O Rei Negro escrita por Oráculo Contador de Histórias


Capítulo 27
Verdadeiros amigos




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Leonel retirou a luva da mão direita, deu alguns passos calmos até Katherine e então lhe acertou uma forte bofetada que a derrubou perto dos guardas, estáticos. No rosto do homem, pairava uma expressão ameaçadora e seus penetrantes e frios olhos azuis fitavam a mulher de cima para baixo.

—De pé. - ordenou sem elevar a voz.

Com certo esforço, ela se levantou sozinha e ergueu o rosto, revelando o vermelho do hematoma. Então, outro tapa foi dado pelo lorde, contudo dessa vez sua filha por pouco não caiu, apenas gemendo de dor.

—Olhe para mim. - mandou ele no mesmo tom.

A loira se recompôs e o encarou. Ainda que um filete de sangue brotasse no canto dos seus lábios, bem como lágrimas se enchessem em seus olhos que eram idênticos aos de seu pai, não havia hesitação em qualquer parte de seu corpo. Por dentro, ela até já tinha se esquecido de que estava no escritório do lorde Reindhar ou que retornara para a mansão, pois sua cabeça parecia presa naquele mesmo ponto da campina onde o capitão Helioth a tinha encontrado.

—Eu fiz tudo por você, Katherine. Desde a morte de sua mãe, me esforcei em dobro para que nada te faltasse e lutei dia após dia na esperança de torná-la a chefe desta casa, para que desse seguimento a nossa linhagem. Ainda assim, eu só errei em uma única coisa… - disse a segurando com força pelo maxilar – Te faltou disciplina. Você me envergonhou, pisou em nosso nome e se atirou aos pés de um escravo, que por sinal não está aqui. É isso que acontece quando se esquece do próprio valor, você é pisoteada como lixo e esquecida no meio do nada. - concluiu a soltando de qualquer jeito.

—O senhor fez tudo por mim, exceto por uma coisa. - disse a loira, reunindo coragem para terminar – A verdade é que o senhor nunca me amou.

Leonel desviou o olhar, como se precisasse reunir forças para não tornar a usar sua mão desenluvada.

—Se isso fosse verdade, eu já teria te jogado na Cidade Sombria, junto com aquele verme. - retorquiu com frieza – Sabia que você era a esperança de Merlin? Ele nunca quis se sentar no trono e ansiava pelo dia em que algum descendente das casas nobres pudesse assumir. O filho de Walther é um irresponsável, então jamais o aceitaríamos. Os pequenos Ostrade não tem idade e a filha de Helena, Obara Taren, não têm as qualidades necessárias para governar. Já os Yeshi parecem ter sido amaldiçoados pelo destino, pois seu único herdeiro vivo simplesmente desapareceu mundo afora. E talvez eu também tenha sido amaldiçoado. - proferiu amargamente.

—Eu sei que sou uma decepção para o senhor.

—Exatamente. - concordou ele indiferente.

Katherine deu alguns passos até ficar frente a frente com Leonel, que nesse instante a fitou sem pestanejar.

—O amor torna as pessoas idiotas, não é, papai? Talvez seja por isso que o senhor nunca o demonstra nem mesmo para sua única filha. Se eu tivesse nascido homem…

—Mas você não nasceu homem. - cortou o lorde – E eu nunca me queixei sobre isso, Katherine. A única coisa que me importa é o fato imutável de que você é sangue do meu sangue. E sendo assim, não posso conceber a ideia de que você fique se arrastando aos pés de um emberlano imundo, denegrindo a si mesma e destruindo sua dignidade! Graças a sua teimosia, me vi obrigado a tomar uma decisão extremamente difícil, porque se minha própria filha não está apta para se sentar naquele trono, então preciso apostar todas as fichas no destino.

—Do que está falando? - indagou confusa, enquanto limpava os cantos dos olhos com o dorso das mãos.

—Saiam! - ordenou o lorde para os guardas, que imediatamente saíram e fecharam a porta do escritório.

Um silêncio incômodo pairou sobre o ambiente, interrompido apenas pelos sons da grande movimentação do lado de fora graças aos vários soldados que se movimentavam para a batalha iminente.

—O último rei legítimo, Ederith II, deu seguimento ao desejo de seus ancestrais e transformou Calendria em uma potência militar. Tudo ia bem ou, pelo menos, era o que achávamos. - fez uma pausa, enchendo uma taça de vinho e após tomar um gole, continuou – Só que Ederith, como o resto de sua família, era extremamente ganancioso e egocêntrico. Em seus delírios, começou a construir estátuas de si mesmo dentro e fora das muralhas, a exigir coisas absurdas das nossas forças, pois em sua paranoia achava que seríamos atacados pelos anões, que eram os únicos capazes de rivalizar em poder de fogo. Ederith resolveu cutucar com as mãos nuas o vespeiro que até então tínhamos sobre controle, os emberlanos. Quando fez isso, alguém entrou em seu caminho.

—O regicida? - Katherine ainda não tinha conseguido entender aonde seu pai queria chegar.

—Sim. - respondeu, tomando outro gole de vinho – Ederith o subestimou e só entendeu a ameaça quando já era tarde demais. Naqueles dias, cheguei a pensar que seria o fim de tudo, mas quando Gabriel Eichen se sentou no trono de Calendria, percebi algo inacreditável. - os olhos de Leonel avistavam os inúmeros soldados que marchavam em direção a capital calendrina – Um homem tomado pelo ódio, que usava do medo como sua maior ferramenta, contudo não se importava com bajulações ou imagens de si. De repente, estava erguendo uma Nova Emberlyn, construindo alianças com Stonehold, Aurora e com os reinos dos outros continentes. A maioria o via como um tirano, mas eu consegui enxergar a verdade. Ele era um verdadeiro governante, diferente de todos os outros. - Leonel terminou o vinho e repousou a taça sobre a mesa, voltando-se para a filha – Estão dizendo por aí que ele reencarnou.

—O que? - estranhou a loira, sem saber para onde olhar. Se ouvisse de outra pessoa, certamente não daria a mínima, porém sabia que seu pai não era de fazer brincadeiras desse tipo.

—Ele ainda não é o Gabriel que eu procuro, mas como disse, apostei minhas fichas no destino e dei um pequeno empurrão para que aquele homem de vinte anos finalmente retorne.

—Do que está falando, papai?

—Gabriel Eichen não é o tipo de pessoa que se interessa por reinados, mas quando sua ira é despertada, ele se torna alguém realmente temível e age como um moderador.

—Não… Isso é loucura, o senhor não está bem! - disse uma Katherine estarrecida, pois já sabia aonde Leonel queria chegar.

—Outro dia, ordenei ao mercenário Arano que se infiltrasse em Aurora e descobrisse qual era o ponto fraco daquele jovem, para que o removesse. - revelou sem qualquer empatia – Como efeito colateral, os elfos estão nos atacando, mas não importa. Basta que nos livremos deles.

—O senhor é louco! - vociferou a mulher, esquecendo-se completamente do respeito e medo que outrora teve para com o homem.

Leonel apenas a encarava sem esboçar qualquer reação.

—Virá o dia em que Gabriel Eichen tornará a marchar contra Calendria, para subjugá-la e colocá-la de volta no caminho certo. Só que para isso, primeiro ele precisa estar livre de tantos pontos fracos.

—Quer que ele volte a se sentar no trono? Por isso levou nosso reino a guerrear com os elfos? Por isso eu perdi Raregard! - protestou cheia de lágrimas, porém dessa vez havia raiva em seu rosto.

—Isso que você chama de amor, minha filha, é um ponto fraco. Se não fosse por essa… falha… não precisaríamos ter seguido por esse caminho, porque você também seria capaz de se tornar uma excelente governante! - pela primeira vez, o lorde elevou o tom – E se aquele emberlano maldito te abandonou, isso só mostra o quanto você foi uma tola por dar a ele seu coração! Já chega! - bradou, então se aproximou e apontou-lhe o dedo, falando mais baixo – Que isso te sirva de lição.

Naquele momento, um sorriso demente surgiu nos lábios machucados da herdeira Reindhar.

—O que te faz pensar que da próxima vez, ele não virá para nos destruir?

—Ele jamais destruiria Calendria. - respondeu convicto – Não fez isso antes e não o fará no futuro. A dor, em alguns casos, é um obstáculo intransponível.

Uma trombeta começou a tocar no pátio da mansão Reindhar, fazendo com que o lorde deixasse o escritório sem sequer olhar para trás.

Fora das muralhas, o exército de Aurora aguardava em formação e a disciplina deles era impecável. Já no alto das muralhas, muitos soldados calendrinos os observavam com desdém, de moral elevado, confiantes na enorme estrutura sob seus pés, nas armas dos anões e nos números favoráveis.

—Como eles vão atacar? Não estou vendo nenhum aríete ou trabuco, nem sequer escadas. Por acaso esses tigres podem voar? - ironizou o capitão Turvin, arrancando gargalhadas dos demais.

—Não seja tolo, Edd. - repreendeu o comandante Jonathas, que acabava de chegar – A afinidade dos elfos com a aura e com a natureza pode ser um grande problema. Vocês, prestem atenção! Exceto pelos Reindhar, todas as famílias nobres estão no castelo. Lady Yeshi e Lady Taren foram comunicadas através dos pardais negros. Obviamente, os exércitos de Stonehold e do Vale Verde, se viessem, jamais chegariam a tempo. Isso significa que nesta noite, não contaremos com a ajuda de ninguém, por isso esqueçam a soberba e não subestimem nossos inimigos.

Jonathas olhou na direção dos elfos, procurando alguém em específico, contudo quando pareceu não encontrar, fixou-se unicamente em uma figura ao centro. O rei Yliel, montado no imponente Pegasus, começou a se mover em direção ao lado esquerdo das tropas e quando alcançou o primeiro soldado da vanguarda, ouviu-se um rugido poderoso da fera de armadura, seguido pela voz do seu domador:

—Nytarian, concentre o ataque naqueles que estão sobre as muralhas e mantenham-se na retaguarda. Erdwen, conduza suas tropas pelo flanco esquerdo e Bellie pelo flanco direito. Quando eles saírem como formigas por aqueles portões, vamos cercá-los e não deixaremos que se espalhem. - conforme falava, o rei ia percorrendo todo o caminho até a outra ponta da primeira fileira – Hoje colocaremos um fim na insanidade dos calendrinos! Não se deixem intimidar por aqueles covardes! Eles mancharam o Grande Dia de Nymira com o sangue da princesa Leeta! Mancharam Eastgreen com o sangue dos emberlanos, mas ainda nesta noite vão conhecer a fúria de Aurora e sentir em suas carnes a dor de todos aqueles que eles oprimiram! Por Nymira!

—Por Nymira! - aclamaram os elfos.

—Pela princesa Leeta!

—Pela princesa Leeta! - responderam o mais alto que puderam.

Yliel desembainhou Elindora e uma luz intensa rompeu da ponta de sua lâmina até os céus quando este a ergueu para o alto.

—O que é aquilo? - indagou desesperadamente um dos soldados de calendria.

—Segurem-se! Protejam-se! - gritou o comandante Jonathas, que já tinha a espada em punho.

O rei dos elfos de Aurora, na vanguarda de suas tropas, balançou aquela que era conhecida como uma das lâminas mais poderosas do mundo, criando um feixe de luz que parecia não ter limite de altura, possivelmente com dez metros de diâmetro. Essa energia absurda viajou até as muralhas inimigas e quando ficou a poucos metros, se dispersou, explodindo em um clarão intenso que cegou todos aqueles que estavam olhando diretamente. Ouviram-se gritos e houve agitação, porque muitos estavam no chão com suas armas largadas e esfregando os olhos. E diante disso, Jonathas, que não se atrevia a olhar diretamente, prontamente ordenou:

—Evitem essa luz! Os arqueiros que estiverem aptos, preparem-se para disparar assim que escurecer. - então tentou ouvir, em meio a tanta confusão, se os inimigos estavam se aproximando, porém nem sinal de avanço.

Por que essa distração se não vão avançar? Pensou consigo, até que a ficha caiu.

—Cuidado! Eles vão disparar! - gritou, porém o primeiro soldado já tinha sido acertado na cabeça por uma flecha.

Os escudos foram erguidos para salvaguardar os militares da intensa chuva de flechas que veio através da luz, enquanto o comandante andava abaixado em direção a torre. Assim que chegou, segurou um soldado jovem pelo ombro e ordenou:

—Quero os magos aqui agora! Traga-os!

O soldado desceu apressadamente os lances de escadas do andaime e começou a chamar pelos magos, sendo abordado por um jovem de túnica amarela e cabelos castanhos. Seu nome, vale lembrar, é Edwin, o mesmo que foi encarregado por Merlin para enviar uma carta ao rei que agora atacava furiosamente o reino de Calendria.

—Mitchel! O que houve? Precisam dos magos? - questionou confuso – Achei que não teríamos problemas enquanto as muralhas e os portões estivessem de pé.

—Eles… - começou o soldado, apoiando-se nos joelhos para tomar fôlego – Um clarão cegou a maioria dos nossos lá em cima. O comandante está chamando todos vocês.

—Claro, nós vamos subir, então! - Edwin bateu duas palmas e ergueu a destra para o alto, fazendo surgir uma esfera de luz intermitente.

No instante seguinte, cerca de cem magos começaram a se aglomerar ao redor dos jovens, que os guiaram até as escadas.

No pátio do castelo, sete guardas reais de mantos dourados transitavam de um lado a outro, guarnecendo uma construção grande, situada ao lado dos estábulos. Esta se encontrava de portas abertas, sendo possível enxergar a luz das tochas em seu interior e algumas parafernálias bem esquisitas.

—Boa noite, senhores! - cumprimentou Raregard com um sorriso.

—Ahn? Quem é você? Fique onde está! - mandou um dos guardas, o único que tinha a mão sobre o punho da espada.

—Me chamo Raregard, sou escravo do lorde Reindhar. Ele me pediu para verificar se as armas já foram levadas para o front.

—O lorde Reindhar mandou um escravo fazer o serviço de um militar? - questionou o guarda.

—Some daqui, emberlano! - praguejou outro guarda, mais velho e de bigodeira grisalha, que ainda cuspiu contra o homem, embora pela distância não o tenha acertado.

—Ok, vou retornar e relatar o que aconteceu. - disse em tom despreocupado.

—Um momento! - bradou aquele mesmo guarda de bigode, passando pelos demais e agora também colocando a mão sobre o punho da espada – Tá dizendo que vai ferrar com a gente? Vai abanar o rabinho para o lorde Reindhar e ferrar com todos nós?

—Nada disso, Sir. Eu apenas...

No instante seguinte, Raregard foi puxado pelo cabelo e acertado no rosto por uma joelhada do guarda.

—Espera, Thompson! Ele é propriedade do lorde Reindhar! - protestou um terceiro guarda que, de todos os sete, era sem dúvidas o de maior estatura.

—Não perguntei nada, Helmes! Esse aqui precisa aprender boas maneiras, tem que entender como é que se fala com os seus superiores! - retrucou o militar irritado.

A tontura e a dor não deixaram que Raregard percebesse de imediato o intenso sangramento em seu nariz, tampouco uma sombra se esgueirando atrás dos inimigos. Contudo, tais sensações não lhe eram estranhas e tinha experiência o bastante para saber que, mais uma vez, aquela parte em seu rosto fora quebrada.

—Se o lorde Reindhar ou sua filha se enfurecerem, você vai receber a porra da punição sozinho! - disse Helmes com rispidez.

—Pelo contrário! - rebateu Thompson – Lorde Reindhar ficará feliz quando souber que eu dei uma boa lição no lixo que vive trepando com a filha dele.

Os demais militares não pareceram surpresos, mas incomodados.

—Não é mesmo, seu merda? É você que vive fodendo aquela cadela loira? Os boatos correm. - debochou o sujeito, outra vez segurando o emberlano pelos cabelos – Que porra veio fazer aqui, hein? Os elfos aparecem e vocês já pensam que o dia do milagre chegou? A gente vai fazer com eles o mesmo que fizemos com sua gente, então vê se relaxa. Logo serão chicoteados no mesmo tronco.

— Vinte e dois anos atrás. Nova Emberlyn -

O pequeno Raregard corria desenfreadamente pelas ruas acidentadas de pedras, contornando algumas construções abandonadas e pisando de pés descalços sobre os escombros como se soubesse exatamente o que fazer. Na verdade, ele sabia, pois já o tinha feito tantas vezes que se tornara natural. Sua mãe, porém, não concordava.

—Moleque! Eu já disse que não quero você perambulando no antigo castelo! Quer me matar de preocupação, Raregard? - esbravejou a mulher de cabelo curto e castanho, segurando o menino franzino pelo braço.

—Mas o rei disse que não precisamos mais ter medo, mamãe. - protestou.

—Isso não te dá o direito de se arriscar por aí, pode acabar soterrado! E infelizmente, ainda tem muita gente ruim nesse mundo! Agora vai, entra, o almoço tá pronto. - ordenou a mãe, dando um tapa na nuca do filho.

—Ai, mãe!

—É, mãe! Não precisa… - intrometeu-se um homem alto, forte, de cabelos curtos e com um sorriso realmente bonito.

—Isso tudo é culpa sua, querido! Seu filho acha que pode fazer as coisas que você faz. - reclamou a mulher, tentando se desvencilhar do marido que a agarrava por trás e roçava a barba em seu pescoço – Para! Não é hora pra isso!

—Ah, que isso, Liz! Deixa o garoto, ele só quer conhecer o mundo.

—O mundo é perigoso demais e ele ainda não está pronto.

—Claro que estou pronto! - retrucou o menino lá da mesa, antes de enfiar uma colherada de mingau na boca – Sou fio do meu vai.

—É, a gente percebe. - disse a mãe num misto de orgulho e raiva – Não fala de boca cheia, eu te enfio a mão!

O homem gargalhou e tão logo sentou ao lado do filho, o fitando com uma expressão fraternal.

—Quando fizer dez anos, vou te levar para conhecer a Cidade dos Portos, em Moroeste. O rei disse que vamos ter algumas reuniões com os sefrins.

—Os sefins! - animou-se o garoto, quase derrubando o prato e recebendo um olhar mortal da mãe – Diculpa.

—Não sei o que eu faço com vocês dois, sinceramente. - disse Liz num suspiro, enquanto enchia o prato fundo do marido com quatro conchas – Desculpe, não temos muito, a época da colheita ainda não chegou e…

—Tudo bem, Liz. O importante é encher a barriga. - disse o homem.

—Ah, então o meu mingau não é tão bom?

—O que?

—Ih, papai encrencado.

—Tudo o que você faz é bom, meu amor. - esclareceu o marido, levando duas colheradas a boca – Aém diss, os elfus…

—Gerard! - repreendeu Liz, lançando um olhar dele para o filho, como se quisesse advertir sobre o péssimo exemplo que estava dando ao falar de boca cheia.

—O gue? - estranhou ele sem entender as entrelinhas.

—Argh! Tá, continua. - pediu ela, dando-se por vencida.

—Os… - começou o marido, fazendo uma pausa para engolir – elfos de Aurora prometeram que vão enviar suprimentos até que a situação por aqui se estabilize.

—Eles são nossos amigos, né? - perguntou Raregard sorridente.

—Sim. E possuem modos à mesa. - respondeu Liz de olhos semicerrados – Agora trate de terminar.

Gerard relaxou os ombros enquanto engolia, então olhou para ambos num sorriso satisfeito e disse:

—Lembrem-se, os verdadeiros amigos sempre se ajudam, do contrário, ou nunca foram amigos ou algo estranho aconteceu.

— Agora. Castelo de Calendria -

Diante do soldado responsável por quebrar seu nariz, o emberlano ergueu o rosto ensanguentado e começou a rir, deixando o sujeito realmente irritado.

—Qual é a graça, pedaço de lixo? Ficou louco? Acha que eu não tenho coragem de te matar?

—Algo estranho aconteceu? Ou será que vocês nunca foram nossos amigos? - questionou Raregard, para perplexidade dos militares.

No instante seguinte, ouviu-se o som de engrenagens trabalhando, ruídos como se faltasse lubrificação e isso resultasse em um atrito maior entre elas. Todos olharam para trás, em direção ao interior da construção que abrigava as parafernálias de Stonehold. Atrás de uma máquina estranha, com cerca de um metro de altura, que parecia sustentar um enorme rolete repleto de buracos e que girava sem parar, estava uma criatura de olhos refulgentes, olhos estes que os encarava repletos de ódio.

—Saia daí, é uma… - porém, o guarda não pôde concluir sua fala.

Raregard agarrou Thompson por trás, aplicando-lhe um mata-leão com todas as forças e nos segundo seguinte, a máquina começou a disparar inúmeras flechas contra eles, fazendo jorrar sangue para todos os lados. Uma das flechas acertou o braço do emberlano, porém este se manteve firme e continuou a usar o outro como escudo, ouvindo com satisfação seus urros de dor.

O rolete girou incessantemente, disparando os projéteis letais por cada um dos vários orifícios, até finalmente desacelerar e se tornar um objeto inofensivo. O silêncio que se seguiu só foi quebrado quando o corpo morto de Thompson foi largado no chão por Raregard, que arrancou a flecha do braço e encarou Uly com um sorriso insolente:

—Por que me salvou na campina? Pra tentar me matar aqui?

Diante disso, o elfo arqueou uma sobrancelha e rebateu:

—Como se um amigo de Aurora fosse morrer dessa forma medíocre. - e virou-se, apontando para um objeto realmente grande no interior daquele lugar, definitivamente o maior deles.

 

 


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