres de Harrenhal cresciam conforme o exército se aproximava. Muitos lordes se sentiram nervosos conforme se aproximavam novamente da antiga fortaleza de Harren; a memória cruel das terríveis atitudes de Harrold ainda estava cravada em suas mentes, deixando-as anuviadas, livres de qualquer outro pensamento que não fosse aquela memória sórdida de quase um ano atrás.

Foi então que as armadilhas surgiram.

Claro, os nortenhos conheciam as armadilhas que a neve podia encobrir; isto, porém, não impediu o velho lorde Rodrik Ryswell de cair num buraco de neve falsa com seu cavalo, e ambos acabaram empalados por estacas de madeira.

Aquela morte foi apenas o começo, pois outros viriam a cair em tais buracos — por sorte, poucos morreram, visto que a maior parte das armadilhas estava exposta (ou, mais precisamente, queimadas), graças ao fogo de Daenerys durante a maior parte do percurso.

A tensão era cada vez maior em todo o exército. Todos aguardavam, com medo, não do exército em terra, ou de temíveis dracares que podiam ser usados, mas dos céus nublados, de onde logo poderia surgir um imenso Wyvern de fogo. Os lordes e guerreiros que haviam sobrevivido ao primeiro ataque ainda podiam se lembrar da mistura de horror e maravilhamento que sentiram ao ver o Dragão irrompendo o silêncio daquela manhã fria, queimando as pessoas, os animais e os alimentos como se não fossem nada.

Era uma memória brutal, cruel e, acima de tudo, que enchia as mentes dos guerreiros de medo quase incapacitante.

 — Tem a certeza de que o Lorde do Gargalo vai conseguir nos ajudar contra a frota, meu rei? — indagou Cetim. — O Tridente da Água Negra está congelado, e imagino que o olho de Deus também, mas os Homens de Ferro ainda…

— Lorde Howland vai cuidar disso, acredite — Jon o cortou.

— Eu me pergunto — comentou Edmure —: Como os Homens de Ferro passaram pela frota de Porto Real? A corrente do Água Negra…

— Creio que Aegon permitiu que seu bastardo Velaryon tenha feito uma vista grossa quanto aos Dracares invasores — Jon respondeu, ainda olhando para frente, para a imensa fortaleza que era maior do que muitas cidades. Apertos os punhos que seguravam a tira de couro da sela. — Ele deve estar se banqueteando, enquanto nós nos degladiamos.

— Quando tudo isto acabar — falou Edmure, criando nuvens de fumaça branca enquanto falava —, nós iremos para o Sul, mostrar que este falso rei não pode nos ignorar para sempre.

Jon olhou de esguelha para o Lorde Supremo do Tridente, sem falar nada ou mesmo assentir, depois, voltou a olhar para frente com seu olho de sangue.

O rei do Norte sabia que aquilo era apenas o começo. Um começo sangrento, sim, mas ainda assim, era apenas o começo.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Arya havia aprendido muitas coisas em Braavos, mas saber ficar escondida era algo que ela havia aprendido no Tridente, quando precisava esconder quem ela era.

Os túneis antigos que haviam por baixo da terra eram profundos e largos o bastante para suportar um pequeno exército. Arya era baixa, e não sentia que o espaço atrapalhava seus movimentos.

Os olhos de Gendry, Ned e de muitos outros não estavam acostumados a escuridão, de modo que usaram archotes por um tempo, até que a fumaça começou a sufocar os pulmões e a luminosidade fulgente pudesse ser perigosamente reveladora para os inimigos do outro lado.

Agora, com as luzes extintas, os homens que acompanhavam a princesa e os 2 filhos da floresta tiveram de se acostumar com a escuridão. Era um grupo pequeno — Arya, Gendry, Ned, 2 filhos da floresta, e os três irmãos Ryswell: Roger, Rickard e Roose —, perfeito para entrar escondido e, com sorte, despercebido.

O grupo de Howland Reed acabou por se separar, indo atacar os navios dos Homens de Ferro.

O pequeno grupo andava por aquele labirinto de pedras e raízes há dias, e seus pés estavam cansados, assim como seus olhos. Como os suprimentos acabaram, de forma que tinham que tirar um tempo para caçar peixes em águas não congeladas e dar um jeito de esquentá-los. Os pequenos nadadores eram cegos e brancos, cheios de espinha. Inicialmente, houve uma certa relutância de alguns para comê-los, mas logo a fome falou mais alto. 

— Espero que estarmos perto — ralhou Gendry, irritado pelo ambiente. Seus pés estavam doloridos de tanto andar, e o frio ali embaixo era absurdamente intenso. Fora que estava farto de comer peixes cegos que achavam naquelas águas escuras e frias.

— Estejamos, Sor — corrigiu Edric.

— Vai tomar no cu, Ned! — praguejou Gendry, irritado com a resposta. A última palavra obscena se repetiu de forma desavergonhada pela escuridão do ambiente.

— Calados, idiotas — mandou Arya, de testa franzida, andando à frente dos dois, atrás dos dois filhos da Floresta que os guiavam pelo labirinto de pedra e terra.

Ela anda absurdamente irritada, notou Edric. Na verdade, Gendry também estava terrivelmente irritado. Esses dois precisavam resolver seus problemas, pois andavam cada vez mais carrancudos.

Gendry estava com problemas com Arya, isso era óbvio; o que era curioso era o que teria afetado a princesa: desde que Euron aparecera no salão de Correrrio, ela estava distante e perturbada. Seria uma feitiçaria? Ou ela apenas estava apavorada com o poder que o inimigo havia demonstrado?

Edric queria poder resolver os problemas de seus companheiros, mas nem sabia por onde começar. Restava apenas ir com eles para o fim do mundo e rezar ao deuses que tudo ocorresse bem.

— Estamos perto — um filho da floresta disse, virando um pouco a cabeça e dando um vislumbre de seu rosto. Seus olhos dourados brilhavam na escuridão. Voltou-se para frente, ainda andando para dentro do enorme túnel.

 — Arya — Gendry a chamou, botando a mão em seu ombro, mas ela se esquivou e continuou andando.

Encolerizado, o Touro agarrou seu ombro, de forma bruta, e a obrigou a se virar. Arya o olhou, chocada e, depois, enfurecida com a ousadia. A cara de Gendry estava torcida numa expressão feia de raiva. Era ainda mais feio com a cicatriz.

— Que porra deu em você, Arya? — indagou o ferreiro. Os irmãos Ryswell, que estavam logo atrás, se entreolharam e pegaram os cabos das espadas, observando o casal.

— Estamos perto — ela disse. — Temos de invadir o castelo agora, pois está anoitecendo.

— Eu apenas ia dizer para você tomar cuidado — Gendry explicou ainda com raiva palpável. — Mas você parece ansiosa para entrar na boca do predador! Não viu o que aquilo fez em Harrenhal quando estávamos aqui.

— O dragão está longe…

— Ora, que se dane! — o Touro exclamou, cuspindo. — Você viu como Euron era em Correrrio; temos de ter cuidado. Se…

— E desde quando você é bom nisso, imbecil? — ela retorquiu.

Gendry franziu o cenho. Estava preste a falar algo quando um dos filhos da floresta disse:

— Temos de continuar. Parem de perder tempo.

Os dois olharam para frente e, então, um para o outro, fitando os olhos. Ambos estavam de cenho franzido, mas, sem falar nada, voltaram a andar para frente, seguindo as criaturas místicas de Bran.

— Como sabe que o local dará até dentro do castelo? — indagou Edric, sabendo que o eco iria levar sua pergunta até os ouvidos aguçados das criaturas à sua frente. — Harrenhal é um castelo novo, e estes túneis…

— A construção é nova, mas o caminho não — respondeu um dos guias. — Existe uma passagem para o bosque sagrado deles. Nós o fizemos há muito tempo, quando o primeiro rei dragão ainda era vivo, pouco depois deste ter transformado a imensa construção em uma pira.

— O bosque é muito longe… — Arya começou a retrucar.

—...E nós podemos andar bastante, princesa — disse o outro Filho da Floresta de modo ríspido.

— O irmão de Arya sabe o que ocorre aqui? — indagou um dos Ryswell. — Pelo que vi, ele vê tudo.

— Nosso salvador está nesse nível de poder, ou quase — respondeu um dos pequenos guias, de forma vaga. — Olho de Corvo queimou o represeiro para que ninguém visse nada, mas Bran está além dele.

— E Euron não? — indagou Gendry. — Ele, afinal, parecia muito mais poderoso que Bran.

— Euron não foi treinado pelo Corvo de Três Olhos! — um deles exclamou, irritado. — Ele não é O Último Vidente Verde!

— Você fala como se isso realmente significasse algo… — Murmurou Gendry. Havia visto Melisandre usar seus poderes, assim havia visto os poderes de Thoros. Viu também o poder de Euron no salão, bem diante de seus olhos.

Mas nunca viu o irmão de Arya fazer nada daquilo; sim, ele sabia de Euron, mas quem quebrou o seu poder foram os sacerdotes de R’llhor.

Arya não entendia o que seu irmão mais novo estava tramando. Podia ver que ele estava planejando algo, mas não sabia o quê.

Ela suspeitava de Jon há tempos; mesmo que negasse os sinais: ele estava mais pálido, com um olho vermelho de sangue, e escondendo as mãos. (Ela tinha certeza de que as mãos estavam podres.) Além do mais, estava com a percepção boa o bastante para perceber outros sinais: Jon praticamente não comia, e, quando o fazia, era perceptível que era só um fingimento para não perceberem a verdade: ele não precisava mais comer ou beber. Seu corpo estava além disso.

Arya também ouvia o que era dito sobre seu irmão nos acampamentos selvagem: Jon, o messias, o salvador do mundo, o último herói…

Seu irmão estava morto. Podia não ser uma criatura que Catelyn Stark fora, mas ainda não era mais o filho de Ned Stark. Não era mais Jon. Era outra pessoa, outra coisa.

Que ele fosse um bom rei, mas, no fim, Arya sabia que não era mais Jon…

…mas, e Bran? Ele ainda estava vivo? Bem, morto aquele corpo não estava, mas e quanto a mente?

Sansa, pelo menos, ainda parecia a mais comum da matilha. Rickon se fora, mas Arya já estava indiferente demais a ele — aquele bicho selvagem que ele havia se tornado nunca deveria ter saído de Skagos. Era melhor estar morto.

A pergunta era: Bran estava vivo? E, caso Bran estivesse morto, aquele novo Bran, era bom? A resposta poderia ter um resultado sombrio e sangrento.

De qualquer forma, ela estava lá, junto daquelas outras pessoas, Arya estava lá por causa de Bran: ele conseguiu irritar Euron e fazê-lo perder a visão que tinha sobre eles, e ele planejou que a irmã e os outros fossem pelas entranhas do castelo para dentro.

— Euron está agora irritado, isto é certo — dissera Brandon. — Ele fará o que não deve, e você, irmã, pode saciar a vingança contra ele. — Virou-se para a colega, Meera, que deu um passo para frente e tirou uma espada da bainha.

Arya reconheceu o aço esfumado e cheio de dobras assim que o viu: aço valiriano.

Ergueu o olhar para o irmão, abriu a boca, mas, antes que falasse algo, Bran disse:

— A irmã sombria — explicou. — Use-a, irmã. — Sorriu, gentilmente. — Combina com você. Use-a com cuidado.

Arya tocou no cabo da espada, lembrando-se da conversa com o irmão mais novo. Era uma espada longa, geralmente tendo de ser usada por duas mãos, mas, graças à leveza do aço, ela poderia ser empunhada com uma mão só. A lâmina também não era tão grande, sendo útil nas mãos de uma mulher.

Aquela espada havia sido uma das mais importantes espadas de Westeros; lembrada pelos seus infames donos: A rainha Visenya, o Rei Maegor, o príncipe Daemon, entre tantos outros…

Como seu irmão conseguiu aquela espada, ela não sabia, mas iria fazer valer a pena.

O túnel terminava em um ambiente redondo; um tipo de passagem que lava para cima. Para subir, eles tiveram de segurar algumas raízes de árvore.

— Aqui nós chegaremos ao bosque — um dos filhos explicou. — À partir daqui, estamos por conta própria.

Arya assentiu e agarrou às raízes grossas, sujas e pálidas do represeiro e começou a escalar.

Não sentiria medo. O medo corta mais profundamente que uma espada.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Agora o imenso exército estava próximo de Harrenhal. A fortaleza se erguia e parecia que muitas de suas torres estavam prestes a tombar de tão tortas.

Ao lado da imensa fortaleza, estava a Ilha do Olho de Deus. Uma imensa ilha verde, cercada por uma quantidade de água que agora estava congelada. Na ilha, existiam os chifrudos homens verdes, que diziam ter chifres e poderes da natureza. O lago gelado que cobria a ilha estava cheio de dracares, que estavam perto da orla, onde os homens de ferro haviam garantido em quebrar o gelo, para que ainda pudessem ser úteis em alguma possível batalha.

Sabendo que o confronto estava próximo, Daenerys apertou as rédeas de Drogon, respirando fundo e expirando. Logo acharia o seu filho. Um estremecimento percorreu pelo seu corpo. Apenas o ribombar do bater das asas de Drogon era audível para ela.

Foi então que ouviu um outro bater de asas coriáceas, cujo som era capaz de ser confundido por trovões, deixando Dany em alerta.

Antes que pudesse fazer algo, Drogon rugiu, fazendo um som mais parecido com um guincho de dor e, caso Daenerys não estivesse presa por correntes, teria caído, pois seu filho se contorceu de dor, criando um enorme solavanco que quase a jogou para longe.

Um cheiro de carne podre e fumaça acre encheu o ambiente.

Dany virou-se, vendo um brilho intenso e dourado indo até ela. O fulgor fulgente quase a atingiu por completo, queimando uma parte de sua pele. Dany só pode tentar se jogar para trás, mas foi impedida de fazer um movimento completo pelas correntes. Por sorte, o fogo não a atingiu por completo, mas ela sentiu uma parte de sua carne arder. Fez um som de dor abafado.

Seus olhos, lacrimejando pelas fumaça, piscaram forte e compulsivamente, expulsando as lágrimas. Quando conseguiu ver o que estava a sua frente, viu Viserion. Ele estava cravando seus dentes negros na carne preta de Drogon, fazendo sangue vermelho ser expelido. Seus dentes estavam agarrando a causa de seu irmão, como se estivesse tentando agarrar uma imensa cobra que não parava de se debater.

Montada em Viserion, estava uma mulher alta, loiro-prateada, e com olhos violeta, tão escuros que pareciam ser negros. Ela olhava para Dany com um certo ódio no olhar, mas havia um sorriso cruel em seus olhos. No lugar de um vestido, a mulher usava uma armadura branca como a neve, que combinava perfeitamente com sua pele e seus cabelos. Ela não usava uma cela normal, estando presa ao Wyrn por imensas correntes de ferro, que amarravam suas pernas e cinturas ao pescoço branco e dourado de Viserion.

Malora Hightower.

Aquela mulher iria sofrer por aquilo, Dany prometeu a si mesma.

Uma tira de couro estava presa a seu ombro, onde um berrante pequeno e velho ficava; mas o que realmente importava era o imenso berrante preso ao corpo de Viserion, feito de chifre de dragão, aço valiriano e runas antigas feitas de ouro vermelho.

Se recompondo, e entumecido de ódio, Drogon virou sua cabeça, contorcendo seu imenso pescoço, e a levou o mais perto possível de seu irmão. Abriu a boca, e expelindo chamas negras e rubras na cara do irmão.

Antes que o ataque surtisse efeito, porém, Malora tocou o berrante, fazendo um som que causa ardência nos ossos dos homens, e o dragão pálido e dourado soltou a cauda de seu irmão Wyvern, e bateu as asas douradas como ouro, voando para trás com intensa rapidez, escapando das chamas.

Viserion bateu novamente as asas, indo para cima, escondendo-se nas imensas nuvens.

Dany bufou, irritada, vendo o animal partir.

Foi assim que ela nos atacou de surpresa, percebeu.

Irritada, ela agarrou o chicote e o bateu contra a pele de escamas negras do filho, fazendo-o subir pelas nuvens cinzentas e densas, atrás de seu irmão.

 

Abaixo dos céus, os soldados nortenhos viram o que pareceu ser um novo sol nascer; variando entre dourado e rubra. Foi impossível desviar os olhares da rápida briga fulgente, que terminou tão rápido quanto começou, com os dois Wyverns sumindo entre as nuvens.

Por um tempo, todos pararam, apenas olhando o céu escuro.

— Devemos seguir em frente — ordenou Jon, altivo, fazendo todos voltarem a marchar. Conforme as pessoas na linha de frente o seguiram, os outros foram atrás.

O mega-exército estava agora reunido: Nortenhos, homens do Vale e do Tridente, das tempestades, Dothraki, Ghiscaris, Mão Ardente, Povo Livre, Imaculados… Todos unidos, indo contra as muralhas negrumes de Harrenhal.

Havia um imenso exército do lado de fora das muralhas íngremes. Eram visíveis os brasõe cozidos nos estandartes que tremeluziam nas ameias: O berrante dos Goodbrothers, o dracar negro sobre um sol vermelho dos Farwyn, o peixe prateado dos Codd, as foices de Harlaw, a lula dourada dos Greyjoy, o leviatã dos Volmark…

Todos eles estavam mais bem alimentados que o mega-exército de Jon Stark, mas nem de longe o superavam em números.

Conforme seus soldados se aproximavam, Jon sentiu a tensão aumentando junto, tornando-se quase palpável. Ambos os exércitos estavam preparados para derramar sangue, e a maioria nem se importava se ia viver ou morrer, desde que morressem em glória.

Antes que qualquer um atacasse, o fogo irrompeu, mas não nos céus: alguns dos navios que estavam nas águas geladas do olho de Deus estavam pegando fogo, enquanto outros eram invadidos por pequenos filhos da floresta e Cranogmanos, que atacaram os soldados de ferro despreparados para tal ataque.

No meio disso, o céu escuro, quase negro, começou a brilhar, com as nuvens ficando embuidas de luz fosca e vermelha, enquanto os dragões rugião no céu embotado.

Os soldados das ilhas de ferro que estavam em terra firme, vendo o ataque surpresa que ocorreia nos dracares, e as luzes esbaçadas nas nuvens, ficaram perdidos. Alguns outros, tentando superar a confusão, e sem esperar que os inimigos em terra se aproximarem mais, foram ao ataque, batendo os calcanhares no chão e as esporas nas montarias. Alguns esbarravam em soldados que estavam aturdidos com o ataque na água e no céu.

Vendo a confusão se instaurar, o Rei do Norte aproveitou o momento. Retirou a Garra Longa da bainha, puxou uma luvas com o dedo, descobrindo a sua mão, passou-a pela lâmina escura, que logo ficou imbuída pelas chamas de seu sangue coagulado. Todos a sua volta ficaram surpresos, e as montarias, assustadas.

— AGORA! — bradou Jon, o mais alto possível, para que todos que estivessem perto o bastante o ouvissem, tirando-os do transa das luzes do céu. Ergueu a espada, para chamar a atenção de todos. — LUTEM! LUTEM ATÉ O FIM!

— Finalmente… — disse Stannis, vendo todos se agitarem no centro do exército, sabendo que a hora havia chegado. Retirou sua espada, fazendo o brilho fulgente cegar os homens de seu exército. — PARA GUERRA!

Gritos de guerra berserkers se misturaram em um imenso rugido, e soldados, cavalos, lobos, cabras imensas e até mamutes avançaram os passos, indo bater de frente contra os inimigos.

Espadas, lanças e arakis se colidiram, enquanto homens, e até mulheres lutavam num campo de neve e cinzas, fazendo o som de aço contra aço ressoar, e os cavalos eram esmagados pelos mamutes que eram montados pelos gigantes — que não faziam muitas distinções naquela confusão, pisoteando até alguns soldados do mesmo lado.

Wun Weg Wun Dar Wun, de cima de seu mamute, pegou um soldado inimigo, o ergueu como se fosse um boneca de pano, e o usou para bater nos outros inimigos. Os outros gigantes usavam machados e martelos gigantes, feitos de pedras amarradas em troncos de árvores, e os usavam para bater nos soldados no chão.

Os chifres afiados das cabras imensas de Skagos trespassavam as cotas de malha, a pele e os músculos dos inimigos, ou perfuravam o couro dos corcéis trazidos das ilhas de ferro.

A terra que outrora estava coberta de neve e cinzas logo ficou marrom, por causa da terra remexida pelas montarias do exército, e, então, vermelha.

Mil gritos de dor e fúria se uniam, enquanto homens e mulheres caiam para a morte, e seus corpos eram pisoteados pelas imensas montarias.

Stannis desferia os melhores golpes que podia, enquanto sua espada parecia ficar cada vez mais brilhosa, conforme a noite parecia cair; o exército da mão ardente de R’llhor furavam os inimigos com suas lanças douradas, enquanto seus sacerdotes jogavam imensas bolas do fogo para lado do campo que os inimigos ocupavam; o Rei do Norte, com a espada ainda imbuída em chamas, trespassava a carne e músculos dos inimigos como se fossem papel, torrando a carne macia e cauterizando os ferimentos que infligiu na mesma hora que os criava.

Sua montaria deve ter sido ferida, pois ela estava quase caindo no chão, com as pernas esmorecendo e relinchando de dor. Rápido como uma sombra, Jon saltou da sela, enquanto homens morriam à sua volta. Enquanto seu corcel relinchava de dor, ele o finalizou com um rápido golpe de sua lâmina, fazendo a cabeça e parte do grosso pescoço saltar para fora. Uma morte sem dor.

Virando-se para os outros soldados, viu um machado descer contra ele. Desviou, por pouco, e empunhou a Garra Longa, o que pareceu aterrorizar seu inimigo, que saltou para trás ao ver as chamas se erguendo.

Tão rápido quanto subiu, Jon baixou a lâmina, destruindo o rosto de seus algoz, fazendo sangue, miolos e fumaça saltarem. Seu rosto logo e pálido ficou salpicado de sangue. Ele passou a língua pelos lábios e queixo, saboreando o sabor da batalha, assim como Fantasma saboreava o sangue de seus inimigos.

Eles eram um só; um só lutador, um só predador. Um só lobo.

Enquanto pensava nisso, mesmo que por um só instante, ouviu alguém gritar:

— JON! — era Val.

Antes que pudesse fazer algo, a mão Jon, que segurava a espada, foi perpassada por uma dor intensa. A espada de dois gumes que o perfurou pareceu se remexer e logo saiu de seu braço, fazendo um sangue negro sair de dentro do braço pálidoz de forma lúgubre, e, tão logo quanto saiu, parava, criando uma mancha gosmenta.

Sem soltar a empunhadura da espada longa, apertando-a ainda mais, e usando a outra mão para ganhar firmeza, Jon virou-se com fúria para o homem que o feriu. Deve ter sido uma visão assustadora, pois viu o homem parecer ficar pálido com seu olhar, parecendo hesitar.

O Rei do Norte se virou para ele, gritando de fúria pelo ferimento, e, com um só golpe de sua espada flamejante, quebrou a espada do soldado, como se não fosse nada.

O soldado deu um salto para trás, mas, antes que Jon pudesse atacá-lo, Fantasma surgiu, vindo pela esquerda, saltando para cima do homem, e cravando seus dentes na goela do homem, que gritou, mas logo parou.

O pelo de fantasma estava sujo de sangue.

O choque de Jon, causado pelo auxílio do velho companheiro, logo deu lugar ao riso.

Ele saltou para cima de Fantasma e disse:

— Nós dois somos lobos — exclamou —, vamos à caça, amigo!

Enquanto todos se digladiavam, os portões se abriram, e mais homens de ferro surgiram, bradando gritos de guerra e ofensas, e preparados para se unirem aos colegas no campo de guerra, atacando os inimigos, agora já cansados pela batalha.

Entretanto, antes que tal ação fosse tomada, do chão coberto de neve, os filhos da floresta pareciam brotar, cavalgando lobos, javalis imensos e alces gigantescos, surpreendendo os inimigos pela retaguarda, enquanto outros filhos se preparavam para bloquear os novos atacantes.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Arya e seus companheiros estavam indo em direção a fortaleza do castelo. Ouviram a confusão de longe, e, conforme chegavam perto, podiam ouvir ela aumentar. Era um como um imenso rugido de guerra abafado.

Arya podia ter um rápido vislumbre do que ocorria, vendo os olhos através de Nymeria. Podia até sentir o sangue em sua boca, causado pelos ferimentos que a loba causava nos inimigos.

— Preparem-se — avisou Arya. — O caos lá fora está intenso.

— Euron não está no campo? — indagou Ned, ao qual Arya respondeu com meneio da cabeça.

— Não, ele está aqui, tenho certeza. — Arya não o viu no campo, nem sentiu seu cheiro. Não, Euron não estava lá fora. Estava ali, no castelo.

— E como raios vamos achá-lo? — perguntou Gendry, segurando o elmo de touro.

Arya sorriu.

— Os gatos não estão mais por aqui, e os lobos estão lá fora — respondeu Arya —, mas os ratos sempre estão à espreita.

O Touro franziu o cenho.

— E você consegue entrar neles?

— Do que vocês estão falando? — questionou Roger Ryswell, não entendendo nada.

— Posso tentar — Arya respondeu seu amante, ignorando a indagação de Ryswell. — Se eu…

— Não precisa, princesa — disse um dos Filhos da Floresta, a que respondia pelo nome de neve e tinha cabelos grisalhos, apontando para cima, para uma das torres —, seu irmão nos guia.

Arya levou o olhar para a direção em que a pequena criatura apontava, percebendo que a maior das torres estava cercada por corvos, rodeando-a, como abelhas no mel.

— A torre da Pira do Rei — observou Arya, vendo as aves negras.

— hmm… Olho de Corvo não parece muito esperto — observou Gendry. — Não perde a chance de ostentar, assim como todo o lorde pomposo.

Os irmãos Ryswell o olharam, irritados com suas palavras, mas Sor Gendry os ignorou, colocando o elmo de touro.

A noite havia caído, não haviam estrelas e nem mesmo uma lua no céu, pois as nuvens as cobriam. Apenas o brilho esbaçado que surgia das chamas do campo de guerra. Haviam homens nas ameias, erguendo tochas, e os portões ainda estavam escancarados.

Ao ver aquilo, Arya virou-se para os dois filhos da floresta.

— Conseguem achar um jeito de subir às ameias? — indagou. — Precisamos que abatam os soldados, e vocês são os menores daqui.

As duas criaturinhas se entreolharam, parecendo estar em dúvida se iriam seguir o plano da princesa, mas logo voltaram para ela e anuíram.

— Ótimo. Agora, vão.

Quando os filhos separam, cada um seguindo uma direção, Arya acenou para os outros do grupo.

— Vamos.

 

Não parecia ter sobrado praticamente ninguém no castelo. Fazia sentido, visto que muitos Homens de Ferro iriam preferir perder suas vidas na batalha lá fora. De qualquer forma, o pequeno grupo se escondia nas densas sombras, que os cobriam com seus negrumes. Os poucos soldados que se agitavam dentro do castelo, loucos para atravessar os portões, nem os percebiam, tamanha era a agitação e a escuridão que cobriam os seus sentidos.

Arya, que liderava todos eles, parou, fazendo todos pararem em seguida. Estavam contra as paredes da torre da viúva, ao lado da Pira do Rei. Virou-se para encarar um dos Ryswell.

— Roger, vá até os estábulos, acenda uma tocha, ou procure uma lâmpada a óleo, e incendeie tudo.

O rapaz assentiu, mas o irmão, Rickard disse:

— Ir sozinho é suicídio — retrucou, um ppuco alto de demais para o gosto de Arya.

— Então você pode morrer com ele — ela respondeu.

Antes que Rickard falasse algo, Roger falou:

— Não precisa — e saiu de perto, sumindo nas chamas.

Rickard olhou para Arya, e ela conseguiu ver os vincos em seu cenho.

— Se meu irmão morrer…

—...Eu o faço se unir a ele — disse sor Gendry, segurando o punho da espada. — E aproveito e levo o irmãozinho também. — Acenou para Roose com a cabeça.

— Xiu! — Arya fez com que se calassem. — Temos de ir.

Virando aquela parede, havia a entrada para a torre da Viúva. Havia dois guardas nela. A torre do Rei devia estar mais protegida, imaginou Arya, então, seria mais fácil entrar pela Torre da Viúva. Havia uma escada que conectava as duas torres.

— Fiquem escondidos — ordenou a princesa. — Não se movam até eu lidar com isso.

Todos assentiram, embora todos parecessem visivelmente preocupados com o que ela estava prestes a fazer.

— Eu queria estar lutando — disse um dos soldados. — É melhor estar aqui… Esse rei me dá arrepios.

— Calado, puto — censurou o outro vigia —, Euron pode fazer você mesmo que fez com aqueles magos!

Arya se esgueirou para frente, indo em direção a entrada. Abaixada.

Quando aproximou-se de um dos soldados, ela se ajoelhou.

Gendry e Ned se entreolharam, confusos, e aquele indagou:

— O que…?

— Shhh… — Suas mãos eram rápidas. Pegou uma zarabatana, uma minúscula agulha, e colocou-a na zarabatana. Com um simples sopro, o pequeno acume atingiu um dos soldados na garganta, que o bateu na hora.

— Malditas moscas — ralhou ele, sem perceber que era uma agulha que ele havia acabado de derrubar. — Achei que já estavam mortas todas mortas nesse frio!

O outro homem riu, mas logo parou, quando o outro guarda começou a gritar como um animal em agonia.

— O que você…?

Antes que terminasse de falar, o soldado envenenado pegou a espada e fez o gume dela atingir o lado esquerdo do pescoço dele, fazendo jorrar sangue. O homem fez um som de engasgo quando a lâmina o acertou.

O soldado envenenado não parou por ali, após tirar a espada do pescoço de sua vítima, que caiu em seguida, fazendo mais sangue jorrar, batendo o corpo morto com a espada diversas vezes.

Os outros soldados, na outra torre, logo viram a confusão e foram ver o que era, achando ser algum invasor.

Quando os outros guardas se aproximaram, o soldado avançou e passou a atacá-los também, perdendo-se no sangue, e começando uma confusão. Outros três guardas que estavam na torre da viúva saíram, sem entender o que estava acontecendo.

Quando o último soldado saiu da torre, Arya repetiu o gesto anterior, e o atingiu com outra agulha envenenada, bem atrás da nuca. Logo, ele seria outro animal irritado.

 A princesa aprumou-se em um instante.

— O que ‘cê fez? — indagou Gendry, vendo a confusão dos guardas, quando um outro soldado enlouqueceu e passou a atacar os outros companheiros.

— Veneno de basilisco — disse ela, e andou até a entrada da torre, enquanto os outros inimigos estavam tentando matar os soldados loucos. Não iria demorar, mas eles logo perceberiam que não seria uma tarefa tão fácil, visto que o veneno os deixaram insanos, perdendo todos os sentidos, ignorando a dor.

Após adentrarem a torre, Gendry passou uma lança — que havia pegado do guarda morto lá fora — e passou pelos elos da porta. Virou-se para os outros.

— Vamos matar o puto do Olho de Corvo — disse.

Arya assentiu. Com sorte, Roger já havia ateado fogo nos estábulos, e isso ajudaria a distrair os guardas — os deuses sabiam que inteligência não era o forte dos homens de ferro.

 As escadas eram imensas e escuras, quase sem luz, e uma corrente de ar intensa e fria passava por ela, parecendo congelar até os ossos do grupo.

Gendry sentia um calafrio por estar lá, lembrando-se de quando estivera preso por lá, coberto de insetos e fezes, sufocando.

Ao chegarem no topo, eles adentraram no cômodo superior da torre, e foram até a porta que dava para a ponte que conectava a torre de Euron.

— Preparem-se — disse Arya, desembainhando a agulha —, vamos ter de abrir caminho.

Todos os rapazes pegaram as espadas, fazendo o som do aço raspar no couro.

Arya respirou fundo, indo até a porta, prestes a abrir…

Ao ouvir o som de gritos e o grasnar alto e arrítmico, ela saltou para trás, em defensiva, e empunhou a Agulha para se defender. Todos ficaram sobressaltados com os gritos que haviam do lado de fora.

Tão rápido quanto surgiram, os gritos cessaram.

Arya olhou para os companheiros, que estavam tão perdidos quanto ela. Voltou-se para a porta, girou o elo, e empurrou…

Lá fora, a neve caía, e algumas tochas estavam esparsas no chão, e a princesa percebeu que havia sinais de neve remexida.

Havia penas no chão também, e diversos corvos e águias. Havia algumas aves mortas no chão também, atingidas por golpes.

Arya saiu para fora e sentiu os flocos no rosto.

— O que houve aqui? — perguntou Sor Gendry, seguindo-a.

— Bran — Arya respondeu, entendendo tudo. — Ele derrubou todos.

— Então ele é mesmo um Warg? — indagou Roose Ryswell, com os olhos bem abertos.

A princesa o ignorou.

— Vamos.

No mesmo instante, as chamas explodiram no céu, assustando as aves e o grupo de infiltrados.

A figura que queimara o exército de Edmure surgiu, mergulhando dos céus, seguida pela criatura de Daenerys, que rugia em fúria. Ambos desceram o máximo possível, e, da altura onde Arya e seus companheiros estavam, ela viu o Wyvern dourado aproveitar a oportunidade para queimar os exércitos no chão, sem distinguir os aliados dos inimigos.

— Pelos Deuses! — exclamou Rickard Ryswell. — Estas pessoas são loucas?

Tudo isto é um abate, Arya logo percebeu: os soldados indo de frente ao perigo, quase nenhuma armadilha, os portões abertos para todos saírem, Euron pouco protegido…

Talvez eles não esperem vencer; mas, se não era isto que Olho de Corvo queria, o que era? Morrer com glória? Não parecia fazer sentido, visto que nem estava lutando.

Devia ter algo, mas ela não sabia o quê…

Não importava. Tinha de matar aquele filho da puta azulado. Prosseguiu o caminho, enquanto todas as aves subiam e espalhavam suas penas.

Conforme se aproximava, Arya sentiu um cheiro de podre. O aroma acre piorou ao abrir a porta.

Era um cheiro de carne podre. Carne humana podre.

Havia corpos estatelados no chão, abertos, putrefatos, cobertos de vermes, e rodeados por moscas roxas. Alguns eram de humanos, outros, de filhos da floresta. Não havia luz alguma ali, todas as tochas estavam apagadas, e as velas, derretidas. Ratos estavam mortos também, pregados nas paredes, apodrecendo, e deixando linhas de sangue coagulado nas paredes. Havia imensos baús vazios no chão, assim como garrafas de pedra quebradas e espaçadas. Em ambos era possível ver um vestígio de um líquido azul grosso. 

Roose Ryswell curvou-se e expeliu o conteúdo do estômago no chão. Os outros ficaram horrorizados, mas se contiveram, apesar de abalados pela visão e pelo cheiro, ambos repulsivos.

Arya conseguiu se conter, segurando o horror de estar ali.

Apesar de todos os horrores do aposento, sem dúvidas, o pior era Euron.

Sentado em um cadeirão, o Rei das ilhas de ferro era, agora, uma coisa azul bizarra: sua pele era de um couro azul índigo, seu olho bom estava totalmente azul, sem nada de branco, e um novo olho azulado crescia onde antes nada havia. Suas unhas também estavam azuis, e as membranas cresciam entre os dedos das mãos e dos pés, conectando-os como as mãos de um peixe. Ele não usava nada além de uma armadura de aço valiriano e uma coroa, que cobria sua cabeça azulada, agora sem nenhum fio de cabelo sequer. A cabeça também estava bizarramente avantajada e jogada para trás, como se fosse difícil para ele se erguer.

A criatura que Euron havia se tornado parecia estar em agonia, com dificuldade em respirar. Era possível ver o peito subindo e descendo, pesarosamente. 

Os olhos azuis e sem vida olhavam Arya, sem parecer vê-la.

Suprimindo o medo, a princesa se adiantou para perto do inimigo azulado, a passos largos.

— Arya…! — Gendry exclamou.

— Para trás! — ordenou ele, segurando a bainha.

Ela estava tomada pelo ódio agora, superando o medo. De certa forma, era até decepcionante que aquilo ali era Euron, e que ela deixou-o entrar em sua mente, manipulá-la. Não mais!

Euron ergueu os olhos, fitando os olhos cinzentos de Arya, que parou, hesitante, ao perceber o gesto.

A bolha azul que outrora fora Euron Greyjoy sorriu para ela. Havia um líquido grosso e preto em seus lábios, que no começo, Arya achou ser a sombra da tarde, mas ela logo percebeu ser sangue coagulado. Euron passou a língua roxa pelos lábios, saboreando o sabor, de forma lenta.

Agora sim, ela precisou segurar o vômito. Ela logo entendeu o que Euron havia feito aqueles cadáveres, que ela deduziu serem os ditos magos que ele havia tido; os outros deveriam ser os magos do Olho de Deus e filhos da floresta.

— Eu perdi minha vela… — ele suspirou, pesadamente, como se aquilo quase o estivesse matando de tanto esforço. — Admito que, depois… Eu, hã… — Olhou em volta, percorrendo todo o ambiente, depois olhou para Arya e voltou a contorcer os lábios num sorriso lúgubre, e deu de ombros: — Acho que… Fiquei um pouco… Irritado… — Começou a rir, mas parecia mais um estalo de língua. — Bebi demais, temo…

Arya fez uma careta e balançou a cabeça, horrorizada com o bafo de carne podre que emana da boca dele

— Você é doentio.

Os olhos azuis e incompatíveis de Euron pareceram brilhar de júbilo ao ouvir aquilo, como se fosse um elogio.

Arya sentiu uma dor na cabeça. Balançou a cabeça, se recompondo. Olhou para a criatura patética à sua frente, no auge da cólera.

— Chega disso! — Ela o pegou pelo ombro, e o puxou, derrubando aquele corpo disforme no chão. Havia fezes secas que estavam em suas nádegas, indo até as suas pernas, e o movimento fez o fedor estourar nas narinas de Arya.

Com um supetão, Arya arrancou a cota de malha de Euron, leve como papel, e a jogou para longe. Embainhou a Agulha, desembainhou a Irmã Negra e chutou o corpo disforme de Euron, fazendo-o ficar de costas para o chão. A barriga imensa estava à vista.

Euron não a olhou assustado; ele parecia feliz com aquilo.

— Finalmente… O começo de tudo…

Ela o ignorou e posicionou a ponta da lâmina no coração dele. Podia sentir a batida fraca dele.

— Euron Greyjoy — ela disse —, Valar Morghulis.

Desceu a lâmina, passando a carne, músculos e ossos como se fossem papel.

Na mesma hora, sentiu uma dor de cabeça, e cambaleou para trás, soltando o punho da espada e quase caindo, sentindo as pernas fracas. Um arrepio percorreu o seu corpo.

Gendry largou sua espada e correu até Arya, com medo de que ela desmaiasse. Enquanto a princesa se recompunha, ele a tomou em seus braços.

— Arya! — Ele exclamou, preocupado, sentindo uma dor no peito. — O que houve?

Ela abanou a cabeça. Gendry retirou o capacete de touro.

— Nada — ela disse, sentindo-se zonza. Ergueu o olhar, vendo o intenso olhar de preocupação de Sor Gendry, azul como o mar limpo. Percebeu que estava chorando, sem saber o porquê, e que sentia medo. — Acabou?

Sor Gendry olhou para o cadáver de Euron. Seus olhos estavam sem vida, e a espada estava cravada em seu peito, por onde expelia um sangue azul tão escuro e grosso, que parecia uma gosma preta.

Apesar de estar claramente sem vida, o corpo ainda sorria numa carranca sinistra.

Gendry virou-se para Arya, afagou seus cabelos castanhos, de forma carinhosa, lambeu as lágrimas em seu rosto, sentindo o sal, e disse:

— Sim, acabou princesa.

Eles se beijaram.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Malora simplesmente sumiu no céu. Aquela piranha Hightower estava zombando de Dany, usando as nuvens para sumir sempre que podia.

Antes de subir, Dany olhou para o exército abaixo dela. Parecia que o exército de Jon estava ganhando. Os inimigos das ilhas de ferro agora estavam amuados, com uma boa parte cercados pelos aliados de Dany.

Ao invés de subir, Dany desceu, sentindo o vento frio e quente batendo contra o seu. Quando chegou perto o bastante, tendo a certeza de que aquele local tinha apenas seus inimigos, gritou:

— DRACARYS!

Os inimigos a viram descendo do céu, pouco antes de Drogon abrir suas mandíbulas e cuspir seu fogo neles. Chamas vermelhas e incandescentes logo vieram a imbuir seus corpos, fazendo-os gritar, enquanto a carne queimava e os olhos estouraram como bolhas de pus.

Bateu o chicote, fazendo seu dragão subir novamente. Drogon estava cansado, mas a fúria ainda superava a fadiga. Sabia que Viserion devia estar ainda mais esgotado.

Dany, então, subindo com cautela, atravessa as densas nuvens, indo em direção às estrelas, sentindo o frio aumentar e irritando Drogon. Sabia que ele logo poderia se descontrolar e acabar voando contra os céus de forma suicida. 

Malora se mostrou uma montadora um tanto sagaz: ela sabia que Viserion não tinha chances contra Drogon, pelo menos não de frente, então, usava a velocidade e o ambiente para se esconder — o movimento fatigava Drogon, deixando-o irritado, e ferido.

Aquilo tinha de acabar, e logo.

Enquanto subia, Dany tentava prestar atenção no ambiente, receosa de que Malora a atacasse pelas costas de Drogon. Uma boa bufada de Viserion, e ela estaria perdida.

Viu um brilho dourado, embaçado pelas nuvens, que estavam a anuviar o céu negrume. Sabendo que era uma armadilha, mas não tendo muitas opções, Dany perguntou a si mesma se deveria mesmo ir até o segundo sol — que logo desapareceu, tão rápido quanto veio.

Estava cansada, esbaforida, com partes da pele queimando com o calor intenso. Seus olhos estavam ardendo, e ela estava com medo de desmaiar, pois o ar começava a parecer sumir de seus pulmões.

Não importa o que sentia, pois logo Viserion saltou do céu, e ela mal pôde vislumbrar suas garras e dentes de diamantes indo em sua direção.

Drogon tentou cuspir fogo, mas, antes que tivesse tempo, as mandíbulas de viserion se fecharam em volta do pescoço de Drogon, fazendo-o urrar de dor, e ser incapaz de acertar o irmão-inimigo, e começando a contorcer o pescoço, tentando se soltar.

Dany estava de cabeça para baixo, sentindo uma pesada corrente de ar atingir o seu corpo e fazendo um som cortante em seus ouvidos. Estavam em queda livre, em grande velocidade.

Drogon, apesar de não conseguir atingir o irmão com seu fogo, ainda não estava rendido, e começou a usar as garras de suas patas para rasgar a barriga branca e coriácea de seu irmão, que rugia de dor, enquanto as garras se cravaram em seu corpo, rasgando-o e arrancando sangue e tripas.

Dany gritou com seus filhos, enquanto lágrimas voavam de seus olhos.

Todos os soldados abaixo olharam para o céu, vendo o que parecia um sol nascendo, prestes a cair das nuvens, podendo ouvir o rugido dos Wyrns de sangue.

Malora tocou o berrante, provavelmente para garantir que Viserion continuasse o ataque. Logo, as névoa cinzenta do céu pareceu sumir, e Dany percebeu que logo deixariam as nuvens de lado, e estariam mais perto do chão.

Aquela mulher maluca realmente estava preparada para morrer ou era insana a ponto de acreditar que iria sobreviver à queda?

Não pode acabar assim!, pensou Dany, mas não importava o que Dany fizesse, não conseguia livrar Drogon daquela armadilha mortal.

Pensando rápido, Dany se esforçou para endireitar-se na cela, lutando contra o vento, retirou o elmo, segurando-o com força, e o jogou em Malora. O movimento foi um tanto débil, mas teve efeito, pois, na velocidade em que estavam caindo, atingiu com força o rosto pálida do Donzela Louca, fazendo-a se afastar do berrante. A Hightower pareceu que teria caído, não fossem as correntes aprendendo-a a Viserion.

Malora levou as mãos ao rosto, e Dany percebeu que ela estava sangrando pelo nariz, e que o elmo acabou por abrir um corte na testa dela.

Quando deram por si, as nuvens ficaram para trás, e Dany, olhando de esguelha para baixo, viu o Olho de Deus, aproximando-se dela, prestes a bater nela. Os dragões nem pareciam perceber, ainda se digladiando nos ares, rugindo e cuspindo fogo.

Dany agarrou as rédeas, vendo que tinha pouco tempo para agir. Quando voltou a olhar para cima, para o dorso de Viserion, viu Malora, voltando a pôr as mãos pálidas no berrante. Ela olhou para Dany, furiosa, e, então, começou a sorrir, levando uma mão para as costas, fazendo a rainha imaginar que ela deveria estar prestes a fazer alguma coisa.

Se estava mesmo planejando algo ou não, não importava, pois um bando de corvos (pretos e branco), águias e falcões surgiram, indo até Malora e arranhando a sua pele de porcelana. Logo surgiram tiras de sangue ao longo do corpo de Malora, e até o vestido começou a ser rasgado. Um corvo velho voou até o rosto de Malora, e por lá ficou, bicando e rasgando o seu rosto, comendo seus olhos. Não fosse o rugido de Drogon e Viserion, Dany provavelmente poderia ouvir os gritos de dor de Malora.

O fogo dos dragões começou a queimar as aves, mas isso não as impedia de avançar. Algumas se arriscaram a bicar os olhos de ouro derretido de Viserion, e isto (ou a quebra de conexão de Malora, ou até os ferimentos na barriga) fez o dragão parecer afrouxar a mordida na garganta do irmão.

Aproveitando o momento, Dany puxou as rédeas para o lado, na esperança de que seu filho entendesse…

E ele entendeu.

Dany logo estava por cima, e Viserion estava por baixo, com a barriga exposta, onde sangue quente, vermelho e dourado, voava para várias direções. Malora foi jogada para longe, mas grilhões ainda a prendiam a Viserion, e ela pendeu no ar, cheia de sangue.

Dany percebeu que a mulher segurava um berrante — mas não o berrante gigante, que ainda estava preso ao dorso de Viserion. Era um pequeno e comum. Seja lá o que fosse, ela segurava com força, ao invés de segurar as correntes, e o levava para os lábios…

Vendo o estado em que Viserion estava, diminuindo rapidamente de tamanho conforme ele caia para o seu fim, Dany sabia que ele estava perdido. Ela puxou as rédeas, fazendo Drogon bater as asas e tentar parar a queda, lentamente, mas de forma desengonçada, tamanho a velocidade em que caia.

Com os olhos tendo a visão borrada pelas lágrimas, Dany apertou ainda mais as rédeas de Drogon e exclamou:

— Dracarys!

Seu filho cuspiu as chamas negras, acertando o irmão em agonia, mas acertando também a pequena Malora, que sumiu de vista com as chamas de Drogon.

Dany torcia para que ele estivesse sofrendo até cair.

Todos seguiram Viserion com o olhar, vidrados pelo seu corpo em chamas, vendo-o cair do céu, e atingindo as águas profundas do Olho de Deus, quebrando os dracares, o gelo, as pessoas e os Filhos da Floresta que havia embaixo de dele, fazendo água subir até uma altitude considerável, e espirrando um líquido fumegante na terra, derretendo o gelo e queimando as pessoas que não fugiram a tempo, pois estavam hipnotizadas com a intensa visão do animal em queda.

Quando o corpo caiu no lago, sumindo de vista, e a água quente voltou a escorrer para dentro do lago, o líquido logo ficou rubra e dourado, a cor do sangue do filho de Daenerys. Bolhas surgiam em grande quantidade nas águas tempestuosas, mostrando que o grande lago ainda fervia.

As aves voavam em círculos, em volta do Olho de Deus, enquanto outras caíam do céu, com seus corpos plumados em chamas.

Dany fez Drogon aterrissar. Quando ele desceu, ficando em terra firme, Dany desceu dele, nervosa, e chorando. Seu corpo estava doendo, e ela sentia a carne arder. Sua bochecha estava queimando mais do que as outras partes, mas ela nem ligou.

No chão, haviam pessoas mortas, e outras, ardendo e gritando. Ela nem pareceu ser capaz de vê-las ou ouvi-las. Foi até a beirada do lago, vendo água carmesim e dourada tremeluzir e borbulhar. Piscando os olhos, fazendo as lágrimas caírem, sentindo os joelhos cederem, e o coração apertar, Dany começou a gritar, incapaz de suportar a dor de ter matado seu próprio filho.

Aquela era uma dor sem igual, muito pior do que qualquer queimadura ou traição. Era a dor de uma mãe.

Drogon rugiu, gritando junto de sua mãe, enquanto a neve caía do céu, derretendo antes de chegar até o chão, por causa do calor, fazendo parecer que era uma pequena chuva.

Nas águas ferventes, o berrante de valíria ainda resistia, e suas runas brilhavam na escuridão.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Jon viu aquilo com choque; o dragão de Daenerys havia morrido, e levado centenas com ele.

Lorde Howland estava no lago, lembrou-se. Duvidava que ele e os seus haviam conseguido escapar.

Por sorte, a luta estava ganha: os homens de ferro estavam sendo abatidos, o dragão e Malora estavam mortos. Bastava descobrir se Arya havia…

— Peixe Negro! — berrava Edmure, sujo de lama e sangue da cabeça aos pés, e com o braço que segurava o cabo da espada doendo de tanto usá-la. Seu olhar era vidrado, cheio de pânico. — Peixe Negro! Alguém viu Sor Brynden?

Jon viu Tormund segurar um dos filhos no braço. O homenzarrão já estava morto, mas o pai se recusava a soltá-lo, balançando-o em seus braços, como se fosse um bebê dormindo.

O rei do Norte olhou para o outro lado, vendo Stannis se aproximar dele. O homem estava esbaforido, sujo de lama, e com um olhar sinistro. Parou ao chegar perto de Jon e disse:

— Mataram Davos. — Abaixou os olhos. — Mataram meu único amigo.

Jon apenas assentiu, ainda tentando entender o que acabara de ocorrer. Seu olho bom varria o terreno, vendo os corpos mortos. Os homens de ferro sobreviventes estavam sendo abatidos, um a um. Um lobo arrancava as tripas de um homem ferido no chão, que gritava, vendo o animal arrancar seu estômago.

O homem era nortenho. Tinha o símbolo Umber cozido no peito.

O rosto de Jon estava escuro de tanta sujeira. Havia sangue e lama o cobrindo, deixando até os cabelos escuros. Percebeu que a obsidiana havia saltado para fora no meio da batalha. Levou uma mão podre para o olho que faltava, sentindo as pálpebras. Sua coroa também estava perdida.

— Viu Cetim? — indagou Jon, virando-se para encarar Stannis, que respondeu negativamente com a cabeça suja.

Jon assentiu de volta. Provavelmente o antigo amigo e amante estava morto. Uma pena, ele foi um bom companheiro para Jon.

Pessoas saqueavam os mortos; um gigante gritava no chão, pois sua imensa e peluda montaria havia caído em cima dele, machucando a sua perna; um sacerdote vermelho começava a unir os seus e fazer uma prece pelos mortos, e Jon viu algumas pessoas usarem as carroças de comida vazias para jogar os corpos dos mortos em batalha. Os dothraki de Daenerys estavam brigando entre si sobre os espólios de guerra, e Sor Jorah gritava com eles, tentando acalmá-los.

Fantasma foi até o seu dono, que afagou seus pelos espessos. O pelo do animal estava mais sujo ainda, parecendo ser cinza.

— Pelo menos acabou — Jon sussurrou para si mesmo, e para o companheiro, sentindo o gosto.

E então, as nuvens ficaram mais densas, formando um céu negrume, e a neve caiu mais densa do que nunca, cobrindo a todos que estavam no chão, criando uma nova camada branca, de aparência açucarada, que cobria a todos que ali estavam.

Jon olhou para o céu, desalento. O velho corvo de Jeor se empoleirou em seu ombro. Havia sangue nele, e pedaços de carne.

— Não, irmão — ouviu o corvo dizer. — Tudo isto está apenas começando.

Os sacerdotes vermelhos começaram a entoar um grito, recitando algo em sua língua materna e estrangeira. Os selvagens se apavoraram, sabendo que o fim se aproximava, e os gigantes peludos começaram a bater os pés no chão, assustados.

— O que é isto? — indagou Edmure, sentindo um arrepio bizarro subir por todo o seu corpo, enquanto sentia o vento aumentar. Ele sabia que havia algo errado.

— Isto — respondeu Jon —, é o fim de tudo.


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